Os sonhos negros de Dario Argento
em Cinema por Leonor Fernandes em 11 de set de 2012 às 01:14
Todos nós temos géneros cinematográficos de que gostamos mais ou de que gostamos menos. Independentemente disso, todos os géneros possuem os seus mestres, e, consequentemente, os seus filmes icónicos. Um artigo sobre Suspiria, o clássico do génio italiano do cinema de terror, Dario Argento.
Desde sempre que tenho uma grande paixão por filmes antigos. Qualquer coisa que esteja relacionada com o passado é sempre maravilhoso aos meus olhos. E, no que diz respeito a arte, a minha paixão é ainda maior, especialmente quando se trata de trabalhos brilhantes, independentemente do tempo que já passou por eles. Muitas obras de arte estão limitadas pelo tempo, condenadas, até: podem ser boas na altura em que surgem, mas a sua qualidade esbate-se, esquece-se, quando aparece uma obra melhor.
O cinema não é excepção. Alguns filmes são clássicos. Outros, razoavelmente bons. Outros, ainda, são feitos, assim parece, com o propósito de serem esquecidos. A minha paixão por cinema é algo que trago comigo desde há muito tempo (desde as tardes de Domingo que passava em família, a ver filmes, enroscada no sofá), e nunca se foi embora. No entanto, sempre houve algumas categorias cinematográficas que nunca consegui apreciar. Entre elas, filmes de terror. Para mim foi sempre muito difícil de compreender qual seria o prazer em ver um filme que não me faria sentir bem, que não servisse para me divertir, antes pelo contrário. Mas, com o tempo, aprendi que, tal como acontece em qualquer campo artístico, uma boa peça de arte não tem que me fazer sentir bem - tem que me tocar, mover-me, acordar qualquer coisa dentro de mim, seja alegria, ódio, raiva... ou medo. E ainda que continue a ser difícil, para mim, apreciar alguns filmes de terror muito extremos, a verdade é que alguns clássicos começaram a ganhar interesse, aos meus olhos.
Os clássicos, por serem isso mesmo, nunca envelhecem. Nagasawa, o carismático personagem do livro Norwegian Wood, de Haruki Murakami, faz a seguinte afirmação sobre livros: "Não se trata de não acreditar na literatura contemporânea (...) mas não pretendo desperdiçar o meu valioso tempo de leitura com livros que ainda não passaram pelo baptismo do tempo. A vida é demasiado breve."
Não posso deixar de concordar. Quando uma obra de arte passa, de facto, pelo baptismo do tempo, e prova ser tão extraordinária que nenhum contexto consegue apagar a sua qualidade, significa que estamos perante algo que não deve ser ignorado. Tendo isto em mente, decidi iniciar-me nos clássicos do cinema de terror. E comecei pelo grande mestre desse género, Dario Argento.
Dario Argento é um realizador, produtor, e argumentista italiano. Conhecido pelos seus filmes de terror, Argento e os seus filmes são considerados uma das maiores influências para os filmes de terror contemporâneos. E foi o seu clássico, Suspiria, que me fez apaixonar por filmes de terror.
Suspiria não é o típico filme de terror a que estamos habituados hoje em dia. Não é um filme que leve o medo ao extremo, nem que tire o sono a quem o vê, e não perde, ainda assim, a sua qualidade enquanto filme de terror. Todo o filme tem uma atmosfera muito particular, muito especial, muito única. Combinando uma banda sonora primorosa, ainda que inquietante, cores brilhantes e vibrantes, que não retiram o ambiente pesado e obscuro, Suspiria apresenta-se assim como uma obra de arte que é tanto lustrosa quanto sangrenta. A própria história passa a ser algo secundário: uma estudante americana de ballet que é transferida para uma academia de dança na Alemanha, onde ocorrem eventos macabros e sobrenaturais. Este é o tipo de filme onde nos perdemos nos detalhes: a qualidade de Suspiria vai muito para além da sua história. A atmosfera, a constante sensação de sufoco e claustrofobia que permanece do início ao fim do filme, o suspense, tudo isto confere a Suspiria o merecido título de um dos melhores filmes de terror da história do cinema.
Dario Argento é também conhecido por realizar filmes como Phenomena, Deep Red, ou Inferno. Para além disso, trabalhou com Sergio Leone, no seu admirável Once Upon a Time in West.
Para quem, como eu, é apaixonado por cinema, recomendo com toda a certeza os filmes deste realizador. Existem neles uma beleza muito peculiar, onde o medo, a surpresa, a fantasia, se misturam, de modo a criar obras de arte de qualidade inquestionável.
leonorfernandes
Artigo da autoria de Leonor Fernandes.
Vivo numa ânsia constante de fotografar tudo o que vejo, e de escrever sobre o que penso. Acredito firmemente que não devemos guardar a beleza das coisas para nós, mas sim aprender a encontrar essa beleza e mostrá-la aos outros..
Saiba como fazer parte da obvious.
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