segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Garrincha

Jetro Fagundes – O mágico futebolista – Um cordel para Mané Garrincha

Garrincha, o Mágico Futebolista
o Anjo das Pernas Tortas


Garrincha e suas filhas em Pau Grande, Magé.


Por Jetro Fagundes, especial para sua coluna no QTMD?

Vento, grande mágico naturalista
senta aqui pertim, vou te contar
de um cara que era baita artista
na sua clássica maneira de jogar

Era Manoel Francisco dos Santos
Garrincha, nosso popular Mané
carioca recheado dos encantos
de Pau Grande, distrito de Magé

O apelido foi ganho com carinho
pelo o muito apego, dedicação
que reservava aos passarinhos
da sua pacata e querida região

Garrincha jogando pelo Botafogo

Quando o Mané foi apresentado
num dia inesquecível, no Fogão
fez todo mundo ficar admirado
ao dar um show de apresentação

Nesse dia ele foi o puro encanto
tanto quanto tem sido o arrebol
pois deu olé em Nilton Santos
Lendária Enciclopédia do Futebol

Gênio que desafiava zagas brutas
tinha a perna esquerda anormal
algo seis centímetros mais curta
que não o impediu ser magistral

Botafoguense, terror do goleiro
dos zagueiros, beques e laterais
vai defender o Escrete Brasileiro
em partidas pra lá de imemoriais

As arrancadas na linha de fundo
dom que o destino lhe concedeu
lhes levaram à Copa do Mundo
Suécia, no Continente Europeu

E o mágico jogador bom de bola
pra quem o povo tirava o chapéu
foi colocado pelo treinador Feola
como reserva do rubro negro Joel

Dizem que ele cometeu um crime:
GARRINCHAEm Florença deixou de ser titular
porque fintou mais de meio time
sem fazer o gol voltou pra driblar

E no terceiro jogo daquela copa
com o Brasil precisando ganhar
Garrincha em campo faz a Europa
ao nosso futebol-arte se curvar

Vento, tu que falas com o destino
eu sei que você sabe muito bem
que um outro malabarista menino
nesse dia fez sua estréia também

Com Mané, Pelé, dupla fantástica
prevaleceu a categoria do Brasil
contra uma equipe matemática
da Rússia apática, grosseira, viril

Garrincha nesse dia foi magníficoGarrincha4
fez estragos nos soviéticos rivais
que tinham um futebol científico
baseado numa força nada capaz

Garrincha contra País de Gales
E o temido selecionado francês
lá na ponta encantava os olhares
com arrancadas, dribles, rapidez

Com gols de Vavá, o Peito de Aço
um de Zagallo, e dois de Pelé
brasileiro esquece o Maracanaço
num Show de bola, magia no pé

Vento, eu sei que a gente peca
mas sobre Garrincha direi aqui:
Foi o melhor daquela Copa Sueca
ao lado do Príncipe Etíope, Didi

Da Suécia, passados quatro anos
Mané, com Amarildo, Vavá, Didi…
vai ao Chile, País Sul Americano
ajudar o Brasil conquistar o Bi

E quatro anos, mais experiente
mais meninão, mais sensacional
ele foi eleito indiscutivelmente
como melhor jogador do Mundial

Com Pelé de fora do Selecionado
já que no começo se machucou
Garrincha teve papel destacado
dando espetáculo e fazendo gol

No escrete brasileiro, um timaço
feito de sonho, coisa fenomenal
o menino Mané, como cracaço
era em campo a peça principal

Mané Garrincha era a antologia
que o futebol podia contemplar
e tem mais, ele sempre prometia
Ir lá na direita driblar e cruzar

Lá pela Ponta Direita Brasileira
a partir da linha divisória central
o Anjo Mané saía fazendo fileira
passava por vários, fazia festival

E na final, contra o time Tcheco
o Brasil se consagra Bi Campeão
o capitão Mauro ergue o caneco
Garrincha alcança a consagração

Vento, como amante das pelotas
eu sei que tu andas a relembrar
O menino Anjo das Pernas Tortas
e que jogava mais para brincar

No Botafogo e na Seleção BrasileiraGarrincha_alegria
ele nunca suportou concentração
futebol lhe parecia brincadeira
qualquer coisa de pura diversão

Futebolista altamente incrível
que às vezes parecia um amador
era praticamente imprevisível
pro desespero do seu treinador

E às vezes com gol escancarado
chances claras de poder marcar
preferia dar um toquinho de lado
prum companheiro poder marcar

Às vezes com mínimas chances
sem a menor visão real e angular
decidia pela conclusão do lance
o chute certeiro, gol espetacular

Menino, senhor do espetáculo
tal Anjo Garrincha entrou pro rol
dos que fazem ser um cenáculo
o lindo mundo mágico do futebol

Um mundo mágico, e verdadeiro
feito de arquibancada, torcedor
onde gramado parece picadeiro
jogador, malabarista, animador

Artista recheado de humildade
poeta da Bola, e simples de ser
no seu encanto de ingenuidade
exibia arte sem querer aparecer

Vento que admira bons de bola
vem cá baixinho, vou te segredar
Garrincha foi vítima dos cartolas
duns que adoram se aproveitar

Sumano, vou te ser bem franco
o Anjo Mané foi enganado, sim!
Ele assinava contrato em branco
acarretando seu prematuro fim

Ali no time da Estrela SolitáriaGarrincha
com todo o respeito pelo Fogão
ele foi vítima da ação reacionária
da cartolagem movida à ambição

Às vezes forçado por dirigentes
principalmente em jogo no exterior
entrava em campo visivelmente
se contorcendo em meio a dor

A vítima dos maus intencionados
zagueiros do exterior e do Brasil
sob pressão jogava machucado
contundido, ou em estado febril

Nisso comprometeu seus discos
os dos joelhos, nas articulações
jogando com dores nos meniscos
à base de famigeradas injeções

Quanto mais aplicavam injetável
pra que pudesse em campo atuar
mais o joelho ficava deplorável
comprometendo o seu recuperar

Vento, eu não vou citar o médico
até porque tu sabes bem quem é
o cara que feriu preceitos éticos
agindo com muita e muita má fé

O foguense médico ortopedista
com injetáveis adiava a operação
prática que lembrava era Nazista
fins justificando dores, aflição

Fazendo uso de má fé, leviandade
o Fogão em excursões ao exterior
pra não querer cota pela metade
forçava entrada do anjo jogador

Tais coisas abreviaram a carreira
do maior futebolista que já se viu
E não foi nada de noite festeira
fuga de concentração, mulheril

Preparo físico como o teu, Vento
Mané tinha, pois jogava um bolão
mas detestava os fatídicos treinos
e os nefastos regimes de reclusão

Anjo que fez trato com a magia
cada espetáculo, apresentação
ele fazia festival de pura poesia
mas não suportava concentração

Perfil do ser humano que aflora
gentilezas, respeito, compaixão
inovou chutando a bola pra fora
ao ver adversário caído no chão

Por seus dribles desconcertantes
humildade na prática do Fair Play
foi, pelo seu carisma constante
mais amado que certo gênio rei

Mesmo com seu joelho lesionado
O Anjo no ano de sessenta e seis
é convocado, chamado, escalado
pra Copa do Mundo, solo Inglês

A Copa do Mundo, Inglaterra fria
viu nosso selecionado jogar mal
perdendo, e feio, para a Hungria
também pra seleção de Portugal

E na frieza da Copa da Inglaterra
diante de prematura eliminação
o Anjo Mané Garrincha encerra
as suas participações na seleção

garrinchaaaaAntes da sua carreira encerrada
ele vai se despedir do torcedor
da geral, cativas, arquibancadas
em Clubes daqui e do exterior

Se não repetiu os grandes feitos
dos tempos de Botafogo, Seleção
nunca jamais perdeu o respeito
das gentes da geral, o seu povão

Depois da sua carreira encerrada
Vento, tu sabes o que aconteceu
Garrincha com saúde fragilizada
seriamente deprimido se abateu

Apesar de ter tido um fim trágico
ele, até por essa geração atual
é lembrado pelo futebol mágico
artístico, poético, lindo, genial…

Vento, sumano da genialidade
o Anjo Mané foi aquele jogador
que na relação de cumplicidade
mais teve o respeito do torcedor
 até hoje ele tem todo carinho
respeito, enorme consideração
do torcedor que por ai vivinho
o mantém vivão na recordação

Vivendo no coração da torcida
e, inclusive, dessa atual geração
Garrincha continua tendo vida
e a mais respeitosa admiração

Ao contrário de uma gente débil
que nada entende de bola no pé
pro português goleador Euzébio
melhor jogador foi o Anjo Mané

Vento, Euzébio tem autoridade

pra dar a sua respeitada opinião

por que vivenciou a genialidade

do menino amado por teu povão

Amado, tão amado pela torcida
até dos grandes lá do Cariocão
tanto que na sua triste partida
foi despedido sob forte comoção

E tu que és um natural cronista
diga aqui, segredos eu guardarei
quem foi pra ti maior futebolista
o Anjo, ou o colaboracionista rei?

Sumano, os dois foram cracassos
mas perdoe a comparação aqui
o Anjo era o povo, gênio Picasso
já o rei, um certo narcisista Dali

O Anjo é o povão cá da periferia
aquele que vai a campo: Torcedor
o rei hoje em dia é a desalegria
como cartola, coveiro de jogador

Esses dois foram gênios da bola
mas o Anjo foi amado bem mais
porque nunca se mostrou gabola
nem amigo das mídias globais

O Anjo pode ter sido mulherengo
e isso ninguém tem nada a ver,
mas jamais andaria com quengos
privateiros, os amantes do poder

O Anjo era um carioca menino
tipo nordestino, Filho do Brasil
o rei virou parceiro de granfino
sociólogo subserviente servil

Em Sessenta e seis, machucado
o Anjo convocado não se recusou
Em setenta e quatro, consagrado
ah, o rei, simplesmente desertou

O Anjo, um poeta da ingenuidade
foi um artista sem apego ao capital
o gênio rei abalou sua majestade
como um profissional neoliberal

Ah, Sumano cidadão da Ideologia
que detesta fardado e neoliberal
eu sei que por gostares de poesia
o melhor pra ti foi o Anjo Genial

E melhor porque era fascinante
ao usar o seu maravilhoso dom
Com os dribles desconcertantes
servia na bandeja tipo garçom

Jogando por aqui, e pelo mundo
em campo, ele dava belos shows
Dos seus pés lá na linha de fundo
bola cruzada, outros faziam gols

Alguém numa poesia antológica
disse que Garrinha, o Anjo Mané
fazia a Mágica vencer a lógica
no trato fino com show de olé

Mas ao invés de receber tributos
pelo que fez à magia do futebol
é mostrado como um prostituto
pela Crítica do mais sujo lençol

Da forma mais cretina, nefasta
Garrincha é mostrado no telão
por porcos ordinários cineastas
como se ele fosse um beberrão

Gentes tacanhas, e lambe botas
que pegavam grana dos generais
deixem o Anjo das Pernas Tortas
no repouso da memória, em paz

Garrincha, Anjo das Tortas Pernas
para sempre permanecerá no rol
da lembrança, memórias eternas
dos apaixonados pelo FUTEBOL

Vento, tu que és um coletivista
eu sei que testemunhastes até
que muitos cobradores, taxistas
não cobravam passagem do Mané

Mas a pátria idolatrada e vívida
que ainda nem liga pra nossa dor
ficou na mais colossal dívida
com seu Artista e Anjo Jogador

Quando o Verde Louro Estrelado
nos convida à reflexiva gratidão
lembramos as glórias do passado
e o Anjo abandonado pela nação

O País tem uma dívida retumbante
gigantesca com o Anjo fenomenal
o Mané que em muitos instantes
deu alegrias ao Pavilhão Nacional

E que um dia a Estrela Solitária
numa boa, em ato de reflexão
reconheça que foi reacionária
e faça uma honrosa reparação

E que o Penta Canário Brasileiro
saiba que o Artista Anjo Popular
nunca teve interesse em dinheiro
por cada sua jogada espetacular

Eis Oitenta e Três estrofes, trovas
pra quem partiu em Oitenta e Três
pesquisem, pois há muitas provas
do que versei ao Vento e a vocês

*Jetro Fagundes colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Ventos do

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