Cazuza: um poeta genuinamente brasileiro.
em musica por Leandro Peixoto de Godoy em 04 de abr de 2013 às 21:03
Agenor de Miranda Araújo Neto mais conhecido como Cazuza, em sua curta vida, revolucionou a música brasileira, e balançou as estruturas conservadoras políticas e sociais com sua poesia, que andava magistralmente na linha tênue entre o popular, o underground e a nata erudita da língua portuguesa.
Após 23 anos de sua morte, Cazuza se transformou numa lenda, suas milhares de canções ainda permeiam a cultura brasileira andando na borda do que hoje se qualifica como popular, sua voz ainda é escutada e suas letras são atemporais. Vários foram os artistas que gravaram e regravaram suas poesias, e na minha opinião, nenhum deles as interpretam com tamanha sensibilidade e confiança como o genial Ney Matogrosso e o talentoso e estiloso roqueiro ''old school'', Frejat. Destaque para a interpretação de Renato Russo da música Quando Eu Estiver Cantando do Cazuza, aonde ele faz uma homenagem a ele, Renato Russo que foi outro ícone do rock nacional, sofria do mesmo mal que matou Cazuza e também sucumbiu pela a doença.
Ney Matogrosso interpretando Poema, uma música que Cazuza fez para a avó.
Renato Russo interpreta Quando Eu Estiver Cantando e Endless Love em homenagem ao Cazuza.
Cazuza já teve uma parcela de sua vida explorada pelo o cinema e pela literatura. O livro Cazuza, Só as Mães São Felizes escrito por Lucinha Araújo, a mãe de Cazuza, é o mais completo e conta com detalhes e sinceridade várias passagens do cotidiano normal de Cazuza, desde sua infância, sua adolescência, sua vida adulta e morte. Infelizmente Cazuza não teve tanta sorte no cinema, apesar do filme Cazuza: O Tempo Não Para de 2004 ser um filme competente, ele foca apenas nas partes polêmicas da vida de Cazuza e de uma forma tendenciosa, isto dito pela própria família e amigos do poeta e cantor.
Cazuza descobriu no rock n roll a forma de ser, expor e gritar tudo aquilo que queria e sentia, uma forma verdadeira, inteligente, crua e marginal de se expressar que era um soco no estômago da hipocrisia e do conservadorismo da época. Depois de alguns anos cantando rock n' roll no Barão Vermelho Cazuza aconselhado pelo o seu grande amigo e empresário Ezequiel Neves (1935 - 2010), abandonou a banda e seguiu carreira solo, onde ele incorporou um estilo musical mais pessoal, misturando samba, MPB e rock n' roll.
O que a ditadura militar fez de bom no Brasil, foi fazer com que jovens loucos e rebeldes saíssem de suas tocas e falassem tudo aquilo que era proibido, da mesma forma que a ditadura tentava de todas as formas oprimir e destruir os espíritos rebeldes, ela sem querer os ajudou a cria-los, e Cazuza foi um destes prolíferos artistas, mesmo com todas as facilidades proporcionadas por sua família bem estruturada financeiramente. Cazuza não foi um grande revolucionário político mas foi um grande revolucionário social.
Artistas originais, politizados e autênticos como o Cazuza fazem muita falta na nossa música e na nossa atual sociedade brasileira que está caminhando para um futuro distópico e sem esperanças, uma sociedade totalmente dependente de organizações institucionalizadas como o governo e a mídia, uma sociedade acostumada e conformada com todas as futilidades e banalidades de nosso povo e da nossa cultura, da nossa política e da nossa nação. O que ele estaria fazendo e dizendo hoje com os seus 55 anos? Não tenho ideia, mas a verdade é que, o coração doí de pensar em todas as possibilidades.
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