domingo, 5 de janeiro de 2014

Drummond

No meio do caminho tinha Drummond publicado em artes e ideias por Raul Albuquerque O autor da pedra mais famosa da poesia brasileira, Drummond, teve uma poesia com muitas fases e muitas faces. O poeta demonstra através de sua obra o amadurecimento e a mudança de ponto de vista naturais à ação do tempo. Drummond é um poeta completo não por atingir a completude da poesia, mas a plenitude da humanidade. Nascido em 1902, em Itabira (MG), Carlos foi desde cedo muito poético - revolucionário - o que o levou a ser expulso do Colégio Anchieta por acusação de "insubordinação mental" - nasceu poeta. Toda sua produção poética é marcada por um uso inteligente e surpreendente das nuances e dos recursos da língua. Refinado, o lirismo drummondiano é marcado por um trabalho complexo escondido atrás da simplicidade de suas palavras. Sua primeira fase - dada como "fase experimentalista" - é marcada por um instinto modernista de reinventar modelos e sentidos de escrever. Sob influência dos modernistas de 1922, ele iniciou-se escrevendo poemas de ordem conceitual. Dessa fase, o maior exemplo da qualidade da poesia de Drummond é - indiscutivelmente - "No meio do caminho". O poema foi publicado na Revista de Antropofagia em 1928: "No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra." Sua segunda fase - dada como "fase gauche" - é marcada pela desconformidade com o mundo, a sensação de autoexclusão, de afastamento do mundo externo. Encontrando um modo muito peculiar de escrever, Drummond inicia uma "poesia em primeira pessoa", onde o que havia para ele não passava dele mesmo. O poema que caracteriza - e da nome a - essa fase é "Poema de Sete Faces". Publicado no livro "Alguma poesia" em 1930: "Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. [...] Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo." Sua terceira fase - dada como "fase social" - é marcada por uma preocupação com o mundo, um olhar mais próximo da realidade externa. Extremamente influenciado pelas ideias socialistas, passou a ver a Segunda Guerra Mundial como um empasse único. O marco desta fase é o livro - e o poema - "Sentimento do Mundo", publicados em 1940: "Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. [...] Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis. [...] esse amanhecer mais noite que a noite." Sua quarta fase - dada como "fase do não" - é marcada por uma poesia decepcionada, focada no tempo - com frequentes referências à morte, à filosofia, à metafísica e à reflexão. Marcado pela Guerra Fria, viu seus ideais serem corrompidos e o mundo cair no caos. O livro que marca essa fase é "Claro Enigma", publicado em 1951: "Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão." Sua última fase - dada como "fase da memória" - é marcada por uma retomada do passado focando a infância em Itabira (interior de Minas Gerais) , a família, o humor, o cotidiano e as ironias da vida. O livro que abre essa fase é "Boitempo", lançado em 1968. O poema que bem retrata sua carga nostálgica é "Confissões de um itabirano": "Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!" Raul Albuquerque Estudante de Direito apaixonado por Letras. Apesar desse quadro, não acha que está no lugar errado, afinal, o amor às palavras demonstra-se de diversos modos. Poeta desde que nasceu, mas só começou a escrever poemas aos sete anos. Apaixonado por livros e música clássica. Sabe que nunca vai conseguir se definir, logo, fica descrevendo inutilidades da própria vida em perfis. . Saiba como escrever na obvious.

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