domingo, 22 de maio de 2011

COMUNICADO FINAL!!!!

DEUS da Silva, o dono deste Blogue, o dono da bola, comunica q, devido a motivos profissionais, deixará, TEMPORARIAMENTE de realizar postagens. Oportunamente voltaremos. Tenham paciencia!

Israel

10 horas nas mãos da ocupação israelense
17/05/2011 | ICArabe


Mensagem vinda de um grupo de quatro brasileiros revela o totalitarismo utilizado pelo Estado de Israel para impedir que palestinos e descendentes retornem à sua terra de origem.
Soraya Misleh, Hasan Zarif, Muhamad Kadri e Ibrahim Hammoud sairam do Brasil dia 14 de maio para visitar seus familiares e aproveitaram para "apoiar as manifestações pacificas para lembrar o dia da nakba palestina e exigir o direito inalienavel de retorno do povo palestino", como explicam na mensagem.
No dia 15, dia da Nakba, já estavam entre os refugiados palestinos na Jordânia e acompanharam os protestos e fizeram parte de uma grande cerco às fronteiras palestinas, ocupadas por Israel, e que foi reprimido com violência.
Um jovem da Jordânia foi morto, causando revolta na população e nos campos de refugiados, e a expectativa é de que as manifestações prossigam nas fronteiras. Mais de dez manifestantes foram mortos no Líbano, nas mesmas celebrações da Nakba - que significa a catástrofe da expulsão do povo palestino promovida em 15 de maio de 1948 para dar lugar ao Estado de Israel .
Detenção na fronteira
Nesta segunda-feira, o grupo brasileiro tentou entrar na Palestina , mas foi barrado pelas forças da ocupação.
"Ficamos sete horas sendo intimidados, isolados uns dos outros, ameaçados, sofremos tortura psicológica nos interrogatórios, privação, revistas no corpo e bagagens. Fomos tratados como verdadeiros criminosos", informam em sua mensagem.
Soraya Misleh, diretora de imprensa do ICArabe, jornalista da Ciranda e integrante do movimento, relata que os brasileiros ficaram horrorizados com a intolerância diante de manifestações pacíficas e o total desrespeito aos direitos das pessoas detidas. "Estou abalada e muito indignada", ela relata. "Nos intimidaram de todas as formas, durante horas seguidas".
O grupo diz ter sentido na pele que "a criminalização dos movimentos sociais que tanto combatemos é uma prática comum por parte do Estado sionista" e que "vários brasileiros e brasileiras descendentes de árabes ou ativistas já passaram por essa situação inaceitável".
Go back to Jordan!
Os quatro brasileiros portarão agora um passaporte carimbado com a "entrada negada" ao Estado de Israel, o que na prática os impedirá de visitar parentes, amigos ou de participar de missões solidárias ao povo palestino. Além de causar-lhes outros constrangimentos em viagens internacionais, necessárias quando se trata de apoiar as causas de um povo expulso de seu próprio país.
Soraya já esteve antes na Palestina, participando de atividades do Fórum Mundial de Educação, fazendo cobertura jornalística para a imprensa alternativa brasileira e do universo do Fórum Social Mundial. Os passaportes carimbados foram devolvidos sem qualquer explicação. Segundo o grupo, tudo que ouviram foi: Go back to Jordan!
"Nos levaram até a saída e nos colocaram num ônibus em que ficamos quase duas horas junto a um senhor de origem árabe, também banido". Durante esse tempo, não tiveram autorizacao para sair do local, novamente sem justificativa. "Ao todo, passamos quase dez horas sem comer e sem beber - tomamos um copo de água e duas bolachas após insistirmos muito e pressionarmos".
Considerando que não é um caso isolado, já que "há diversos relatos de discriminação, sobretudo contra ativistas e cidadãos e cidadãs de origem árabe" e que os israelentes "jamais seriam tratados assim no Brasil", o grupo quer providências do governo brasileiro e pede ao movimento social que pressione por medidas para que " nenhum brasileiro passe novamente por isso".
Nesta terça-feira, o grupo irá à embaixada brasileira de Amã denunciar os maus-tratos e abusos de que foram vítimas, exigindo do governo providências após a atitude arbitrária de Israel contra cidadãos brasileiros tratados como criminosos.
Fonte: Ciranda Internacional da Informação Compartilhada

ICArabeInstituto da Cultura árabe (da redação)

Obama

O que Obama devia ter feito no Chile
Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu rígido protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Não seria preciso pedir perdão ou expressar remorso pela intervenção dos EUA nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. O artigo é de Ariel Dorfman.
Ariel Dorfman - Página/12
Quando Barack Obama desembarcar no Chile para uma visita de 24 horas, algo crucial faltará em sua agenda. Haverá mariscos suculentos, discursos elogiosos à prosperidade do Chile, acordos bilaterais e encontros com poderosos e celebridades, mas não há planos, sem dúvida, de que o presidente dos Estados Unidos tome contato com o que foi a experiência fundamental da recente história chilena, o trauma que o povo de meu país sofreu durante os quase dezessete anos do regime do general Augusto Pinochet.

E, no entanto, não seria impossível para Obama ter conhecimento de uma pequena amostra do que foi a aflição do Chile. A poucas quadras do Palácio Presidencial de La Moneda, onde será recebido por Sebastian Piñera, 120 pesquisadores se dedicam assiduamente a construir uma lista definitiva das vítimas de Pinochet para que possa ser feita alguma forma de reparação. Esta é a terceira tentativa desde que terminou a ditadura, em 1990, para enfrentar as perdas massivas que ocasionou. Duas comissões estabelecidas oficialmente investigaram uma imensa quantidade de casos de tortura, execuções e prisão política, mas foi ficando claro, na medida em que passavam os anos, que inumeráveis abusos de direitos humanos seguiam sem identificação. E, de fato, a pesquisa recente recebeu 33 mil solicitações adicionais, horrores que ainda não tinham sido registrados.

Ainda que Obama não tenha direito a ler nenhum dos informes confidenciais acerca daqueles casos, alguns minutos roubados de seu estrito calendário para falar com alguns dos homens e mulheres que realizam essas pesquisas, o informariam mais sobre a escondida agonia do Chile do que mil livros e reportagens.

Poderia, por exemplo, conversar com a pesquisadora chamada Tamara. No dia 11 de setembro de 1973, dia em que Salvador Allende foi derrubado, o pai de Tamara, um dos guarda-costas de Allende, foi detido, sem que jamais se soubesse seu paradeiro posterior. Eu trabalhava em La Moneda na época do golpe militar e salvei minha vida em função de uma cadeia de coincidências milagrosas, mas o pai de Tamara não teve tanta sorte, assim como não tiveram vários bons amigos meus, cujos corpos ainda estão sem sepultura.

Ou Obama poderia auscultar os olhos de um advogado que conheço, que foi sequestrado uma tarde e torturado durante semanas antes de ser deixado uma noite em uma rua desconhecida, tão longe de seu lar que imediatamente preso de novo por romper o toque de recolher. Ou Obama poderia conversar com uma antropóloga que teve que ir para o exílio por 14 anos, perdendo seu país, sua profissão, seu idioma, e cujo retorno ao Chile foi tão angustiante como seu desterro original, posto que seus filhos, em virtude da prolongada ausência do país onde nasceram, decidiram permanecer no estrangeiro, o que significa que essa família estará separada para sempre.

Caso o presidente Obama sinta-se mais cômodo conhecendo lugares em vez de seres humanos de carne e osso, poderia familiarizar-se com Villa Grimaldo, uma casa de tormentos onde agora se ergue um centro para a paz, ou reservar dez minutos para visitar o Museu da Memória, onde há exibições que denunciam o terrível passado do Chile.

Uma razão pela qual faz sentido que Obama vislumbre, ainda que através de um vidro obscuro, nossa vasta e devastadora dor, é que os norteamericanos foram, em grande parte, responsáveis por aquela tragédia. Washington ajudou, estimulou e financiou a queda do governo democraticamente eleito de Allende e a trajetória ditatorial de Pinochet. No momento em que a revolta no Egito, como em tantos outros países que se levantam contra o autoritarismo, lembra ao mundo as consequências de sustentar regimes brutais, seria instrutivo para um presidente tão inteligente e humanitário como Obama ver, de perto e pessoalmente, alguns dos homens e mulheres que foram destruídos por essa política.

O Chile também oferece um exemplo do quão difícil é confrontar os crimes contra a humanidade, difícil e necessário. Em meu país aprendemos que se nossa comunidade, nosso povo inteiro, não olha de frente para o passado aterrador e arrasta seu pesar para a luz, se os responsáveis não recebem castigo, corremos o risco de que nossa própria alma se corrompa.

É uma lição que Obama e seus compatriotas deveriam impor a si mesmos. Dois anos depois de sua posse, Guantánamo segue aberta e não há sinal de que vá ocorrer um julgamento das violações dos direitos humanos sob a administração Bush nem tampouco uma insinuação de que será pedido perdão às vítimas. Uma comissão norteamericana que tome como modelo esta que foi criada em Santiago poderia dar um primeiro passo na direção de um ajuste de contas que, como bem sabemos nós os chilenos, não deveria ser adiada de forma indefinida.

Por mais importante que essa experiência fosse para Obama, há outra que seria ainda mais significativa. À noite, ele vai jantar no mesmo Palácio Presidencial onde Salvador Allende morreu muitos anos atrás, em defesa do direito de seu povo escolher seu próprio destino. Allende está enterrado em um cemitério não muito longe de onde a elite do país estará brindando pela amizade eterna entre Chile e os Estados Unidos. Em 1965, durante uma viagem notável ao Chile, Bobby Kennedy quebrou seu escrupuloso protocolo e se encontrou com mineiros explorados e estudantes universitários hostis. Ele mergulhou nos problemas do país para conhecê-los, para perguntar como chegar a uma solução. E se Obama decidisse seguir o exemplo de Kennedy – seu ídolo, Bobby Kennedy – e mudasse o roteiro para fazer algo sem precedentes como uma visita ao túmulo de Allende? Se ele simplesmente parasse neste lugar, ficasse de pé diante dos restos de quem foi, como ele, um presidente eleito por seu povo, e dedicasse um par de minutos solitários?

Não seria imprescindível que pedisse perdão ou expressasse remorso pela intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos do Chile, nem por ter sustentado Pinochet durante tanto tempo. Bastaria esse gesto singelo. Essa homenagem a um presidente que entregou sua vida lutando pela democracia e a justiça social mandaria uma mensagem a América Latina e a todo o planeta que seria mais eloquente que cinquenta discursos retóricos. Seria um sinal de que talvez seja mesmo possível uma nova era das relações entre os Estados Unidos e seus vizinhos, ao sul do rio Bravo, que o passado tão amargo e injusto nunca mais há de voltar, nunca, nunca mais.

(*) Ariel Dorfman é escritor. Seu último livro é “Americanos: Los passos de Murieta”.

Tradução: Katarina Peixoto

(Carta Maior)

EUA

Um Nobel sem escrúpulos




Internacional

Atilio A. Boron
Ter, 03 de Maio de 2011 11:45
Osama Bin Laden
Um Nobel sem escrúpulos
Atilio A. Boron
Na truculenta operação encenada nos arredores de Islamabad há múltiplas interrogações que permanecem na sombra, e a tendência do governo dos Estados Unidos a desinformar a opinião pública torna ainda mais suspeito esta operação. Uma Casa Branca vítima de uma doentia compulsão de mentir (recordar a historieta das "armas de destruição em massa" existentes no Iraque, ou o infame Informe Warren, que sentenciou que não houve conspiração no assassinato de Kennedy, obra do "lobo solitário" Lee Harvey Oswald ) nos obriga a catar com pinças cada uma de suas afirmações. Era Bin Laden ou não? Por que não pensar que a vítima pudesse ser qualquer outro? Onde estão as fotos, as provas de que o falecido era o procurado? Se se lhe fez uma prova de DNA, como se obteve, onde estão os resultados e quais foram as testemunhas? Por que não se o apresentou diante da consideração pública, como se fez, sem ir mais longe, com os restos do comandante Ernesto "Che" Guevara? Se, como se assegura, Osama se ocultava em uma mansão convertida em uma verdadeira fortaleza, como é possível que, em um combate que se estendeu pelo espaço de quarenta minutos, os integrantes do comando estadunidense regressassem a sua base sem receber sequer um arranhão? Tão pouca pontaria teriam os defensores do fugitivo mais procurado do mundo, dos quais se dizia que possuiam um arsenal de mortíferas armas de última geração? Quem estava com ele? Segundo a Casa Branca, o comando matou Bin Laden, seu filho, outros dois homens de sua custódia e uma mulher que, asseguram, foi ultimada ao ser utilizada como um escudo humano por um dos terroristas. Também se disse que mais duas pessoas ficaram feridas no combate. Onde estão, que se vai fazer com elas? Serão levadas a julgamento, se lhes tomaram declarações para arrojar luz sobre o ocorrido, falarão em uma conferência de imprensa para narrar o acontecido? Pelo que parece, esta "façanha" passará à história como uma operação mafiosa, ao estilo da matança de San Valentín ordenada por Al Capone para liquidar os capos da banda rival.
Osama vivo era um perigo. Sabia (ou sabe?) demais, e é razoável supor que a última coisa que o governo estadunidense queria era levá-lo a julgamento e deixá-lo falar. Em tal caso, se desataria um escândalo de enormes proporções ao revelar as conexões com a CIA, os armamentos e o dinheiro supridos pela Casa Branca, as operações ilegais montadas por Washington, os obscuros negócios de sua família com o lobby petroleiro estadunidense e, muito especialmente, com a família Bush, entre outras ninharias. Em suma, um testemunho ao que havia que calar de um jeito ou de outro, como Muammar Kadafi. O problema é que já morto Osama se converte para os jihadistas islâmicos em um mártir da causa, e o desejo de vingança seguramente estimulará as muitas células adormecidas da Al-Qaida a perpetrar novas atrocidades para vingar a morte de seu líder.
Tampouco deixa de chamar atenção o quão oportuna foi a morte de Bin Laden. Quando o incêndio da pradaria ressecada do mundo árabe desestabiliza uma área de crucial importância para a estratégia de dominação imperial, a notícia do assassinato de Bin Laden reinstala a Al-Qaida no centro do cenário. Se há algo que a esta altura é uma verdade incontrovertível é que essas revoltas não respondem a nenhuma motivação religiosa. Suas causas, seus sujeitos e suas formas de luta são eminentemente seculares e em nenhuma delas - desde Tunez até o Egito, passando pela Líbia, Bahrein, Yemen, Síria e Jordânia - o protagonismo recaiu sobre a Irmandade Muçulmana ou a Al-Qaida. O problema é o capitalismo e os devastadores efeitos das políticas neoliberais e dos regimes despóticos que se instalaram nesses países e não as heresias dos "infiéis" do Ocidente. Mas o imperialismo estadunidense e seus sequazes na Europa se desdobraram, desde o princípio, para fazer aparecer essas revoltas como produto da malícia do radicalismo islâmico e da Al-Qaida, coisa que não procede. Santiago Alba Rico observou com razão que em pleno auge desses protestos seculares - antipolíticas de ajuste do FMI e do Banco Mundial - um grupo fundamentalista desconhecido até então assassinou o cooperante italiano Vittorio Arrigoni, ativista do Movimento de Solidaridade Internacional, em uma casa abandonada na Faixa de Gaza. Poucas semanas depois, um terrorista suicida explode uma bomba na praça Yemaa el Fna, um dos destinos turísticos mais notáveis em sólo do Marrocos senão de toda a África, e mata ao menos 14 pessoas. "Agora – continua Alba Rico - reaparece Bin Laden, não vivo e ameaçador, senão que em toda a glória de um martírio adiado, estudado, cuidadosamente encenado, um pouco inverossímil. 'Se fez justiça', diz Obama, mas a justiça reclama tribunais e juízes, procedimentos formalizados, uma sentença independente. "Nada disso ocorreu, nem ocorrerá". Mas o fundamentalismo islâmico, ausente como protagonista das grandes mobilizações do mundo árabe, aparece agora na primeira página de todos os jornais do mundo e seu líder como um mártir do Islã assassinado a sangue frio pela soldadesca do líder do Ocidente, a Casa Branca, que sabia desde meados de fevereiro deste ano que nessa fortaleza nas redondezas de Islamabad se refugiava Bin Laden, esperou o momento oportuno para lançar seu ataque com vistas a colocar favoravelmente Barack Obama na iminente campanha eleitoral pela sucessão presidencial.
Há um detalhe em nada anedótico que torna ainda mais imoral a bravata estadunidense: poucas horas depois de ser abatido, o cadáver do presumido Bin Laden foi lançado ao mar. A mentirosa declaração da Casa Branca diz que seus restos receberam sepultura respeitando as tradições e os ritos islâmicos, mas não foi assim. Os ritos fúnebres do Islã estabelecem que se deve lavar o cadáver, vesti-lo com uma mortalha, proceder a uma cerimônia religiosa que inclui orações e honras fúnebres para logo em seguida proceder ao enterro do defunto. Além disso, se especifica que o cadáver deve ser depositado diretamente na terra, recostado sobre seu lado direito e com a cara dirigida para a Meca. Com que celeridade tiveram que fazer o combate, a recuperação do cadáver, sua identificação, a obtenção do DNA, o traslado a um navio da Armada estadunidense, situado a pouco mais de 600 quilômetros do subúrbio de Islamabad onde se produziu o enfrentamento e, finalmente, navegar até o ponto onde o cadáver foi lançado ao mar como para respeitar os ritos fúnebres do Islã? Na realidade, o que se fez foi abater e "desaparecer" com uma pessoa, presumidamente Bin Laden, seguindo uma prática sinistra utilizada sobretudo pela ditadura genocida que assolou a Argentina entre 1976 e 1983. Ato imoral que não só ofende as crenças muçulmanas senão que também a uma milenar tradição cultural do Ocidente, anterior inclusive ao cristianismo. Como o atesta magistralmente Sófocles em Antígona, privar um defunto de sua sepultura acende as mais recôndidas paixões. Essas que hoje devem estar incendiando as células do fundamentalismo islâmico, desejosas de dar uma lição aos infiéis que ultrajaram o corpo e a memória de seu líder. Barack Obama acaba de dizer que depois da morte de Osama Bin Laden o mundo é um lugar mais seguro para se viver. Equivoca-se de ponta a ponta. Provavelmente, sua ação não fez senão despertar um monstro que estava adormecido. O tempo dirá se é assim ou não, mas sobram razões para se ficar muito preocupado.
Atilio Boron é diretor do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais (PLED), Buenos Aires, Argentina, http://www.atilioboron.com
Tradução: Sergio Granja
Revisão Silvia Mundstock

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Obama anuncia morte de Bin Laden
Washington, 2 mai. (Prensa Latina) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que o líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto por militares estadunidenses durante um operativo realizado no Paquistão.
Em uma mensagem à nação transmitida ao vivo da Casa Branca pouco antes da meia-noite do domingo, o presidente afirmou que o cadáver de Bin Laden está sob a custódia dos Estados Unidos.
Obama assegurou que nenhum dos militares estadunidenses resultou ferido no tiroteio que acabou com a vida daquele que tinha se convertido em um dos homens mais procurados do mundo desde que fora vinculado com o ataque do 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque.
Bin Laden, aparentado com a família real saudita, foi um aliado dos Estados Unidos, apoiado pela Agência Central de Inteligência (CIA), durante a guerra que livrou o movimento Talibão nos anos 80 do século passado contra a presença soviética no Afeganistão.

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Paquistão confirma morte de Bin Laden
Islamabade, 2 mai. (Prensa Latina) - O governo do Paquistão confirmou hoje a morte do líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma operação realizada por militares estadunidenses a menos de cem de quilômetros desta capital.
A chancelaria local afirmou em uma declaração emitida nesta segunda-feira que o operativo em Abbottabad, cidade localizada a uns 60 quilômetros de Islamabad, foi levado a cabo de acordo com a política declarada por Washington de que Bin Laden devia ser eliminado pelo Exército norte-americano em qualquer lugar em que se encontrasse.
Depois de qualificar a morte de um dos homens mais procurados do mundo como um sério revés para as organizações terroristas no mundo, o texto aponta que o presidente paquistanês, Asif Alí Zardari, foi avisado por via telefônica pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a morte de Bin Laden.
De acordo com a chancelaria, o fato reafirma também a vontade do Paquistão, cujos serviços de inteligência foram acusados em mais de uma ocasião de estarem em contato com os rebeldes afegãos, de lutar contra o terrorismo.
Temos estabelecido sistemas extremamente efetivos para compartilhar informações de inteligência com outras agências do mundo, incluída a dos Estados Unidos. Continuaremos apoiando os esforços internacionais contra o terrorismo, agrega a nota da chancelaria.
Pelo conteúdo do comunicado descarta-se, no entanto, que os militares paquistaneses tenham participado do operativo que segundo Obama ocorreu ontem em Abbottabad.
Pouco depois da morte de Bin Laden ser anunciada publicamente , o presidente Zardari reuniu-se com o Premiê, Yousuf Raza Gilani, e com o alto comando do Exército, mas até o momento não foram divulgados detalhes do que foi abordado no encontro.

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Paquistão: Matam policiais e incendeiam 14 caminhões da OTAN
Islamabad, 2 mai. (Prensa Latina) - Quatro policiais morreram e 14 caminhões-tanques com combustível para as tropas da OTAN instaladas no Afeganistão foram destruídos em dois ataques perpetrados por desconhecidos armados no noroeste do Paquistão.
De acordo com a emissora privada Geo News, o incidente mais grave ocorreu ontem à noite nos arredores de Pindi Gheb, a cerca de 60 quilômetros de Islamabad, onde supostos membros do movimento Talibã paquistanês abriram fogo contra os veículos detidos em frente a um restaurante e incendiaram 10 deles.
Antes de abandonar o lugar, os atacantes dispararam contra um posto policial próximo, com saldo de três agentes e um subinspetor mortos.
Outros seis policiais ficaram feridos na ação rebelde, agregou a emissora de televisão.
Enquanto testemunhas citadas pela própria Geo News disseram que outros quatro caminhões-tanques a serviço da OTAN foram incendiados em Dhok Patha, uma localidade que assim como Pindi Gheb pertence à província central de Punjab.
Pelas estradas paquistanesas transita quase a metade dos fornecimentos destinados aos 140 mil soldados que a Organização do Tratado do Atlântico Norte mantém instalados no Afeganistão.
Os fornecimentos entram no Paquistão pelo sul porto de Karachi e depois são transportados para o país vizinho através do Passo de Khyber, no noroeste, ou pelo posto fronteiriço de Baluchistão, no sudoeste.
De acordo com cifras extraoficiais, a OTAN perdeu mais de 200 caminhões no ano passado dentro do Paquistão, como resultado de ataques perpetrados por insurgentes armados, os quais vinculam ao movimento Talibã afegão e à rede Al Qaeda.
Neste ano, quase 100 veículos com combustível ou outros carregamentos para as tropas estrangeiras foram atacados e destruídos enquanto passavam pelo Paquistão.

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Grupo Talibã paquistanês promete vingar morte de Bin Laden
Islamabad, 2 mai. (Prensa Latina) - A organização insurgente Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) prometeu hoje realizar ataques no país islâmico e nos Estados Unidos para vingar a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden.
Se (Bin Laden) atingiu o martirológio, vingaremos sua morte e atacaremos os governos do Paquistão e dos Estados Unidos e suas forças de segurança, anunciou o porta-voz dos rebeldes, Ehsanullah Ehsan, em uma chamada telefônica a vários meios locais de imprensa.
O porta-voz do TTP dirigiu suas ameaças em primeiro lugar contra o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, e ao alto comando do Exército local.
Os Estados Unidos serão nosso segundo objetivo, agregou.
A morte de Bin Laden, cuja organização Al Qaeda se diz que mantém vínculos estreitos com o movimento talibã paquistanês, foi anunciada pouco antes da meia-noite do domingo pelo presidente estadunidense Barack Obama.
De acordo com o presidente, o homem mais procurado do mundo, desde que foi vinculado aos ataques do 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque, foi abatido por um comando estadunidense em uma residência do povo de Abbottabad, a cerca de 60 quilômetros de Islamabad.
Em sua inesperada mensagem à nação, feita da Casa Branca, Obama disse que tinha telefonado para Zardari pouco depois de se confirmar o assassinato de Bin Laden.
O chefe de estado paquistanês admitiu mais tarde em Islamabad que desconhecia até que ponto seus serviços de inteligência cooperaram com os estadunidenses para levar a cabo o operativo militar, e se limitou a qualificá-lo de uma grande vitória.

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Índia critica Paquistão após morte de Bin Laden
Nova Déli, 2 mai. (Prensa Latina) - A Índia ressaltou hoje que a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, por mãos de militares estadunidenses no Paquistão corrobora suas denúncias de que o país vizinho serve de refúgio a terroristas.
Escutamos com grande preocupação a parte da declaração na qual o presidente Barack Obama afirmou que o tiroteio que acabou com a vida de Bin Laden ocorreu em Abbotabad, dentro do Paquistão, afirmou o ministro do Interior, P. Chidambaram, na primeira reação das autoridades indianas ao anúncio do presidente estadunidense.
Segundo o servidor público indiano, esse fato confirma as denuncias indianas de que terroristas de diferentes organizações se escondem no Paquistão.
Chidambaram mencionou em particular os responsáveis pelos ataques de novembro de 2008 contra a cidade de Mumbai.
Achamos que os autores intelectuais do ataque de Mumbai seguem escondidos no Paquistão, afirmou o ministro, que exortou uma vez mais Islamabade a prender essas pessoas, cujos nomes, disse, foram-lhe entregues pelas autoridades indianas.
Os ataques do dia 26 de novembro de 2008 contra o coração financeiro da Índia, além de causar 166 mortos e mais de 300 feridos, levaram ao fracasso o diálogo de paz iniciado quatro anos antes pelas duas potências nucleares.
Em fevereiro passado começou uma nova aproximação entre Nova Déli e Islamabade, mas o tema do terrorismo e a disputa pelo território fronteiriço da Caxemira seguem sendo os dois principais obstáculos para uma eventual distensão entre os dois países que se enfrentaram em três guerras desde a partição do subcontinente em 1947.

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Alerta na Caxemira indiana por morte de Bin Laden
Nova Déli, 2 mai. (Prensa Latina) - O Exército e a Polícia do território de Caxemira controlado pela Índia foram colocados em alerta hoje, após o anúncio de que o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto por um comando estadunidense no Paquistão.
De acordo com a agência local IANS, que citou fontes oficiais anônimas, a ordem foi dada pelos altos comandos de ambas as instituições, apesar de que até o momento não se reportaram protestos.
Nenhum dos líderes políticos dessa conturbada região do norte da Índia se pronunciou sobre o anúncio feito pelo presidente Barack Obama, de que um comando estadunidense executou ontem à noite Bin Laden durante um operativo dentro do território paquistanês.
É necessário estarmos atentos à situação, assegurou a fonte, depois de apontar que tudo dependerá do que ocorra no Paquistão, que controla uma parte Caxemira, e, da mesma forma que a Índia, reivindica o restante.
A velha disputa fronteiriça foi o centro de duas das três guerras nas quais se enfrentaram ambos os países vizinhos desde a partição do subcontinente em 1947.
Na Caxemira indiana, única região de maioria muçulmana do país sul-asiático, existe também um forte movimento separatista que segundo Nova Déli é apoiado pelo Paquistão.
A primeira reação do governo indiano à morte de Bin Laden foi precisamente para apontar que o país se converteu em um refúgio de terroristas.
Escutamos com grande preocupação a parte da declaração na qual o presidente Barack Obama disse que o tiroteio que acabou com a vida de Bin Laden ocorreu em Abbotabad, dentro do Paquistão, afirmou o ministro índio do Interior, P. Chidambaram.
Segundo o funcionário do governo, esse fato confirma as denúncias indianas de que terroristas de diferentes organizações se ocultam no Paquistão.

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Paranoia europeia depois de anunciada morte de Bin Laden
Bruxelas, 2 mai. (Prensa Latina) - A anunciada morte do líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, por parte de tropas estadunidenses desatou hoje o medo na Europa a eventuais ataques terroristas.
A manifestada alegria que a morte provocou no seio da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contrasta com o temor às represálias.
A Bélgica decretou alerta especial para seus serviços de segurança ante a possibilidade de que seguidores de Bin Laden tentem alguma ação contra as sedes da UE e da OTAN.
André Vandoren, diretor do órgão de coordenação de ameaças do país, disse à imprensa local que não se podem descartar represálias e advertiu que o Governo poderia aumentar oficialmente o nível de ameaça.
O servidor público explicou que o alerta responde também ao atentado ocorrido na semana passada no Marrocos e à recente detenção na Alemanha de três supostos membros da Al Qaeda.
Por outro lado, Rob Wainwright, diretor de Europol (Escritório Policial Europeu), comentou à imprensa creditada que "cabe esperar uma ação de resposta em curto prazo".
Wainwright referiu-se a um natural instinto de vingança que poderia desencadear o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a morte de Bin Laden durante um tiroteio no Paquistão.
Coincidindo com as advertências lançadas nesta segunda-feira pelo Governo de Washington, o diretor do Europol prognosticou que o desaparecimento de seu líder não tirará poder operativo da Al Qaeda.
Bin Laden foi um aliado dos Estados Unidos e nos anos 80 do século passado contou com o apoio da Agência Central de Inteligência (CIA) na guerra contra a presença soviética no Afeganistão.
Mas a Casa Branca responsabilizou-o pelos ataques perpetrados contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em setembro de 2001 e desde então converteu-se em um dos homens mais procurados do mundo.

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Ban Ki-moon destaca importância de morte de Bin Laden
Nações Unidas, 2 mai. (Prensa Latina) - O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou hoje que a morte de Osama Bin Laden por forças dos Estados Unidos marca uma meta na luta global contra o terrorismo.
Em uma declaração na sede da ONU em Nova Iorque, o máximo responsável pela organização mundial assinalou que os crimes da Al Qaeda afetaram a maioria dos continentes e provocaram tragédias e a perda de milhares de pessoas.
A ONU condena nos termos mais enérgicos o terrorismo em todas as suas formas, sem importar seus propósitos e onde queira que sejam cometidos, apontou.
Este é um dia para recordar as vítimas do terrorismo e suas famílias nos Estados Unidos e em todas as partes do mundo, destacou Ban Ki-moon ao reafirmar o empenho da ONU para encabeçar a luta contra esse mal junto a líderes mundiais.
Além disso, elogiou o trabalho e o compromisso de muitas pessoas no mundo que têm lutado para erradicar o terrorismo internacional.
A notícia sobre a morte de Bin Laden, ocorrida durante um ataque de comandos norte-americanos próximo à capital do Paquistão, foi difundida ontem à noite pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Nova Iorque, cidade sede da ONU e palco do atentado contra as Torres Gêmeas de Manhattan em setembro de 2001, está marcada hoje por um evidente reforço das medidas de segurança em prevenção de possíveis represálias da Al Qaeda, segundo informou-se.

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Segurança em embaixadas dos EUA e aliados é reforçada no Peru
Lima, 2 mai. (Prensa Latina) - A segurança das embaixadas dos Estados Unidos e vários de seus aliados foi reforçada preventivamente depois da morte de Osama Bin Laden, confirmou hoje o presidente do Peru, Alan Gracía.
García pôs em dúvida no entanto que o grupo Al Qaeda, que Bin Laden liderava, possa realizar ações aqui estendendo "sua mão assassina" a este país.
O governante celebrou o anúncio oficial norte-americano de ter matado Bin Laden, a quem chamou de "encarnação do crime, do mal e do ódio".
Por sua vez, o ministro do Interior, Miguel Hidalgo, disse ter se reunido, para tratar sobre o tema, com a embaixadora dos Estados Unidos, Rose Likins.
Acrescentou que as medidas de emergência foram adotadas ante a eventualidade de ações de resposta do grupo terrorista Al Qaeda que encabeçava Bin Laden.
Indicou que a segurança policial foi reforçada nas embaixadas dos Estados Unidos, França, Espanha, Grã-Bretanha e Israel, bem como outros pontos importantes.
O ministro agregou que o escritório local de integração com a Polícia Internacional (Interpol) se mantém alerta e com comunicações abertas com seus similares do exterior, por causa do anúncio dos Estados Unidos, de ter assassinado Bin Laden, um antigo agente de Washington.
Celebrou também que tenha sido abatido "o terrorista mais procurado do mundo".
O tema ocupou as capas dos jornais e espaços nobres de rádio e televisão, com diversos comentários sobre o acontecimento.
Entre esses comentários houve reflexões em torno da utilidade política da operação para a reeleição do presidente norte-americano Barack Obama.

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Ao menos 20 mortos por bombardeios no Afeganistão
Cabul, 3 mai. (Prensa Latina) - Uma parte da Organização do Tratado do Atlântico do Norte (OTAN) informou a morte de ao menos 20 pessoas após um bombardeio na província de Nuristão, a maioria civis, segundo denunciou a insurgência.
De acordo com o comando dessas forças ocupantes, as vítimas são "supostos talibãs", mas meios da insurgência desmentiram essa versão no site da Agência Kali Yuga.
Essa fonte acrescentou que os combates se intensificaram a partir de segunda-feira passada em outras regiões afegãs como Lashkargah, Khan e Sheen, Daykunde, Saripul, Chora, Siyad, Nad Ali e Helmand.
Em Lashkargah foi anunciada a morte de um soldado estadunidense não identificado, com a qual o número de militares mortos dessa nacionalidade chegou neste ano a 121 de um total de 161.
As informações do comando da OTAN não ofereceram detalhes do bombardeio mencionado nem sobre os combates, mas admitiu que existe um significativo aumento das ações da insurgência.
De acordo com as informações conhecidas nesta capital o número de militares, policiais e guardas de segurança que trabalham para empresas privadas chegou no último fim de semana a dez, além de quatro integrantes de grupos insurgentes.
Informações apontaram a destruição ao menos, de dois veículos blindados em Arghasan e um número indeterminado de baixas insurgentes e das tropas do governo de Hamid Karzai.

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Críticas na Alemanha pela morte de Bin Laden
Harald Neuber
Berlim, 3 mai. (Prensa Latina) - Representantes de partidos políticos e organizações não governamentais na Alemanha reagiram com críticas à morte de Osama Bin Laden.
Enquanto a chanceler federal alemã, Angela Merkel, felicitou o presidente estadunidense, Barack Obama, pela liquidação do chefe da organização terrorista Al Qaeda, outras vozes criticaram a ação militar.
Segundo o porta-voz para a política internacional do grupo parlamentar do partido socialista Die Linke (A Esquerda), Wolfgang Gehrcke, "deveria ter sido tarefa da polícia paquistanesa deter Bin Laden e extraditá-lo ao Tribunal Penal Internacional".
O parlamentar destacou que os Estados Unidos participaram na criação do direito internacional moderno após a derrota do fascismo alemão com a fundação do Tribunal de Nuremberg em 1945.
A luta contra o terrorismo nunca será exitosa através da guerra, mas somente baseada em uma ordem econômica mundial justa e um diálogo entre as culturas e religiões, resumiu Gehrcke.
Em um programa de televisão, o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt também criticou a ação que ocasionou a morte de Bin Laden.
"Por um lado foi uma violação clara do direito internacional, por outro lado terá consequências não calculáveis no mundo árabe", disse o social-democrata de 92 anos.
Enquanto isso, o jornalista alemão e especialista nos países árabes e asiáticos Peter Scholl-Latour considerou a ação do comando militar na cidade de Abbottabad uma "violação da soberania paquistanesa".
Simultaneamente, as igrejas e o Movimento pela Paz recusaram as reações nos Estados Unidos após a morte de Bin Laden.
"Se funcionários de governos ocidentais celebram a morte de um ser humano, baixam-se ao mesmo nível dos terroristas que não têm respeito pela vida humana", comentou o Conselho Federal pela Paz, uma aliança de organizações pacifistas, nesta terça-feira na cidade alemã de Kassel.
Segundo seu porta-voz, Peter Strutynski, a guerra no Afeganistão já custou bem mais vidas que os ataques terroristas às torres gêmeas de Nova Iorque em 2001.
Por isso, os grupos do Movimento Alemão pela Paz continuam exigindo pôr fim à guerra no Afeganistão.
"Lamentavelmente, isso não foi parte do discurso governamental", agregou Strutynski em referência a uma coletiva de imprensa da chanceler Merkel nesta segunda-feira em Berlim.

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Osama morto, Obama sobe nas pesquisas
Washington, 4 mai. (Prensa Latina) - O nível de aprovação do presidente estadunidense, Barack Obama, registrou uma alta depois do anúncio da morte de Osama Bin Laden, mas existem dúvidas de que seja prolongada esta lua de mel.
Segundo os resultados de uma pesquisa divulgados hoje, 56% dos entrevistados expressaram que respaldam o desempenho de Obama como mandatário, um incremento de nove pontos percentuais com respeito às estatísticas de abril, assinalou a sondagem do Jornal The Washington Post e o Pew Research Center.
Este é o nível de apoio mais alto em uma pesquisa do jornal e da pesquisadora desde 2009, destaca a informação.
Os apoios mais significativos para o chefe da Casa Branca foram em assuntos de segurança. O 69% dos cidadãos apoia a forma como maneja as supostas ameaças de terrorismo, enquanto 60% está de acordo com a condução que dá ao conflito no Afeganistão.
No entanto, a pesquisa detectou que Obama só conta com 40% de aprovação quanto ao tema econômico, praticamente sem mudança em relação às pesquisas anteriores. E este, sublinha o rotativo, é o tópico mais importante no país.
Os analistas estimam que, com a morte de Bin Laden, o presidente Obama conseguiu oxigenar-se, algo que precisava ao estar encurralado pelas pressões da oposição republicana, pela queda da economia que não cessa e pela existência de mais de uma frente de guerra em atividade.
O professor da Universidade de Georgetown e especialista em eleições presidenciais Stephen Wayne advertiu que o terrorismo não é o tema principal da nação, mas a economia.
Se a morte de Bin Laden resultar em mais ataques contra os Estados Unidos, isso porá Obama no centro das atenções dos eleitores, assegurou.

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EUA revive debate sobre uso de tortura contra prisioneiros
Washington, 4 mai. (Prensa Latina) - O uso da tortura contra prisioneiros revive hoje nos Estados Unidos, há poucos dias de conhecer-se a morte de Osama Bin Laden, confirmam meios de difusão nacionais.
A tortura que imperou durante os anos do presidente George W. Bush (2001-2009) voltou ao centro da polêmica nacional, assinala nesta quarta-feira um artigo do jornal The New York Times.
"O ex-presidente (Bush) e muitos conservadores sustentaram durante anos que as técnicas de interrogatório com o uso da tortura era necessária para persuadir integrantes da Al Qaeda para que falassem", recorda o texto do diário.
Enquanto a emissora de televisão Fox News indica que se iniciou uma discussão no Congresso sobre se a intensificação das técnicas de interrogatório e o submarino (afogamento simulado) conduziram à descoberta e assassinato do dirigente terrorista.
Washington "utilizou duras técnicas para interrogar os suspeitos de terrorismo, mas pouco depois de assumir o cargo, o presidente estadunidense, Barack Obama, ordenou pôr fim à prática do submarino", aponta o canal televisivo.
Neste contexto, o ex-vice-presidente estadunidense Richard Cheney defendeu ontem pela enésima vez as torturas contra réus ao afirmar que quiçá permitiram a morte de Bin Laden.
Se essas tácticas tiveram sucesso em conseguir informação para encontrar o líder da Al Qaeda, então devem continuar sendo empregadas, manifestou o ex-vice-presidente em uma entrevista com a Fox News.
Esse programa de interrogatório melhorado permitiu os resultados que conduziram à captura do terrorista, reforçou.
No entanto, as declarações de Cheney foram desmentidas pela administração democrata.
Alguma informação provinha de indivíduos sob custodia, outras de fontes humanas no terreno, mas nenhuma foi fundamental senão em seu conjunto, comentou o assessor antiterrorista do Escritório Oval, John Brennan.
Cheney foi um enérgico defensor dos maltratos contra detentos na autoproclamada campanha contra o terrorismo, desatada depois dos ataques do 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque.
Entre as técnicas mais usadas durante a administração de George W. Bush pela Agência Central de Inteligência e pelo Pentágono esteve o afogamento simulado, conhecido como submarino.
Por tal motivo, vários agrupamentos defensores dos direitos humanos apresentaram demandas contra ambos políticos e o então secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

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Estátua da LiberdadeEx-interrogador estadunidense condena uso da tortura
Roberto Castellanos Fernandez
Washington, 5 mai. (PL) - Um ex-interrogador estadunidense no Iraque condenou hoje o uso da tortura para obter informação de prisioneiros ao mesmo tempo em que estimou que essas práticas impidiram capturar muito antes a Osama Bin Laden.
"Estou convencido de que o haveríamos encontrado (a Bin Laden) muito antes se não houvéssemos recorrido à torturas e aos maltratos", comentou Matthew Alexander, quie usou esse pseudônimo durante uma entrevista com a cadeia comunitária de rádio e televisão Democracy Now.
Esses métodos são imorais e violam as leis e a Constituição dos Estados Unidos, além de ser incompatíveis com os principios deste país, manifestou.
Para Alexander, o emprego de maus-tratos durante o governo de George W. Bush "frearam a procura de Osama Bin Laden e de muitos outros membros da Al Qaeda" e, pelo contrário, permitiram a essa agrupação captar mais membros.
Como exemplo, citou o caso de Sheikh al-Libi, considerado um mensageiro do líder da Al Qaeda , que foi detido e torturado em uma prisão secreta da Agência Central de Inteligência.
Al-Libi revelou o nome de Maulawi e o apresentou como um correio de Bin Laden, mas deppois da investigação nos demos conta de que esse homem não existía. Nos fez desperdiçar recursos e tempo em uma pista falsa, manifestou o ex-uniformizado.
Por outra parte, agregou, Khalid Sheikh Mohammed, um dos dirigentes da organização, por seu cargo, sim, devia conhecer o verdadeiro nome do correio, mas apesar das torturas nunca informou sobre isso.
Na opinião de Alexander, isso demonstra que as técnicas agressivas como o afogamento simulado, conhecido como submarino, não levam a obter uma informação confiável.
Muitos dos combatentes estrangeiros capturados no Iraque afirmaram que se somaram à luta em vingança pelas torturas cometidas pelo Pentágono na cárcere de Abu Ghraib e na base naval de Guantânamo, explicou Alexander.
Relatou que no Iraque participou em mais de 300 interrogatórios, muitos deles considerados de alto nível.
Mas minha experiência demonstra que as técnicas não coercitivas são extremamente mais eficazes, inclusive com os membros da Al Qaeda, sublinhou.

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Osana Bin ladenPaquiistão, entre Obama e Osama
Manuel Vazquez
Islamabade, 5 mai. (PL) - A morte de Osama Bin Laden deixou muito mal parado o Paquistão, cujas autoridades enfrentam hoje uma chuva de críticas, tanto pela presença do terrorista no país, como pela impunidade com que atuaram os Estados Unidos para ultimá-lo.
Os primeiros questionamentos são para os serviços de inteligência locais, por sua aparente incapacidade de detectar o homem mais procurado do mundo em uma mansão fortificada à distância de uma pedrada de uma importante academia militar.
O Exército tampouco escapa das observações, dada a indefensibilidade exibida frente à violação da soberanía e do espaço aéreo nacionais por parte dos helicópteros estadunidenses que transportaram os comandos norte-americanos.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, por sua parte, se enterou dos fatos pela boca de seu homólogo estadunidense, Barack Obama, mas só depois de consumada a operação e de que o cadáver de Bin Laden houvesse sido levado do país.
A declaração oficial de que o Exército local não brindou nenhum tipo de ajuda logística ou operativa às tropas estadunidenses que atacaram a mansão onde se escondia Bin Laden no povoado de Abbottabad, a 60 quilômetros ao norte de Islamabade, serviu para corroborar o dito pela Casa Branca: que se tratou de uma operação totalmente norte-americana em solo paquistanês.
A "profunda preocupação" expressada por Islamabade a Washington, e a tímida advertência de que "essa ação unilateral não autorizada não deve converter-se em norma", confirma além do mais a indefensibilidade do Paquistão frente aos desígnos de seu aliado na luta contra o terrorismo, afirmam analistas.
Por outra parte, a morte de Bin Laden desatou opiniões encontradas na conservadora sociedade paquistanesa.
Muitos a celebram com a esperança de que contribua para dissociar o país islâmico do terrorismo, mas em cidades como Quetta, Peshawar e até na própria Abbottabad já se produziram manifestações contra os Estados Unidos.
De imediato, o Tehrik-e-Taliban Pakistan, um grupo insurgente ao que se lhe atribuem fortes vínculos com a rede Al Qaeda e com os rebeldes afegãos, já prometeu vingar a morte de Bin Laden.
Outro comandante rebelde da zona tribal de Waziristán do Sul anunciou, por su parte, o rompimento da trégua pactada com o governo, em desacordo com o assassinato de Bin Laden em mãos das forças de elite estadunidenses.
(Fund. Lauro de Campos)

Hawking

Hawking: vida após a morte é conto de fadas para quem tem medo
16/5/2011 15:01, Redação, com agências internacionais - de Londres

Hawking sofre de uma doença degenerativa que o deixa paralisado
O astrofísico norte-americano Stephen Hawking, de 69 anos, afirmou em entrevista à edição desta segunda-feira do diário inglês The Guardian que a vida após a morte não passa de um “conto de fadas” para pessoas com medo de morrer. Hawking, um dos mais respeitados cientistas do planeta, sofre desde os 21 anos com os sintomas de uma doença que paralisa seu corpo e que, segundo os médicos, deveria tê-lo matado poucos anos após os primeiros sinais, mas que, de acordo com o próprio astrofísico, permitiu que ele aproveitasse mais a vida.
– Eu vivi com uma perspectiva de uma morte próxima pelos últimos 49 anos. Em não tenho medo da morte, mas eu não tenho pressa em morrer. Eu tenho muita coisa para fazer antes. Eu considero o cérebro como um computador que vai parar de trabalhar quando seus componentes falharem. Não há céu nem vida após a morte para computadores quebrados, isto é um conto de fadas para as pessoas com medo do escuro – disse ao jornal britânico.
Em 2010, Hawking lançou o livro The Grand Design, no qual afirma que não há necessidade de um criador para explicar a existência do Universo. As afirmações vão contra um de seus mais famosos livros, Uma Breve História do Tempo (hoje revisado e com o título Uma Nova História do Tempo), de 1988, em parceria com Leonard Mlodinow.
Nos anos 80, Hawking dizia que uma teoria do tudo, a qual Einstein buscava e que poderia explicar todas as forças e partículas do Universo, seria o que levaria o homem a “conhecer a mente de Deus”. Agora, o astrofísico descarta a vida após a morte e diz que devemos focar nosso potencial na Terra fazendo bom uso de nossas vidas.
Nesta terça-feira, Hawking profere uma palestra em Londres onde afirmará que flutuações quânticas no início do universo tornaram possíveis as galáxias, estrelas e, por fim, a vida humana. Hawking ainda falará sobre a teoria M, que une as teorias das cordas e é vista por muitos cientistas como a melhor candidata a teoria do tudo.

(Correio do Brasil)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cuba

Havana renasce
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admin
– 06/04/2011Posted in: Posts
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Por Leonardo Padura, na Agência IPS | Tradução: Antonio Martins
Havana está renascendo. Não se pode assegurar que da melhor forma, mas o renascer é evidente. Assim que foram oficializadas as primeiras medidas de “atualização do modelo econômico cubano” (ele tomará formas e projeções definitivas no congresso do Partido Comunista, em meados de abril), os efeitos da nova política começaram a alterar, de maneira acelerada, a fisionomia física de uma cidade que, nos últimos cinquenta anos, parecia ter parado no tempo (e até retrocedido, com a deterioração).
Até agora, a abertura mais contundente e visível foi a revitalização do trabalho por conta própria. Ampliaram-se as atividades em que ele pode ser exercido (um processo nada espetacular, porque abrange ofícios específicos e negócios muito pequenos, não profissões). Um número notável de novas licenças para exercer as distintas possibilidades de trabalho privado foi concedido, ainda que, de início, tenha-se estabelecido um forte sistema de impostos – que lança dúvidas sobre a capacidade dos aspirantes para cumprir os compromissos fiscais.
A alternativa de trabalho independente, proibida e estigmatizada por muitos anos, cumpre diversos papéis – entre eles, absorver uma parte dos empregados estatais e governamentais que se tornarão “disponíveis”, segundo a retórica cubana. Calcula-se que o número de demissões chegará a mais de um milhão, quando o processo tiver terminado – embora, por enquanto, o processo tenha sido desacelerado, diante da evidência de que a sociedade e a economia não têm suficientes opções para tantas pessoas.

Ao mesmo tempo, o trabalho por conta própria é uma tentativa de dar impulso – leve, porém necessário – à decentralização das estruturas econômicas de um modelo em que, até hoje, a presença do Estado foi como o da essência divida: brilhou em toda parte, mesmo que nem sempre visível ou tangível. No mercado de trabalho, e claro, a presença estatal e governamental era absoluta e hegemônica. Sofreu deserções, é certo, a partir da crise de 1990. Os salários oficiais tornaram-se insuficientes para os gastos do empregado médio. Muitas pessoas em idade de trabalho preferiram passar à atividade do “invento” – termo cubano que engloba as mais dissimuladas estratégias de sobrevivência.
Entre os “novos negócios” a que acorreram os cubanos sob condições legais recentemente aprovadas, dois setores exerceram grande atração: a gastronomia e a venda de produtos agrícolas em todos os pontos da cidade. A avalanche de cafeterias, pequenos restaurantes e vendedores de rua ou ambulantes (que necessitam de investimento inicial mínimo ou nulo) introduziram um ambiente de criatividade e mobilidade. Ele vai dando ao entorno urbano uma imagem de feira de milagres, em que cada um vende o que pode e como pode. Centenas de cafeterias (é de se perguntar: haverá clientes para tantas, num país em que a maioria dos salários apenas garante a subsistência?) brotam em cada esquina; em pórticos; em locais rústicos. Surgem quase sempre sem a menor sofisticação, e com uma característica: os alimentos são consumidos em pé, nas calçadas, transmitindo uma imagem de improvisação e pobreza que é às vezes dolorosa.
Enquanto isso, os vendedores de hortaliças e alguns outros produtos agrícolas optaram por postos ainda mais frágeis e pior montados, ou mesmo por vender nas calçadas, nas próprias caixas de madeira em que os produtos foram transportados e armazenados. Sem requintes de sofisticação, com a convicção de que a procura supera em muito a oferta e sem intenção de atrair pela qualidade, apresentação ou preço, estes pontos de venda, mais que uma imagem de pobreza e improviso, trazem à cidade ares rurais e nostálgicos, de que Havana havia se afastado há muitas décadas.

Além destes dois ramos, surgiu à luz, oficialmente aceito, o negócio de venda de CDs ou DVDs gravados com música, filmes e seriados de TV, pirateados das formas mais diversas e imaginativas. A cópia – ação original que alimenta o negócio – é ilegal. Mas o comércio do material copiado é um ofício permitido e fiscalizado. Balcões rústicos, colocados em pórticos e calçadas, oferecem ao comprador as últimas produções do cinema norte-americano e as mais recentes gravações das estrela do espetáculo – que inclusive atraem turistas estrangeiros de passagem pela cidade.
A busca de soluções individuais, por meio da montagem destes pequenos negócios, sem que haja muitos regulamentos arquitetônicos ou urbanísticos que os controlem, vai dando à capital cubana uma imagem de feira sem limites, de cidade em que o rural se mescla com o urbano, a novidade com a improvisação. Enfim, Havana muda porque tinha de mudar… e um dos preços que paga é o de sua deteriorada beleza.

Leonardo Padura [verbete na Wikipedia] é escritor e jornalista cubano e professor de Literatura Latinoamericana, na Universidade de Havana. Seus romances foram traduzidos para mais de quinze idiomas. Sua obra mais recente, O homem que amava os cães (breve resenha) tem como personagens centrais Leon Trotsky e seu assassino, Ramón Mercader. Agraciado pelo governo espanhol com dupla nacionalidade, prefere continuar vivendo em Havana.

(Outras Palavras)

EUA

Há nos Estados Unidos um cansaço da guerra?
A ideia de que as tropas devem retornar para casa tornou-se uma possibilidade séria. Alguns ficarão irritados porque os EUA estariam, assim, exibindo debilidade. E, de certa forma, isso está certo. É parte da decadência estadunidense. No entanto, lembrará aos políticos estadunidenses que lutar guerras exige um sério apoio da opinião pública. E nesta combinação de pressões geopolíticas e econômicas que todo mundo sente, o cansaço da guerra é um sério fator a se considerar daqui em diante. O artigo é de Immanuel Wallerstein.
Immanuel Wallerstein – La Jornada
Os Estados Unidos estão atualmente envolvidos em três guerras no Oriente Médio – no Afeganistão, no Iraque e, agora, Líbia. Os Estados Unidos têm bases por todo o mundo, em mais de 150 países. Na atualidade, mantem tensas relações com Coreia do Norte e Irã e nunca descartou a ação militar.

Quando começou em 2002, a guerra no Afeganistão teve um fortíssimo apoio da opinião pública estadunidense e um grande respaldo em outros países. A guerra no Iraque teve quase tanto respaldo da opinião pública estadunidense, quando começou em 2003, mas muito menos apoio em outros países. Agora, os EUA estão a meio caminho na Líbia. Menos da metade do público estadunidense respalda as ações e há muita oposição no resto do mundo.

As pesquisas mais recentes nos EUA mostram oposição não só à operação na Líbia, como também a permanecer no Afeganistão. Já há quem fale de um cansaço da guerra, como é compreensível que exista, já que é difícil argumentar que o país tenha saído vitorioso de qualquer um destes conflitos.

O conflito na Líbia caminha para se tornar um atoleiro prolongado. No Afeganistão, todo o mundo está tentando encontrar uma solução política, que implica a participação dos talibãs no governo e, talvez, ainda no curto prazo, que assumam o poder plenamente. No Iraque, os EUA planejam retirar suas tropas no dia 31 de dezembro. Washington ofereceu manter 20 mil homens por mais tempo, sempre e quando o governo iraquiano solicitar. O primeiro ministro iraquiano, Nuri Maliki, poderia ceder a esta tentação, mas os sadristas (movimento nacional fundamentalista islâmico do Iraque) já disseram que se fizer isso retirarão seu apoio e seu governo cairá.

O mais interessante, porém, é o que provavelmente ocorrerá no próximo ano na política interna estadunidense, conforme nos aproximamos das eleições presidenciais. Desde 1945, o Partido Republicano tem feito campanha como o partido que respalda com força os militares, acusando os democratas de serem frouxos nesta área. Os democratas sempre reagiram buscando provar que não são moles, e, na prática, não tem havido muita diferença nas políticas reais empreendidas por esses partidos quando estão na presidência. De fato, as maiores guerras (Coreia e Vietnã) começaram no mandato de presidentes democratas.

O Partido Democrata sempre teve um grupo, considerado sua ala esquerda, crítico destas guerras, e esse grupo continua existindo e protestando. Mas, entre os políticos eleitos, estes democratas sempre foram uma minoria, que é totalmente ignorada.

O Partido Republicano estava mais unido em torno de um programa de apoio constante aos militares e às guerras, Foram raros os políticos republicanos que tiveram um ponto de vista diferente. Estes surgiram da área libertária do partido, e a pessoa mais notável que encarna esse ponto de vista é o representante Ron Paul, do Texas. Ele foi também um dos poucos políticos que pensou ser uma má ideia manter um respaldo ilimitado dos Estados Unidos a Israel.

No momento, já nos encontramos na corrida pela presidência. Barack Obama será o candidato democrata. Ninguém o desafiará dentro do partido. O panorama republicano é bem oposto. Há 10 ou 12 candidatos disputando a indicação e nenhum deles é claramente favorito. A corrida dentro do partido está totalmente aberta.

O que significa isso para a política externa? Ron Paul busca a indicação. Em 2008, quase não tinha respaldo. Agora, está em uma situação melhor. Isso se deve, em parte, a suas fortes posturas sobre as políticas fiscais, mas suas posições sobre a guerra também estão atraindo atenção. Além disso, um novo candidato entrou no ring: Gary Johnson, um ex-governador republicano do Novo México. Ele também é um libertário, ainda mais forte que Paul em assuntos relacionados com a guerra. Johnson defende uma retirada total imediata no Afeganistão, Iraque e Líbia.

Dada a vasta dispersão na direção de vários candidatos potenciais, não há dúvida de que haverá programas de televisão onde todos os candidatos republicanos falarão e debaterão. Se Johnson fizer do assunto da guerra um grande argumento de campanha, isso exigirá que os demais candidatos republicanos abordem o tema também.

Uma vez que isso ocorra, descobriremos que os chamados republicanos do Tea Party estão profundamente divididos quanto ao envolvimento do país na guerra. Muito cedo os EUA estarão debatendo esse tema. Barack Obama descobrirá que a posição centrista que vem procurando manter moveu-se para a esquerda. Se ele quiser permanecer sendo um centrista, também deverá se mover para a esquerda.

Isso implicará uma virada importante na política estadunidense. A ideia de que as tropas devem retornar para casa tornou-se uma possibilidade séria. Alguns ficarão irritados porque os EUA estariam, assim, exibindo debilidade. E, de certa forma, isso está certo. É parte da decadência estadunidense. No entanto, lembrará aos políticos estadunidenses que lutar guerras exige um sério apoio da opinião pública. E nesta combinação de pressões geopolíticas e econômicas que todo mundo sente, o cansaço da guerra é um sério fator a se considerar daqui em diante.

Tradução: Katarina Peixoto

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(Carta Maior)

Pensamentando

DE BAR EM BAR I: SPAZIO PIRANDELLO (COLUNA DO MOUZAR BENEDITO)
26/04/2011, 18:47
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Rua Augusta (anos 1970) - Fonte: Blog Bandeira Quadriculada
Foi um bom bar de São Paulo, no final dos anos 1970 e início dos 80. Ficava na rua Augusta, onde hoje funciona o Piolim. Vivia lotado. Os donos eram da área de teatro, simpáticos, e atraíam não só a “classe teatral”, mas também todo um pessoal alternativo, inclusive (mas não só) uma grande clientela que hoje seria classificada como GLS — gays, lésbicas e simpatizantes.
Era uma época muito festiva, de fim de ditadura, com a volta de exilados, saída de presos políticos, fundação do PT… e muitos encontros eram marcados lá, quando o ex-exilado, ex-preso ou militante petista tinha um estilo meio alternativo. Os mais caretas a gente não levava lá.
Pessoas de certas tendências do PT e militantes do PC do B, por exemplo, mesmo sendo amigas, eu nunca levava ao Pirandello. O PC do B, maoísta, já não era mais da “linha chinesa”, como os leigos e a imprensa chamavam.
A imprensa de direita chamava a União Soviética de “perigo vermelho” e, quando acharam que ela não era mais uma ameaça, passou a falar do “perigo amarelo”, representado pela China comunista. E o PC do B, era o partido temido, por ser mais “radical”, adepto do maoísmo, e tido como o partido dos comunistas que continuavam comendo criancinhas (que ironia: os padres propagandeavam isso!). Os comunistas do Partidão (PCB), diziam, não eram mais tão comunistas assim, eram “moderados”.
Mas a China depois de Mao tinha desviado de rota, segundo o PC do B. Sua “meca”, então, era a Albânia, tendo como líder Enver Hoxha, radicalíssimo, que considerava cachorro um animal burguês e proibiu os albaneses de terem cães. Eu, que tinha morado no Rio de Janeiro, no bairro do Leme, e vivia pisando em caca desses bichos na calçada (os cariocas já tinham um apego exagerado aos cachorros, o que agora é ainda mais exagerado em São Paulo), achei divertido. Brincava com meus amigos do PC do B, dizendo que iria pra lá abrir um restaurante pra servir carne de cachorro, pois teriam que matar todos e seria uma contradição num país comunista jogar toda aquela carne fora.
Então, voltando ao Pirandello, um ponto de encontro de homossexuais, convivendo numa boa com heterossexuais da esquerda chamada festiva, não era propriamente um ambiente recomendável para esses companheiros de esquerda linha dura, embora alguns o frequentassem também.
Eu ia lá de vez em quando e uma vez a Célia, minha namorada, ficou até enciumada porque uma atriz famosa de novelas da TV ficou me paquerando. A tal atriz devia pensar que eu, barbudo e cabeludo, era algum famoso que por acaso ela não conhecia, talvez um exilado recém-chegado de volta ao país, porque quase metade de quem estava lá me cumprimentou quando entrei. Eram jornalistas que me conheciam por eu militar na imprensa alternativa, alguns atores e uns moradores do bairro de Pinheiros.
Outra vez que me diverti lá foi quando Mário Augusto Jakobskind, jornalista carioca dos bons, pediu pra eu organizar o lançamento de um livro dele aqui em São Paulo. Penseique o Pirandello poderia ser um bom lugar para o lançamento e fui falar com os donos. Deu certo e o lançamento foi muito bom. Mas o divertido a que me refiro foi no dia em que fui com a Célia marcar a data do lançamento. Na primeira mesa, ainda do lado de fora, no alpendre, havia um casal bem atípico daquele meio: um homem meio gordo, bigodudo, com bigode a la Stalin, aparentando cinquenta anos, tomando vodka, e uma mulher aparentando a mesma idade, vestida com simplicidade, mas elegante, tomando guaraná.
Cochichei com a Célia que aquele casal não devia saber onde estava. Mas na primeira sala do restaurante, mais dois casais iguais: o homem bigodudo tomando vodka, a mulher bem arrumada tomando guaraná. E na sala seguinte, mais vários casais iguais!
— Cacete! O que está acontecendo aqui? — perguntei pra Célia, que também estava admirada.
Perguntei a um dos donos o porquê daquela clientela tão diferente, naquele dia, e tudo ficou esclarecido:
— Hoje tem lançamento de um livro de um jornalista do PC do B, sobre a Albânia.
***
Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças-feiras.
(Blog do Boitempo)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ditaduras

Das ditaduras senis, renasce um povo
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– 22/03/2011Posted in: Posts
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Por Robert Fisk, The Independent | Tradução Coletivo Vila Vudu

Nos dias finais do império otomano, diplomatas dos EUA – cônsules em Beirute, Jerusalém, Cairo e outras cidades – ONGs pela região e milhares de missionários norte-americanos, pediram ao Departamento de Estado e ao presidente Wilson que criasse um estado árabe moderno que se estendesse do litoral do Marrocos às fronteiras da Mesopotâmia e Pérsia. Esse estado, acreditavam eles, poria grande parte do mundo muçulmano na órbita da democracia da Europa e do Ocidente.
Claro que o acordo Sykes-Picot que já dividira secretamente o Oriente Médio, um Wilson moribundo e o salto dos EUA na direção do isolacionismo puseram fim àquelas fantasias. Além do mais, quem sabe se alguns árabes não teriam preferido a “civilização” de Roma e, algumas décadas adiante, de Madrid e Berlim, a outras supostamente decadentes democracias na Europa? No fim, a Segunda Guerra Mundial arranhou Tunísia, Líbia, Egito e Líbano e deixou o resto comparativamente incólume. Mas vivemos tempos de relembrar o que poderia ter sido, na história. Porque agora começa a ser possível rever um mundo futuro no qual se poderia viajar do Marrocos à fronteira Iraque-Irã sem vistos no passaporte. Que os árabes consigam fazer a mesma viagem, claro, é outro assunto.
O que aí está, sem dúvida possível, é a extraordinária tempestade que varre a região, o espetacular despertar de um mundo árabe que muitos de nós conhecemos ao longo de quase toda a vida e que muitos árabes também conheceram ao longo de toda a vida. Das ditaduras senis, corruptas – o câncer do Oriente Médio – está emergindo um povo renascido. Não sem muito sangue derramado, e não sem muita violência a enfrentar pela frente, tanta quanta os árabes enfrentaram também no passado. Mas agora, pelo menos, os árabes podem ter esperança de chegar ao sol das terras altas. Todos os meus amigos árabes disseram-me exatamente a mesma coisa, ao longo das últimas semanas: “Nunca acreditei que viveria o suficiente para ver isso.”
Temos assistido aos tremores subterrâneos que abrem fendas e as frestas que abrem penhascos. Da Tunísia ao Egito, à Líbia, ao Iêmen, ao Marrocos e ao Bahrain e, sim, até, agora, a Síria, os jovens e os bravos disseram ao mundo que querem ser livres. E à liberdade eles chegarão, ninguém duvide, em semanas, meses. Palavras que se escrevem com felicidade, mas que têm de ser ditas com enorme cuidado.
Apesar da confiança do primeiro ministro britânico David Cameron, não tenho muita certeza de que a coisa acabe bem na Líbia. De fato, nem sei se tenho certeza de como acabará, agora que o ataque vão e desnecessário dos EUA ao complexo de onde Gaddafi governa – em tudo idêntico ao que foi encenado em 1986 e custou a vida da filha adotiva de Gaddafi – demonstrou acima de qualquer dúvida de que Obama visa a liquidar o regime. Nem tenho certeza de que se criará facilmente alguma democracia no Bahrain, sobretudo quando a Arábia Saudita – o cálice intocável, tão sagrado quanto fazer críticas a Israel – já manda sua parafernália de guerra pela ponte, para o outro lado.
Observei, é claro, a conversa dos Roberts Skidelskys que creem que a fantasia Bush-Blairista de “libertação” do Iraque – e que terminou com o país, na prática, controlado de Teerã – teria levado aos levantes de rua, hoje (“Mas a combinação da liberdade e ordem das democracias ocidentais (…) é produto de uma longa história que não pode ser reproduzida em curto prazo”, disse Skidelsky). “Muitos povos não orientais dependem das virtudes pessoais do governante, não de instituições que limitem o poder do governante, para tornar tolerável a vida.” Entendi. Não se pode entregar a democracia em mãos de árabes – de fato, não estão preparados para a democracia, como nós, ocidentais, estamos. E como, claro, os israelenses estariam. É mais ou menos como Israel dizer – e vive dizendo – que só há uma democracia no Oriente Médio, e, em consequência, tudo fazerem para que continue assim, pedindo aos EUA que mantivessem Mubarak no poder. Exatamente, aliás, o que aconteceu em janeiro.
Israel é caso a ser examinado. Quase sempre capaz de pensar prospectivamente, Israel, governo, diplomacia e apoiadores nos EUA revelaram-se inacreditavelmente canhestros e descuidados na resposta que deram aos eventos no mundo árabe.
Em vez de abraçar um Egito novo e democrático, Israel pôs-se a alertar contra a volatilidade… da democracia egípcia. Para o governo de Israel, vê-se agora, a queda de ditadores que mil vezes Israel comparou a Hitler é muito pior que a preservação dos mesmos ditadores. Mubarak sempre obedeceria ordens – via Washington – de Israel. Um novo presidente não estará preso, sob essa pressão. Os eleitores no Egito não admitem o cerco de Gaza. Sentem-se ultrajados pelo roubo de terra que Israel pratica, para construir colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia. Não há propina que Washington pague que convença presidente egípcio eleito a tolerar por muito tempo esse estado de coisas.
E por falar em propinas, é claro, a maior de todas foi paga semana passada – em notas promissórias, para garantir – pelo monarca saudita, que está desembolsando quase $150 bilhões a serem gastos dentro de seu alegre reino, na esperança de que, assim, aplacaria a fúria das ruas. Sabe-se lá, talvez até funcione por algum tempo. Mas, como digo sempre, cuidado com a Arábia Saudita. Nunca tire os olhos da Arábia Saudita.
O épico que se vai, com certeza, para a lata do lixo, é a “guerra ao terror”. Nem se ouviu um pio, de Obama, sobre isso, durante meses. Não é estranho? A única coisa que ouvi da “al Qa’ida” sobre o Egito foi uma convocação para derrubar Mubarak – uma semana depois, foi deposto pelo poder do povo. A última missiva do homem das cavernas dizia aos heróicos povos árabes que suas revoluções têm raízes islâmicas, o que muito deve ter surpreendido os povos do Egito, Tunísia, Líbia, Iêmen, Bahrain et al. Porque todos exigiam liberdade, libertação e democracia. E aí, num certo sentido, está a resposta a Skidelsky. Será que crê que todos eles mentem? Mas, se mentem, por que mentiriam?
Como já disse, muito sangue ainda correrá. E muitas mãos aparecerão, querendo reconverter as novas democracias em ditaduras servis de tempo integral. Mas afinal, pelo menos agora, afinal, os árabes podem ter esperança de chegar ao sol das terras altas.

(Outras Palavras)2

Mais um trecho do meu DDD

“Quer ir embora, perguntei.
Não sei. Você acha melhor eu ir?
Talvez fosse bom.
‘ela’ nesse instante, com o olhar turvo, não
resistiu: uma única e furtiva lagrima. Mas tentou
resistir:
Tem a mala.
Eu levo.
Nesse caso, prefiro ir logo.
Começou a arrumar ‘suas coisas’, blusas, cosméticos,
peças íntimas. ‘Nossas’ cartinhas (ela queria
‘recordar’).
Eu te levo até a porta, disse.
Lá você me arranja uma condução?
Claro.
Nossa despedida há um mês. Parecem milênios. Será que
‘ela’ volta um dia?”

“’Ela’ se foi. Como o poeta cantou um dia, eu também
estou sentado num café e choro.”

Berlim

CRÔNICAS DE BERLIM (COLUNA DO FLÁVIO AGUIAR)
05/05/2011, 13:29
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Vamos aproveitar esse ar primaveril do começo de maio para fazer um passeio incomum nas cercanias de onde vivo.
Esclareço: moro num apartamento num prédio de 1899, que resistiu incólume aos bombardeios da Segunda Guerra.
Fica no distrito de Schöneberg, que quer dizer “Morro bonito”, apesar da região ser plana que nem o pampa sul-americano. É um bairro enorme. Antes da guerra era um dos redutos do movimento socialista e antifascista. A tal ponto que um de seus “Kiez” chamava-se “Rote Insel”, que quer dizer “Ilha Vermelha”. “Kiez” é uma palavra de difícil tradução, já que a divisão semântica das localizações urbanas em nossa língua não é a mesma do alemão. Pode ser “bairro”, mas no sentido, por exemplo, de que a “Ilha Vermelha” estava para “Schöneberg” assim como a “Vila Indiana” está para o “Butantã”. De qualquer modo, os nazistas varreram a “Rote Insel” e a resistência do mapa.
A rua onde moro, a Zietenstrasse, fica perto da estação de metrô Nollendorfplatz, em cuja entrada há sempre um buquê de flores lembrando os homossexuais mortos pelos nazistas, pois muitos moravam e ainda moram por aqui.
Mas saiamos logo pela Zietenstrasse, em direção à linha de metrô, uma das mais antigas de Berlim (essa sim bombardeada na Segunda Guerra). Agasalhemo-nos: a primavera vai pelo meio, mas os dias ainda estão frios, apesar de ensolarados. Atravessemos por debaixo da linha do metrô de superfície, com seus arcos de metal e suas carrancas de pedra nas laterais, e vamos logo em busca, cerca de um quilômetro adiante, do Landwehrkanal, um dos tantos canais de água que cortam a cidade de Berlim. Os berlinenses costumam dizer, orgulhosamente, que Berlim tem mais pontes do que Veneza (embora Hamburgo os tenha mais ainda). A comparação é um pouco exagerada, porque Berlim tem o dobro da área total de Veneza, e 12 vezes sua população. Mas enfim, orgulho é orgulho.
Voltaremos ao Landwehrkanal. Agora vamos atravessá-lo através de uma dessas tantas pontes e chegar onde quero, primeiro ponto de nosso passeio de agora: a Stauffenbergstrasse. Seu nome é uma homenagem ao Coronel Carl Phillip Maria Schenk Graf von Stauffenberg (que quer dizer Conde de Stauffenberg), um dos organizadores do atentado contra Adolf Hitler em 20 de julho de 1944. Foi o próprio Stauffenberg quem colocou a bomba junto de Hitler, em seu QG na Prússia Oriental (numa cidade hoje parte da Polônia). Ironia do destino: foram preparadas duas bombas, mas como Stauffenberg tinha apenas uma mão, em conseqüência de um ferimento de guerra, ele só pode levar uma. O atentado falhou: quatro pessoas morreram no QG, mas Hitler não. Entretanto, Stauffenberg, que se retirara do local pouco antes, voou para Berlim convencido de que o Führer morrera. Veio direto para o QG nesta rua onde estamos, para deflagrar a “Operação Valquíria”, que deveria concluir com a instalação de um novo governo.
Surpreendido, com outros oficiais conspiradores, pela notícia de que o atentado falhara, Stauffenberg foi fuzilado na madrugada de 21 de julho pelo comandante do QG, General Friedrich Frommer, que também era um dos membros da trama. Fromm fuzilou o conde e mais três oficiais na esperança de inocentar-se, apagando os “arquivos”. Não adiantou: descoberto e denunciado, foi enforcado em 12 de março de 1945, um mês e meio antes do fim da guerra.
Esse QG hoje abriga o “Memorial da Resistência Alemã”, com dados sobre os que resistiram à fúria nazista. Três coisas saltam aos olhos do visitante. Primeira, a resistência foi muito maior do que parece à primeira vista. Segunda, compreende-se uma das razões de sua ineficácia: ela foi fragmentada demais, com seus diversos “braços” agindo separadamente. Terceira, uma das razões de seu fracasso foi o caráter implacável da repressão nazista. Como observou um amigo meu (alemão), ali onde outros hesitariam, os nazistas não hesitavam, agindo com toda a violência capaz e necessária para esmagar os inimigos, adversários, e até mesmo os dissidentes. Como no caso dos conspiradores de 20 de julho de 1944.
Mas voltemos à rua. Façamos uma pequena volta pela Sigismundstrasse, onde vemos uma velha casa ainda esburacada pelas balas dos tiroteios da tomada de Berlim pelo Exército Vermelho. Uma placa relembra aquele tempo: “As feridas da memória”. Vamos agora de novo pela Stauffenbergstrasse até o Lanwehrkanal. Andemos agora por suas margens, em particular a da esquerda, do outro lado da rua onde estávamos. Vamos admirando suas belas árvores, muitas castanheiras (nada a ver com as nossas, são árvores que mais parecem plátanos e jacarandás), alguns chorões (ou salgueiros), e, se tivemos sorte, veremos até algum barco de passeio navegando nele.
Vamos assim chegar a um outro Memorial que quero lhe mostrar, caro ou cara leitor ou leitora e visitante. A certa altura encontramos à sua margem, sobre o balaústre, as letras em metal: “Rosa Luxemburg”. No muro diante das letras, uma placa relembra que neste lugar o corpo da extraordinária militante foi jogado no canal por seus assassinos, membros dos “Freikorps”, uma organização paramilitar que veio a ser uma das células de origem do movimento nazista e de suas SS e AS. Isso aconteceu no dia 15 de janeiro de 1919. Além de Rosa, foram assassinados Karl Liebknecht e na seqüência mais de mil militantes socialistas, comunistas e social-democratas. Infelizmente isso se deu sob o olhar complacente ou conivente do governo social-democrata de então, que liderava a república recém proclamada. Em conseqüência das perturbações em Berlim, durante algum tempo o Parlamento, que votava a nova constituição, foi se reunir na pequena cidade de Weimar (onde moraram Goethe, Lizst e Nietzsche, entre outras personalidades), e por isso o período entre guerras, na Alemanha, é conhecido pelo nome de “República de Weimar”.
Rosa nasceu numa cidade hoje polonesa, então parte do Império Russo. Mas sua militância se deu mesmo na Alemanha.
Bom, depois desse passeio agradável, podemos re-atravessar o canal, percorrer ainda algumas centenas de metros ao lado de uma das alas do Jardim Zoológico de Berlim (que visitaremos outro dia) e ir nos assentar no Café am neuen See – Café à beira do novo lago – um agradável “Biergarten” nos dias que vão da primavera ao outono.
Como hoje está ainda um pouco frio, convido o nosso ou a nossa visitante a tomar, ao invés da generosa cerveja alemã ou de algum dos seus conhecidos vinhos brancos, uma taça de vinho tinto. Pois há bons vinhos tintos na Alemanha, embora mais desconhecidos, produzidos nas regiões de Baden e Franken, por exemplo, entre outras.
Façamos um brinde àqueles tantos e tantas militantes que nessa Alemanha, nela nascidos ou não, por sobre ou sob a fúria nazista, antes, durante ou depois dela, dedicaram e (alguns) deram suas vidas pela liberdade, pela fraternidade, pela humanidade. E pela igualdade também. Afinal, não esqueçamos que hoje, quando fizemos nosso passeio e erguemos nosso brinde, 5 de maio, é o dia do aniversário de Karl Marx.
***
Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, e o recente Crônicas do mundo ao revés (2011). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.
(Blog do Boitempo)

Ainda Bin Laden

Bin Laden e a última aventura do Super Homem
Para entender por que agora, justamente agora, nesta data entre todas as outras possíveis, decidiu-se realizar o “justiçamento” de Bin Laden, talvez seja necessário vincular sua morte repentina e desejada com dois acontecimentos aparentemente desconectados que surgiram na semana passada: o anúncio do Super Homem (na sua história n° 900) de que pensava ir às Nações Unidas para renunciar à cidadania norteamericana, e a divulgação pelo presidente Barack Obama da certidão de nascimento que comprova sua nacionalidade estadunidense. Terá sido uma suprema coincidência? O artigo é de Ariel Dorfman.
Ariel Dorfman - Página/12
Pode ser uma suprema coincidência? Ou por acaso tem gato – ou super herói – nesta tuba?

Para entender por que agora, justamente agora, nesta data entre todas as outras possíveis, decidiu-se realizar o “justiçamento” de Bin Laden, talvez seja necessário vincular sua morte repentina e desejada com dois acontecimentos aparentemente desconectados que surgiram na semana passada.

O primeiro, que causou entre os fanáticos da guerra entre o bem e o mal quase tanta consternação como o assassinato do funesto e lúgubre chefe da Al Qaeda, ainda que menos júbilo, foi o anúncio do Super Homem (na história n° 900 do aniversário que celebra suas peripécias) de que pensava ir às Nações Unidas para renunciar à cidadania norteamericana. O Homem de Aço que, desde sua primeira aparição inaugural na revista Action, em junho de 1938, veste-se com as cores da bandeira estadunidense e age em nome dos valores norteamericanos, chegou a essa decisão tão drástica depois de sofrer críticas do encarregado de segurança do governo estadunidense (um homem negro parecido com Colin Powell) por ter voado até Teerã para demonstrar, durante 24 horas, sua solidariedade com os manifestantes da Revolução Verde que protestavam contra o despotismo de Ahmadinejad e seus partidários.

O governo do Irã (na história em quadrinhos, é claro, já que duvido que os aiatolás reais se dediquem a ler dissimuladamente as aventuras de Superman) denunciou esse ato – por silencioso que fosse e motivado pela não violência – como uma ingerência do Grande Satã em seus assuntos internos, quase como uma declaração de guerra. Os autocratas do Irã me desagradam muito, mas não se objetar sua lógica de aceitar as palavras do próprio Homem de Aço que encarna há décadas o conjunto “truth, justice and the American way” (verdade, justiça e o modo americano de vida). De modo que o Super Homem, para poder agir daqui em diante para além das fronteiras nacionais e os interesses circunstanciais de qualquer Estado, se viu obrigado a estabelecer sua independência frente a seu país adotivo. Porque, de fato, o Super Homem não nasceu nos Estados Unidos, mas sim no planeta Krypton, chegando bebê (sem passar por aduanas nem imigração) ao Kansas em uma pequena nave espacial, sendo acolhido neste território, no centro dos EUA, pelos Kent, fazendeiros que personificam personificam precisamente o “american way”. Era Ka-El. Virou Clark Kent.

É difícil exagerar a indignação com que este ato audacioso de renunciar à cidadania, esta “bofetada” do Superman, foi recebida pelo povo norteamericano. Eu li blogueiros defendendo seriamente que o novo campeão do internacionalismo fosse deportado para seu planeta de origem (como se fosse um mexicano ilegal), e já circula um abaixo assinado para que os executivos da Time Warner (donos da empresa que comercializa o Super Homem) forcem os autores da história a se retratar. Além disso, vários comentaristas conservadores viram esse insulto do super herói como a prova definitiva da decadência do país mais poderoso da terra: até o ídolo que representa mais universalmente nosso modo de vida está nos dando as costas!.

Não sei se o presidente Obama segue atentamente as aventuras do Super Homem (sabe-se que é um fã do Homem Aranha, de cuja origem nova-iorquina não cabem dúvidas), mas alguém deve ter chamado a sua atenção sobre a perda de prestígio que significa a deserção de um tal titã. O que acontece, por exemplo, se o Homem de Aço, guia dos despossuídos, decide fechar Guantánamo ou usar seus olhos de raios X para liberar alguns Super Wikileaks, agora que já deve lealdade à bandeira norteamericana? O que acontece se ele se põe a serviço de uma potência como a China? – ainda que, pensando bem, não haja muita Verdade ou Justiça neste país, de modo que ele seguramente não aceitaria esse tipo de aliança. Em todo o caso, os conselheiros de Obama devem ter lhe explicado que a defecção de Super Homem deveria ser tratada como uma imensa crise cultural e ideológica que inclusive poderia custar a reeleição ao presidente, uma vez que os republicanos já cozinhavam planos para acusá-lo de ter “perdido” o Super Homem (como ocorreu com Cuba ou Vietnã).

A resposta de Obama foi genial: ao matar Bin Laden, provava que os EUA não necessitava de um homem musculoso que voa e atravessa paredes para defender-se dos terroristas, pois, para isso, tem helicópteros e tropas especiais como os Seals, computadores e armas – como que não – de aço. Um modo de restaurar a confiança nacional que estava machucada e que dificilmente poderia tolerar outro menosprezo à sua auréola.

É claro que, antes de poder realizar aquela operação no Paquistão, Obama tinha que acertar outro assunto, um problema que o rondava há vários anos. Como iria apresentar-se perante o mundo e anunciar o assassinato de Bin Laden em nome dos Estados Unidos se uma insólita porcentagem de seu próprio povo duvidada que seu presidente era, de fato, norteamericano? Como criar o contraste com o trânsfuga Super Homem se Obama mesmo era acusado de ter nascido no estrangeiro, no Quênia, que, como se sabe, está muito mais longe do Kansas do que o planeta Krypton, por mais que os três lugares compartilhem a kafkiana letra K?

Isso levou Obama a divulgar, há alguns dias, sua certidão de nascimento, tapando a boca daqueles que o apontavam como um “alien” (alheio, estrangeiro, mas também extraterrestre, outro significativo paralelo entre o presidente e o super herói). Por certo que um conjunto de seus concidadãos segue acreditando que Obama não nasceu em território norteamericano. Insistem que o documento foi flasificado, que o hospital foi subornado e que a mãe (nascida originalmente nada mais nada menos que no Kansas) trouxe o menino de contrabando para o Wawaí, porque sabia que, dali a quarenta e tantos anos, aquele menino mulato seria presidente. Creio que a única maneira desses recalcitrantes aceitarem que Obama nasceu nos EUA seria ele branquear inteiramente a cara e toda a pele. Aí ele já não seria mais um “alien”.

Mas, para a maioria de seus compatriotas, Obama conseguiu em uma semana uma verdadeira e tripla proeza. Ao provar que era um presidente legítimo, pode, armado de seu certificado de nascimento e também do exército mais poderoso do globo, eliminar o sinistro inimigo número um dos Estados Unidos. E sem precisar da intervenção do Super Homem.

E agora?

Agora, proponho uma façanha de verdade: já que a razão pela qual Bush invadiu o Afeganistão era o apoio que os talibãs ofereciam a Bin Laden, não chegou o momento de retirar todas as forças norte-americanas desse país de montanhas e guerrilhas?

Estou seguro que o Super Homem, em parceria com as Nações Unidas e esgrimindo seu novo passaporte cosmopolita e global, ficaria feliz em ajudar no transporte rápido das tropas. Seria bonito vermos isso nas próximas aventuras do Homem de Aço, seria alentador que Obama e o Superman – ambos com suas origens no Kansas, ambos menosprezados por serem “estrangeiros” – colaborassem para criar pelo menos um pequeno oásis de paz no mundo onde infelizmente escasseiam hoje tanto a verdade como a justiça.

(*) Ariel Dorfman é escritor. Seu romance mais recente é “Americanos: Los passos de Murieta”.

Tradução: Katarina Peixoto
(Pagina 12)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Obama

Um Nobel sem escrúpulos




Internacional

Atilio A. Boron
Ter, 03 de Maio de 2011 11:45
Osama Bin Laden
Um Nobel sem escrúpulos
Atilio A. Boron
Na truculenta operação encenada nos arredores de Islamabad há múltiplas interrogações que permanecem na sombra, e a tendência do governo dos Estados Unidos a desinformar a opinião pública torna ainda mais suspeito esta operação. Uma Casa Branca vítima de uma doentia compulsão de mentir (recordar a historieta das "armas de destruição em massa" existentes no Iraque, ou o infame Informe Warren, que sentenciou que não houve conspiração no assassinato de Kennedy, obra do "lobo solitário" Lee Harvey Oswald ) nos obriga a catar com pinças cada uma de suas afirmações. Era Bin Laden ou não? Por que não pensar que a vítima pudesse ser qualquer outro? Onde estão as fotos, as provas de que o falecido era o procurado? Se se lhe fez uma prova de DNA, como se obteve, onde estão os resultados e quais foram as testemunhas? Por que não se o apresentou diante da consideração pública, como se fez, sem ir mais longe, com os restos do comandante Ernesto "Che" Guevara? Se, como se assegura, Osama se ocultava em uma mansão convertida em uma verdadeira fortaleza, como é possível que, em um combate que se estendeu pelo espaço de quarenta minutos, os integrantes do comando estadunidense regressassem a sua base sem receber sequer um arranhão? Tão pouca pontaria teriam os defensores do fugitivo mais procurado do mundo, dos quais se dizia que possuiam um arsenal de mortíferas armas de última geração? Quem estava com ele? Segundo a Casa Branca, o comando matou Bin Laden, seu filho, outros dois homens de sua custódia e uma mulher que, asseguram, foi ultimada ao ser utilizada como um escudo humano por um dos terroristas. Também se disse que mais duas pessoas ficaram feridas no combate. Onde estão, que se vai fazer com elas? Serão levadas a julgamento, se lhes tomaram declarações para arrojar luz sobre o ocorrido, falarão em uma conferência de imprensa para narrar o acontecido? Pelo que parece, esta "façanha" passará à história como uma operação mafiosa, ao estilo da matança de San Valentín ordenada por Al Capone para liquidar os capos da banda rival.
Osama vivo era um perigo. Sabia (ou sabe?) demais, e é razoável supor que a última coisa que o governo estadunidense queria era levá-lo a julgamento e deixá-lo falar. Em tal caso, se desataria um escândalo de enormes proporções ao revelar as conexões com a CIA, os armamentos e o dinheiro supridos pela Casa Branca, as operações ilegais montadas por Washington, os obscuros negócios de sua família com o lobby petroleiro estadunidense e, muito especialmente, com a família Bush, entre outras ninharias. Em suma, um testemunho ao que havia que calar de um jeito ou de outro, como Muammar Kadafi. O problema é que já morto Osama se converte para os jihadistas islâmicos em um mártir da causa, e o desejo de vingança seguramente estimulará as muitas células adormecidas da Al-Qaida a perpetrar novas atrocidades para vingar a morte de seu líder.
Tampouco deixa de chamar atenção o quão oportuna foi a morte de Bin Laden. Quando o incêndio da pradaria ressecada do mundo árabe desestabiliza uma área de crucial importância para a estratégia de dominação imperial, a notícia do assassinato de Bin Laden reinstala a Al-Qaida no centro do cenário. Se há algo que a esta altura é uma verdade incontrovertível é que essas revoltas não respondem a nenhuma motivação religiosa. Suas causas, seus sujeitos e suas formas de luta são eminentemente seculares e em nenhuma delas - desde Tunez até o Egito, passando pela Líbia, Bahrein, Yemen, Síria e Jordânia - o protagonismo recaiu sobre a Irmandade Muçulmana ou a Al-Qaida. O problema é o capitalismo e os devastadores efeitos das políticas neoliberais e dos regimes despóticos que se instalaram nesses países e não as heresias dos "infiéis" do Ocidente. Mas o imperialismo estadunidense e seus sequazes na Europa se desdobraram, desde o princípio, para fazer aparecer essas revoltas como produto da malícia do radicalismo islâmico e da Al-Qaida, coisa que não procede. Santiago Alba Rico observou com razão que em pleno auge desses protestos seculares - antipolíticas de ajuste do FMI e do Banco Mundial - um grupo fundamentalista desconhecido até então assassinou o cooperante italiano Vittorio Arrigoni, ativista do Movimento de Solidaridade Internacional, em uma casa abandonada na Faixa de Gaza. Poucas semanas depois, um terrorista suicida explode uma bomba na praça Yemaa el Fna, um dos destinos turísticos mais notáveis em sólo do Marrocos senão de toda a África, e mata ao menos 14 pessoas. "Agora – continua Alba Rico - reaparece Bin Laden, não vivo e ameaçador, senão que em toda a glória de um martírio adiado, estudado, cuidadosamente encenado, um pouco inverossímil. 'Se fez justiça', diz Obama, mas a justiça reclama tribunais e juízes, procedimentos formalizados, uma sentença independente. "Nada disso ocorreu, nem ocorrerá". Mas o fundamentalismo islâmico, ausente como protagonista das grandes mobilizações do mundo árabe, aparece agora na primeira página de todos os jornais do mundo e seu líder como um mártir do Islã assassinado a sangue frio pela soldadesca do líder do Ocidente, a Casa Branca, que sabia desde meados de fevereiro deste ano que nessa fortaleza nas redondezas de Islamabad se refugiava Bin Laden, esperou o momento oportuno para lançar seu ataque com vistas a colocar favoravelmente Barack Obama na iminente campanha eleitoral pela sucessão presidencial.
Há um detalhe em nada anedótico que torna ainda mais imoral a bravata estadunidense: poucas horas depois de ser abatido, o cadáver do presumido Bin Laden foi lançado ao mar. A mentirosa declaração da Casa Branca diz que seus restos receberam sepultura respeitando as tradições e os ritos islâmicos, mas não foi assim. Os ritos fúnebres do Islã estabelecem que se deve lavar o cadáver, vesti-lo com uma mortalha, proceder a uma cerimônia religiosa que inclui orações e honras fúnebres para logo em seguida proceder ao enterro do defunto. Além disso, se especifica que o cadáver deve ser depositado diretamente na terra, recostado sobre seu lado direito e com a cara dirigida para a Meca. Com que celeridade tiveram que fazer o combate, a recuperação do cadáver, sua identificação, a obtenção do DNA, o traslado a um navio da Armada estadunidense, situado a pouco mais de 600 quilômetros do subúrbio de Islamabad onde se produziu o enfrentamento e, finalmente, navegar até o ponto onde o cadáver foi lançado ao mar como para respeitar os ritos fúnebres do Islã? Na realidade, o que se fez foi abater e "desaparecer" com uma pessoa, presumidamente Bin Laden, seguindo uma prática sinistra utilizada sobretudo pela ditadura genocida que assolou a Argentina entre 1976 e 1983. Ato imoral que não só ofende as crenças muçulmanas senão que também a uma milenar tradição cultural do Ocidente, anterior inclusive ao cristianismo. Como o atesta magistralmente Sófocles em Antígona, privar um defunto de sua sepultura acende as mais recôndidas paixões. Essas que hoje devem estar incendiando as células do fundamentalismo islâmico, desejosas de dar uma lição aos infiéis que ultrajaram o corpo e a memória de seu líder. Barack Obama acaba de dizer que depois da morte de Osama Bin Laden o mundo é um lugar mais seguro para se viver. Equivoca-se de ponta a ponta. Provavelmente, sua ação não fez senão despertar um monstro que estava adormecido. O tempo dirá se é assim ou não, mas sobram razões para se ficar muito preocupado.
Atilio Boron é diretor do Programa Latino-americano de Educação à Distância em Ciências Sociais (PLED), Buenos Aires, Argentina, http://www.atilioboron.com
Tradução: Sergio Granja
Revisão Silvia Mundstock

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Obama anuncia morte de Bin Laden
Washington, 2 mai. (Prensa Latina) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que o líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto por militares estadunidenses durante um operativo realizado no Paquistão.
Em uma mensagem à nação transmitida ao vivo da Casa Branca pouco antes da meia-noite do domingo, o presidente afirmou que o cadáver de Bin Laden está sob a custódia dos Estados Unidos.
Obama assegurou que nenhum dos militares estadunidenses resultou ferido no tiroteio que acabou com a vida daquele que tinha se convertido em um dos homens mais procurados do mundo desde que fora vinculado com o ataque do 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque.
Bin Laden, aparentado com a família real saudita, foi um aliado dos Estados Unidos, apoiado pela Agência Central de Inteligência (CIA), durante a guerra que livrou o movimento Talibão nos anos 80 do século passado contra a presença soviética no Afeganistão.

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Paquistão confirma morte de Bin Laden
Islamabade, 2 mai. (Prensa Latina) - O governo do Paquistão confirmou hoje a morte do líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, em uma operação realizada por militares estadunidenses a menos de cem de quilômetros desta capital.
A chancelaria local afirmou em uma declaração emitida nesta segunda-feira que o operativo em Abbottabad, cidade localizada a uns 60 quilômetros de Islamabad, foi levado a cabo de acordo com a política declarada por Washington de que Bin Laden devia ser eliminado pelo Exército norte-americano em qualquer lugar em que se encontrasse.
Depois de qualificar a morte de um dos homens mais procurados do mundo como um sério revés para as organizações terroristas no mundo, o texto aponta que o presidente paquistanês, Asif Alí Zardari, foi avisado por via telefônica pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a morte de Bin Laden.
De acordo com a chancelaria, o fato reafirma também a vontade do Paquistão, cujos serviços de inteligência foram acusados em mais de uma ocasião de estarem em contato com os rebeldes afegãos, de lutar contra o terrorismo.
Temos estabelecido sistemas extremamente efetivos para compartilhar informações de inteligência com outras agências do mundo, incluída a dos Estados Unidos. Continuaremos apoiando os esforços internacionais contra o terrorismo, agrega a nota da chancelaria.
Pelo conteúdo do comunicado descarta-se, no entanto, que os militares paquistaneses tenham participado do operativo que segundo Obama ocorreu ontem em Abbottabad.
Pouco depois da morte de Bin Laden ser anunciada publicamente , o presidente Zardari reuniu-se com o Premiê, Yousuf Raza Gilani, e com o alto comando do Exército, mas até o momento não foram divulgados detalhes do que foi abordado no encontro.

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Paquistão: Matam policiais e incendeiam 14 caminhões da OTAN
Islamabad, 2 mai. (Prensa Latina) - Quatro policiais morreram e 14 caminhões-tanques com combustível para as tropas da OTAN instaladas no Afeganistão foram destruídos em dois ataques perpetrados por desconhecidos armados no noroeste do Paquistão.
De acordo com a emissora privada Geo News, o incidente mais grave ocorreu ontem à noite nos arredores de Pindi Gheb, a cerca de 60 quilômetros de Islamabad, onde supostos membros do movimento Talibã paquistanês abriram fogo contra os veículos detidos em frente a um restaurante e incendiaram 10 deles.
Antes de abandonar o lugar, os atacantes dispararam contra um posto policial próximo, com saldo de três agentes e um subinspetor mortos.
Outros seis policiais ficaram feridos na ação rebelde, agregou a emissora de televisão.
Enquanto testemunhas citadas pela própria Geo News disseram que outros quatro caminhões-tanques a serviço da OTAN foram incendiados em Dhok Patha, uma localidade que assim como Pindi Gheb pertence à província central de Punjab.
Pelas estradas paquistanesas transita quase a metade dos fornecimentos destinados aos 140 mil soldados que a Organização do Tratado do Atlântico Norte mantém instalados no Afeganistão.
Os fornecimentos entram no Paquistão pelo sul porto de Karachi e depois são transportados para o país vizinho através do Passo de Khyber, no noroeste, ou pelo posto fronteiriço de Baluchistão, no sudoeste.
De acordo com cifras extraoficiais, a OTAN perdeu mais de 200 caminhões no ano passado dentro do Paquistão, como resultado de ataques perpetrados por insurgentes armados, os quais vinculam ao movimento Talibã afegão e à rede Al Qaeda.
Neste ano, quase 100 veículos com combustível ou outros carregamentos para as tropas estrangeiras foram atacados e destruídos enquanto passavam pelo Paquistão.

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Grupo Talibã paquistanês promete vingar morte de Bin Laden
Islamabad, 2 mai. (Prensa Latina) - A organização insurgente Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) prometeu hoje realizar ataques no país islâmico e nos Estados Unidos para vingar a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden.
Se (Bin Laden) atingiu o martirológio, vingaremos sua morte e atacaremos os governos do Paquistão e dos Estados Unidos e suas forças de segurança, anunciou o porta-voz dos rebeldes, Ehsanullah Ehsan, em uma chamada telefônica a vários meios locais de imprensa.
O porta-voz do TTP dirigiu suas ameaças em primeiro lugar contra o presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, e ao alto comando do Exército local.
Os Estados Unidos serão nosso segundo objetivo, agregou.
A morte de Bin Laden, cuja organização Al Qaeda se diz que mantém vínculos estreitos com o movimento talibã paquistanês, foi anunciada pouco antes da meia-noite do domingo pelo presidente estadunidense Barack Obama.
De acordo com o presidente, o homem mais procurado do mundo, desde que foi vinculado aos ataques do 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque, foi abatido por um comando estadunidense em uma residência do povo de Abbottabad, a cerca de 60 quilômetros de Islamabad.
Em sua inesperada mensagem à nação, feita da Casa Branca, Obama disse que tinha telefonado para Zardari pouco depois de se confirmar o assassinato de Bin Laden.
O chefe de estado paquistanês admitiu mais tarde em Islamabad que desconhecia até que ponto seus serviços de inteligência cooperaram com os estadunidenses para levar a cabo o operativo militar, e se limitou a qualificá-lo de uma grande vitória.

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Índia critica Paquistão após morte de Bin Laden
Nova Déli, 2 mai. (Prensa Latina) - A Índia ressaltou hoje que a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, por mãos de militares estadunidenses no Paquistão corrobora suas denúncias de que o país vizinho serve de refúgio a terroristas.
Escutamos com grande preocupação a parte da declaração na qual o presidente Barack Obama afirmou que o tiroteio que acabou com a vida de Bin Laden ocorreu em Abbotabad, dentro do Paquistão, afirmou o ministro do Interior, P. Chidambaram, na primeira reação das autoridades indianas ao anúncio do presidente estadunidense.
Segundo o servidor público indiano, esse fato confirma as denuncias indianas de que terroristas de diferentes organizações se escondem no Paquistão.
Chidambaram mencionou em particular os responsáveis pelos ataques de novembro de 2008 contra a cidade de Mumbai.
Achamos que os autores intelectuais do ataque de Mumbai seguem escondidos no Paquistão, afirmou o ministro, que exortou uma vez mais Islamabade a prender essas pessoas, cujos nomes, disse, foram-lhe entregues pelas autoridades indianas.
Os ataques do dia 26 de novembro de 2008 contra o coração financeiro da Índia, além de causar 166 mortos e mais de 300 feridos, levaram ao fracasso o diálogo de paz iniciado quatro anos antes pelas duas potências nucleares.
Em fevereiro passado começou uma nova aproximação entre Nova Déli e Islamabade, mas o tema do terrorismo e a disputa pelo território fronteiriço da Caxemira seguem sendo os dois principais obstáculos para uma eventual distensão entre os dois países que se enfrentaram em três guerras desde a partição do subcontinente em 1947.

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Alerta na Caxemira indiana por morte de Bin Laden
Nova Déli, 2 mai. (Prensa Latina) - O Exército e a Polícia do território de Caxemira controlado pela Índia foram colocados em alerta hoje, após o anúncio de que o líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, foi morto por um comando estadunidense no Paquistão.
De acordo com a agência local IANS, que citou fontes oficiais anônimas, a ordem foi dada pelos altos comandos de ambas as instituições, apesar de que até o momento não se reportaram protestos.
Nenhum dos líderes políticos dessa conturbada região do norte da Índia se pronunciou sobre o anúncio feito pelo presidente Barack Obama, de que um comando estadunidense executou ontem à noite Bin Laden durante um operativo dentro do território paquistanês.
É necessário estarmos atentos à situação, assegurou a fonte, depois de apontar que tudo dependerá do que ocorra no Paquistão, que controla uma parte Caxemira, e, da mesma forma que a Índia, reivindica o restante.
A velha disputa fronteiriça foi o centro de duas das três guerras nas quais se enfrentaram ambos os países vizinhos desde a partição do subcontinente em 1947.
Na Caxemira indiana, única região de maioria muçulmana do país sul-asiático, existe também um forte movimento separatista que segundo Nova Déli é apoiado pelo Paquistão.
A primeira reação do governo indiano à morte de Bin Laden foi precisamente para apontar que o país se converteu em um refúgio de terroristas.
Escutamos com grande preocupação a parte da declaração na qual o presidente Barack Obama disse que o tiroteio que acabou com a vida de Bin Laden ocorreu em Abbotabad, dentro do Paquistão, afirmou o ministro índio do Interior, P. Chidambaram.
Segundo o funcionário do governo, esse fato confirma as denúncias indianas de que terroristas de diferentes organizações se ocultam no Paquistão.

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Paranoia europeia depois de anunciada morte de Bin Laden
Bruxelas, 2 mai. (Prensa Latina) - A anunciada morte do líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, por parte de tropas estadunidenses desatou hoje o medo na Europa a eventuais ataques terroristas.
A manifestada alegria que a morte provocou no seio da União Europeia (UE) e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contrasta com o temor às represálias.
A Bélgica decretou alerta especial para seus serviços de segurança ante a possibilidade de que seguidores de Bin Laden tentem alguma ação contra as sedes da UE e da OTAN.
André Vandoren, diretor do órgão de coordenação de ameaças do país, disse à imprensa local que não se podem descartar represálias e advertiu que o Governo poderia aumentar oficialmente o nível de ameaça.
O servidor público explicou que o alerta responde também ao atentado ocorrido na semana passada no Marrocos e à recente detenção na Alemanha de três supostos membros da Al Qaeda.
Por outro lado, Rob Wainwright, diretor de Europol (Escritório Policial Europeu), comentou à imprensa creditada que "cabe esperar uma ação de resposta em curto prazo".
Wainwright referiu-se a um natural instinto de vingança que poderia desencadear o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sobre a morte de Bin Laden durante um tiroteio no Paquistão.
Coincidindo com as advertências lançadas nesta segunda-feira pelo Governo de Washington, o diretor do Europol prognosticou que o desaparecimento de seu líder não tirará poder operativo da Al Qaeda.
Bin Laden foi um aliado dos Estados Unidos e nos anos 80 do século passado contou com o apoio da Agência Central de Inteligência (CIA) na guerra contra a presença soviética no Afeganistão.
Mas a Casa Branca responsabilizou-o pelos ataques perpetrados contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em setembro de 2001 e desde então converteu-se em um dos homens mais procurados do mundo.

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Ban Ki-moon destaca importância de morte de Bin Laden
Nações Unidas, 2 mai. (Prensa Latina) - O secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou hoje que a morte de Osama Bin Laden por forças dos Estados Unidos marca uma meta na luta global contra o terrorismo.
Em uma declaração na sede da ONU em Nova Iorque, o máximo responsável pela organização mundial assinalou que os crimes da Al Qaeda afetaram a maioria dos continentes e provocaram tragédias e a perda de milhares de pessoas.
A ONU condena nos termos mais enérgicos o terrorismo em todas as suas formas, sem importar seus propósitos e onde queira que sejam cometidos, apontou.
Este é um dia para recordar as vítimas do terrorismo e suas famílias nos Estados Unidos e em todas as partes do mundo, destacou Ban Ki-moon ao reafirmar o empenho da ONU para encabeçar a luta contra esse mal junto a líderes mundiais.
Além disso, elogiou o trabalho e o compromisso de muitas pessoas no mundo que têm lutado para erradicar o terrorismo internacional.
A notícia sobre a morte de Bin Laden, ocorrida durante um ataque de comandos norte-americanos próximo à capital do Paquistão, foi difundida ontem à noite pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Nova Iorque, cidade sede da ONU e palco do atentado contra as Torres Gêmeas de Manhattan em setembro de 2001, está marcada hoje por um evidente reforço das medidas de segurança em prevenção de possíveis represálias da Al Qaeda, segundo informou-se.

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Segurança em embaixadas dos EUA e aliados é reforçada no Peru
Lima, 2 mai. (Prensa Latina) - A segurança das embaixadas dos Estados Unidos e vários de seus aliados foi reforçada preventivamente depois da morte de Osama Bin Laden, confirmou hoje o presidente do Peru, Alan Gracía.
García pôs em dúvida no entanto que o grupo Al Qaeda, que Bin Laden liderava, possa realizar ações aqui estendendo "sua mão assassina" a este país.
O governante celebrou o anúncio oficial norte-americano de ter matado Bin Laden, a quem chamou de "encarnação do crime, do mal e do ódio".
Por sua vez, o ministro do Interior, Miguel Hidalgo, disse ter se reunido, para tratar sobre o tema, com a embaixadora dos Estados Unidos, Rose Likins.
Acrescentou que as medidas de emergência foram adotadas ante a eventualidade de ações de resposta do grupo terrorista Al Qaeda que encabeçava Bin Laden.
Indicou que a segurança policial foi reforçada nas embaixadas dos Estados Unidos, França, Espanha, Grã-Bretanha e Israel, bem como outros pontos importantes.
O ministro agregou que o escritório local de integração com a Polícia Internacional (Interpol) se mantém alerta e com comunicações abertas com seus similares do exterior, por causa do anúncio dos Estados Unidos, de ter assassinado Bin Laden, um antigo agente de Washington.
Celebrou também que tenha sido abatido "o terrorista mais procurado do mundo".
O tema ocupou as capas dos jornais e espaços nobres de rádio e televisão, com diversos comentários sobre o acontecimento.
Entre esses comentários houve reflexões em torno da utilidade política da operação para a reeleição do presidente norte-americano Barack Obama.

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Ao menos 20 mortos por bombardeios no Afeganistão
Cabul, 3 mai. (Prensa Latina) - Uma parte da Organização do Tratado do Atlântico do Norte (OTAN) informou a morte de ao menos 20 pessoas após um bombardeio na província de Nuristão, a maioria civis, segundo denunciou a insurgência.
De acordo com o comando dessas forças ocupantes, as vítimas são "supostos talibãs", mas meios da insurgência desmentiram essa versão no site da Agência Kali Yuga.
Essa fonte acrescentou que os combates se intensificaram a partir de segunda-feira passada em outras regiões afegãs como Lashkargah, Khan e Sheen, Daykunde, Saripul, Chora, Siyad, Nad Ali e Helmand.
Em Lashkargah foi anunciada a morte de um soldado estadunidense não identificado, com a qual o número de militares mortos dessa nacionalidade chegou neste ano a 121 de um total de 161.
As informações do comando da OTAN não ofereceram detalhes do bombardeio mencionado nem sobre os combates, mas admitiu que existe um significativo aumento das ações da insurgência.
De acordo com as informações conhecidas nesta capital o número de militares, policiais e guardas de segurança que trabalham para empresas privadas chegou no último fim de semana a dez, além de quatro integrantes de grupos insurgentes.
Informações apontaram a destruição ao menos, de dois veículos blindados em Arghasan e um número indeterminado de baixas insurgentes e das tropas do governo de Hamid Karzai.

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Críticas na Alemanha pela morte de Bin Laden
Harald Neuber
Berlim, 3 mai. (Prensa Latina) - Representantes de partidos políticos e organizações não governamentais na Alemanha reagiram com críticas à morte de Osama Bin Laden.
Enquanto a chanceler federal alemã, Angela Merkel, felicitou o presidente estadunidense, Barack Obama, pela liquidação do chefe da organização terrorista Al Qaeda, outras vozes criticaram a ação militar.
Segundo o porta-voz para a política internacional do grupo parlamentar do partido socialista Die Linke (A Esquerda), Wolfgang Gehrcke, "deveria ter sido tarefa da polícia paquistanesa deter Bin Laden e extraditá-lo ao Tribunal Penal Internacional".
O parlamentar destacou que os Estados Unidos participaram na criação do direito internacional moderno após a derrota do fascismo alemão com a fundação do Tribunal de Nuremberg em 1945.
A luta contra o terrorismo nunca será exitosa através da guerra, mas somente baseada em uma ordem econômica mundial justa e um diálogo entre as culturas e religiões, resumiu Gehrcke.
Em um programa de televisão, o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt também criticou a ação que ocasionou a morte de Bin Laden.
"Por um lado foi uma violação clara do direito internacional, por outro lado terá consequências não calculáveis no mundo árabe", disse o social-democrata de 92 anos.
Enquanto isso, o jornalista alemão e especialista nos países árabes e asiáticos Peter Scholl-Latour considerou a ação do comando militar na cidade de Abbottabad uma "violação da soberania paquistanesa".
Simultaneamente, as igrejas e o Movimento pela Paz recusaram as reações nos Estados Unidos após a morte de Bin Laden.
"Se funcionários de governos ocidentais celebram a morte de um ser humano, baixam-se ao mesmo nível dos terroristas que não têm respeito pela vida humana", comentou o Conselho Federal pela Paz, uma aliança de organizações pacifistas, nesta terça-feira na cidade alemã de Kassel.
Segundo seu porta-voz, Peter Strutynski, a guerra no Afeganistão já custou bem mais vidas que os ataques terroristas às torres gêmeas de Nova Iorque em 2001.
Por isso, os grupos do Movimento Alemão pela Paz continuam exigindo pôr fim à guerra no Afeganistão.
"Lamentavelmente, isso não foi parte do discurso governamental", agregou Strutynski em referência a uma coletiva de imprensa da chanceler Merkel nesta segunda-feira em Berlim.

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Osama morto, Obama sobe nas pesquisas
Washington, 4 mai. (Prensa Latina) - O nível de aprovação do presidente estadunidense, Barack Obama, registrou uma alta depois do anúncio da morte de Osama Bin Laden, mas existem dúvidas de que seja prolongada esta lua de mel.
Segundo os resultados de uma pesquisa divulgados hoje, 56% dos entrevistados expressaram que respaldam o desempenho de Obama como mandatário, um incremento de nove pontos percentuais com respeito às estatísticas de abril, assinalou a sondagem do Jornal The Washington Post e o Pew Research Center.
Este é o nível de apoio mais alto em uma pesquisa do jornal e da pesquisadora desde 2009, destaca a informação.
Os apoios mais significativos para o chefe da Casa Branca foram em assuntos de segurança. O 69% dos cidadãos apoia a forma como maneja as supostas ameaças de terrorismo, enquanto 60% está de acordo com a condução que dá ao conflito no Afeganistão.
No entanto, a pesquisa detectou que Obama só conta com 40% de aprovação quanto ao tema econômico, praticamente sem mudança em relação às pesquisas anteriores. E este, sublinha o rotativo, é o tópico mais importante no país.
Os analistas estimam que, com a morte de Bin Laden, o presidente Obama conseguiu oxigenar-se, algo que precisava ao estar encurralado pelas pressões da oposição republicana, pela queda da economia que não cessa e pela existência de mais de uma frente de guerra em atividade.
O professor da Universidade de Georgetown e especialista em eleições presidenciais Stephen Wayne advertiu que o terrorismo não é o tema principal da nação, mas a economia.
Se a morte de Bin Laden resultar em mais ataques contra os Estados Unidos, isso porá Obama no centro das atenções dos eleitores, assegurou.

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EUA revive debate sobre uso de tortura contra prisioneiros
Washington, 4 mai. (Prensa Latina) - O uso da tortura contra prisioneiros revive hoje nos Estados Unidos, há poucos dias de conhecer-se a morte de Osama Bin Laden, confirmam meios de difusão nacionais.
A tortura que imperou durante os anos do presidente George W. Bush (2001-2009) voltou ao centro da polêmica nacional, assinala nesta quarta-feira um artigo do jornal The New York Times.
"O ex-presidente (Bush) e muitos conservadores sustentaram durante anos que as técnicas de interrogatório com o uso da tortura era necessária para persuadir integrantes da Al Qaeda para que falassem", recorda o texto do diário.
Enquanto a emissora de televisão Fox News indica que se iniciou uma discussão no Congresso sobre se a intensificação das técnicas de interrogatório e o submarino (afogamento simulado) conduziram à descoberta e assassinato do dirigente terrorista.
Washington "utilizou duras técnicas para interrogar os suspeitos de terrorismo, mas pouco depois de assumir o cargo, o presidente estadunidense, Barack Obama, ordenou pôr fim à prática do submarino", aponta o canal televisivo.
Neste contexto, o ex-vice-presidente estadunidense Richard Cheney defendeu ontem pela enésima vez as torturas contra réus ao afirmar que quiçá permitiram a morte de Bin Laden.
Se essas tácticas tiveram sucesso em conseguir informação para encontrar o líder da Al Qaeda, então devem continuar sendo empregadas, manifestou o ex-vice-presidente em uma entrevista com a Fox News.
Esse programa de interrogatório melhorado permitiu os resultados que conduziram à captura do terrorista, reforçou.
No entanto, as declarações de Cheney foram desmentidas pela administração democrata.
Alguma informação provinha de indivíduos sob custodia, outras de fontes humanas no terreno, mas nenhuma foi fundamental senão em seu conjunto, comentou o assessor antiterrorista do Escritório Oval, John Brennan.
Cheney foi um enérgico defensor dos maltratos contra detentos na autoproclamada campanha contra o terrorismo, desatada depois dos ataques do 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque.
Entre as técnicas mais usadas durante a administração de George W. Bush pela Agência Central de Inteligência e pelo Pentágono esteve o afogamento simulado, conhecido como submarino.
Por tal motivo, vários agrupamentos defensores dos direitos humanos apresentaram demandas contra ambos políticos e o então secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

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Estátua da LiberdadeEx-interrogador estadunidense condena uso da tortura
Roberto Castellanos Fernandez
Washington, 5 mai. (PL) - Um ex-interrogador estadunidense no Iraque condenou hoje o uso da tortura para obter informação de prisioneiros ao mesmo tempo em que estimou que essas práticas impidiram capturar muito antes a Osama Bin Laden.
"Estou convencido de que o haveríamos encontrado (a Bin Laden) muito antes se não houvéssemos recorrido à torturas e aos maltratos", comentou Matthew Alexander, quie usou esse pseudônimo durante uma entrevista com a cadeia comunitária de rádio e televisão Democracy Now.
Esses métodos são imorais e violam as leis e a Constituição dos Estados Unidos, além de ser incompatíveis com os principios deste país, manifestou.
Para Alexander, o emprego de maus-tratos durante o governo de George W. Bush "frearam a procura de Osama Bin Laden e de muitos outros membros da Al Qaeda" e, pelo contrário, permitiram a essa agrupação captar mais membros.
Como exemplo, citou o caso de Sheikh al-Libi, considerado um mensageiro do líder da Al Qaeda , que foi detido e torturado em uma prisão secreta da Agência Central de Inteligência.
Al-Libi revelou o nome de Maulawi e o apresentou como um correio de Bin Laden, mas deppois da investigação nos demos conta de que esse homem não existía. Nos fez desperdiçar recursos e tempo em uma pista falsa, manifestou o ex-uniformizado.
Por outra parte, agregou, Khalid Sheikh Mohammed, um dos dirigentes da organização, por seu cargo, sim, devia conhecer o verdadeiro nome do correio, mas apesar das torturas nunca informou sobre isso.
Na opinião de Alexander, isso demonstra que as técnicas agressivas como o afogamento simulado, conhecido como submarino, não levam a obter uma informação confiável.
Muitos dos combatentes estrangeiros capturados no Iraque afirmaram que se somaram à luta em vingança pelas torturas cometidas pelo Pentágono na cárcere de Abu Ghraib e na base naval de Guantânamo, explicou Alexander.
Relatou que no Iraque participou em mais de 300 interrogatórios, muitos deles considerados de alto nível.
Mas minha experiência demonstra que as técnicas não coercitivas são extremamente mais eficazes, inclusive com os membros da Al Qaeda, sublinhou.

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Osana Bin ladenPaquiistão, entre Obama e Osama
Manuel Vazquez
Islamabade, 5 mai. (PL) - A morte de Osama Bin Laden deixou muito mal parado o Paquistão, cujas autoridades enfrentam hoje uma chuva de críticas, tanto pela presença do terrorista no país, como pela impunidade com que atuaram os Estados Unidos para ultimá-lo.
Os primeiros questionamentos são para os serviços de inteligência locais, por sua aparente incapacidade de detectar o homem mais procurado do mundo em uma mansão fortificada à distância de uma pedrada de uma importante academia militar.
O Exército tampouco escapa das observações, dada a indefensibilidade exibida frente à violação da soberanía e do espaço aéreo nacionais por parte dos helicópteros estadunidenses que transportaram os comandos norte-americanos.
O presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, por sua parte, se enterou dos fatos pela boca de seu homólogo estadunidense, Barack Obama, mas só depois de consumada a operação e de que o cadáver de Bin Laden houvesse sido levado do país.
A declaração oficial de que o Exército local não brindou nenhum tipo de ajuda logística ou operativa às tropas estadunidenses que atacaram a mansão onde se escondia Bin Laden no povoado de Abbottabad, a 60 quilômetros ao norte de Islamabade, serviu para corroborar o dito pela Casa Branca: que se tratou de uma operação totalmente norte-americana em solo paquistanês.
A "profunda preocupação" expressada por Islamabade a Washington, e a tímida advertência de que "essa ação unilateral não autorizada não deve converter-se em norma", confirma além do mais a indefensibilidade do Paquistão frente aos desígnos de seu aliado na luta contra o terrorismo, afirmam analistas.
Por outra parte, a morte de Bin Laden desatou opiniões encontradas na conservadora sociedade paquistanesa.
Muitos a celebram com a esperança de que contribua para dissociar o país islâmico do terrorismo, mas em cidades como Quetta, Peshawar e até na própria Abbottabad já se produziram manifestações contra os Estados Unidos.
De imediato, o Tehrik-e-Taliban Pakistan, um grupo insurgente ao que se lhe atribuem fortes vínculos com a rede Al Qaeda e com os rebeldes afegãos, já prometeu vingar a morte de Bin Laden.
Outro comandante rebelde da zona tribal de Waziristán do Sul anunciou, por su parte, o rompimento da trégua pactada com o governo, em desacordo com o assassinato de Bin Laden em mãos das forças de elite estadunidenses.
(Fund. Lauro de Campos)