domingo, 27 de janeiro de 2013

Renato Prata Biar – Gostaria de ter fé…

Por Renato Prata Biar(*), especial para sua coluna no QTMD?

fé versus razão

De acreditar em santos, em deuses, em Deus
ou outra coisa qualquer.

Gostaria de ter fé…
Aquela fé cega, ociosa
Que retire as minhas culpas
e perdoe minhas palavras mentirosas
Apenas com um ato de genuflexão.

Gostaria de ter fé…
De acreditar numa vida após a morte e no paraíso eterno
De que tudo já está traçado
e que os homens maus vão realmente para o inferno.
Que terei uma segunda chance
Mesmo que não me lembre por um único instante
da outra vida que vivi;
Ficando livre para cometer os mesmos erros que,
na tal da outra vida, também aqui cometi.

Gostaria de ter fé…
De acreditar na ingênua e simples luta
do bem contra o mal.
De que o bem sempre vence
E que nunca será derrotado
De que todos os homens são bons
Quem os desvia do caminho do bem é o pobre do diabo.

Gostaria de ter fé…
De acreditar que a existência de ricos e pobres
Assassinos e vítimas
Fome e fartura
Alagamentos e secas
São consequências de uma incompreensível vontade divina –
e mais incompreensível ainda é a Sua justiça.
E que esse mesmo Ser, que tudo pode, tudo sabe e tudo vê
Mesmo vendo tudo isso e podendo reverter
Nada faz, nada ouve, nada vê.

Gostaria de ter fé…
Mas a fé é avessa às perguntas
Inimiga das dúvidas
e depreciadora da ação.
A fé não move nada!
É a mais completa paralisação
E, em muitos casos, uma verdadeira regressão.

Cada homem é uno, indivisível, imprevisível como ser.
Mas sem o outro não somos nada…
Somos apenas um livro, num lugar onde ninguém o deseja ler.
Homens, entendam de uma vez:
são os seus atos que mudam e transformam o mundo,
que criam e produzem a História;
Então é nos homens que se deve crer.

Enfim, gostaria de ter fé…
Mas, pensando bem,
Que dom maravilhoso é não tê-la.

*Renato Prata Biar é historiador.  Colabora com o “Quem tem medo da democracia?”

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