domingo, 6 de janeiro de 2013

Freud

embriaguez artística
As traumáticas aventuras do filho de Freud
em geral por Victor Silveira
“Como deve ter sido difícil ser filho do Freud? Aí bateu aquele estalo e fiz a tirinha na hora, sacaneando o primogênito do velho Freud. Batizei a tirinha de “As Fantásticas Aventuras do Filho do Freud”, no que corrigi depois, riscando por cima e escrevendo “TRAUMÁTICAS”, o que acabou sendo uma piada também.”


O psicanálise alcançou em nosso século uma gigantesca "audiência" no senso-comum. A teoria e a prática clínica do inconsciente, postuladas e investigadas por Sigmund Freud a mais de 100 anos atrás, influenciaram a clínica médica, trouxeram novas visões filosóficas de sujeito, e revolucionaram ao lançar luz sobre um ponto até então obscurecido pelo dogmatismo religioso (e também médico, já que em certo tempo na história as duas coisas eram quase indissociáveis): a sexualidade infantil.

É interessante observar que para além de todas as influências teóricas, filosóficas, e clínicas, vivemos hoje esse tempo, em que a psicanálise caiu na boca do povo. Isso pode ser constatado na  já tradicional expressão usada maciçamente: “Freud explica”!


Sendo a desmistificação da sexualidade infantil um ponto de virada importante em toda revolução freudiana, apresento um divertido projeto que coincide e ilustra esse tema, ao hipotetizar sobre possíveis traumáticas aventuras do filho do mestre Sigmund, em sua condição de Pai.

Pela via do humor, em certo sentido negro, o projeto constata empiricamente duas coisas: A primeira é que a psicanálise caiu além da boca, também no riso do povo, e passa ser consumida numa escala de piadas, um certo "pós-Freud explica", mais irônico e desacreditado da tal suposta explicação que poderia ser dada pelo velho Freud.

Em segundo, como extensão do primeiro, é que precisamos do humor para viver. Afinal  não é esta a questão principal do chiste? Conceito investigado por Freud, como sendo um mecanismo necessário em nossa vida psíquica para a eliminação de uma certa energia sombria que compõe nossa própria verdade - que é em todo caso desconhecida de nós mesmos - inconsciente, e que precisa em alguns momentos se tornar risível para vir a tona. Como civilização fabricamos meios para o riso em nossas relações pois precisamos dele. Esse projeto é uma resposta a isso, dada a genialidade e sensibilidade lúdica de seu autor.


“As Traumáticas aventuras do filho de Freud”  foi idealiza por Pacha Urbano, que é ilustrador e roteirista, e segundo ele mesmo, gosta de se aventurar em terras desconhecidas. Em entrevista, Pacha diz que a ideia das tirinhas nasceu em uma aula de Psicanálise e Educação, numa aula do curso de pedagogia, enquanto assistia a clássica cinebiografia para iniciantes ao freudismo, "Freud além da alma". Como bom habilidoso do lápis, ele rabiscava enquanto os outros alunos discutiam, e daí surge insight:

“Como deve ter sido difícil ser filho do Freud? Aí bateu aquele estalo e fiz a tirinha na hora, sacaneando o primogênito do velho Freud. Imagina ter que disputar a atenção de um pai como ele, tão empenhado em seu trabalho e pacientes, com o ego do tamanho de uma montanha, cheio de encrencas com a sociedade médica e científica da Europa… Batizei a tirinha de “As Fantásticas Aventuras do Filho do Freud”, no que corrigi depois, riscando por cima e escrevendo “TRAUMÁTICAS”, o que acabou sendo uma piada também.”

O projeto deu super certo, e as risadas, tanto para leigos, quanto para técnicos e/ou estudiosos (em psicanálise) é garantida. Gosto do tom crítico do texto das tiras e até mesmo da tipografia um tanto mistificada, corroborando com a crítica (nas expressões faciais, por exemplo).

 Aqueles ortodóxicos do pensamento psicanalítico podem se incomodar e até se ofender, resistindo à legitimidade do projeto de Pancha, que tem atingido proporções significativas tanto de conteúdo quanto de público. Todavia essa virulência e malícia, se chocando com uma resistência, é própria da própria história inaugural do movimento psicanalítico, e não deveria ser diferente em qualquer movimento que levante sua bandeira, mesmo numa autocrítica do próprio movimento.




victor
Artigo da autoria de Victor Silveira.
Estudante de psicologia, que aspira Filosofia e Artes Visuais. Gosta de palavras assim como de silêncios. Costuma ser o intangível do que mostra ao vê-lo. .
Saiba como fazer parte da obvious.

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