Soneto Dos Vinte Anos - Lêdo Ivo
Que o tempo passe, vendo-me ficar
no lugar em que estou, sentindo a vida
nascer em mim, sempre desconhecida
de mim, que a procurei sem a encontrar.
Passem rios, estrelas, que o passar
é ficar sempre, mesmo se é esquecida
a dor de ao vento vê-los na descida
para a morte sem fim que os quer tragar.
Que eu mesmo, sendo humano, também passe
mas que não morra nunca este momento
em que eu me fiz de amor e de ventura.
Fez-me a vida talvez para que amasse
e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento,
trazendo a aurora para a noite escura.
Leia mais: O conto A Resposta e a Biografia de Lêdo Ivo.
Acontecimento do Soneto
A doce sombra dos cancioneiros
em plena juventude encontro abrigo.
Estou farto do tempo, e não consigo
cantar solenemente os derradeiros
versos de minha vida, que os primeiros
foram cantados já, mas sem o antigo
acento de pureza ou de perigo
de eternos cantos, nunca passageiros.
Sôbolos rios que cantando vão
a lírica imortal do degredado
que, estando em Babilônia, quer Sião,
irei, levando uma mulher comigo,
e serei, mergulhado no passado,
cada vez mais moderno e mais antigo.
Lêdo Ivo
(Blog do Nassif)
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
PoesiaSoneto Dos Vinte Anos - Lêdo Ivo Que o tempo passe, vendo-me ficar no lugar em que estou, sentindo a vida nascer em mim, sempre desconhecida de mim, que a procurei sem a encontrar. Passem rios, estrelas, que o passar é ficar sempre, mesmo se é esquecida a dor de ao vento vê-los na descida para a morte sem fim que os quer tragar. Que eu mesmo, sendo humano, também passe mas que não morra nunca este momento em que eu me fiz de amor e de ventura. Fez-me a vida talvez para que amasse e eu a fiz, entre o sonho e o pensamento, trazendo a aurora para a noite escura. Leia mais: O conto A Resposta e a Biografia de Lêdo Ivo. Acontecimento do Soneto A doce sombra dos cancioneiros em plena juventude encontro abrigo. Estou farto do tempo, e não consigo cantar solenemente os derradeiros versos de minha vida, que os primeiros foram cantados já, mas sem o antigo acento de pureza ou de perigo de eternos cantos, nunca passageiros. Sôbolos rios que cantando vão a lírica imortal do degredado que, estando em Babilônia, quer Sião, irei, levando uma mulher comigo, e serei, mergulhado no passado, cada vez mais moderno e mais antigo. Lêdo Ivo (Blog do Nassif)
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