segunda-feira, 29 de julho de 2013

Carroll e Alice

Lewis Carroll e Alice: a pedofilia por trás da obra
em Literatura por Márwio Câmara
A íntima relação entre Lewis Carroll com a menina que o inspirou nos livros Alice no país das maravilhas e Alice através do espelho, e o seu fascínio em fotografar menininhas nuas, despertam discussões e mistério sobre a vida do escritor inglês



Alice no país das maravilhas é um dos livros mais conhecidos do escritor inglês Lewis Carroll, pseudônimo, na verdade, de Charles Ludwidge Dodgson. Porém, muitos não sabem que Alice, de fato, existiu e a relação entre a menina que inspirou a personagem mais popular da Literatura Infanto-juvenil e o seu respectivo autor é um dos pontos mais instigantes e controversos da biografia deste que também fora poeta e matemático e um apaixonado por fotografia.

Carroll tinha um fascínio, um tanto quanto, curioso em fotografar menininhas com poucos trajes e, por vezes, sem roupa alguma. E o escritor deixava claro que gostava de fotografar crianças, exceto meninos. Porém, todas as fotografias eram feitas com o consentimento dos pais, o que deixa menos maleável sua conduta, que embora, paradoxalmente, na pós-modernidade possa exercer estranheza, no seu antigo século XIX era visto com naturalidade.

Uma das modelos de Carroll fora exatamente quem o inspirou nos dois livros que o popularizou no mundo inteiro: Alice no país das maravilhas (1865) e Alice através do espelho (1873). A menina chamava-se Alice Liddell, e era filha de Henry George Lindell, deão da Christ Church College (futura Universidade de Oxford), onde, na época, Lewis Carroll, ainda apenas Charles Dodgson, era bibliotecário. Ela tinha apenas três anos quando ele a conheceu durante uma sessão fotográfica com o amigo Reginals Southey.

Ao longo da infância e juventude de Alice, ambos, ela e Carroll, mantiveram um relacionamento muito próximo, o que faz com que muito seja especulado que o autor tenha tido uma paixão platônica pela menina. Quanto as fotografias, poucas delas sobreviveram, ao todo apenas cinco, já que o próprio pedira que após sua morte fossem destruídas ou devolvidas as crianças e aos seus pais.
A menina ALice Liddell interpretando uma mendiga sensualizada em fotografia, tirada por Lewis Carroll.


Dúvidas e polêmica à parte, o fato é que as cartas de Lewis Carroll às meninas com quem ele fotografou revelam uma intimidade fora do comum. Em umas destas cartas, queimadas pela mãe de Alice Liddell, Carrol se despedia dela com dez milhões de beijos, além de costumar pedir de presente cachos de cabelos para beijar. Há quem diga que o édipo do autor fosse mal resolvido, como explica a psicanalista Phyllis Greenacre, de que este poderia projetar nas meninas a imagem da mãe, uma vez que a diferença de idade entre Carrol e sua modelo era quase similar.

Em matéria do Jornal do Brasil, publicada em 24 de novembro de 2001, foi abordada também a polêmica que envolve o escritor e a menina Alice Liddell, especulando a natureza dessa relação e o seu fascínio em fotografar menininhas em poucos trajes, sob o ponto de vista de autores que estudaram sobre o tema:

Nenhuma especulação, no entanto, desperta tanta curiosidade quanto as que se referem à vida do autor e à sua relação com a ninfeta Alice. Na leitura que faz da questão, Gardner esquiva-se de apostar na tese de pedofilia, deixando a questão em aberto. ”Estava Carroll apaixonado pela Alice real? Sabemos que a sra. Liddell percebeu algo de insólito nas atitudes dele em relação à filha, tomou medidas para desencorajar-lhe as atenções e finalmente queimou todas as primeiras cartas para Alice”. Mais à frente, ele completa: ”As menininhas de Lewis Carroll talvez o atraíssem precisamente porque com elas se sentia sexualmente seguro. Havia na Inglaterra vitoriana uma tendência, que se reflete em grande parte na literatura e na arte, a idealizar a beleza e a pureza virginal das meninas. Isso sem dúvida tornou mais fácil para Carroll dar por certo que seu gosto por elas se situava num elevado plano espiritual.”

Uma das melhores páginas sobre esse conflito não está, no entanto, nesta edição comentada, mas sim na interpretação de Katie Roiphe, autora de Still she haunts me (Ela ainda me assombra), livro que romaceia a relação entre Carroll e Alice. Para Roiphe, ensaísta renomada que deu com essa história seu primeiro passo na ficção, há uma certa nobreza no autocontrole de um homem que lutou a mais árdua de todas as batalhas do mundo: seu próprio desejo. Ela diz: “É impossível para nós contemplar um homem que se apaixonado por garotinhas sem querer colocá-lo na prisão. As sutilezas, para quem vive as paranóias do século 20, são difíceis de serem compreendidas. O amor de Carroll não era nabokoviano; era delicado, torturado e esquivo. Era uma paixão muito estranha e complicada para ser definida em uma única palavra”, escreve. Ao fim de um artigo escrito recentemente para o jornal The Guardian a respeito de Carroll, ela conclui: ”Ele tinha pensamentos, impuros, sim. O que importa, no fim, é o que ele fez deles.”

Outra leitura que vai de encontro a vida do autor, num ângulo artisticamente fotográfico, evidenciando seu fascínio por crianças do sexo feminino, pode ser encontrado na página do amigo Julio Ribeiro, no link abaixo:


Se havia uma natureza instintivamente sexual no autor em sua relação com Alice Liddell e as meninas que ele fotografava, talvez nunca saibamos. O fato é que Alice no país das maravilhas é um dos maiores clássicos da Literatura Infanto-juvenil, dotado de riqueza linguística (e, ora, diga-se, de entrelinhas), que faz de Lewis Carroll um dos mais importantes nomes da Literatura mundial, referência para muitos escritores e apreciado por leitores do mundo todo.


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Artigo da autoria de Márwio Câmara.
Escritor, jornalista e um apaixonado pelas artes. Escreve porque sua voz está na escrita..
Saiba como fazer parte da obvious.

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