Saudades
em coisas minhas por m aresta em 22 de jun de 2012 às 13:37
A falta daquilo que se não viveu. Ou o desejo daquilo que nunca se experimentou e que, permanecendo por saber, vai ganhando espaço naquilo que se é.
Tenho saudades do tempo em que as palavras me saíam como chuva em dias cinzentos. Do tempo em que olhava para fora e os olhos se perdiam no espaço, sem me preocupar com o tempo e o caminho que demorava para regressar.
Saudades desses dias, dos dias bons, em que o vermelho sabia a cerejas e o azul não era mais que a cor mais bonita do mundo. Do tempo em que ainda faltava tempo, em que o relógio era um adereço que eu não usava e os livros - mais do que trazerem as letras dos outros - se enchiam das minhas letras e das minhas próprias histórias.
Saudade infinita desses tempos. Quando pensava "e se?" e me divertia com a ideia de que, se me apetecesse, podia virar à direita ou à esquerda e seguir por uma estrada que não tinha escolhido. Saudade do imprevisto? Não. Saudade da possibilidade. Da possibilidade de poder ser, de poder experimentar, da sensação de poder descobrir o que já todos tinham descoberto mas que eu - na entrada daquilo que é possível - sabia que ainda me faltava conhecer.
Nada me prende. Nada me constrange. Nada me ata.
Falta-me apenas a força. E sobra-me a saudade.
monicaaresta
Artigo da autoria de m aresta.
escrever simplesmente pelo prazer de juntar as palavras.
Saiba como fazer parte da obvious.
Nenhum comentário:
Postar um comentário