quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Lucas Mendes

Lucas Mendes: um jornalista diplomata Lucas Mendes foi um dos primeiros correspondentes internacionais da TV brasileira. Ele entrou na TV Globo em 1975 como repórter. Foi chefe do escritório da emissora em Nova York de 1985 a 1990, correspondente da Record e da TV Cultura, onde ficou por 10 anos. Em 1993, criou o programa Manhattan Connection, onde é apresentador até hoje. Lucas também é colunista da BBC e já publicou dois livros. Mineiro de Belo Horizonte, Lucas chegou ao mundo e encontrou um cenário de incríveis coincidências. Ele nasceu no hospital São Lucas, no bairro São Lucas e o médico se chamava Lucas Machado. Apesar das coincidências, o nome Lucas veio do tetraavô, Lucas Antonio Monteiro de Barros, o visconde de Congonhas do Campo. Lucas Mendes queria mesmo é ser diplomata, mas acabou cursando jornalismo, por acaso. Ele ganhou uma bolsa de estudos do World Press Institute, nos Estados Unidos, e trabalhou no grupo Bloch, no qual foi correspondente em Nova York durante seis anos. Como todo bom mineiro Lucas tem muita história para contar e o faz com bom humor como você pode conferir na entrevista que fiz com ele recentemente para o jornal AcheiUSA.. Leila Cordeiro - Desde menino você sempre sonhou ser jornalista ou descobriu essa vocação mais tarde? Lucas Mendes - Foi por acaso e por fraude. Meu primo, excelente escritor e jornalista, trabalhava na Manchete e abriu uma vaga na Fatos e Fotos. Sugeriu que eu tentasse. Eu disse que não sabia escrever . Ele disse que eu sabia. Eu escrevia, ele reescrevia. Era a vaga do Paulo Henrique Amorim que saia para a Abril. Eu e Carlos Castilho fomos contratados. LC - Da mídia impressa, onde você começou, para a TV houve alguma dificuldade de adaptação? LM - Foi um vexame mas ninguém controlava nossos erros em NY. Eu não sabia escrever nem falar para televisão. O cinegrafista estreante não sabia filmar. Um stand up de um minuto queimava dez de filme. Se estivéssemos no Brasil não estaríamos em televisão. LC - O que o jornalismo praticado nos EUA tem que o do Brasil não tem? LM - Mais dinheiro. LC - Em termos profissionais, você acha que a televisão era mais romântica e verdadeira quando não existiam tantos recursos tecnológicos como atualmente? LM - Era mais mais interessante mas isto pode ser só uma distorção da minha visão saudosista. . Com certeza tinha mais prestígio e melhores salários. A decadência começou em 80, acelerou nos 90 e disparou com a internet. LC - Um jornalista com a sua experiência deve ter muitas histórias curiosas para contar. Conte-nos algumas delas. LM - Depois de passar três semanas no Líbano para entrevistar Yasser Arafat, o cinegrafista esqueceu as caixas de filme com a entrevista na esteira do aeroporto em Londres. Só percebemos no dia seguinte e entramos em pânico, já nos considerávamos demitidos mas a caixa, um dia depois, estava lá rodando sozinha na esteira. - Uma dificílima entrevista com o ministro das relações exteriores da Alemanha em Washington sobre o programa nuclear brasileiro foi gravada sem áudio. - Na Nicarágua fui tomar banho numa pensão terrível que não tinha chaves e por segurança levei 8 mil dólares para o chuveiro. E esqueci o dinheiro . Acordei de madrugada me lembrei e lá estava o pacote amarradinho . Na Nicarágua tudo era em cash, depois disto passei a entregar a verba de produção para o produtor. LC - Como surgiu a ideia do Manhattan Connection? LM - Veio do rádio. Antonio Augusto já fazia alguns comentários. Sugeri um triângulo. Um produtor nos mandou ótimos contratos para a época mas o Antonio Augusto voltou para o Brasil, eu sai da Globo e o esquema do rádio mixou. Quando a Globosat me pediu para fazer uma reportagem semanal mas a verba era curta, sugeri o Manhattan. Leticia Muhana e Luis Gleiser aprovaram na hora e foi um parto facílimo. LC - Qual é a principal lembrança que você guarda do jornalista Paulo Francis, junto com você um dos pioneiros do Manhattan? LM - O bom humor e o mau humor. Na Globo, quando estávamos juntos todos os dias, era sempre imprevisível. LC - Tom Jobim disse uma vez que “morar em Nova York é bom, mas é uma merda. Morar no Rio é uma merda mas é bom". Você concorda com a frase de Tom? LM - A frase é um jogo de palavras Jobiniano. LC - Morando em Nova York há mais de 40 anos, você acredita que a maçã mais cobiçada do planeta continua doce e saborosa ou tornou-se ácida depois dos atentados do "september eleven"? LM - Está melhor do que nunca, em tudo. LC - O que você pensa sobre o bipartidarismo nos EUA? É bom para a democracia a existência de apenas dois partidos, quando sabemos que no Brasil são 32 registrados no TSE? LM - Funciona e não funciona há mais de duzentos anos mas o país deu certíssimo. E o Brasil com os 32? LC - Acompanhando a política dos EUA há tanto tempo, como você vê a disputa entre republicanos e democratas? Há alguma diferença ideológica entre os dois partidos? LM - Até Obama havia diferenças mas eram menos acentuadas Agora são grandes. Quando o Tea Party implodir serão menores. LC - Como você está vendo o momento atual dos EUA? Você acha que o país já pode dizer que saiu da crise? LM - Da crise de 2008 saiu pela metade mas está sujeito a recaídas. Há previsões econômicas terríveis cada vez mais comuns, mas a bolsa e o mercado imobiliário não acreditam nelas. LC - O grande debate hoje nos EUA gira em torno do Obamacare. Na sua opinião, o programa de saúde de Obama é bom para a população ou foi apenas uma jogada de efeito do presidente que não deu certo, pelo menos até agora? LM - O programa é modesto. O seguro deveria ser universal como o inglês e o canadense. Ainda acho que vai dar certo e em novembro do ano que vem Obama vai estar com quase 60 pontos de aprovação. LC - Defina a profissão de jornalista em uma frase. LM - Numa panela misture idealismo, curiosidade, pesquisa, informação e ceticismo. Cinismo não, é veneno. LC – Qual seria o teste ideal para um repórter que está começando? LM - Jogue um dardo num mapa de cidades pequenas. Ele deve ir lá e trazer uma boa matéria em 48 horas. (Teste roubado do Walter Isaacson. Quando roubo confesso e quando plagio dou credito. As vezes, esqueço...) Leila Cordeiro (direto da Redação)

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