sexo com pipoca
sexualidade e erotismo no cinema
o prazer da dor
por Talita Aquino em 13 de jul de 2012 às 23:59
A comédia-romântica Secretary, do diretor Steven Shainberg, naturaliza e pinta com cores vibrantes o sado-masoquismo
Uma história de amor desconcertante, bizarra (em alguns pontos de vista), inusitada, e incrivelmente romântica. O enredo do filme Secretária [2002] de Steven Shainberg [A Pele] pode ser resumido (ou reduzido) a isso. Com tema polêmico e atores excepcionais em seus papéis, o longa trata questões como autoflagelo, sado-masoquismo, alcoolismo, neuroses e as mais profundas erupções da alma humana com um estilo doce, carinhoso e apaixonante.
A primeira cena do filme é estonteante. Os olhos viajam por um cenário colorido e charmoso, digno de palácios de contos de fadas, por onde desfila Lee Holloway [Maggie Gyllenhaal]. A elegância do andar, do olhar e do “flutuar” pelos corredores do recinto é contrastada com a rudeza das correntes que prendem seus braços - como uma cruz. Lee efetua seu trabalho de secretária e Shainberg brinca com a cabeça, corpo e coração de quem assiste.
Meses antes, saindo de um hospital psiquiátrico, a franzina, esquisita e aparentemente frágil e assustada Lee volta para casa. A família da moça é apresentada logo de cara. A mãe é histérica [Lesley Ann Warren], o pai é alcoólatra [Stephen McHattie] e a irmã [Amy Locane] se casa e continua morando na casa dos pais. Durante a festa de casamento descobrimos a primeira dica sobre a enigmática figura de Lee. Envolta por um cenário cheio de cores, Lee percebe que o pai está novamente bêbado e vai para o quarto. Infantilizado, o cômodo é coberto por roxos e rosas, bibelôs e brinquedos. Embaixo da cama está a caixinha bordada com borboletas e bailarinas. Lee, delicadamente, abre a caixa e observa diversos objetos pontiagudos e cortantes. Ela escolhe um e pressiona contra a perna. Mas isso é apenas a introdução de algo muito maior.
Quando Lee se torna a secretária do advogado perfeccionista Edward Grey [James Spader] sua postura e seu modo de se colocar no mundo começam a mudar. Entre seções de autoflagelo e as exigências cada vez mais sádicas do chefe, Lee vai aos poucos se tornando dona de si mesma. Enquanto objeto de obsessão e exemplo, Grey vai moldando a nova personalidade de sua secretária, alimentando-a de confiança, maturidade e, porque não, sensualidade. Sádico e masoquista descobrem-se, sem planejar, em um relacionamento sexual.
Com a deliciosa trilha sonora composta por Angelo Badalamenti [Blue Velvet] e a belíssima fotografia de Steven Fierberg, Secretária é um filme que deseja naturalizar o relacionamento, aparentemente estranho, de Lee e Gray. O longa valoriza os processos de aceitação, de doação em relação ao outro e de autoconhecimento vividos pelas personagens. Mostra como é possível encontrar-se a si mesmo e ao outro e dividir as mais profundas fantasias. Defende que a sexualidade está imersa em cada um e transcende julgamentos.
Assista ao trailer legendado:
talitaaquino
Artigo da autoria de Talita Aquino.
Sempre que posso tento jornalistar um pouco sobre cinema. E sexualidade é o meu fetiche. Misturemos prazeres então..
Saiba como fazer parte da obvious.
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