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Enquanto houver vida, poesia e filosofia, haverá o que ler... e escrever!
VÍDEOS E FILÓSOFOS QUE NÃO SERVEM PARA NADA
em geral por Jaya Hari Das
Trata-se de um protesto contra o uso indevido da imagem e da utilidade da Filosofia, na maneira em que ela é exposta em vídeos/entrevistas, ou apresentada em cursos de Filosofia, que não aprofundam as respostas nem o pensamento dos filósofos, respectivamente, deixando a má impressão de que Filosofia é uma coisa chata que não serve para nada.
Recentemente adquiri dois vídeos/Dvds de Filosofia – aqueles do tipo bate-papo, em que o entrevistador tenta arrancar de um filósofo (que são poucos hoje em dia) ou de um professor de filosofia (esses, sim, incontáveis) respostas sobre questões que nem os pensadores de todos os tempos, com seus longos tratados, conseguiram responder. Esses vídeos maçantes me causam uma sensação de desconforto, a mim que sou filósofo antes de ser um professor de filosofia, exatamente porque as perguntas são de uma profundidade que parecem ter a intenção de fisgar incautos e imaturos estudantes de Filosofia, levando-os à expectativa de um “êxtase”, de uma visão de que estariam “presenciando” um debate de primeiríssima qualidade e importância, capaz de revelar a eles toda a sabedoria do mundo, em alguns minutos.
Nessas entrevistas, o que mais ocorre é a fuga do entrevistado da pergunta, não exatamente por culpa dele, mas mais precisamente pela impossibilidade de dar cabo dela. Então, ele começa a exibir seu conhecimentos acadêmicos de Filosofia, citando escolas, correntes filosóficas, pensadores desse e daquele século, de tal forma a criar um malabarismo de palavras/imagens soltas que dão voltas e não chegam a lugar algum. O entrevistador passa para a próxima pergunta e tudo se repete exatamente como na anterior. Parece que não houve, por parte do entrevistado, um conhecimento prévio do tema e do teor das perguntas que seriam feitas, ou então esses senhores (eminentes filósofos ou professores de Filosofia) se acham soberanamente conhecedores dos variegados assuntos nos quais se intromete a Sra. Filosofia.
O certo é que esses vídeos são vendidos nas bancas de revistas, nas esquinas e praças das cidades, e talvez até, creio eu, são produzidos com boas intenções (mas, como se sabe, de boas intenções o inferno já está cheio), no entanto, eles abrem discussões sobre coisa nenhuma para descambar em explicações sobre nada. Não tenho aqui a intenção de atirar ao lixo as boas produções, no quesito didático, as quais eu possa não ter tido ainda a sorte de encontrar, mas, pragmático que sou, prefiro ficar com a verdade que conheço a outra que talvez jamais venha a conhecer.
Neste sentido, fico imaginando que essa é uma das razões pelas quais os leigos em Filosofia continuam a pensar que ela não tem nenhuma utilidade prática e não passa de um monte de reflexões e blablablás sem sentido. Evidentemente que a culpa disso não pode ser apenas desses vídeos (coitados!). Quando estava na faculdade, tive que estudar uma porção de excertos de obras de filósofos que pareciam não dizer nada com nada, mas que eram aclamados pela academia (como o são até hoje, e isso provavelmente não vai mudar), somente depois, liberto das exigências curriculares, é que pude me dedicar aos que realmente disseram alguma coisa.
Enfim, a Filosofia tem, sim, sua utilidade e não é esse besteirol, esse malabarismo de lucubrações, esse falar-água que estão apresentando por aí, em salas de aula ou em vídeos/entrevistas. Mas, claro, ainda haverá muitos incautos se deixando levar por essa aparentemente fácil via de conhecimento filosófico. E quem será capaz de perceber que toda essa chatice e besteirada tem um fim? Bem, aí vai uma dica: basta não comprar mais essas porcarias filosóficas e, se ainda estiver na Universidade, fugir, de vez em quando para um lugar mais arejado, digo, onde você e a Filosofia possam realmente respirar "liberdade" e pensar longe dos miolos daquele professorzinho bitolado, e ler um livro de algum autêntico filósofo!
jayadas
Artigo da autoria de Jaya Hari Das.
"Escrevo sobre coisas que me parecem interessantes, para que a leitura seja interessante. Escrevo exatamente como penso. Mas, se me perguntarem de onde vêm esses pensamentos, não saberei dizê-lo.".
Saiba como fazer parte da obvious.
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