sexta-feira, 21 de junho de 2013

Copa 2014

Flavio de Souza Lima – O Brasil está sendo tratado como colônia de férias da FIFA

latuff_maracanaPor Flávio de Souza Lima(*), especial para sua coluna no QTMD?

No século XIX, na cidade de Salvador, escravos muçulmanos da etnia Nagô articularam aquilo que ficou conhecido na historiografia como a A REVOLTA DOS MALÊS (1935).Muito embora não tivessem um projeto político definido, os revoltosos pretendiam tomar o governo local e se tornar livres. Motivados por sua crença religiosa (protestante), pela afirmação de suas etnias(Nagô, Iorubá, Jeje, Tapa), e pelo direito de se expressar na própria língua (árabe), acabaram massacrados, num país predominantemente católico e dominado por uma política de Estado escravista.

Corte para os nossos dias e observamos que desde que o Brasil foi escolhido como sede da Copa/2014, tem ocorrido uma série de constrangimentos e situações que passam longe da tão decantada soberania nacional. Primeiro foi o tal Secretário Geral que passou “um pito” na nação bradando que os brasileiros deveriam tomar um chute no traseiro para que acelerassem as obras dos novos estádios(agora são arenas). Quando exigíamos uma resposta à altura para o impropério, este pusilânime e decorativo ministro do esporte (comunista…?! Ou seja lá o que isso signifique na contemporaneidade), foi à Europa e se deixou fotografar apertando a mão do detrator.

O pontapé foi dado sim, mas nas ancas sofridas de nossos idosos, no momento mesmo que atearam fogo ao estatuto do idoso e lhes cassaram a meia entrada. Depois, para favorecer o patrocinador, rasgaram as determinações de algumas praças brasileiras e liberaram a bebida dentro do estádio.Em Belo Horizonte, a tradicional festa italiana da Pampulha esteve ameaçada pela poderosa FIFA, já que ocorre nas proximidades da Arena Minas (Estádio do Mineirão?!). No momento, se acha liberada com restrições.

Mas, foi em Salvador que a ingerência de Blatter e sua LEI GERAL DA COPA, atingiu níveis muito acima do tolerável. O acarajé, iguaria local e turística, preparado e comercializado pelas lendárias baianas, e que é patrimônio imaterial da cultura brasileira, foi vetado.Após uma grita geral, sobretudo das baianas, uma reunião no último sábado (08/06), envolvendo o Governador, as baianas(associadas) e o comitê organizador, foi firmado que venderiam o célebre bolinho nas cercanias do estádio…(arena?!).

Para fechar a comédia de erros, na ultima segunda, às vésperas da Copa das Confederações, a trilha sonora que empestava o ar era a música dos trapalhões…ou poderia ser a do clássico The Godfather, de Coppola. Ainda não se sabe se por ingênuo ou oportunista(ou se pela sinistra simbiose de ambos),o edil petista Paul Reis, teve a infeliz iniciativa de oferecer a Joseph Blatter, Presidente da FIFA, o título de cidadão paulistano.Ora, sabemos que títulos de cidadão são, na maioria das vezes,outorgados a membros da elite como parte da barganha do jogo político e midiático.Lembremos que um conhecido apresentador de rádio e TV sediado em São Paulo, ególatra, vive percorrendo o interior do Brasil a se aproveitar do beija-mão de prefeitos de cidades sem brilho, ávidos por publicidade.Todavia, o caso de Blatter é mais enigmático. O CAPO DI TUTTI I CAPI nem se dignou a aparecer na cerimônia, tal a importância atribuida à honraria, enviando ninguém menos que(adivinhe…), Jérome Valcke, o gestor francês, Secretário Geral da FIFA.

A festa imodesta contou com o Presidente da CBF, José Maria Marin, cuja vaidade não dispensa um flash ou microfone,este se apressou logo em esclarecer (aspas) a contribuição de Blatter para o Brasil se tornar sede do mundial, A BENÇÃO BLATTER! Curtindo o cargo, que lhe caiu no colo com a mal explicada renúncia de Ricardo Teixeira, Marin, para a informação dos mais novos, possui um currículo de importantes serviços prestados à ditadura brasileira (1964-1985), quando ocupou o cargo nomeado de Vice-Governador de São Paulo,e como Deputado Estadual proferiu um discurso que contribuiu no assassinato do jornalista Vlado Herzog pela repressão.

A fala oficial na reivindicação da copa era o tal legado que ela deixaria. Entretanto, notícias que chegam das cidades escolhidas dão conta de que as obras de infra estrutura e mobilidade urbana não ficarão prontas, além do mais, o escândalo do dinheiro público injetado em reforma de estádios particulares e fortes suspeitas de super faturamento, não têm merecido investigação a contento.

Sem patriotismos, o Brasil está sendo tratado como colônia de férias da FIFA. A mesma entidade que está sob suspeita pela escolha das próximas sedes(Russia em 2018 e Catar,2022).Estes países, assim como o Brasil, possuem sérios problemas socio-econômicos e de distribuição de renda, seja por serem governados por dinastias familiares ou por máfias lideradas por milionários, que estendem seus tentáculos por setores estratégicos da vida e da economia, a FIFA sabe que pode negociar bem com essa gente.

É inaceitável que a Presidenta Dilma não faça nada a respeito. Ela que vem de trajetória marcada por lutas, duvido que ignore tais fatos. Deveria botar sua melhor saia rendada/rodada (força de expressão, claro) e marchar com as baianas do acarajé.

Por fim, acaba de me ocorrer uma idéia: ARGENTINA/2014! Sim, vamos despachar esta copa para os hermanos. É isso.

*Flavio de Souza Lima é professor de história e mora em São Bernardo do Campo, sendo o “nosso correspondente na terra do Lula”. Tem no QTMD? a coluna “Conterrâneoriundi“.“.

Nenhum comentário:

Postar um comentário