sexta-feira, 19 de julho de 2013

Corrupção

Apóllo Natali – A faixa e os gritos que faltaram nas ruas do país

ÃO, ÃO, ÃO, BRASIL CAMPEÃO MUNDIAL

         (DE CORRUPÇÃO)

Por Apóllo Natali(*)

Essa é a faixa e os gritos que faltaram nas ruas do país, tanto nos protestos espontâneos de junho que reivindicaram saneamento político, como na manifestação de julho das nove centrais sindicais que discursaram em favor do tema específico das reivindicações trabalhistas. Os manifestantes talvez não acreditavam que nesse quesito corrupção, o Brasil dá de goleada no resto do mundo. Vamos ver o que diz sobre isso pesquisa da Transparência Internacional.

    Diz que os brasileiros consideram corruptos ou muito corruptos os políticos e instituições como o Congresso, a Polícia, o Sistema de Saúde, Judiciário, Funcionalismo Público, Imprensa, Ongs, Igreja. Estão tecnicamente empatados com os outros países em nível de corrupção nossas Ongs, a Imprensa, a Igreja, o Setor Privado e o Militar.

    Os partidos políticos são considerados corruptos ou muito corruptos por 81% dos brasileiros. A média mundial nesse setor é 65%. O Congresso é muito corrupto segundo 72% dos brasileiros, enquanto a média no resto do mundo é 57%. Quanto à polícia, 70% dos brasileiros acham que ela é corrupta, contra 60% lá fora. O Sistema de Saúde, 55% aqui, e 45% no mundo. O Judiciário é considerado corrupto por 50% dos brasileiros e no resto do mundo, 56%. Funcionalismo 46% aqui, do outro lado 57%. Imprensa, 38% entre nós, 39% entre os outros. Setor privado, 35% aqui e lá 45%. Igreja, 31% a 29%. Militares, 30% aqui, 34% lá. Nossas Ongs, apontadas como corruptas por 35% dos brasileiros, são consideradas mais corruptas do que as outras do mundo, com 28%.

       Que resposta esperar dos políticos às manifestações de junho e julho? Qual o saldo desses dois teatros democráticos das ruas? O primeiro assustou os governantes, que passaram a tomar atitudes pontuais, melhorando isto aqui, aquilo ali e no entanto continuam firmes de freio de mão puxado quando se trata de adotar medidas que cortam na carne dos próprios políticos.  O segundo movimento deixa a certeza de que as siglas sindicais que reivindicam favores apenas para os seus associados e alavancam pelegos rumo a essa galinha dos ovos de ouro que é a política, já não dispõem de autonomia de organização, debate e mobilização e estão tão ameaçados hoje quanto os partidos políticos, sonolentamente distantes das necessidades de sobrevivência da população. Os dois movimentos esqueceram de gritar ão, ão, ão contra a gigantesca corrupção, mas juntos deixaram claro que a sociedade em rede está edificando uma nova democracia não só aqui mas também no resto do planeta.

       Ão, ão, ão, é do Fernão a saída para fortalecer o combate à corrupção no Brasil. Parecendo lançar uma campanha, Fernão Lara Mesquita defende em artigo de 10 de Julho no Estadão  a adoção do voto distrital com recall. Com esse tipo de voto distrital e destituinte, o cidadão, mais perto do político eleito, pode cobrar dele um bom comportamento e até demiti-lo do emprego se não estiver satisfeito com sua conduta moral. Milagre de democracia é os políticos aprovarem esse acompanhamento popular corpo a corpo de sua própria ficha criminal, não é mesmo? Pelo sim, pelo não, mas eternamente, fervorosamente acreditando no ão, ão, ão popular, anexo carta que enviei ao Fórum dos Leitores sobre o tema:

                        A REFORMA DE TODAS AS REFORMAS

        “Venho por meio desta atiçar os privilegiados leitores do Estadão e os não leitores também a estudarem com afinco o texto histórico de 10 de julho de Fernão Lara Mesquita, A REFORMA QUE INCLUI TODAS AS REFORMAS, em que ele defende convictamente a adoção do voto distrital com recall. Vai ser a mais confortadora prática democrática deste país ver o povo demitir a cada semana prefeitos, vereadores, governadores e parlamentares de mau comportamento. Sosseguem, não haverá sombra de desordem. Antes do aviso prévio os representantes do povo relapsos ou coisa pior vão ter a oportunidade de corrigir suas condutas. Se não, a perda do emprego. O recall é a única reforma eficaz de que o Brasil precisa e que os sofridos e sempre enganados brasileiros merecem. É a reforma que inclui todas as reformas. Gente, esqueçam as reformas exigidas nas passeatas de protesto. Não vai acontecer nada. O rugir das ruas não mexe um músculo desse pessoal do Congresso, que inclusive já acenou com dificuldade de acordo entre os partidos para mudar as perniciosas práticas políticas vigentes. E quem viu as sugestões de mudanças do PSDB percebe que o pau que mexe a sopa de suas propostas apenas agita a mistura dos ingredientes e a sopa fica a mesma. Michel Temer já defendia o recall faz 20 anos e quem não é contra nós é por nós. Seja você também um apóstolo dessa feliz ideia, essa sim que vai mudar o Brasil, o voto distrital com recall”.

 *Apollo Natali é jornalista, formado aos 71 anos, depois de 4 décadas atuando na imprensa. É colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Desabafos de um ancião”.
(QTMD)

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