segunda-feira, 24 de junho de 2013

Folclore

Em defesa dos contos populares.
por Myilena Queiroz
Fábula, lenda, saga, mito, alegoria, apólogo, parábola, tradição, eis palavras quais podemos usar para definir e reconhecer o conto popular.



Em compêndios de contos populares vê-se inúmeros autores quais pode se buscar informações sobre eles em vários meios de buscas, mas isso não acontece com todos. Isto porque o processo de autenticidade será transformado por alterações na obra inicial (e como achar de um conto popular a "obra inicial"?) esses recheados e interpolações farão com que a obra final seja de toda a gente.

Esopo, Perrault, La Fontaine, Hans Cristian Andersen são nomes rapidamente relacionados ao conto popular. É fato que tiveram um trabalho árduo, mas é importante notar que o que fizeram já "estava feito", oralmente, estes escritores passaram toda a vida a observar e reunir encantados de várias criaturas que visavam sempre não apenas entreter, mas trazer lições para a vida toda, sendo esses contos passados de pais para filho. Pensemos por exemplo que Esopo viveu pelo sexto século antes de Cristo e que suas fábulas, isto é as que lhes são atribuídas, foram encontradas de formas mais rústicas em papiros egípcios em datas de 800 ou 1000 anos antes do nascimento do escritor grego.

Nos contos populares o imaginário e os acontecimentos se misturam. De início a imaginação popular em homenagens aos herois, seus feitos e aos deuses fizeram formar um conjunto de tradições.

Antes das divulgações dessas histórias escritas elas eram guiadas por trovadores, jograis, aedos, menestréis, que percorriam povos e palácios, feiras e outros lugares cantando-as - para nobres, para plebeus - e quanto mais andavam, mais ouviam. Quando mais contavam, mais sabiam.

Enquanto na França e na península Ibérica os troveiros, acompanhados de viola, alaúde, ou harpa, geralmente, cantavam seus poemas de amor e epopeias, na Alemanha faziam o mesmo os minnesingers (cantadores de amor) e todo o lirismo da velha Germânia passou pelos lábios deles. Um dos mais conhecidos minnesingers foi Hans Sachs, que era sapateiro e fazia questão de manter-se a bater solas enquanto compunha seus versos.

Com o passar do tempo os narradores foram desaparecendo, como canta o conjunto de fantasias poéticas que é o monumento "As Mil e Umas Noites" quais histórias recolhidas na China, Pérsia, Arábia e no Egito podem ser classificadas como contos populares.

A mesma mistura de realidade e fantasia preside à formação das sagas teutônicas, tradições históricas e mitologias, quase todas compiladas do século XII em diante. Os próprios grandes romances que se alinharam às regras da literatura por meio de nomes prestigiosos têm, muitas vezes, origem no conto popular. Romeu e Julieta é grande exemplo disso, história que era já repetida pela boca de iletrados. Na China o ancestral autêntico desse tipo de obra popular parece ser o "Livro dos Poemas" composto entre 1766 e 256 antes de Cristo. Quem escreveu os poemas? Não se sabe, provavelmente cantores comuns de narrativas, a maioria deles cegos - e afinal o que foi Homero? - que tomaram a missão de divulgar tais poesias e elas ficaram para a história. É o que importa. De todo modo, muitas histórias começaram através de poemas, eis que a poesia é a mais alta forma de expressão que dispõe o homem.

No nordeste brasileiro (não comento sobre outros lugares, pois falo deste com maior propriedade) cabe aos cordelistas e repentistas, que acompanhados pela xilogravura ou pelas rabecas, cantam e contam histórias que o povo já repetia. Quem lê a obra de Leandro Gomes de barros, de João Melquíades ou de Ariano Suassuna (que tanto referencia e recria um sertão mítico já cantados) bem o sabe.

"Quem ler essa história toda
Do jeito que foi passada
Vê logo que o falso e vil
Nunca nos serve de nada
Que a honra e fidelidade
Sempre foi recompensada"

Leandro Gomes de Barros, Juvenal e o Dragão.


Como dito, repetidos pelo povo ou assinalados por grandes escritores os contos, as lendas, as fábulas, as sagas, tomam linhas singelas, honrosas e ou sanguinolentas que quase sempre servem para apontar perigos e o mal dos castigos que pode recair sobre si. Fazem-se também estimuladores de coragem e da resignação, conforme se referem, e nos fazem querer agir de forma semelhante, à herois ou santos.



myilenaqueiroz
Artigo da autoria de Myilena Queiroz.
"8. Da Escola de Guerra da Vida - o que não me mata torna-me mais forte." In: Crepúsculo dos ídolos..
Saiba como fazer parte da obvious.

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