domingo, 8 de maio de 2011

O. Médio

A revolução tunisiana visita o Brasil: a semana de Amami Nizar com o PSOL




Internacional

Pedro Fuentes
Qua, 27 de Abril de 2011 13:24
Amami Nizar"Marjabet", em árabe, significa bem-vindo. No caso da visita de Amami Nizar ao Brasil, não foi uma mera formalidade. O PSOL deu as boas-vindas que merecia a um verdadeiro representante da Revolução Árabe, e em particular, da Revolução Tunisiana, a pioneira e a que mais avançou até agora. A Fundação Lauro Campos cumpriu um destacado papel político e organizativo ao tornar possível sua vinda ao Brasil. Assim, as boas-vindas estiveram cheias de conteúdo político e solidariedade.
A visita de Amami foi uma das mais importantes atividades internacionalistas já realizadas pelo PSOL. A militância do Rio de Janeiro, Niterói, Porto Alegre, São Paulo, Campinas, Santos e São José dos Campos teve a oportunidade de enxergar a importância de receber entre nós um revolucionário, sindicalista e dirigente político de uma revolução viva e em curso.
As palestras realizadas foram um grande avanço na compreensão do que é a Revolução Árabe – "a nova revolução do século XXI", disse Amami. Foram discutidos: o caráter democrático e permanente da revolução, o papel que desempenham a classe trabalhadora e a juventude, as heróicas jornadas que derrubaram Ben Ali e os dois governos subseqüentes, até conquistar a Assembléia Constituinte, a auto-organização popular, os comitês de vigilância da revolução e a relação com o Conselho Constitucional, entre outros temas.
Três grandes triunfos marcaram esta semana: primeiro, a paridade entre homens e mulheres nas listas para a eleição da Assembléia Constituinte Tunisiana. Segundo, a solidariedade internacional dos lutadores brasileiros com a revolução. Terceiro, o contato com as ricas experiências latino-americanas.
Sentimos nas falas de Amami, o empenho dos companheiros tunisianos para construir uma organização política ampla, que responda a nova situação revolucionária. E sentimos também que não se tratou apenas da 'visita de um militante estrangeiro', e sim o início de uma aliança política estratégica, que reforça os laços entre o PSOL e sua organização (a Liga de Esquerda dos Trabalhadores).
Um dos resultados do giro do companheiro ao Brasil foi também o apoio concreto oferecido pelos sindicatos próximos ao PSOL. Os companheiros dos Bancários de Santos, os químicos de São José dos Campos e os trabalhadores Universidade Federal Fluminense contribuíram com uma considerável somaem dinheiro. O Sindsprev-RJe o Sinsprev-SP também se comprometeram a fazê-lo.
A visita de Amami representou o início de uma relação internacionalista entre o PSOL e a Liga de Esquerda dos Trabalhadores, que devemos estreitar ainda mais no futuro. O PSOL está presente, representado por Pedro Fuentes, na Conferência que estão realizando agora entre 22 e 26 de abril. É 1ª Conferência sob o triunfo democrático e revolucionário, momento crucial para definir as próximas tarefas da revolução.
O PSOL cumpriu tarefas fundamentais: não apenas porque prestamos solidariedade concreta à revolução tunisiana, mas também porque nossa experiência partidária é uma referência e uma inspiração para o novo partido revolucionário da Tunísia.
24/04/2011
Acontece a primeira atividade com Amami Nizar, em Santos!
Militantes do PSOL de Santos lotam a sede do partido em atividade de Solidariedade a Revolução Tusiniana
Militantes do PSOL, Intersindical e simpatizantes reuniram-se no sábado, dia 9 de abril, na sede do PSOL Santos/SP para debater a Revolução Tunisiana na presença de Amami Nizar.
Na mesa composta pelo militante tunisiano Amami Nizar, pelo Secretário de Relações Internacionais do PSOL, Pedro Fuentes e pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Santos, Ricardo Saraiva – ou "BIG", como é conhecido no meio sindical – foram debatidas as catacterísticas da situação política atual na Tunísia, os próximos passos para a revolução nesse país e o papel dos socialistas latinoamericanos nesse processo.
Amami Nizar declarou "Depois da queda de Ben Alí, estamos diante de uma nova situação. Aqui a luta pelas reivindicações dos trabalhadores continua, e há também a luta politica. Foram convocadas eleições para a Assembléia Constituinte e nós não queremos que sejam os partidos dos empresários os partidos vinculados ao regime os que participem. A esquerda anti-capitalista, os setores democráticos consequentes que surgiram da revolução tem que disputar a luta pelo poder político.
A solidariedade da esquerda latinoamericana com a esquerda tunisiana será para nós muito importante. Nós queremos procurar manter relações com os revolucionários da América Latina, com seu partido, com os sindicatos. Queremos compartilhar experiencias, porque vocês jogaram um papel importante já que derrubaram ditaduras."
Solidariedade Concreta
Através de cotizações pessoais, muitos militantes contribuíram para a estadia de Amami no Brasil.
Além disso, ao final da atividade, o companheiro "BIG" anunciou que o Sindicato dos Bancários de Santos faria uma doação financeira para a Revolução Tunisiana.
O dinheiro será utilizado para a fundação de um partido com os agrupamentos de esquerda tunisianos, que concorrerá às eleições para a Assembléia Constituinte em junho desse ano.
Nos próximos dias, acontecerão atividades em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul (agenda acima).
A atividade promovida pelo PSOL e pela Fundação Lauro Campos enriquece a experiência dos socialistas brasileiros, e, sobretudo, fortalece nossos laços de solidariedade com aqueles que têm protagonizado revoluções que mudam o curso da luta de classes no século XXI.
12/04/2011
Amami conhece Giannazi!
O dirigente sindical tunisiano Amami Nizar também esteve, em São Paulo, no gabinete do Deputado Estadual Carlos Giannazi onde conversaram sobre as principais ações do mandato e Amami pode apresentar a experiência da construção de uma organização na Tunisia.
12/04/2011
Amami Nizar participa de ato-debate com trabalhadores da Universidade Federal Fluminense e com Previdencários
Amami realizou uma agenda intensa, de atividades no Rio de Janeiro, começando com uma palestra na UFF, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense (SINTUFF), em Niterói, que contou com a presença dos trabalhadores da Universidade e de militantes do PSOL. Ao final da atividade, o companheiro Pedro Rosa, coordenador geral do sindicato, anunciou a doação de mil dólares à revolução tunisiana e à organização da qual Amami Nizar faz parte (Liga de Esquerda dos Trabalhadores).
À noite, a revolução tunisiana conheceu a cidade maravilhosa numa palestra com cerca de 60 participantes, realizada no sindicato dos previdenciários (SINDSPREV-RJ), no bairro da Lapa. Amami destacou o caráter do PSOL, da necessidade fundamental da solidariedade entre as organizações socialistas e das perspectivas de extensão e aprofundamento da revolução democrática, sobetudo nas mobilizações do mundo árabe, da luta na Líbia contra Kaddafi e da organização da esquerda para participar da Assembléia Nacional Constituinte.
Terça-feira, 12 de abril de 2011 – Rio de Janeiro e Niterói – RJ
Amami Nizar na USP
A atividade realizada com Amami Nizar na Universidade de São Paulo reuniu cerca de 150 estudantes no prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
A atividade foi aberta com a exposição de Fred Henriques, militante do PSOL Campinas e colaborador da Secretaria de Relações Internacionais do partido, que esteve no Egito em fevereiro, acompanhando de perto o desenrolar do processo revolucionário em Tahrir.
Em seguida, Amami Nizar e Pedro Fuentes compuseram a mesa, mediada por Thiago Aguiar, militante do núcleo do PSOL da USP e diretor do Diretório Central dos Estudantes da USP.
Amami teve uma recepção calorosa da juventude universitária. Além dos estudantes da USP, estiveram presentes militantes do PSOL de toda a capital. O companheiro Tostão, membro da direção nacional do partido, também esteve presente e, ao final da atividade, fez uma saudação.
Amami Nizar realiza palestra na Câmara dos vereadores de Porto Alegre
A palestra realizada com Amami Nizarem Porto Alegre, no dia 14 de abril, reuniu diversos líderes partidários, membros da juventude do PSOL e simpatizantes.
Para dirigente político da Tunísia, sindicatos e juventude foram os protagonistas da revolução
Igor Natusch
Porto Alegre recebeu, durante a quinta-feira (14), a visita de uma pessoa que ajudou a mudar o panorama político da Tunísia e abrir caminho para uma série de revoltas que está redefinindo o mundo árabe. Amami Nizar, dirigente sindical da Federação de Correios e Telégrafos da Tunísia e integrante da Liga de Esquerda Operária, participou de palestra na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, promovida pela Fundação Lauro Campos com apoio da Secretaria de Relações Internacionais do PSol. Durante sua fala, o dirigente descreveu o processo que conduziu à Revolução de Jasmim, além de explicar o atual momento do país, que aguarda as eleições para uma nova Assembleia Constituinte, marcadas para 24 de julho.
Amami Nizar atua politicamente desde os anos 70, quando era estudante secundarista. Ajudou a fundar a Liga Comunista Revolucionária, no início dos anos 80, entidade filiada à Quarta Internacional. Passou a atuar no meio sindical a partir de 1990, quando ingressou nos correios e acabou tornando-se secretário-geral do sindicato da categoria. Nessa época, lutou contra a privatização dos correios na Tunísia e contra a precarização das condições de trabalho de vários setores. Como dirigente da Liga da Esquerda Operária, Amami Nizar participou diretamente das mobilizações que resultaram na queda de Zine al-Abidine Ben Ali, e atualmente participa da mobilização política que busca garantir uma mudança efetiva nos rumos da política tunisiana.
Antes da palestra, Amami Nizar concedeu uma entrevista coletiva para blogueiros e representantes de veículos alternativos de mídia. Durante cerca de uma hora, falou do clima tenso que imperava na Tunísia antes da revolução, e criticou o governo de transição, que descreveu como uma representação da burguesia do país árabe. Falou também da importância das redes sociais em estimular a revolta popular, além de criticar a postura dos países ocidentais, que teriam apoiado durante anos as ditaduras que oprimem vários países da região. A seguir, os principais trechos da coletiva.
A ditadura de Zine al-Abidine Ben Ali
"Como qualquer ditadura, a da Tunísia foi regida por um processo imperialista, economicamente submissa ao FMI. Essa crise na Tunísia foi, no fundo, a falência desse sistema baseado no Fundo Monetário Internacional. A taxa de desemprego era muito grande, cerca de 130 mil pessoas que saíram das universidades sem perspectivas de emprego. A desigualdade de desenvolvimento entre as diferentes regiões da Tunísia também contribuiu na decadência do regime. A gente observava, na realidade política da Tunísia, um espaço muito restrito para as pessoas se manifestarem, além de um controle total dos mecanismos de poder. Os donos do poder eram corruptos, e havia muita repressão. Mesmo os partidos organizados de oposição não podiam usufruir de liberdades constitucionais, não tinham liberdade de reunião, por exemplo. A polícia não deixava as pessoas se reunirem, a repressão era forte, e isso criou uma tensão tão grande que a vida política tornou-se quase inexiste".
As mobilizações contra o regime
"Mesmo nesse contexto, algumas revoltas e manifestações aconteciam, especialmente da parte dos estudantes, pedindo bolsas de estudo, e das centrais sindicais. Essas organizações impulsionaram os protestos de muitos setores, como os correios, professores, médicos e bancários. Trabalhadores do setor têxtil e operários também fizeram protestos, já que sofriam muitas arbitrariedades. Temos também um grupo feminista, chamado Associação de Mulheres Pela Democracia, que faz esforços para lutar, mas sempre sofreu muita repressão. Então, durante os 30 anos de governo de Ben Ali – na verdade mais de 30, porque ele representava um regime que comanda o país desde a independência – tivemos muitas mortes e repressão muito violenta dos opositores. Então, as revoltas surgiram de forma espontânea, mas há também um acúmulo de anos, promovidos pelos partidos e pelas organizações de esquerda. Talvez não haja uma cabeça por trás da revolução, mas as organizações sindicais e a juventude certamente foram os grandes protagonistas".
O processo de transição para a democracia
"Após duas quedas de presidente, agora temos a volta de um velho presidente, que é representação da burguesia tunisiana. Além disso, temos diversos ministros que são independentes, mas estão inseridos na burocracia do Estado. Em relação às perspectivas para as eleições, foi votada há poucos dias uma lei especial na assembleia constitucional, votada e aprovada por quase todos os partidos que lutaram contra Ben Ali. Essa lei tem três aspectos principais. Primeiro, paridade de homens e mulheres nas listas de votação. Em segundo lugar, a proibição, durante 23 anos, de Ben Ali e qualquer outro que esteve no governo concorrer a cargos eletivos. Por fim, uma eleição por lista, mas com uma proporcionalidade que favoreça a consolidação e o crescimento dos partidos políticos na Tunísia. Outro ponto positivo é que teremos um poder independente para fiscalizar as eleições, com a presença de representantes internacionais".
A atuação das potências ocidentais nos conflitos árabes
"Falando de forma concreta e especificamente de países como a França, há uma espécie de jogo dúbio, uma via de mão dupla. Na verdade, eles adotam um discurso de democracia, mas a França só foi apoiar de fato a revolta depois do dia 14 de janeiro, depois que já tínhamos derrubado Ben Ali do governo. A então ministra de Relações Internacionais da França chegou a prestar solidariedade a Ben Ali, e depois foi obrigada a se demitir por causa disso. Quanto à intervenção da Otan no governo de (Muammar) Kadafi, a Liga da Esquerda Operária tem como postura apoiar iniciativas independentes. Claro que Kadafi precisa sair o mais rápido possível, não há nenhuma dúvida disso. Mas acreditamos que essa intervenção da Otan é uma tentativa de alguns países ocidentais de achar um ponto de fixação dentro da Líbia, para a partir daí encontrar formas de acessar recursos do país. A Otan sempre defendeu regimes ditatoriais no mundo árabe. Os EUA, por exemplo, mandou soldados para o Bahrein, para conter a revolta popular no país".
Uma onda de mudanças no mundo árabe?
"É uma região comum, e certamente existem pontos que unem esses países. A questão palestina, por exemplo. Há também um inimigo comum, que é o sionismo, o que acaba sendo claramente um ponto de unidade dos países árabes. Mas existem muitas diferenças políticas, com relação às organizações, ao grau de consolidação dos partidos políticos e outros pontos semelhantes. No caso da Tunísia, temos três elementos que podem ser citados como diferenciais políticos. Primeiro, tivemos uma constituinte em 1860, que foi a primeira constituinte (do mundo árabe) e teve um caráter bastante reformista. Segundo, temos um espaço sindical consolidado desde os anos 1920, e essas entidades tiveram papel importante na independência da Tunísia. E, em terceiro lugar, o fato de termos, desde 1959, um código de defesa das mulheres. São três particularidades que nos diferenciam dos nossos vizinhos".
Um partido em busca do povo tunisiano
"A Liga da Esquerda Operária herda uma cultura da Liga Comunista Revolucionária. Queremos ser abertos à população. Queremos manter a tradição da Quarta Internacional, queremos manter os princípios trotskistas, mas também queremos ser um partido de massas, com um diálogo direto com a população, para que possamos estar ao lado delas na busca de uma situação melhor para o país".
A importância da internet para a Revolução de Jasmim
"No caso da Tunísia, o principal impacto foi de redes sociais como o Facebook, que foram meios alternativos para disseminar informação. Certamente essas redes tiveram papel fundamental para que mais pessoas soubessem do massacre, das arbitrariedades do regime. Mesmo porque a mídia oficial sempre teve um caráter de desinformação, de tirar a atenção da população para o que estava acontecendo e até de inverter as coisas, colocando os revolucionários como inimigos da nação. Policiais colocavam fogo em escolas, em estabelecimentos públicos, e a mídia do governo dizia que eram os revolucionários que estavam fazendo isso, para jogar a população contra os que estavam fazendo a revolta. Hoje, a mídia continua sendo toda do Estado, e está de acordo com o governo: uma mídia liberal, burguesa, que não está realmente comprometida com o povo e com quem provocou a revolução em nosso país. Mas há um anseio da população para que se abra novos espaços, para que a mídia não fique apenas nas mãos do governo e possam surgir novos espaços além dos oficiais".
(Fund. Lauro de Campos)

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