segunda-feira, 22 de abril de 2013

Amor

O amor incondicional é possível?
Por Antonio Ozaí da Silva 13/04/2013

É possível amar incondicionalmente? Invariavelmente, as juras de amor são acompanhadas do desejo e da exigência de ser amado. O amor pressupõe reciprocidade. O amor exige amor e cuidar recíproco. Claro, há o amor não correspondido, mas ainda que sobreviva à ausência do ser amado, mesmo que seja chamado de amor, o nome mais propício é sofrimento. “Em alemão, paixão é Leidenschaft. Leiden é o sofrimento. Na paixão, de fato, também há sempre um sofrer”, afirma Alberoni.[1] Posso continuar a amar, e neste sentido é incondicional. Mas a recusa do amor e/ou a impossibilidade de realizar-se o transforma em sofrer, angústia e dor. Pois o amor exige materializar-se reciprocamente. Se é impossível, tende a esvaecer-se. Permanece como uma doce lembrança que exige o esquecimento e lança o indivíduo numa luta interna intensa.

O amor é condicional, possessivo! “É típico do amor querer sempre mais a mesma pessoa, aspirar a uma fusão total que lhe escapa”.[2] O amor caminha pari passu com o ciúme, o desejo de exclusividade. “O ciúme pede, como o antigo Deus de Israel: não terás outro Deus além de mim”.[3] O sentimento exacerbado de posse desconfia de tudo, é fruto da insegurança. Daí a necessidade de controle. Como escreve Alberoni, “há amores possessivos, amores angustiados, que se reduzem quase que exclusivamente ao controle físico e mental do outro. Há amores-ódio, amores-poder em que o amante é o carcereiro do amado, preocupado apenas com que ele possa evadir-se da prisão. O carcereiro teme os amigos porque estes são janelas por onde o prisioneiro vê a liberdade, e por onde pode escapar. Começa, então, uma sutil luta contra a amizade”.[4] O amor-paixão é êxtase, mas também pode ser cárcere!

Por mais que afirme a liberdade e a incondicionalidade do amar, este amor é exigente, impõe condições. Proclama-se incondicional, mas não suporta a ausência; afirma-se permanente, mas ressente-se; jura não esquecer, porém a dor o impulsiona a debater-se nas águas revoltas do oceano das lembranças. Enfim, o amor revela-se incondicional. Ele quer o outro, necessita, exige!

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Não obstante, há outras formas de amar! Pensemos no amor da mãe e do pai pelos filhos. Será incondicional? A mãe e o pai amam desinteressadamente? Um dia, afirmei à minha filha que a amava incondicionalmente. Ela argumentou que os pais amam, mas não há ausência de interesse; eles esperam algo dos filhos. Quem sabe a proteção e o cuidado na velhice ou simplesmente serem correspondidos com afeto. Ela me fez refletir!

O que os pais querem dos filhos? O que esperam deles? Continuam a amá-los ainda que eles decepcionem e se distanciem? O amor de mãe e pai resiste à ausência de afeição, ao esquecimento e à rejeição? Ainda que sob o risco da redundância, não esqueçamos que pais e mães compartilham a condição humana com os filhos; são carentes e propensos a sofrer. Desejamos que nossos filhos sejam felizes; que encontrem seus próprios caminhos e construam suas vidas da melhor forma possível. Então, o amor paterno e materno pode ser incondicional, isto é, amar sem nada esperar em retribuição, sem interesses e exigências de reciprocidade. Pois, ainda que a minha filha se afaste de mim e não demonstre afeição, continuarei a amá-la. Ainda que ela trilhe sendas desconhecidas e arriscadas, não a abandonarei. Amo-as incondicionalmente e ponto!

Mas a reflexão me fez ver que nem sempre o amor de pai e mãe é incondicional. Há pais e mães que criam os filhos como seus apêndices e subordinam a vida deles. Agem assim em nome do amor aos filhos – e não nos cabe duvidar deste sentimento. Mas, nestas condições, é um amor condicionante, egoísta, e, no limite, chantagista e opressivo. Em suma, talvez o amor incondicional seja possível, mas não podemos generalizar!
(Blog do Ozaí)

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