terça-feira, 30 de abril de 2013

Céu e Inferno

As temperaturas do Céu e do Inferno
A temperatura do Céu pode ser calculada com bastante precisão a partir dos dados disponíveis. A nossa autoridade é a Bíblia. Isaías, 30:26 diz:
E a luz da Lua será como a luz do Sol e a luz do Sol sete vezes maior, como a luz de sete dias.
Assim, o céu recebe da Lua tanta radiação quanto a Terra faz a partir do Sol e, além de sete vezes sete vezes (49) mais do que a Terra do Sol, ou cinquenta vezes no total. E, como a luz que recebemos da Lua é apenas um décimo de milésimo da luz que recebemos do Sol, podemos ignorar isso.
Com estes dados podemos calcular a temperatura de Céu. A radiação que cai em céu irá aquecê-lo até ao ponto em que o calor perdido por radiação é apenas igual ao calor recebido por radiação. Em outras palavras, o Céu perde cinquenta vezes mais calor do que a Terra pela radiação.
Usando a quarta lei da energia de Stefan-Boltzmann para a radiação:
em que E é a temperatura absoluta da Terra - 300K. Isto dá H como 798K absoluto (525 ° C).
A temperatura exata do inferno não pode ser calculada, mas deve ser inferior a 444,6 ° C, a temperatura em que o enxofre muda de líquido a um gás. Apocalipse, 21:8:
Mas, quanto  aos medrosos, e aos incrédulos, e aos ... terão a sua parte no lago que arde com fogo e enxofre.
Um lago de enxofre fundido significa que a sua temperatura deva estar abaixo do ponto de ebulição, que é 444,6 ° C. (Acima desse ponto, seria vapor e não um lago.)
Temos, então:
Temperatura do Céu, 525 ° C. Temperatura do Inferno, menos de 445 ° C.
Portanto, o Céu é mais quente do que o Inferno.

Applied Optics (agosto de 1972) e  Greg Ross, Futility Closet


  (Entrementes)

Rosa Luxemburgo e Hugo Chávez

Rosa Luxemburgo e Hugo Chávez
Claudia Korol
Editora de América Libre, jornalista da Rádio Nacional da Argentina, coordenadora do programa de rádio Espejos Todavía, em FM La Tribu
Adital



A partir de 2013 e para sempre, enquanto a memória rebelde continuar brilhando no horizonte, a cada 5 de março nasceremos com Rosa Luxemburgo e morreremos com Hugo Chávez.

Nascer e morrer são momentos de nossa vida. São desgarros e criações mágicas difíceis de decifrar nas distintas chaves de compreensão do mundo. De muitas mortes e muitos nascimentos, nos tornamos povo. De muitos nascimentos e de muitas mortes, nos fazemos natureza e humanidade.

A cada 5 de março, a partir de 2013, nasceremos com Hugo Chávez e morreremos com Rosa Luxemburgo. E, assim, também nascerá e morrerá nosso socialismo do século XIX, no qual Rosa chegou ao mundo, um socialismo com ares comunitários...; e nosso socialismo do século XX, tão ‘outubramente’ soviético, que Rosa viveu no início de sua militância...; e Hugo Chávez, em sua agonia...; e nosso socialismo do século XXI, que tomou os ares bolivarianos da América Livre. Um socialismo caribenho, alegre, com mais vontade de ser o que é, com mais desejo de distribuição, novas relações de produção. Um socialismo ainda em fraudas, na infância do caminho.

A cada 5 de março, a partir de agora, uniremos a fé de Chávez e a paixão de Rosa em um amor livre que não necessita de padrinhos, nem de papeis. Um amor que crescerá no território tão chorado por tanto povo, tão regado pelo sangue dos mais humildes, dos mais esquecidos, como o cacique yukpa Sabino Romero, assassinado uns dois dias antes, na Venezuela, pelas balas de latifundiários e pela indiferença oficial.

A cada 5 de março, rezaremos com Rosa sua oração contra a burocracia no socialismo e com Chávez celebraremos as batalhas para que Nossa América construa e acredite na revolução socialista e não uma caricatura de revolução. Em seguida, cantaremos com Alí Primera: "Não basta rezar... faltam muitas coisas para alcançar a paz”.

Para alcançar essa paz, que tantas prisões custaram a Rosa, quando se opôs no Parlamento e nas ruas à votação de créditos para a guerra. E para alcançar essa paz pela qual Chávez tanto se esforçou, acompanhando ao povo da Colômbia preso às redes militaristas dos ‘gringos’.

Uma paz que tem signo anti-imperialista. Uma paz que cuida dos territórios para que continuem sendo espaços de vida e não de destruição capitalista e neocolonial.

A cada 5 de março, a partir de 2013, nasceremos e morreremos e voltaremos a nascer...; despertaremos nos caminhos, como essa porção de povo que caminha em Honduras passo a passo...; despertaremos nos acampamentos, como os homens e as mulheres Sem Terra, que reinventam no Brasil...; despertaremos no coração da América, que late cubanamente pelas revoluções de todos os séculos...; despertaremos na Selva Lacandona, fazendo outros mundos habitáveis neste mundo...; despertaremos na desobediência tão argentina às transnacionais estilo ‘monsanto’.

A cada 5 de março, e para sempre, Rosa nos olhará nos olhos e, no limite de suas forças, nos dirá, como corpo de revolução: "fui, sou e serei”...; e Chávez fará, com seu sorriso, um horizonte que grite com ar utópico: "viveremos e venceremos”.

[Original em espanhol publicado em www.panuelosenrebeldia.org].

Ditadura

A ditadura lida por dentro
By
Alexandre Pilati

Romance de Bernardo Kucinski escava com atualidade e vigor literário o terror da ditadura brasileira

Por Alexandre Pilati*

Lê-se o romance K. (Expressão Popular, 2011) de Bernardo Kucinski de um fôlego. Envolvente, o conjunto de fragmentos de que a narrativa se compõe abraça o leitor e pede dele atenção grave, sentimento operante e uma resposta comprometida. Tudo isso porque reconta, sob uma forma literariamente tensa, a busca de um pai pela filha desaparecida nos anos 70 durante a criminosa ditadura militar brasileira. Dado o tema, haverá quem reconheça no livro, de imediato, um mérito histórico, ligado ao resgate de um conjunto de questões que nunca será demais repisar: a tortura, os assassinatos, os crimes perpetrados por um sistema de opressão bem montado e com tonalidades próprias de perversão, as quais configuram a nota específica do terror institucional à brasileira. Outros dirão talvez que há muito valor nos traços universalizantes da narrativa, que articula a tragédia histórica do nazismo ao golpe brasileiro e seus atos de baixeza, escavando a natureza humana subjetiva em abstrações tais como a perda, o luto, a saudade, o amor entre pai e filha. Haverá ainda aqueles que destacarão a potência literária do livro, sua forma inquieta, não tradicionalista de oscilar narradores e transitar entre perspectivas narrativas distintas de que derivam estilos também distintos, num modo muito próprio de lidar com a memória. Mas é claro que uma leitura K. que se pretenda suficientemente profunda e abrangente não poderá considerar cada um desses aspectos isoladamente, sob pena de suprimir aquilo que podemos chamar de “a sua força contemporânea”. Tal força está precisamente na maneira como a narrativa se organiza e não, de maneira isolada, pelos seus méritos de denúncia e de reconstituição histórica de um tempo nefando. Esta força está em como ficção e história se articulam no romance em função de uma forma narrativa capaz de descortinar a vida que flui imperfeita, sob as aparências às vezes ambíguas que o tempo vai adesivando nos fatos, o que comumente favorece o bloqueio de sua inteligibilidade.

De cara, o romance propõe uma discussão que envolve fato e ficção, história e narrativa literária. A frase que inicia o aviso ao leitor que funciona como epígrafe do livro não deixa dúvidas quanto à intenção que a obra tem de instaurar uma inquietação para o leitor. A interpelação é dialética, como se reconhecerá: “Tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu.” A armadilha ao leitor descuidado está no fato de que “invenção” em literatura não significa delírio ou evasão. Invenção ou fabulação são a matéria fundamental da ficção, são a base contraditória da obra literária que é a um só tempo mimese e poiese, como já ensinou Aristóteles há tantos séculos. Trocando em miúdos, a obra literária é imitação do real que se dá não apesar da fabulação, mas sim através da invenção. A esse respeito diz o autor: “Deixei que lembranças fluíssem diretamente da memória, na forma como lá estavam, há décadas soterradas, sem confrontá-las com pesquisas, sem tentar completá-las ou lapidá-las com registros da época.” Assim, o que o romance K. nos apresenta é, além de um dilacerado painel do tempo, uma grande problematização do fazer literário. Usando os elementos do romance, diríamos que a ditadura não é simplesmente relatada, documentada, exposta ou representada objetivamente por Kucinski. Em seu romance o que se vê é, de forma franca, a subjetividade, a dimensão mais íntima de um autor-narrador, filtrando os fatos da objetividade, nunca em detrimento da verdade histórica, mas sempre a favor de uma exposição tensa e vívida dela.

O dado formal fundamental da obra é a sua dinâmica narrativa, que se estabelece num movimento tenso entre tendências e formas dispersivas, por um lado, e, por outro, elementos unificadores. Também nesse ponto as palavras do autor são bastante esclarecedoras: “A unidade se deu através de K. Por isso, o fragmento que o introduz inicia o conjunto, logo após a abertura. E o que encerra suas atribulações está quase no final. A ordem dos demais fragmentos é arbitrária, apenas uma entre as várias possibilidades de ordenamento dos textos.” O que o leitor verá, portanto, é um conjunto de fragmentos, aparentemente postos em movimento de dispersão, que, no entanto, têm a unidade entre si garantida, em primeira instância, pelo elo que é a personagem K. Nesse dado formal encontramos uma adequação do autor a certa tendência à dispersividade narrativa do romance contemporâneo. Aí está, pois, um bom sintoma de sua atualidade. Entretanto, seria bom alertar que K. não é apenas um romance atual e sim um ótimo romance contemporâneo. Pensar assim passa por reconhecer um outro nível da dinâmica dispersão-unidade, que não está expresso pelo autor, mas que pode ter sido por ele intuído, uma vez que está excelentemente formalizado na obra.

Uma breve contabilidade descritiva dos capítulos dará a ver melhor este outro nível da referida dinâmica. K. é composto por 29 fragmentos narrativos. Desses, 15 fragmentos, ou seja mais da metade, apresentam uma voz narrativa em terceira pessoa e apresentam como personagem central o próprio personagem K., o pai que busca a filha desaparecida. Nesses fragmentos, apresenta-se uma tensa relação de distanciamento e aproximação do personagem, o que dá eles uma profunda humanização do relato. A intimidade entre narrador e personagem, embora sutil, é profunda e verifica-se uma empatia de alta sensibilidade entre eles, o que é determinante para a eficácia estética não apenas desses fragmentos, mas também da obra como um todo. Outro grupo significativo de fragmentos é aquele composto pelos 5 textos escritos também em terceira pessoa, mas que, diferentemente daquele grupo majoritário, não têm o personagem K. como protagonista. Os protagonistas são diferentes em cada um deles: um agente do terror, uma faxineira da casa de tortura, um general cassado, os professores em reunião de colegiado na universidade. Aqui a relação entre narrador em terceira pessoa e personagem se dá mais pela via da mediação crítica e avaliativa, do que pela via da subjetividade sentimental, como no caso dos fragmentos dedicados predominantemente a K. Há ainda um outro grupo de fragmentos em que a narrativa encontra-se em primeira pessoa, ou seja, os próprios personagens protagonistas falam, expondo a sua história. São eles: o pai do genro de K., que desfia saudade em um tom simples e tocante; um agente da polícia estúpido, que não sabe o que fazer com a cadela do casal assassinado; alguém que reflete sobre a busca inútil pela filha, que pode ser o próprio K. (ou quiçá o narrador daqueles primeiros fragmentos onde ele era o protagonista); o perverso delegado Fleury e, por fim, a amante do delegado torturador. Nesses fragmentos a notação ficcional se acentua, como forma de evidenciar as forças humanas em jogo numa sociedade massacrada pelo terror institucionalizado. Completam o quadro dos 29 fragmentos ainda duas cartas, uma do personagem Rodriguez e uma da personagem A., além de dois textos que poderiam ser creditados ao próprio autor, uma vez que evidenciam certos princípios e sentimentos que catalisam a produção do romance, falando da permanência fantasmática da personagem desaparecida e de uma resistência do sistema opressor mesmo em tempos de propalada democracia. No fim das contas, esses dois fragmentos, postos no início e no fim do livro, dão-lhe a moldura histórica e motivacional, evidenciando claramente a consciência do autor relativamente à contemporaneidade de sua obra. São ainda esses fragmentos sintomas da presença unificadora de um autor-narrador (ou autor textual) absolutamente consciente dos mecanismos que atuam no caleidoscópio narrativo que vai montando aos olhos do leitor, num processo que sempre revela as marcas da reflexão profunda que empreende acerca do fazer literário em tempos de ignomínia normalizada como instituição de governo.

A respeito dessa pluralidade narrativa, em jargão de crítica literária, diríamos que este é um modo de bem trabalhar com tensões e oscilações de tendências autodiegéticas, heterodiegéticas e homodiegéticas. Ou seja, com narradores que contam seus próprios feitos na condição de protagonistas; com narradores que contam feitos de outrem a uma relativa distância dos acontecimentos e com narradores que têm algum comprometimento com a história, embora dela tenham participado. Desse modo, em dínamo oscilante, dilata-se e amiúda-se a distância de empatia entre narrador e personagem, provocando um movimento de sentimento e experiência vital também no leitor. Vê-se, pois, que K. é construído a partir de uma eficientíssima pluralidade de pontos de vista narrativos e de gêneros literários, que movimentam-se nos meandros da recolha documental e a fabulação a serviço sempre de um resultado capaz de dar a ver a força da História. Assim, trata-se de uma multiplicidade que não serve ao delírio de invariância que caracteriza o grosso da narrativa pós-moderna. Tal variedade está amarrada ideologicamente fortemente pela presença grave e comprometida desta entidade que aqui chamamos de autor-narrador. Portanto um bom nome para essa peculiaridade estética do romance de Bernardo Kucinski é multiplicidade convergente, pois todas as versões apresentadas nos 29 fragmentos da obra convergem para uma verdade: o massacre articulado, sistêmico e institucional perpetrado pelo regime de terror da ditadura brasileira, o qual, de outra forma jamais seria com o mesmo teor de tensão revelado. Das suas virtualidades estéticas, pois, K. extrai a sua concretude política, que não deixa de ser uma aposta na força da História e na necessidade de que ela se construa como algo além do factual, exatamente para ser mais verdadeira. Estamos nas vizinhanças dos 50 anos do Golpe Militar de 1964 e K. deve ser visto como uma lição contemporânea acerca da vigilância relativa à compreensão do passado, nem que seja por meio do filtro da ficção. Esta, aliás, talvez a melhor forma de entender o massacre subjetivo dos regimes de exceção, uma vez que propõe uma leitura interpretativa da História não apenas a contrapelo, mas por dentro de seu obscuro bojo.

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*Alexandre Pilati é professor de literatura brasileira da Universidade de Brasília. Poeta e crítico literário é autor, entre outros, de A nação drummondiana (7Letras, 2009).
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(Outras palavras)

Deus

Preguntitas sobre dios
Atahualpa Yupanqui



Un día yo pregunté:
Abuelo, dónde está Dios.
Mi abuelo se puso triste,
y nada me respondió.

Mi abuelo murió en los campos,
sin rezo ni confesión.
Y lo enterraron los indios,
flauta de caña y tambor.

Al tiempo yo pregunté:
¿Padre, qué sabes de Dios?
Mi padre se puso serio
y nada me respondió.
Mi padre murió en la mina
sin doctor ni protección.
¡Color de sangre minera
tiene el oro del patrón!

Mi hermano vive en los montes
y no conoce una flor.
Sudor, malaria, serpientes,
la vida del leñador.

Y que nadie le pregunte
si sabe donde está Dios.
Por su casa no ha pasado
tan importante señor.

Yo canto por los caminos,
y cuando estoy en prisión
oigo las voces del pueblo
que canto mejor que yo.

Hay un asunto en la tierra
más importante que Dios.

Y es que nadie escupa sangre
pa’ que otro viva mejor.

¿Que Dios vela por los pobres?
Tal vez sí, y tal vez no.
Pero es seguro que almuerza
en la mesa del patrón.

Atahualpa Yupanqui (en quechua, “el que viene de lejanas tierras para decir algo”), es el seudónimo de Héctor Roberto Chavero Aramburu, nacido en Pergamino, Argentina, el 31 de enero de 1908 y fallecido en Nîmes, Francia, el 23 de mayo de 1992. Poeta y compositor musical, su obra es hoy un símbolo inmortal del canto latinoamericano con hondo contenido social.Autor de numerosos libros; entre otros: Piedra sola (1939), Aires (1943), Cerro Bayo (1953), Guitarra (1960), El canto del viento (1965), El payador perseguido (1972), Del algarrobo al cerezo (1977), Confesiones de un payador (1984), La palabra sagrada (1989), La capataza (1992), La canción triste, Coplas del payador perseguido (2007, póstumo).


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quinta-feira, 25 de abril de 2013

palestinos

Jornalista brasileira relata vida dos palestinos sob a ocupação
ICArabe
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A jornalista Adriana Mabilia lançará, no dia 24 de abril, na Livraria Cultura, em São Paulo, o livro “Viagem à Palestina”, um relato detalhado da vida sob a ocupação militar, com destaque para as mulheres palestinas.Especialista em assuntos do Oriente Médio pela PUC-SP, Adriana realizou sua investigação sobre a condição das mulheres palestinas em 2009. A obra detalha o cotidiano e as situações a que são submetidas diariamente, como os checkpoints. A jornalista revela que entre 2000 e 2006, das 69 palestinas que deram à luz nos checkpoints, pelo menos 35 perderam seus bebês por falta de atendimento médico.  "As mulheres palestinas são pelo menos três vezes vítimas no conflito com Israel: elas vivem a guerra, a ocupação e ainda o patriarcado [...] além de sofrerem abusos diretos por parte dos soldados israelenses, as palestinas enfrentam as consequências indiretas, como o aumento do desemprego e a pobreza", revela no livro.

A partir das experiências da vida cotidiana, a autora mostra que a questão do gênero funciona como uma nova maneira de lidar com os valores patriarcais. "Cada vez mais as palestinas estão menos dispostas a pedir ajuda ou se queixar, pois acreditam que devem deixar de lado seus problemas pessoais para dar suporte e força aos maridos que sofrem no 'pelotão' de frente na resistência à ocupação dos territórios."

Os relatos que colheu constroem uma reportagem feita de histórias de pessoas reais que vivem nos locais visitados: militantes palestinos e judeus, que lutam pelos direitos do povo palestino; palestinos que trabalham próximos a assentamentos israelenses ilegais; os jornalistas estrangeiros que atuam na área; pais e mães que, por meio do simples relato de suas memórias, documentam a dor e o sofrimento, mas também  a esperança de que a tragédia se resolva, permitindo uma perspectiva de futuro aos seus filhos. “Não há sequer um palestino que não tenha sofrido constrangimentos e cerceamentos, por conta da ocupação. Todas as pessoas com as quais falei já foram presas, pelo menos uma vez. Todas elas, também, enfrentaram a prisão de pai, mãe, irmão, esposa, filhos. De certa maneira, as histórias de vida dos palestinos se repetem. São gerações que viveram e vivem sobe ocupação militar”, afirma.

A maneira autoritária com que os jovens soldados israelenses tratam os palestinos, principalmente os mais velhos, foi um dos fatos que mais a impressionaram. “Eu não presenciei maus-tratos, mas o assédio moral é, no mínimo, constrangedor. Em Hebron, há observadores internacionais que acompanham a entrada e a saída da escola das crianças palestinas para evitar que elas sejam atacadas por colonos israelenses. Eles vestem coletes com a indicação em inglês `Observer´. Eu perguntei a um deles porque eles estavam sempre correndo. E ouvi essa história. Eles têm que se deslocar até a porta das escolas para proteger as crianças palestinas.”

Apesar de se sentirem sozinhos, relata Adriana, “os palestinos não perderam a esperança e, ao mesmo tempo em que não acreditam mais na interferência da comunidade internacional, eles não têm outra alternativa a não ser continuar lutando.”
(Icaarabe)

Teologia da libertação

Teologia da libertação: elevar a consciência dos fiéis. Entrevista com James Nickoloff

O tema da teologia da libertação foi bastante levantado na mídia desde a eleição do Papa Francisco, principalmente em resposta à acusação de que Francisco, assim como seus dois antecessores mais recentes, tinham uma visão negativa do movimento.

A reportagem é de Jamie L. Manson, mestre em teologia pela Yale Divinity School, onde estudou teologia católica e ética sexual.

Em muitos dos artigos e blogs que eu li sobre o assunto, chamaram-me a atenção as caracterizações simplistas da teologia da libertação. Muitos escritores reduziam-na a um movimento político, ou a identificavam estreitamente com o marxismo. Percebi que poucos desses comentaristas eram especialistas em teologia da libertação, e menos ainda passaram algum tempo no campo onde essa escola de pensamento se desenvolveu. Eu quis falar com uma autoridade no assunto, e na minha busca eu encontrei James B. Nickoloff. Eu achei a nossa conversa tão útil que decidi publicá-la como minha coluna desta semana.

Nickoloff é professor emérito de estudos religiosos do College of the Holy Cross, em Worcester, Massachusetts, onde ensinou teologia sistemática por 20 anos. Ele também viveu e trabalhou por longos períodos em Andong, na Coreia; em Kingston, na Jamaica; e em Lima, no Peru. Enquanto estava em Lima, ele viveu e trabalhou com o padre Gustavo Gutiérrez, um dos fundadores do movimento da teologia da libertação, na paróquia onde Gutiérrez atuava como pároco. Ele também estudou no Instituto Bartolomé de las Casas, que Gutiérrez fundou e dirigiu.

Nickoloff é editor do livro Gustavo Gutiérrez: Essential Writings e coeditor (com Orlando Espín) de An Introductory Dictionary of Religious Studies and Theology. Ele atualmente leciona na Barry University, na Universidade de Miami e na Catholic Theological Union (Chicago).

A entrevista foi publicada no sítio National Catholic Reporter, 17-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Desde os anos 1980, temos ouvido sobre as reservas da Igreja institucional com relação à teologia da libertação e, em alguns casos, sobre bispos que reprimem os teólogos da libertação. Como aluno de Gustavo Gutiérrez, um dos fundadores da teologia da libertação, o senhor poderia nos ajudar a entender mais profundamente as preocupações do magistério sobre esse movimento?

Eu acho que é importante começar dizendo que eu estou falando a partir da minha própria perspectiva limitada. Eu tenho mais conhecimento e experiência no campo do que outros, mas eu absolutamente não detenho todo o quadro. O que eu apontaria como a preocupação em alguns setores da Igreja institucional (que inclui bispos, sacerdotes e leigos) é uma sensação de que o que a teologia da libertação realmente estava defendendo estava elevando a consciência das pessoas na base da sociedade. Gutiérrez fala sobre três níveis ou dimensões do processo de libertação.

O primeiro é a transformação social, política, econômica, estrutural. Os projetos políticos e teológicos se unem no segundo nível, que é a transformação psicológica. O terceiro nível é a transformação em Cristo, que é a mudança do egocentrismo e do pecado para Deus. A conexão entre a libertação social, política, econômica e estrutural e a libertação espiritual ocorre, na sua opinião, na transformação da consciência humana. Essa é a ligação entre os dois.

Gutiérrez e muitos outros teólogos da libertação estão convencidos de que pregar o Evangelho com integridade pode realmente encorajar a parcela cristã da população a passar por essa transformação psicológica. Foi isso que ele viu acontecer nos anos 1960 e 1970 em vários tipos de movimentos dos pobres e marginalizados, incluindo grupos de mulheres, agricultores e trabalhadores.

Por que isso seria percebido como uma ameaça?

Eu acho que qualquer pessoa que esteja desfrutando do privilégio de poder no status quo será ao menos cauteloso, senão oposto, a essa consciência elevada entre os pobres e marginalizados. Se olharmos para a última eleição nos Estados Unidos, podemos argumentar que o que aconteceu foi que muitas pessoas marginalizadas – muitas das quais podem nem saber a história do movimento dos direitos civis ou do movimento das mulheres – tinham a sua própria consciência afetada pelo que aconteceu 30 ou 40 anos atrás. O trabalho de décadas de ativismo deu frutos. E muitas pessoas com dinheiro e privilégio provaram ser impotentes contra essa mudança na consciência. Eu acho que isso é análogo ao que aconteceu na Igreja.

É claro que nem todos os bispos tinham medo do fato de as massas começarem a ver o que realmente estava acontecendo. Temos o exemplo do arcebispo Oscar Romero e de outros bispos que foram presos e até mesmo pagaram com as suas vidas. Mas houve esforços por parte de alguns para cooptar a solidariedade da Igreja com os pobres e desviá-la para longe do que poderíamos chamar de libertação e justiça e para concentrá-la, ao invés, na caridade. Assim, eles favorecem uma maior caridade, cuidado e ajuda, mas eles não estão tão interessados em mudar a consciência.

Quais são os sinais de comprometimento de um bispo com as ideias da libertação e não apenas com a caridade?

Quando as autoridades da Igreja defendem os pobres, é importante olhar para o conteúdo, não apenas para os títulos, dos programas que eles promovem. Ser crítico do capitalismo desenfreado é um bom sinal. Mas também é importante analisar se as suas atividades eclesiais têm o objetivo de elevar a consciência, elevar a conscientização das pessoas diante das estruturas de poder injustas. Vimos um grande exemplo disso em Lima, no Peru, nos últimos 50 anos, onde os programas educacionais, seminários e o trabalho da Igreja com as comunidades pobres ao redor da cidade e do país tinham os propósitos de ensinar a Bíblia e de olhar para as questões estruturais. Mas o principal objetivo desses programas era levar as pessoas a crescer e a ter uma compreensão mais sofisticada de si mesmas, da sua dignidade e da sua situação.

Alguns argumentam que o problema com a teologia da libertação é que ela contém elementos marxistas e se baseia na análise marxista.

As mesmas acusações foram feitas contra Martin Luther King, de que ele era marxista. Naquela época, estávamos na era da Guerra Fria e do macartismo. Se você olhar para a história de qualquer revolta por parte dos impotentes ou marginalizados na história, muito antes mesmo de Marx surgir, sempre houve resistência a isso por parte dos privilegiados do status quo. Se os teólogos da libertação usaram as categorias da análise marxista nos anos 1960 foi para analisar estruturas de poder na sociedade. Mas eu não acho que essa foi realmente a razão pela qual houve oposição. Na minha opinião, isso tinha a ver com a transformação da consciência humana; isto é, ajudar as pessoas da base a começar a se verem como iguais a qualquer outra pessoa.

Sabemos que o Papa Francisco e seus dois antecessores, João Paulo II e Bento XVI, eram críticos da teologia da libertação. No entanto, eles também criticaram o capitalismo bruto e aderiram ao serviço aos pobres, o que soa muito como a teologia da libertação.

O principal trabalho dos teólogos da libertação ainda é elevar a consciência dos fiéis cristãos. Isso pode ocorrer na forma da educação ou da ação política, mas, no fim, eles estão preocupados com a transformação da consciência humana e, dessa forma, chamar as pessoas para mais perto de Deus. Foi a isso que Gutiérrez dedicou a sua vida. Houve algumas defesas em termos da aceitação da sua teologia pelo magistério. Mas eu acho que ele é como Moisés, levou para o rio e olhou para a Terra Prometida, mas ele nunca chegará lá. Mesmo com relação à questão da pobreza, a situação é pior do que há 40 anos. A brecha está aumentando por causa da contínua aquisição de interesse corporativo. O trabalho de elevar a consciência e trabalhar nas bases é crucial.

Algumas pessoas na Igreja tornaram-se adeptos em cooptar a palavra "libertação" e a linguagem da opção preferencial pelos pobres. Muitas lideranças da Igreja ainda estão mergulhados na mentalidade do corporativismo católico. A Igreja institucional é estritamente ordenada, e muitos na hierarquia se sentem desconfortáveis com a desordem e o caos. Mas sabemos da psicologia e da pedagogia que qualquer processo de aprendizado humano é confuso. Eu acho que algumas lideranças da Igreja foram e estão tentando manter a ordem e tornar a vida mais confortável para as massas, mas eles não estão realmente comprometidos em ajudar todos a serem adultos, sentarem-se à mesa e terem uma voz, seja na Igreja ou na sociedade.

A democracia real é confusa, e crescer é confuso e cheio de conflito, e eu acho que é com isso que muitos na Igreja institucional se sentem desconfortáveis. Eles querem que os pobres estejam em uma melhor posição, mas sempre, ao mesmo tempo, mantendo a ordem, e, no fim, isso significa não permitir que ninguém fora da estrutura de poder lhes diga o que fazer.

Dado que, em nível global, as mulheres sofrem desproporcionalmente com os efeitos da pobreza, e muitos gays, lésbicas e transgêneros vivem sob a constante ameaça de ataque, prisão e até mesmo de morte, é justo incluí-los na compreensão dos "pobres" por parte da teologia da libertação ?

Se olharmos isso de um ponto de vista bíblico, eu seguiria a análise de Jon Sobrino. Quando Sobrino olha para o Novo Testamento, ele vê dois grupos aos quais Jesus sempre tem um cuidado particular e junto aos quais se posiciona: os economicamente pobres e os socialmente marginalizados – aqueles que são rejeitados por várias razões.

A noção da opção preferencial pelos pobres remonta à Bíblia judaica, mas a sua formulação contemporânea tem menos de 40 anos. Nós ainda estamos redescobrindo o que existe na tradição e despertando para o que isso realmente diz para a nossa situação atual. Por causa da situação que os primeiros teólogos da libertação viviam, que era uma enorme injustiça política e econômica, eles ligaram o que eles viam no Evangelho a essa realidade. Mas, como o passar do tempo, eles expandiram essa ideia.

A inclusão das mulheres e a questão da violência contra as mulheres em nível global é central em uma grande quantidade de trabalhos de libertação nos dias de hoje. Pressionar para que se incluam as minorias sexuais é apenas o próximo e lógico passo. Eu acho que vemos isso acontecendo em algumas partes da Igreja.

Em Massachusetts, eu conheci alguns legisladores durante a votação pela igualdade no casamento. A maioria deles eram católicos e falavam de forma comovedora sobre como a sua fé os obrigava a votar a favor desses direitos. Eles não usavam exatamente a linguagem teológica da opção pelos pobres, mas é disso que eles estavam falando. Dar prioridade aos que foram deixados de fora. Eu acho que os católicos e católicas têm essa noção a partir da opção pelos pobres. Está em seus ossos.
(I.H.U)

Nazismo

COMUNICADO

O gueto de Varsóvia concentrou quase meio milhão de judeus a partir do final de 1940, numa área equivalente a menos de 5% da capital polonesa. As condições sanitárias e alimentares eram degradantes e a mortalidade rapidamente atingiu níveis inéditos. Passou a ser rotina encontrar pessoas mortas nos espaços públicos. Em meados de 1942, começaram as chamadas Grandes Deportações, cujo objetivo era o extermínio sistemático da população do gueto. Os judeus foram transportados como gado para o campo de Treblinka e, em sete semanas, a população judaica de Varsóvia viu-se reduzida a menos de 60 mil pessoas.

Remanescentes das várias correntes políticas que atuavam no gueto negociaram a formação de uma resistência unificada. Surgia a ZOB – Organização Combatente Judaica, composta por um amplo arco de tendências, que ia dos comunistas aos sionistas de esquerda. Através de contatos com a resistência clandestina polonesa fora do gueto, conseguiram algumas armas e construíram uma rede de bunkers. Sabiam que não havia saída: era lutar com os nazistas ou morrer passivamente, incinerados nos campos de extermínio. Começava, enfim, a última etapa de um processo que começara com a resistência cultural (havia escolas e grupos de estudo no gueto) e da memória (como a formação do arquivo Oyneg Shabes, concebido por Emmanuel Ringelblum).

Eles eram poucos, não tinham treinamento de combate, estavam mal armados. Apesar disso, resistiram por quase um mês a uma das mais poderosas máquinas de guerra da História. O levante do gueto de Varsóvia, que completa 70 anos, foi uma insurreição dos que escolheram morrer com honra, em meio à barbárie nazista.

No dia 19 de abril de 1943, primeiro dia do Pessach, atacaram uma patrulha alemã. Começava o levante. De início surpreendidos, os nazistas encorparam as tropas e passaram a dizimar sistematicamente a área do gueto, sempre fustigados pelos rebeldes, que usavam táticas de guerrilha. Os combates se intensificaram, mas a disparidade de forças era enorme. Aos poucos, o gueto foi se transformando num monte de escombros e poucos insurgentes conseguiram escapar pelas galerias de esgoto. A destruição da Grande Sinagoga de Varsóvia, no dia 15 de maio, simbolizou o fim da luta.

Por que, em meio a tantas histórias dramáticas, a memória desta resistência ainda incendeia a imaginação ? Não foi apenas a construção de uma barreira, frágil mas significativa, de resistência contra o obscurantismo nazista. Talvez mais importante do que ela tenham sido a sabedoria de ultrapassar diferenças ideológicas e formar um comando unificado de luta e a decisão firme de morrer com dignidade. Este é um exemplo poderoso para todos os povos subjugados, humilhados, agredidos, em todas as épocas. Uma referência que hoje, 70 anos após o levante, fazemos questão de ressaltar.

Glória eterna aos heróis e mártires do gueto de Varsóvia!

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2013

ASA – Associação Scholem Aleichem de Cultura e Recreação (Rio de Janeiro)

Associação Kinderland (Rio de Janeiro)

Meretz – Brasil

ICIB – Instituto Cultural Israelita Brasileiro (São Paulo)

Habonim Dror (Rio de Janeiro)

Centro Cultural Mordechai Anilevitch (Rio de Janeiro)

Hashomer Hatzair (Rio de Janeiro)

Hashomer Hatzair (São Paulo)

Amigos Brasileiros do Paz Agora

Grupo Tortura Nunca Mais (Rio de Janeiro)

Algo a Dizer – Jornal de Política e Cultura (Rio de Janeiro)

Instituto Vladimir Herzog (São Paulo)

Instituto Casa Grande (Rio de Janeiro)

Fundação Dinarco Reis (Brasil)

Associação Cultural José Martí (Rio de Janeiro)

Casa da América Latina (Rio de Janeiro)

Hagadá Hasmalit – Centro de Cultura Alternativa (Tel Aviv, Israel)

ACIZ – Asociación Cultural Israelita dr. Jaime Zhitlovsky (Montevidéu, Uruguai)

ICUF – Ídisher Cultur Farband (Federação das Entidades Culturais Judaicas da Argentina)

Asociación Cultural Israelita Argentina “I. L. Peretz” (Santa Fé, Argentina)

Centro Cultural Israelita “I. L. Peretz” (Buenos Aires, Argentina)

Asociación Cultural Israelita de Córdoba (Argentina)

Centro Cultural Israelita de Mendoza (Argentina)

Argentinos Amigos de Paz Ahora

Oktubre – Agrupación Estudiantil Derecho-Humanidades-Trabajo Social (Santa Fé, Argentina)

Leña al fuego (programa nacional de rádio, Argentina)

Fundacion de Investigaciones Sociales y Politicas (Argentina)

Instituto Movilizador de Fondos Cooperativos (Argentina)

Lista Violeta - CTERA (Confederacion de Trabajadores de la Educacion de la Republica Argentina) - Secretaría de Derechos Humanos

La Tosco Docente - corriente interna de la Asociación del Magisterio (Santa Fé, Argentina)

Movimiento Politico Sindical "Liberacion" (Santa Fé, Argentina)

Movimiento Territorial "Liberacion" (Santa Fé, Argentina)

Cooperativa de Trabajo BACHI (Santa Fé, Argentina)

Liga Argentina por los Derechos del Hombre - filial Santa Fé, Argentina

Movimiento de Solidaridad y Amistad con Cuba (Santa Fé, Argentina)

Accion Educativa (Santa Fé, Argentina)

Centro de Estudios y Formacion Marxista "Hector Agosti" (sedes Santa Fé y Rosário, Argentina)

Mesa Coordinadora de Jubilados y Pensionados de la República Argentina (Santa Fé, Argentina)

Secretaría de Derechos Humanos - Central de Trabajadores Argentinos (Santa Fé, Argentina)

Centro Cultural Israelita de Rosário (Argentina)

Museo Ernesto Che Guevara (Buenos Aires, Argentina)

Comision de Derechos Humanos Escobar (Buenos Aires, Argentina)

Movimiento Territorial “Liberacion” (Santa Fé, Argentina)

Asociación Civil y Cultural Vorwärts (Buenos Aires, Argentina)

Centro Cultural Independiente CEJ (Santa Fé, Argentina)

Asociación Cultural Ucraciano-Bielorrusa “Ivan Frankó” (Santa Fé, Argentina)

Comisión de Amigos Del Museo Cesar Lopez Claro (Santa Fé, Argentina)
(Grupo Tortura Nunca +)

Chico

Chico escritor e o Leite Derramado

Chico Buarque, famoso por suas composições, tem entrado no campo da literatura. As críticas têm sido ferozes, mas os prêmios recebidos não foram poucos. Nesse meio de prós e contras surge o livro "Leite Derramado", romance moderno homenageando passados...


"Jó Joaquim, genial, operava o passado - plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa?"

O trecho acima do conto "Desenredo" - do grande Guimarães Rosa - veio me à cabeça logo que acabei a leitura do "Leite Derramado", de Chico Buarque de Hollanda. Explicarei.

Chico já ganhou seu prestígio como compositor - que é inegável -, mas no campo da produção literária ainda enfrenta resistências. Sua obra tem aceitação dual: uns amam, outros queimariam na fogueira todos os exemplares. Bem... Eu devo confessar que o Chico-compositor é mais genial que o Chico-romancista, ele acostumou-nos mal, mas representa o que de melhor se produz hoje no Brasil.


O livro - publicado em 2009 - foi bem aceito pela crítica - não em unanimidade, claro. Ganhou prêmios de peso: Livro do Ano (polêmico, oferecido pelo Jabuti) em 2010; Prêmio Portugal Telecom de Literatura de 2010; e a tradução para o espanhol - "Leche derramada" - ganhou recentemente o Prêmio de Narrativa José Maria Arguedas.

O livro é uma tentativa de retratar as memórias do velho Eulálio d'Assumpção - sim, esse é o nome. Um monólogo que toma todo o livro a fim de convencer-nos que seu passado glorioso - que transpõe o Atlântico e atravessa o império - reverbera a ponto de trazer tal glória ao seu estado atual: um velho pobre, esclerosado, esquecido num leito de hospital, esperando a morte chegar.

E onde é que o "passado plástico" de Jó Joaquim entra nessa história?

Na mente cansada e desordenada do pobre - mas orgulhoso - Eulálio, passados misturam-se e a ordem dos fatos não possui sentido. Ao longo do livro, os fatos retificam-se frequentemente - nem sempre com aviso.

"Quando eu sair daqui, vamos nos casar na fazenda da minha feliz infância, lá na raiz da serra. [...] a fazenda na raiz da serra, acho que desapropriaram em 1947 para passar a rodovia."

Lembranças da infância e da adolescência misturam-se e repetem-se. Com humor sempre presente advindo do absurdo das histórias, dos preconceitos do protagonista - que não são poucos -, da repetição dos fatos, das releituras. O passado de Eulálio torna-se plástico, pois nem ele próprio sabe bem como contá-lo e defini-lo.



"[...] e era natural que me causasse espécie entrar comigo no elevador um grandalhão com cara de nortista, nariz chato, pele grossa. Indiquei-lhe o elevador de serviço, mas ele me deu as costas e apertou o botão do meu oitavo andar."

Os detalhes de um passado que mistura esplendor e contos da vida privada são expostos sem vergonha. As garçoniéres de Paris, os ímpetos incontíveis, tudo é descrito com detalhes horrorizantes ou cômicos.

"Matilde repetiu, coragem, Eulálio, e já agora, em sua voz ligeiramente rouca, parecia que meu nome Eulálio tinha uma textura. Falou meu nome como se o arranhasse um pouco, e quando num volteio se retirou, tive como temia novo arrebatamento obsceno. [...] Se desejo era aquilo, posso dizer que antes de Matilde eu era casto."

A morte de Matilde é o ponto que mais possui versões. Por ser um episódio doloroso, talvez. Ela é apresentada como tuberculosa, esquizofrênica, mãe irresponsável, esposa infiel e mulher de pouca saúde. Cabe ao leitor escolher a melhor história ou ficar no maravilhoso ponto da dúvida.

A linguagem adaptada a um homem que chegou ao século XXI sem sair do século XIX foi bem colocada. A pontuação é utilizada de modo peculiar. A(s) história(s) é(são) bem contada(s).

O livro merece, sim, os prêmios e elogios que recebeu. Num tempo de literatura de mercado, precisamos valorizar os que ainda se põem a descrever a vacuidade das nossas vidas.
O livro termina com a descrição da morte de um Assumpção - "que já não dizia nada com nada" - numa espécie de sugestão de "não há nada novo debaixo do sol".
Os eulálios continuariam existindo - inclusive literalmente, pois os netos, bisnetos, trinetos tiveram o mesmo nome do orgulhoso Eulálio.





raulalbuquerque
Artigo da autoria de Raul Albuquerque.
ama o segredo e descansa. a revelação espanta. quem sou? segredo irrevelável..
Saiba como fazer parte da obvious

quarta-feira, 24 de abril de 2013

The Dreamers

The Dreamers: Bertolucci e as declarações de amor em mão-única
publicado em cinema por priscilla santos

Só existe a declaração de amor entregue, ela não irá nunca ser recíproca. Certamente essa não é a única possibilidade de interpretação, mas é uma das possíveis que nos salta em meados do filme The Dreamers (Os Sonhadores) de Bernardo Bertolucci.


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Paris mergulhou nas fumaças de gás lacrimogênio num processo que foi quase de surpresa. O isolado caso de protesto dos estudantes da Universidade de Nanterre, contra a proibição das visitas masculinas aos dormitórios femininos culminou, num curto mês, em combates urbanos entre população e policiais. Em maio de 1968, as prisões coletivas e as reivindicações sociais já haviam se tornado rotina junto com as bombas de gás lacrimogênio e as barricadas. Enquanto isso, atrás das janelas e das cortinas de uma casa, três jovens estão adormecidos em uma banheira, sob efeito de uma droga nepalense.

Bertolucci nos coloca com ele como voyeurs, e é como entramos no banho dos personagens de The Dreamers. Os cinéfilos Theo (Louis Garrel), Isabelle e Matthew, embora partilhem de muitas idéias daqueles que estão nas ruas, estão envolvidos demais em suas tensões próprias: o dois primeiros, irmãos gêmeos, vivem uma relação de proximidade afetiva que beira, ou extrapola, o sadismo erótico e Matthew (Michael Pitt) é apenas um estudante americano convidado pelos dois a ser hóspede da casa enquanto seus pais viajam para o litoral. Mas o estudante apaixona-se por Isabelle, por uma Eva Green que se tornaria então mítica. O filme de 2003 tem suas possibilidades de interpretação multiplicadas pela profusão de idéias chaves deixadas ao longo do seu caminho e que, sabemos, dizem respeito a muitas portas.

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Em um desses momentos-chave, Matthew proclama amar Isabelle, ao que ela responde amá-lo também. Nada demais nesse interstício, mas o americano retruca com pesar: mas eu amo você de verdade. A moça nega veementemente a afirmação de Matthew. É a porta de entrada de uma curiosa reflexão:

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Para Matthew, não é cabível que, em resposta à declaração de amor, haja uma que pretenda equivaler-se, principalmente porque a equivalência que há no “amar também” simplesmente não existe. Na verdade, quantas coisas mais práticas e e polidas há que dizer “eu te amo também”? Não que tudo seja cinismos, mas a frase costuma ter lá sua dose dele num movimento natural diante da pressão atmosférica que se forma na entrega dum amor – o que achamos tão grave. É justamente essa relação de pressão e peso que Bertolucci parece querer enfatizar.

Não há réguas capazes de medir abstrações sentimentais como a tristeza, a frustração ou a alegria; são todas coisas pessoais, egoístas e relativas. No Francês, a resposta para a declaração “je taime” não passa pela urgência de igualar seu sentimento ao outro num certo frenesi de que se dissipem logo as preocupações. À um “je taime", segue-se um “moi non plus”, ou seja “eu não mais”/“eu não te amo mais do que você a mim”. É um nivelamento bem diferente. Um que admite os fatos de se ter poder sobre alguém entregue.

Os franceses parecem ter compreendido, ao menos melhor que a América, que toda declaração de amor é uma entrega de mão única; nada faz possível que seja recíproca. O ser declarante diz dos seus sentimentos, teoricamente verdadeiros, e nada pode pedir em troca. Por sua vez, o que ouve a declaração nada pode fazer a respeito para defender-se da fraqueza do outro num argumento bastante parecido com o de um Cristo aniquilado em prol da salvação de seus queridos. Deve ser por isso que tentamos aplacar a questão com o rápido adendo-refrigério do “também”: nada pior que o poder dos humilhados.

Como a dádiva aparece na antropologia - onde todo “presente” entregue exige uma reposição de igual valor – a declaração de amor torna-se um presente impossível de ser reposto. Recebê-la aprisiona aquele que, indefeso, recebe. É assim que Bertolucci, pela voz de Matthew expõe o seu ponto de que a resposta de Isabelle, como tantas nossas, é uma máscara leviana que nega a dádiva exposta pelo outro. O amor correspondido é sempre outro, novo e inédito a nós. Amar é condição ímpar.


prill
priscilla santos é adoradora de cervejas e colabora com a obvious. Saiba como fazer parte da obvious.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/07/the_dreamers_be.html#ixzz2QwBPfaac

Guantánamo

Guantánamo e a hipocrisia americana        
Escrito por Luiz Eça  





A prisão de Guantánamo está perturbando a Casa Branca. Desde meados de fevereiros, uma greve de fome vem sendo feita por 43 detentos, segundo o Pentágono, ou 130, segundo os advogados de defesa.



Reclamam contra maus tratos, inspeções intrusivas como a que tomou seus exemplares do Alcorão e especialmente por ficarem detidos indefinidamente, sem terem sido condenados num julgamento.



Em fins de março, Navi Pillay, Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, falou contra a prisão. “Precisamos ser claros a respeito disso (Guantánamo)”, ela disse, “os EUA não estão apenas violando seus compromissos, mas também as leis internacionais e os princípios que estão obrigados a cumprir”.



E comentou: “quando outras nações violam esses princípios, os EUA – de forma correta – as criticam fortemente”. Enquanto fazem a mesma coisa.



A alta comissária da ONU também se queixou: “estou profundamente desapontada porque o governo dos EUA não foi capaz de fechar Guantánamo, apesar de repetidamente ter se comprometido a fazer isso”.



O problema da greve de fome se agravou quando soldados estadunidenses avançaram sobre os grevistas, removendo-os para prisões solitárias.



Foi para limpar as câmeras de inspeção que tinham ficado obstruídas pelos detentos, assegura o Pentágono. Foi para puir os grevistas, garantem os advogados deles.



De qualquer modo, houve um conflito que não foi brincadeira, pois até tiros foram disparados pelos militares.



Segundo o Pentágono, cinco prisioneiros e dois soldados saíram feridos, estes por garrafas de água usadas como armas por seus oponentes.



O que os advogados clamam ser impossível, já que há vários meses os estadunidenses proibiram a entrada de garrafas de água no recinto dos prisioneiros.



Diante dessa sucessão de fatos inconvenientes, o governo defendeu-se. Jay Carney, portavoz da Casa Branca, lamentou os incidentes e lembrou: “a visão do presidente Obama é que a prisão deve ser fechada”.



Isso só não aconteceria devido a obstáculos criados pelo Congresso, que impedem Obama de cumprir sua vontade.



Só em parte é verdade. De fato, o Congresso votou leis e resoluções cujo objetivo é manter todos os presos em Guantánamo indefinidamente.



Mas Obama, por sua parte, não fez nada para tentar fechar a prisão. Pelo contrário, recentemente fechou o único setor público envolvido no estudo dessa questão.



Do que depender de sua inação, Guantánamo não mudará: ficarão lá 166 presos, muitos dos quais para sempre, sem serem levados a julgamento por não existirem provas contra eles, embora o exército os considere culpados.



O mais escandaloso é que 86 deles, liberados como inocentes, em 2009, continuam ainda presos.



Depois de um nigeriano recém-solto ser recrutado pelo terror no Iêmen e enviado para os EUA com uma bomba para explodir no avião, Obama proibiu a soltura dos iemenitas liberados.



O Congresso foi mais além. Incluiu na proibição todos que iriam para qualquer país rotulado como “perigoso” ou onde houvesse um único prisioneiro liberado que tivesse reincidindo em ações anti-americanas.



Essas regras vencem neste ano e Obama já providenciou sua extensão para mais 12 meses.



Ou seja, 86 homens que estão presos há anos, alguns há 10, apesar de oficialmente inocentados de crimes contra a segurança dos EUA, tiveram sua reclusão aumentada em, pelo menos, mais um ano.



Analisando os motivos dessas proibições, analistas ponderam que as provas do retorno ao terrorismo por prisioneiros liberados são vagas.



Rosa Brooks, professora de direito e ex-assessora política de Obama, em artigo na revista Foreign Policy, concede que isso pode até ser verdade. Mas ela pergunta: “e daí?”



Será que os danos causados aos EUA por esses pouquíssimos reincidentes são piores do que os danos causados pela sua permanência em Guantánamo?



Ela conclui: “deveríamos ponderar os perigos de libertar detentos contra as ameaças a longo prazo provocadas pelas nossas políticas de detenção. Há amplas razões para se acreditar que as políticas de detenção dos EUA incitaram muitos sentimentos anti-americanos por todo o mundo”.



De fato, recente pesquisa Gallup em 130 países mostra que o prestígio da liderança dos EUA caiu em média de 49% em 2009, início do governo Obama, para 41%, em 2012. Na Europa, a queda foi maior. De 42% para 36%.



Por sua vez, pesquisa YouGov mostra que, no Oriente Médio, o número daqueles que não confiam nos EUA é duas vezes maior do que os que confiam.



Lembre-se que coisas como Guantánamo são responsáveis pelo alistamento de grande número de jovens islamitas na Al-Qaeda e outros movimentos terroristas.



Rosa Brooks tem outro argumento contra a proibição de soltura de presos inocentados: mesmo considerando reais as discutíveis acusações do Pentágono, “a maioria dos detentos previamente libertados de Guantánamo não retornou ao campo de batalha”. E entre os que o fizeram, raros parecem representar uma ameaça direta ou grave aos EUA.



É de se acrescentar que punir inocentes para não deixar livres os culpados é uma prática absolutamente inaceitável pelo direito dos países civilizados.



Trata-se do velho “pagam os inocentes pelos pecadores” que, na Idade Média, era até comum. Mas o mundo avançou, embora, nesse capítulo, o governo estadunidense parece não ter percebido.



Como disse a representante da ONU: “isto (homens mantidos presos depois de inocentados), solapa a postura dos EUA de ser um defensor dos direitos humanos e enfraquece sua posição quando ataca violações de direitos humanos em outros lugares”.



Segundo o portavoz da Casa Branca, é exatamente o que Obama pensa. Mas não age.



Fechar a criticada prisão estaria dentro das suas atribuições como presidente dos EUA. Tanto é que, no início do seu primeiro mandato, chegou a emitir uma ordem executiva nesse sentido (depois adiada).



Ele teria condições legais de enfrentar as proibições do Congresso para suprimir essa mancha na imagem dos EUA.



Certamente, sofreria ataques dos congressistas republicanos e até do seu partido, dos militares e de grandes veículos da mídia, tendo à frente a rede Fox do magnata Murdoch.



Para Obama, é mais tranquilo dizer que ele sempre foi contra Guantánamo, pondo no Congresso a culpa de sua permanência.



E não mexer numa palha. No curto prazo, ele foge de maiores problemas. Mas, estrategicamente, seria de interesse dos EUA?

Leia também:

Obama, embaixador de Israel

Luiz Eça é jornalista.

Website: Olhar o Mundo.

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“Je t’aime moi non plus”

Os sussurros de “Je t’aime moi non plus”
em Música por Fernanda Pacheco em 18 de abr de 2013 às 17:15 | 1 comentário

Serge Gainsbourg dizia que “Je t’aime moi non plus”, gravada inicialmente com Brigitte Bardot, era sublime e ao mesmo tempo parecia uma horripilante cópula. Com Jane Birkin foi pura técnica e segundo ele, muito melhor.


Uma das músicas mais polêmicas da história é a provocativa “Je t’aime moi non plus”, composta por Serge Gainsbourg no inverno de 1967 em Paris, numa cabine apertada do estúdio Barclay com a companhia da musa Brigitte Bardot. A música por sinal foi uma exigência de Bardot depois do início da intensa relação de amor entre os dois. Bardot disse apenas para ele escrever “a mais linda canção de amor que você puder conceber”. Dois anos depois a mesma canção serviu de gatilho para deixar Bardot no passado e fazer de Jane Birkin a nova musa gainsbourgóloga.


Bardot e Serge Gainsbourg já se conheciam muito antes dessa gravação. Ela era contratada pela mesma gravadora dele, a Philips, e já tinha dado voz para duas composições do cantor: “L’Appareil à sous” e “Bubble Gum”. Os dois só se conheceram mesmo durante um programa de TV em 1967, e assim como inúmeros homens, Serge apaixonou-se perdidamente por B.B., mas o que ele não esperava era a reciprocidade! Com o segundo casamento quase chegando ao fim, Bardot se viu atraída e disposta a fazer daquela relação profissional, um caso discreto de amor. E muito amor, cá entre nós!


A relação intensa dos dois logo começou a gerar boatos. Era comum encontrar o casal saindo de boates, em carros, e obviamente, trabalhando juntos. Dessa parceria nós ganhamos de presente músicas como “Harley Davidson”, “Comic Strip” e a segunda canção de amor implícita, “Bonnie & Clyde”.

Depois da gravação de “Je t’aime moi non plus”, as coisas mudaram radicalmente! Bardot começou a fazer longas viagens enquanto Serge permanecia na França compondo mais e mais canções de amor. Estava alucinadamente apaixonado por ela e em pouco tempo todo mundo já sabia. Inclusive o marido dela. Durante o caso, Bardot não chegou a terminar oficialmente o casamento. Quando se viu distante de Serge e mais próxima do marido, ela decidiu “salvar” o matrimônio e comunicar essa decisão para o seu já ex-amante que a esta altura do campeonato encontrava-se crente na ideia de que havia encontrado o amor ideal de sua vida. Quando soube que seu relacionamento com ela tinha chegado ao fim, entrou numa fase extremamente melancólica, com direito a paredes do quarto cobertas com fotos dela e um agravamento no vício pela marca de cigarro “Gitanes”. Para piorar ainda mais, o marido de Bardot proibiu a divulgação da música “Je t’aime moi non plus” com o apoio dela.


Dá uma olhada nesse vídeo aqui:


Jane já conhecia a versão de Serge com Brigitte Bardot e por várias vezes ela assumiu que sentia ciúmes ao imaginar os dois apertados numa cabine, gravando aquela canção aos sussurros. Serge pediu para que ela gravasse com ele e ela topou, apesar do conhecimento anterior. E como já era de se esperar, a gravação ficou perfeita! É possível até acreditar que, em vez de compor para B.B., ele tinha composto para ela.

Uma curiosidade sobre o título da música: Serge comentou que se inspirou em Salvador Dalí, porque certa vez (reza a lenda) o pintor disse que “Picasso é espanhol – eu também. Picasso é um gênio – eu também. Picasso é um comunista – eu também não (moi non plus)”. A aproximação dos dois aconteceu por um motivo quase certeiro. Foi no chão da sala de estar de Salvador Dali que Serge teve “uma de suas experiências sexuais mais importantes”, muito antes de conhecer Brigitte Bardot e Jane Birkin.



“Je t’aime moi non plus” foi lançada oficialmente em 1969 e foi censurada em vários países, como Itália, Espanha e Suécia. Na Inglaterra, a BBC baniu a música por considera-la inapropriada. Todas essas restrições só incentivaram ainda mais sua divulgação que despertava uma curiosidade excitante nas pessoas graças aos boatos que diziam que a música tinha sido na verdade uma gravação de sexo ao vivo com um gravador debaixo da cama.
Serge, com a elegância de um dândi, respondia aos boatos afirmando:

“Ainda bem que não, pois do contrário acho que teria sido um LP”.


Menores

Criança é tão criminosa quanto um adulto?



Recife (PE) - Chega a ser irônico. Neste 18 de abril, temos o Dia Nacional do Livro Infantil, uma homenagem ao dia de nascimento de Monteiro Lobato. Mas ontem veio a público uma pesquisa do Datafolha sobre a redução da maioridade penal. Por que fenômenos tão diferentes se avizinham? Um calendário não se explica, pois na véspera do Dia do Livro Infantil soubemos que 93% dos moradores da cidade de São Paulo querem a prisão para  menores a partir de 16 anos. Noventa e três por cento são quase uma unanimidade.

O que é isso? Por experiência, acredito que a pesquisa espelha um dado real. Em um programa de direitos humanos no rádio, o Violência Zero, travamos com travo esse conhecimento. No estúdio da Rádio Tamandaré, no fim dos anos 80, sentíamos a disputa de ideias na sociedade do Recife entre punir sem medida e o direito à justiça. Mas não com esses números. Ainda que sem método científico, pelos telefonemas dos ouvintes, notávamos que a divisão entre os mais bárbaros e civilizados era quase meio a meio. O que houve agora para esse assalto de vingança? Segundo o Datafolha, foi a maior aprovação à proposta de redução penal. Em 2003 e 2006, o apoio foi de 83% a 88%.

É claro que a última pesquisa espelha um instante de abalo emocional  na população.  Ela veio depois do assassinato do universitário Victor Hugo Deppman. O suspeito pelo crime é um jovem que estava a três dias de fazer 18 anos. Isso foi repetido à náusea.   Naquele tempo do Violência Zero no rádio, não sofríamos o massacre de imagens repetidas na televisão. Melhor dizendo, sofríamos, mas a doutrinação não atingia os noticiários mais “educados”, como o Jornal Nacional, Jornal da Band e outros. Antes, as insinuações do “só vai matando” ficavam restritas aos guetos dos programas policiais. No entanto, consideremos.   

Ainda que sinta a batalha perdida diante do clamor, é um dever de consciência não seguir a onda do momento. Está certo, é justo, criminosos têm que ser punidos. Se possível, com algo exemplar, que iniba e reprima o crime. Mas para a maioridade penal que deveria cair, levanto algumas perguntas: 

Qual seria o limite da redução? 12 anos, 11 anos, 10,9, 8, 7 anos? Bebês? Qual o limite? Sintam que a cada redução devem ocorrer novos crimes que estarão no limite da punibilidade. Mais: com o necessário aumento da população carcerária, que já é um inferno e um fracasso do sistema, não estaríamos dando ótimas escolas do crime aos meninos?

Já imagino que os reformadores do Código Penal podem argumentar que teríamos alas de criminosos de 16, outra de 15, mais outra de 14, até atingir um berçário... mas tudo dentro das mais perfeitas condições de higiene e cura da perversão. Diante do crime que ameaça e atinge a própria casa, já existe quem declare pérolas do gênero “sou de opinião que não deveria haver nenhuma idade mínima na lei”. Salve, daí partiremos fácil fácil para a pena de morte aplicada aos diabinhos mais precoces.

Enquanto isso, não vemos, ou fingimos não ver a exclusão social e humana que cobre as cidades. Comemos, bebemos, vestimos, vamos aos shoppings  sem olhar para os lados. E depois nos surpreendemos o quanto o mundo pode ser cruel quando atinge a estabilidade – porque nos julgamos estáveis em chão sólido -, ou a estabilidade  sagrada – por tudo quanto mais é santo e elevado acima da animalidade dos outros, que não somos nós mesmos -  a estabilidade sagrada dos nossos lares – pois somos aqueles que temos casa, enquanto os outros, ah, eles dormem na rua, que casa podem ter?  Seria até uma questão de justiça, nós os humanos temos que destruir e tirar dos olhos a mancha da escória.

Lembro que uma vez perguntei a idade a um menino que cheirava cola nas ruas do Recife. “Onze anos”, ele me respondeu. E eu, com minhas exatidões burras de classe média: “Vai fazer, ou já fez?”. Silêncio. Eu insisti, crente de que não havia sido entendido. “Você faz anos em que mês?”. Então ele me ensinou, antes de correr até a esquina:

- Tio, eu não tenho aniversário.

Todos não notamos que vem dessa exclusão o alimento e sangue para o horror. Enquanto fazemos de conta que nada temos a ver com isso, crescem os comentários com que termino a coluna, no Dia do Livro Infantil:  se os Direitos Humanos criarem caso, prendam ou os arranquem para fora do Brasil ! Temos que punir duramente quem mata, sequestra, seja quem for. Com a idade de treze anos sabem muito bem o que estão fazendo. Se não melhorarem com novas leis, pena de morte.
(Direto da Redação)

terça-feira, 23 de abril de 2013

Comidas

Isto é Insustentável. Vamos comer os velhos!
Raquel Varela -
Há mais de 200 anos Jonathan Swift fez uma proposta para resolver a fome na Irlanda: comer as crianças.

Em primeiro lugar os filhos dos mendigos e, logo de seguida, os filhos dos pobres, o que teria múltiplas vantagens, entre elas o facto de as mulheres grávidas deixarem de levar pancada  – hábito então – porque carregavam no ventre algo que tinha saída no mercado, e não mais um pedinte a gritar com fome.

Creio que é hora de, nós portugueses, nos levantarmos e propormos medidas com este grau de sabedoria. Vai ser duro mas é um sacríficio necessário para reencontrar a nossa credibilidade nos mercados.

Comer as 100 00 mil crianças que estão em risco em Portugal, comer também as que estão a ser acolhidas em casas de famílias pobres que estão a recebê-las, não para tratar delas mas para ficarem com o magro rendimento que a segurança social lhes transfere por isso. Fazer um guisado de pensionistas, esses  perdulários, que descontaram toda a vida e agora querem descansar, o que está obviamente acima das possibilidades daquilo que Ulrich aguenta.  Pegar fogo aos lares, o que tinha como efeito colateral criar emprego no sector dos bombeiros – chama-se a isto empreendedorismo. Podemos estender a ideia às casas vazias. Pega-se fogo e logo a seguir o preço dispara com efeitos óbvios no rating do país. O Grupo Mota Engil recupera as casas e cria emprego – dinamismo empresarial.

Os desempregados, Ricardo Araújo Pereira, propõe, num texto magnífico, dar-lhes um tiro na cabeça. Discordo. Não será competitivo. Porque sem desempregados os que estão empregados perdem o medo e vão exigir um salário acima da reprodução biológica, cai a produtividade!

Podemos claro optar por transformar os desempregados em soldados. Aí sim, o PIB cresce. Transformamos a Auto-Europa numa montadora de tanques –com motores feitos na Alemanha para ter o apoio da comissão de trabalhadores da Wolkswagen de lá. E invadir os espanhóis, que estão com o mesmo problema, 4 milhões de desempregados a manifestar-se a toda a hora. Trata-se de cumprir a nossa palavra com os nossos parceiros e não nos deixarmos ficar mal no estrangeiro. Os professores desempregados que não forem para a frente de guerra,  podem ir para a fronteira ajudar à comunicação entre os generais portugueses e espanhóis. Os feridos, faz-se um acordo de cooperação com Espanha para dividir o tratamento deles, 1/3 pelo menos nos hospitais da CUF para garantir a rentabilidade do Grupo Melo e da Siemens. Os funerais idem, que ser enterrado sem dar lucro é uma regalia.

Os políticos que nos governam, esses sim, devem ficar onde estão, no Parlamento e no Palácio. Porque, o  que seria de nós sem o Governo deles, sem o Regime deles e sem o Estado deles?

Quanto cobardes cabem na palavra medo?
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Menores

Criança é tão criminosa quanto um adulto?



Recife (PE) - Chega a ser irônico. Neste 18 de abril, temos o Dia Nacional do Livro Infantil, uma homenagem ao dia de nascimento de Monteiro Lobato. Mas ontem veio a público uma pesquisa do Datafolha sobre a redução da maioridade penal. Por que fenômenos tão diferentes se avizinham? Um calendário não se explica, pois na véspera do Dia do Livro Infantil soubemos que 93% dos moradores da cidade de São Paulo querem a prisão para  menores a partir de 16 anos. Noventa e três por cento são quase uma unanimidade.

O que é isso? Por experiência, acredito que a pesquisa espelha um dado real. Em um programa de direitos humanos no rádio, o Violência Zero, travamos com travo esse conhecimento. No estúdio da Rádio Tamandaré, no fim dos anos 80, sentíamos a disputa de ideias na sociedade do Recife entre punir sem medida e o direito à justiça. Mas não com esses números. Ainda que sem método científico, pelos telefonemas dos ouvintes, notávamos que a divisão entre os mais bárbaros e civilizados era quase meio a meio. O que houve agora para esse assalto de vingança? Segundo o Datafolha, foi a maior aprovação à proposta de redução penal. Em 2003 e 2006, o apoio foi de 83% a 88%.

É claro que a última pesquisa espelha um instante de abalo emocional  na população.  Ela veio depois do assassinato do universitário Victor Hugo Deppman. O suspeito pelo crime é um jovem que estava a três dias de fazer 18 anos. Isso foi repetido à náusea.   Naquele tempo do Violência Zero no rádio, não sofríamos o massacre de imagens repetidas na televisão. Melhor dizendo, sofríamos, mas a doutrinação não atingia os noticiários mais “educados”, como o Jornal Nacional, Jornal da Band e outros. Antes, as insinuações do “só vai matando” ficavam restritas aos guetos dos programas policiais. No entanto, consideremos.   

Ainda que sinta a batalha perdida diante do clamor, é um dever de consciência não seguir a onda do momento. Está certo, é justo, criminosos têm que ser punidos. Se possível, com algo exemplar, que iniba e reprima o crime. Mas para a maioridade penal que deveria cair, levanto algumas perguntas: 

Qual seria o limite da redução? 12 anos, 11 anos, 10,9, 8, 7 anos? Bebês? Qual o limite? Sintam que a cada redução devem ocorrer novos crimes que estarão no limite da punibilidade. Mais: com o necessário aumento da população carcerária, que já é um inferno e um fracasso do sistema, não estaríamos dando ótimas escolas do crime aos meninos?

Já imagino que os reformadores do Código Penal podem argumentar que teríamos alas de criminosos de 16, outra de 15, mais outra de 14, até atingir um berçário... mas tudo dentro das mais perfeitas condições de higiene e cura da perversão. Diante do crime que ameaça e atinge a própria casa, já existe quem declare pérolas do gênero “sou de opinião que não deveria haver nenhuma idade mínima na lei”. Salve, daí partiremos fácil fácil para a pena de morte aplicada aos diabinhos mais precoces.

Enquanto isso, não vemos, ou fingimos não ver a exclusão social e humana que cobre as cidades. Comemos, bebemos, vestimos, vamos aos shoppings  sem olhar para os lados. E depois nos surpreendemos o quanto o mundo pode ser cruel quando atinge a estabilidade – porque nos julgamos estáveis em chão sólido -, ou a estabilidade  sagrada – por tudo quanto mais é santo e elevado acima da animalidade dos outros, que não somos nós mesmos -  a estabilidade sagrada dos nossos lares – pois somos aqueles que temos casa, enquanto os outros, ah, eles dormem na rua, que casa podem ter?  Seria até uma questão de justiça, nós os humanos temos que destruir e tirar dos olhos a mancha da escória.

Lembro que uma vez perguntei a idade a um menino que cheirava cola nas ruas do Recife. “Onze anos”, ele me respondeu. E eu, com minhas exatidões burras de classe média: “Vai fazer, ou já fez?”. Silêncio. Eu insisti, crente de que não havia sido entendido. “Você faz anos em que mês?”. Então ele me ensinou, antes de correr até a esquina:

- Tio, eu não tenho aniversário.

Todos não notamos que vem dessa exclusão o alimento e sangue para o horror. Enquanto fazemos de conta que nada temos a ver com isso, crescem os comentários com que termino a coluna, no Dia do Livro Infantil:  se os Direitos Humanos criarem caso, prendam ou os arranquem para fora do Brasil ! Temos que punir duramente quem mata, sequestra, seja quem for. Com a idade de treze anos sabem muito bem o que estão fazendo. Se não melhorarem com novas leis, pena de morte.
(Direto da Redação)

Ficção Científica

Marte e a Vez de Outubro
em livros por Fernando Miranda em 30 de mai de 2012 às 06:37

Neste tempo em que cento e quarenta caracteres transformam realidades, Bradbury consegue ilustrar algo profundamente aterrador, sincero, onírico ou subjetivo em poucas linhas, num veículo que para os nativos digitais pode parecer algo abarrotado de grandes discursos entediantes: o livro.


Em uma palestra sobre Literatura Fantástica, ouvi dizer que a Ficção-Científica é a mãe de toda a literatura, por conter em seu arcabouço todos os elementos das outras ficções. Meros momentos que perpassam um gênero que fala de gênese e de um futuro cada vez mais especulatório, aterrador e inspirador. Eu comecei a me aventurar no mundo da leitura com os heróis Marvel e DC, as Coleções Vagalume da editora Ática, o deslumbramento. Então vieram Sir Conan Doyle, Augusto dos Anjos e Edgar Allan Poe, o estranhamento. A perplexidade diante daquela torção de palavras inebriante que nos leva por caminhos de horror e de mistério.

Neil Gaiman foi como entrei em contato com o trabalho de Ray Bradbury. Já admirava Gaiman e li muito mais de seu trabalho literário do que as histórias em quadrinhos que o tornaram tão famoso. Quem era este ídolo do meu ídolo? Na coletânea Coisas Frágeis, Gaiman dedica o conto A Vez De Outubro à Bradbury, e me daria uma pista de qual seria a tônica de seu trabalho: paisagens inóspitas, profundos detalhes sociológicos da America numa era de extremos, e os anseios do cotidiano sob um olhar pescrutante e minucioso.


O efusivo e bem-humorado Ray Bradbury, aos 92 anos

Autor de doze romances, mais de cinquenta coleções de contos e oito livros de poesia, Ray Bradbury, assim como Douglas Adams, Carl Sagan e alguns poucos iluminados, trouxeram aquilo que havia de mais fascinante e curioso na ciência para dentro dos nossos lares, sempre numa linguagem inteligível e cativante. Escreveu também utilizando outros gêneros literários, mas fictício-científico foi que o projetou para a fama. As homenagens são várias: de estrela na calçada da fama de Hollywood ao nome da enorme cratera no solo lunar. Chamada Dandellion, é visível a olho-nu daqui da Terra, tem o nome herdado de um de seus romances.

Bradbury decidiu se tornar escritor aos 12 anos, após um enigmático encontro com um ilusionista chamado Mr. Electrico. Largou os estudos por um tempo para ganhar dinheiro vendendo jornal nas ruas de Los Angeles. Dizia não acreditar em universidades e educação formal: “Acredito em bibliotecas. Quando entrei para a universidade durante a Grande Depressão, não tinhamos dinheiro. Não podia frequentar a escola. Então, eu afinava minha leitura e educação indo à biblioteca três dias por semana durante dez anos.”

Seu primeiro livro, Dark Carnival, foi lançado em 1947. Vários de seus contos e livros foram adaptados para o cinema. O mais célebre, Farenheit 451, foi realizado pelo aclamado cineasta François Truffaut. O escritor está na casa dos 90 anos de idade, ainda continua extremamente atual, sendo considerado pelo jornal britânico Guardian que continua vital para que lê seja lá o que for, citando Farenheit 451 como um dos "top cinco livros que te fazem pensar", numa lista formulada e enviada por leitores do diário.


As Crônicas Marcianas em encadernação barata, papel jornal, pocket-book, foi o agente catalizador. Histórias fantásticas, de uma humanidade que havia abandonado o planeta, este que magoamos tanto à ponto não suportar mais nossa habitação, tornando-se hostil e rabugento. Veio até mim Farenheit 451, e então A Cidade Inteira Dorme (1). O primeiro parágrafo do conto “As Frutas No Fundo Da Fruteira” – que não é um conto de ficção científica – é como um microconto em si. Caso fosse lido sozinho, não necessitariamos de mais nada para chocar nossas mentes preguiçosas, tão acostumas ao trivial:

    William Acton ficou de pé. O relógio em cima da lareira bateu meia-noite. Olhou para os dedos e olhou para sala grande em torno de si e olhou para o homem deitado no chão.William Acton, cujo os dedos haviam apertado as teclas da máquina de escrever e feito amor e fritado presunto e ovos para desjejuns matutinos, agora cometera um assassinato com aqueles mesmos dez dedos cobertos de pequenas espirais digitais. (pág. 140, Ed.Globo)

Sua economia é algo que sempre me espanta e inspira. Em seus contos, nos faz de personagem com seu estilo fino de envolver: nos coloca como observadores de histórias comuns, mas de um viés absurdo. Ou que são improváveis e animalescas de forma tão ordinária, que parecem altamente prováveis de acontecer, como no conto “O Homem Em Chamas” do mesmo livro. Há sempre uma maravilhosa culpa em ler e perceber que algo está “errado”, e que você não descobre exatamente o que é. Sua literatura mexe com o imaginário, nos mostrando que existem formas mais originais e deliciosas de contar histórias.



fernandomiranda
Artigo da autoria de Fernando Miranda.
Um cara comum, que adora coisas incomuns. Uma extensão do blog Ruído Pop! e uma externação da paixão pelo Obvious e pelo compartilhamento cultural..
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Gershwin

Pequena homenagem ao grande Gershwin
em musica por Camila Lobo em 04 de abr de 2013 às 20:31

George Gershwin compôs a mais importante ópera americana do século XX, influenciou geracoes de músicos do Rock à Bossa Nova e foi entrando sorrateiramente na minha vida.


George Gershwin apareceu na minha vida cedo, bem antes do que eu pudesse realmente apreciá-lo. Era queridinho do playlist da minha mãe e nem se ao longo da vida ele nunca tivesse caído no meu gosto musical, ele já tinha me ganhado por poder até hoje, evocar lembranças boas de jantares em família na minha infância.

Ao contrario de mim, o interesse e talento de Gershwin pela musica eram aguçados desde pequeno. Nascido em Nova Iorque em 28 de setembro de 1898 em uma família judia originaria da Russia (originalmente de sobrenome Gershowitz), o pequeno prodígio se interessou pelo violino e piano com apenas 10 anos. Aos 15 já ganhava dinheiro como músico, compondo para o musical “A vida é uma canção” (Tin Pan Alley é o titulo original em inglês).

Como bom gênio musical, antes dos 20 já havia composto seu primeiro hit, o “Rialto Ripples’, fazendo uso de um estilo musical inovador da época nos EUA, o Ragtime, uma espécie de precursor mais “vibrante” do Swing. A partir daí, ele passa a compor centenas de musicas dirigidas sobre tudo para o piano.

George (que me perdoem a intimidade, mas como já disse a nossa história é antiga...) só foi reentrar na minha vida quando eu já tinha 26 anos, mesma idade que ele tinha quando compôs Rhapsody in Blue, uma obra mestra para orquestra e piano que até hoje é uma de suas mais populares. “Rhapsody ...” ressurgiu no meu repertório musical nada menos que através da triunfante abertura do Manhattan, filme do Woody Allen de 1979.

Filmado em preto e branco para ressaltar a beleza estonteante de Nova Iorque, cidade pelo qual o cineasta é apaixonado, o filme tem a trilha sonora completa do Gershwin, sendo “Rhapsody in Blue” a grande inspiração de Woody Allen para dirigir o projeto. E não restam dúvidas de que a trilha dialoga com perfeição com as magníficas cenas da cidade, intercalando o protagonismo ora do visual, ora do sonoro – uma declaração definitiva do amor de Allen pela cidade.

A impressionante abertura de Manhattan, com a música "Rhapsody in Blue"

Meses depois, selou-se finalmente esse romance que ensaiava com George havia tanto tempo. Reencontramos-nos por acaso em um concerto numa cidadezinha inóspita no norte da Alemanha. As composições eram de “Porgy and Bess”, musical da Brodway, inaugurado em 1935 cuja trilha foi considerada “a mais importante ópera americana do século XX”. A mescla entre o estilo clássico de musicais americanos da primeira metade do século XX com uma pegada, como define o próprio Gershwin, mais “folk”, é simplesmente deliciosa e o resultado e uma musica envolvente, visual e quase palpável. Impossível não me entregar de vez ao George.

"Summertime", canção do musical "Porgy and Bess"

George Gershwin faleceu com apenas 38 anos em decorrência de um tumor cerebral enquanto trabalhava para um musical de Holywood. Foi uma vida curta, mas marcante. Sua música influenciou gerações e foi regravada por grandes nomes do Jazz, Rock, Dub e até Bossa Nova.

Fica aqui minha homenagem à minha mãe por trazer à minha vida este grande compositor, que é capaz de me fazer voltar à infância num simples toque do play.


camilalobo
Artigo da autoria de Camila Lobo.
Gosta de andar por aí tentando encaixar o mundo de um jeito diferente, invertendo perspectivas, misturando tudo e aprendendo, aprendendo....
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Venezuela

Maduro sai da defensiva, e critica Capriles e EUA
Em três pronunciamentos feitos em cadeia de rádio e televisão em horários diferentes, presidente eleito da Venezuela afirmou que vai usar ‘mão dura contra o fascismo’. Ele avisou que seu governo não reconhecerá governadores que o considerem ilegítimo – Capriles governa Miranda – e acusou os EUA, um dos poucos países que não reconheceram sua vitória – de financiar a oposição.

Jonatas Campos e Vinicius Mansur - ComunicaSul



Caracas – O presidente recém-eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, aumentou o tom e partiu para o ataque no debate político por todo o dia de hoje (16). Em três pronunciamentos feitos em cadeia de rádio e televisão em horários diferentes, Maduro afirmou que vai usar “mão dura contra o fascismo” e proibiu uma marcha chamada pelo candidato derrotado Henrique Capriles Radonski para esta quarta-feira (17). O chavista ainda avisou que seu governo não vai reconhecer governadores que o considerem ilegítimo. Capriles é governador do Estado de Miranda.

Maduro também acusou a embaixada norte-americana de estar financiando a oposição. O governo dos Estados Unidos é um dos únicos das Américas que aderiu à campanha da oposição de pedir a recontagem dos votos. Ele anunciou medidas de segurança para o sistema elétrico do país que, segundo ele, vem sofrendo inúmeras tentativas de sabotagem.

Na segunda-feira (15), Capriles pediu nas redes sociais que seus seguidores "descarregassem sua raiva" ante a proclamação do presidente Nicolás Maduro no Conselho Nacional Eleitoral (CNE) e convocou um “panelaço” para as 20h da noite. Como resultados dos protestos desde ontem à noite, o governo afirma que ocorreram setes mortes perpetradas por ataques de pessoas ligadas à oposição.

“Agora estão planejando uma marcha ao centro de Caracas. Não vamos permitir. Vocês não vão para lá enchê-lo (o centro) de morte e sangre, não vou permitir que façam o que querem fazer. Vou usar a mão dura contra o fascismo e a intolerância, então digo, se querem me derrubar, venham para mim, aqui estou com o povo e uma Força Armada, seu burguês”, asseverou Maduro em uma inauguração de um centro de saúde.

Já a tarde, em um evento com trabalhadores da Petróleos da Venezuela (PDVSA), o presidente eleito acusou a embaixada dos Estados Unidos de financiar os atos de violência e alcunhou o seu opositor como o “novo Carmona", referindo-se ao empresário Pedro Carmona, que liderou o golpe fracassado contra o presidente Hugo Chávez em abril de 2002.

Em sua terceira aparição, já inaugurando um hospital no Estado Aragua, a algumas horas de Caracas, Maduro disse não reconhecer Capriles como governador o chamou os chavistas a protestar em favor do governo. “Chamo a todo o povo chavista, nacionalista e patriota, para isolar os golpistas. Não venha agora a disfarçar-se de pacifista. Não confundam nossos anseios de paz com debilidade”, disse o presidente em franco ataque.

Capriles
Por sua vez, Capriles desistiu de realizar a marcha e acusou o governo de estar por detrás dos episódios de violência. “Amanhã não vamos nos mobilizar, peço aos meus seguidores que se recolham. Amanhã ninguém vai. Quem sair está ao lado da violência. O governo quer que haja mortos no país”, acusou em coletiva de imprensa.

O oposicionista sustentou que “informações de inteligência” vindas das Forças Armadas revelaram que o governo pretendia infiltrar pessoas na marcha desta quarta-feira (17). “O governo quer através da violência que não se fale do assunto pelo qual estejamos aqui”, disse, referindo-se a sua demanda de recontagem de 100% dos votos.

Na coletiva, Capriles apresentou denúncias de irregularidades ocorridas no pleito de 14 de abril. Segundo o opositor, 535 máquinas de votação estariam danificadas; testemunhas da oposição teriam sido retiradas de 283 centros de votação; haveria mais de 600 mil falecidos nas listas de votantes; em 1176 centros, Maduro teria tido mais votos do que Chávez; em 564 centros eleitores teriam sido acompanhados irregularmente até a urna; toldos vermelhos do partido de Maduro (PSUV) estariam irregularmente próximos a 421 centros; motoqueiros teriam amedrontado eleitores em 397 centros.

Capriles ainda apresentou supostas listas de votantes e ata de verificação cidadã de uma mesma mesa de votação, no estado de Trujillo, onde haveria 181 votos a mais na ata do que pessoas na lista. Em tom de denúncia, Capriles também afirmou que pessoas com mais de 100 anos votaram.

A despeito da grita da oposição, Maduro reafirmou que não há necessidade de recontagem dos votos, visto que o sistema eleitoral venezuelano já prevê uma auditoria de 54% das caixas onde os votos são depositados depois de fechadas as mesas. A maior parte dos países das Américas já reconheceu a vitória de Maduro, entre eles, Brasil, Argentina, Equador, México, Bolívia, Colômbia, Peru, Uruguai, Haiti, Cuba, Guatemala e Nicarágua.

(Carta Maior)

Amor

O amor incondicional é possível?
Por Antonio Ozaí da Silva 13/04/2013

É possível amar incondicionalmente? Invariavelmente, as juras de amor são acompanhadas do desejo e da exigência de ser amado. O amor pressupõe reciprocidade. O amor exige amor e cuidar recíproco. Claro, há o amor não correspondido, mas ainda que sobreviva à ausência do ser amado, mesmo que seja chamado de amor, o nome mais propício é sofrimento. “Em alemão, paixão é Leidenschaft. Leiden é o sofrimento. Na paixão, de fato, também há sempre um sofrer”, afirma Alberoni.[1] Posso continuar a amar, e neste sentido é incondicional. Mas a recusa do amor e/ou a impossibilidade de realizar-se o transforma em sofrer, angústia e dor. Pois o amor exige materializar-se reciprocamente. Se é impossível, tende a esvaecer-se. Permanece como uma doce lembrança que exige o esquecimento e lança o indivíduo numa luta interna intensa.

O amor é condicional, possessivo! “É típico do amor querer sempre mais a mesma pessoa, aspirar a uma fusão total que lhe escapa”.[2] O amor caminha pari passu com o ciúme, o desejo de exclusividade. “O ciúme pede, como o antigo Deus de Israel: não terás outro Deus além de mim”.[3] O sentimento exacerbado de posse desconfia de tudo, é fruto da insegurança. Daí a necessidade de controle. Como escreve Alberoni, “há amores possessivos, amores angustiados, que se reduzem quase que exclusivamente ao controle físico e mental do outro. Há amores-ódio, amores-poder em que o amante é o carcereiro do amado, preocupado apenas com que ele possa evadir-se da prisão. O carcereiro teme os amigos porque estes são janelas por onde o prisioneiro vê a liberdade, e por onde pode escapar. Começa, então, uma sutil luta contra a amizade”.[4] O amor-paixão é êxtase, mas também pode ser cárcere!

Por mais que afirme a liberdade e a incondicionalidade do amar, este amor é exigente, impõe condições. Proclama-se incondicional, mas não suporta a ausência; afirma-se permanente, mas ressente-se; jura não esquecer, porém a dor o impulsiona a debater-se nas águas revoltas do oceano das lembranças. Enfim, o amor revela-se incondicional. Ele quer o outro, necessita, exige!

juluol

Não obstante, há outras formas de amar! Pensemos no amor da mãe e do pai pelos filhos. Será incondicional? A mãe e o pai amam desinteressadamente? Um dia, afirmei à minha filha que a amava incondicionalmente. Ela argumentou que os pais amam, mas não há ausência de interesse; eles esperam algo dos filhos. Quem sabe a proteção e o cuidado na velhice ou simplesmente serem correspondidos com afeto. Ela me fez refletir!

O que os pais querem dos filhos? O que esperam deles? Continuam a amá-los ainda que eles decepcionem e se distanciem? O amor de mãe e pai resiste à ausência de afeição, ao esquecimento e à rejeição? Ainda que sob o risco da redundância, não esqueçamos que pais e mães compartilham a condição humana com os filhos; são carentes e propensos a sofrer. Desejamos que nossos filhos sejam felizes; que encontrem seus próprios caminhos e construam suas vidas da melhor forma possível. Então, o amor paterno e materno pode ser incondicional, isto é, amar sem nada esperar em retribuição, sem interesses e exigências de reciprocidade. Pois, ainda que a minha filha se afaste de mim e não demonstre afeição, continuarei a amá-la. Ainda que ela trilhe sendas desconhecidas e arriscadas, não a abandonarei. Amo-as incondicionalmente e ponto!

Mas a reflexão me fez ver que nem sempre o amor de pai e mãe é incondicional. Há pais e mães que criam os filhos como seus apêndices e subordinam a vida deles. Agem assim em nome do amor aos filhos – e não nos cabe duvidar deste sentimento. Mas, nestas condições, é um amor condicionante, egoísta, e, no limite, chantagista e opressivo. Em suma, talvez o amor incondicional seja possível, mas não podemos generalizar!
(Blog do Ozaí)

Felicidade

Essa tal felicidade
em geral por Jaya Hari Das
Qual o objetivo da vida humana? Alguém sabe? A resposta pode variar bastante, segundo a crença de quem tentar responder, mas isso só significa que ninguém, mas "ninguém mesmo", sabe ao certo a resposta. No entanto, a mais improvável, porém a mais aceita, por ser a mais consoladora de todas, é de que nós estamos neste mundo para ser felizes! Uma falácia, obviamente, diante dos muitos que já partiram tão ou mais infelizes do que aqui chegaram, e dos que ainda sofrem nesse "mundo de meu Deus".



A teoria de que "o Universo conspira para realizar a felicidade do ser humano" é uma falácia. Apesar de extremamente "otimista", não passa de uma falácia. A Filosofia tem sua parcela de culpa nessa história – ela inculcou no homem (desde os antigos gregos) a ideia falaciosa de que ele "existe para ser feliz" (a mãe de todas as falácias). A Religião (coitadinha!), percebendo a dificuldade (leia-se: "impossibilidade") do homem ser feliz aqui na Terra, inventou extra-mundos, nos quais a tal "Felicidade" estaria de braços abertos (lembra o Cristo Redentor, não é?), esperando por seu ilustres convidados, onde haveria moradas para todos ("os escolhidos", é claro). Vemos, hoje em dia, a Ciência (olhem, vejam só quem!!!), que luta, há séculos, com a Filosofia e a Religião, pelo monopólio da "Verdade", prometendo viagens para outros planetas, outras galáxias, e sabe Deus lá para onde mais, lugares inóspitos, nos quais, incontestavelmente, a "Dona Felicidade" deve morar.

O que vem a ser isso – a Felicidade? (tão kantiano isso, não?). Alguma coisa que, como num jogo de "esconde-acha" criado por Deus, uns têm a sorte de encontrá-la, enquanto outros, a maioria (e põe maioria nisso!!!), jamais sequer passam por perto (sabem aquele negócio do "tá frio, muito muito frio, congelado", sabem?)?; seria mesmo uma mercadoria existencial que só o dinheiro pode comprar, mas que o comprador não pode levar consigo, só pode ir usando, usando, até morrer?; seria uma espécie de prêmio de consolação pelos esforços envidados numa existência que,  não importa quão virtuosa tenha sido, se extingue com uma bala perdida, na ponta de uma faca de um marginal, por uma doença fatal ou pela velhice inexorável? Alguém tem resposta? Ei, alguém aí tem uma só resposta qualquer?

Diz um ditado que "vida boa é a dos outros". Então, vamos perguntar aos outros: "Ei, meu amigo, diga lá, sua vida é mesmo boa? Você é feliz?". Só os grandes mentirosos responderão "SIM!" a estas perguntas (ah, só, não! tem ainda os "iludidos de carteirinha" e os "otimistas graças a Deus"). Sabem aquela coisa do dia-a-dia? Você pergunta: "E aí, Fulano, comé que tá?". Aí ele responde, sem nem pestanejar: "Tudo bem!". Podem crer que quem responde assim não faz nem ideia do que sejam essas duas palavrinhas que acabou de pronunciar: "tudo" e "bem" (como eu sei que muitos de vocês respondem assim, sigam meu conselho e, ao invés de "Tudo bem!", vão respondendo aí "Tá dando pra levar!"; vocês vão ver que não muda nada, mas faz toda a diferença, se é que dá pra me entender, pô!). O fato é que "Felicidade", felicidade mesmo, é que nem a "morte" – quem alcançou não veio dizer como é que é.

Agora, falando sério. O que a humanidade aprendeu até aqui que lhe possa ser útil para alcançar a tão sonhada "Felicidade"? Nós somos melhores que os homens das cavernas? Ou nossa barbárie tem apenas requintes de pós-modernidade? A Filosofia de Sócrates, Platão e, principalmente, Aristóteles (que impregnou boa parte do pensamento e do conhecimento ocidental todos esses séculos) nos ofereceu alguma via eficaz para a conquista da "filosófica e virtuosa felicidade" tematizada por eles? ou todo o nosso conhecimento e raciocínio lógico herdados só nos fornecem maneiras "inteligentíssimas" de nos desculparmos por nossa incompetência em melhorar a qualidade do ser humano e as condições de vida sobre este planeta?

As religiões, individualmente ou em seu conjunto, nos forneceram até agora alguma coisa efetiva, real e concreta, que possa dar testemunho de que o homem e a vida sobre a Terra são de fato "o projeto magnânimo de felicidade" de um Deus (ou deuses) perfeito, bom e justo? Ou só encontrou maneiras de empregar padres pedófilos, profetas de um fim-de-mundo que nunca chega, místicos prestidigitadores e pastores corretores de moradias celestiais, das quais não se tem sequer a planta?

A Ciência, além de clonar ovelhas, fertilizar casais estéreis, proporcionar a escolha do sexo dos filhos, produzir bombas de extermínio em massa, etc e etc, foi até o atual momento da humanidade capaz de destrinchar o "genoma da felicidade", para o bem dos homens em geral? Ou apenas vive "afirmando isto" e "desmentindo aquilo", para depois de alguns anos "desmentir isto" e "afirmar aquilo"? A despeito dessas verdades aqui elencadas, a busca pela "ultra-utópica felicidade" não tem fim. O "otimismo" se renova a cada dia, a cada nova infinitesimal possibilidade de alcançar o até aqui inalcançável.

Vivemos um momento em que livros rotulados de "auto-ajuda", que são uma mistura de Prozac, droga psicodélica e "injeção de ânimo", para os que não sabem como seguir a jornada "em busca da felicidade", se misturam nas prateleiras das livrarias, mundo afora, aos "bons livros", que não foram escritos para ajudar ninguém, mas são como boas sementes que, caindo em solo fértil, se tornam árvores frutíferas da melhor qualidade; mas quem há de comer seus frutos, se o primeiro e principal deles – a maçã do "Paraíso Perdido" (tão miltoniano isso, não?) causou todo esse estrago no mundo? (Eu, hein!!!).

"Enquanto a Dona Felicidade não vem", vivemos a era do espetáculo, da busca frenética pelos famosos "15 minutos de fama", do showbizz, do mundo da "espiadinha" e da baixaria dos BBBs, Casas dos Artistas e Fazendas. Vivemos o apogeu da nossa mediocridade e ignorância. Felicidade que seja "Felicidade" mesmo, isto é, felicidade que se preza, não ia nem dar as caras por aqui, não é mesmo?





Filosófo, professor de Filosofia, Inglês e Redação; músico, poeta e escritor.


jayadas
Artigo da autoria de Jaya Hari Das.
"Escrevo sobre coisas que me parecem interessantes, para que a leitura seja interessante. Escrevo exatamente como penso. Mas, se me perguntarem de onde vêm esses pensamentos, não saberei dizê-lo.".
Saiba como fazer parte da obvious.

Morrison


Jim Morrison - O Rei Lagarto
publicado em musica por Ana Filipa Carvalho

Jim Douglas Morrison tornou-se para muitos um imortal poeta do rock, um talentoso cantor que sucumbiu aos excessos dos finais dos anos 60 ou um entertainment provocador dirão outros. Vocalista da banda The Doors, morreu aos 27 anos em Paris quando fugia da pressão mediática após um julgamento polémico. Considerado membro do fatídico clube dos 27, juntamente com Jimi Hendrix e Janis Joplin, Jim Morrison é um exemplo perfeito para tentarmos compreender os loucos anos 60.


Desde pequeno Jim Morrison tinha uma paixão por literatura. A sua irmã chegara a confessar que lera na adolescência, de uma assentada, toda a obra de Friedrich Nietzsche. Fascinavam-no os filósofos franceses existencialistas. Devorava obras de Frank Kafka, Charles Baudelaire, Honoré de Balzac e Jack Keroac. No entanto é Nietzsche que o fascinará ao ponto da dicotomia filosófica da Grécia Antiga por ele abordada, Dionísio e Apolíneo, vir a marcar mais tarde vincadamente a estética poética da banda The Doors.

Seu pai, George Morrison, é um almirante da marinha dos EUA, fazendo com que a infância e adolescência de Jim Morrison sejam marcadas pelas frequentes viagens. A que mudará a sua vida será, no entanto, quando se mudou para Los Angeles para frequentar a Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA). É lá que se deixa apaixonar pela obra surrealista de Antonin Artourd que o influenciará nos vários filmes por ele produzidos na universidade, raramente compreendidos pelos seus colegas de turma. Um dos que o apoia artisticamente é Ray Manzarek , seu colega de curso e futuro colega de banda. Após concluir a licenciatura em Cinema na UCLA em Los Angeles em 1965, faltando á cerimónia de graduação, Morrison dorme num telhado de um edifício abandonado perto da praia de Venice. Mergulhado em ácidos e LSD, Jim Morrison escrevia ininterruptamente poemas e canções. Segundo confessara, “ Eu tinha um concerto rock inteiro na minha cabeça”.

Foi tal frase que dirá ao seu amigo Manzarek na edílica cena na praia de Venice, quando se reencontram após uma temporada de ausência de Jim Morrison no deserto. Jim canta Moonlight Drive a medo ao seu amigo Manzarek , que fica atónito perante a beleza poética que a canção encerra. Perante o talento que Jim Morrison evidencia, não hesita e ambos combinam formar uma banda cujo nome vai derivar de um poema de William Black, The Doors of Perception.


Nascem aí os “The Doors”. A sua essência. Manzarek convida dois colegas seus das aulas de meditação, o guitarrista com formação clássica, Bobby Krieger e o baterista com formação em jazz, John Densmore.
Em poucos meses, os The Doors já tocam em bares razoáveis. Light My Fire, canção curiosamente escrita por Bobby Krieger num dos primeios ensaios da banda, será um sucesso nacional em pouco tempo.
A banda dá nas vistas. É uma banda diferente para diferentes. A ausência de baixo convencional, o teclado circense-sombrio de Ray Manzarek, a clara influência flamenga de Krieger na guitarra e a poesia mística de Morrison tornam-se marcantes. Jim Morrison sobressai. Não é só a sua extrema inteligência e sensibilidade espelhadas na poesia que canta, ou a sua voz grave e profunda. A sua imagem sensual e misteriosa é um apelo á libido mais profunda das jovens de Los Angeles. Torna-se um ídolo em pouco tempo.

Em 1966, os The Doors gravam o seu primeiro álbum com o mesmo nome e as portas da percepção da fama e do sucesso escancaram-se para sempre. Por entre aparições televisivas a concertos que começam a ser teatralizações, os The Doors têm uma ascensão apoteótica. Jim Morrison refugia-se nos ácidos procurando uma transcendência energética com o seu público. Os concertos ao vivo são uma forma de troca de fluidos cósmicos com a audiência…uma simbiose perfeita. Ele rebola no chão, ele desmaia ou simula gemidos sexuais, ele invoca shamans….Tudo com o suporte dos seus companheiros de banda sempre dispostos a ampará-lo em seus devaneios artísticos.

Estamos numa época de contra-cultura e rebelião. De paz, amor e drogas para viagens com o transcendente. De amor á natureza. De hippies. De contestação a uma guerra no Vietnam. De repúdio a uma sociedade de consumo que começava a espalhar-se rapidamente. Como tal, a musica e a poesia do The Doors era uma perfeita resposta contestatária á época em que se vivia. Uma catarse espiritual cujo guru era um Morrison rebelde em palco.


Com o sucesso crescente e avassalador, Jim começa a refugiar-se cada vez mais nos ácidos e na bebida. A sua vida pessoal é marcada pela instabilidade entre ele e a sua namorada de sempre Pamela Courson, devido às sucessivas infidelidades de Jim. Conheçe Andy Warhol e mergulha num circulo de amigos com uma forte paixão pelas drogas e pela boémia. Começa a chegar permanentemente atrasado às gravações dos álbuns da banda.

Em palco, o descontrolo é evidente. Jim começa a ser um entertainment enlouquecido pela qual a audiência paga bilhete para ver em detrimento da poesia e da sua música. Há um choque profundo no seu ser quando se começa a aperceber que se tornou apenas numa imagem sensual e comercial em vez da imagem de um poeta inteligente e com algo a dizer.O descalabro acontece quando num concerto em Miami, Jim Morrison é preso e acusado pela polícia de “exposição indecente” alegadamente por ter exibido o seu órgão sexual a uma plateia em delírio. Ninguém afirma ter visto qualquer exposição indecente do cantor, nem se verificaram provas concretas, no entanto Morrison é mesmo levado a tribunal e condenado a prestar trabalhos forçados pagando uma fiança pela liberdade.

Os concertos em várias cidades começam a ser cancelados e Jim Morrison cai em desgraça consigo mesmo. A banda chega a gravar o álbum LA Womam pouco depois, um álbum que seria o último da banda, que incluí a música Riders on The Storm, um dos êxitos mais marcantes dos The Doors.

Jim Morrison e a sua namorada Pamela Courson viajam para Paris no intuito de fugir a toda a pressão em volta do cantor. Jim planeia dedicar mais tempo á poesia e quem sabe mais tarde voltar a compor para os The Doors. Morre inesperadamente com 27 anos no dia 3 de Julho de 1971, ao que tudo indica de overdose. É enterrado no célebre cemitério Pére Lachaise em Paris onde estão sepultados vários artistas mundiais, que Morrison admirava, como Honoré de Balzac e Oscar Wilde. Uma das mais marcantes bandas de sempre acabava assim de maneira trágica.

Passados recentemente 40 anos sobre a sua morte, Jim Morrison é considerado um dos maiores poetas rock da música contemporânea. A sua poesia é apaixonada, sombria e profundamente irónica. Apela ao misticismo, a uma rebelião psicológica com vista á libertação da nossa mente das amarras criadas pelo dia-a-dia. Muitas vezes incompreendido e perfeitamente consciente de como a arte pode ser mal interpretada por uma sociedade ainda com valores castradores e retrógrados, Morrison usou as drogas e a bebida com o escape alienador para a dor? Ou estas substâncias fomentavam a sua criatividade? Ou ambas as hipóteses? Os finais dos anos 60, época de excessos a todos os níveis, acabaram por ter um imenso peso no desenrolar da história de Jim Morrison. Em apenas cinco anos, este ser conheceu a glória e a fama mas também o lado negro do sucesso. Os The Doors gravaram com Jim Morrison seis álbuns durante esse período (The Doors, Strange Days, The Soft Parade, Waiting for The Sun, Morrison Hotel e LA Woman). Provavelmente uma ascensão meteórica que Jim não estaria á espera e\não soube lidar da melhor forma. O seu legado consta para além da música, os seus livros de poesia. Como ele próprio se definiu, durante o seu 27º aniversário, bebendo sem parar, gravando a sua poesia:

“ Vejo-me a mim próprio como um ser humano inteligente e sensível mas com um coração de palhaço que me obriga a estragar tudo nos momentos mais importantes”.

Durante seis anos ele pôde realmente tudo. Ele foi o Rei Lagarto. He could do anything. He was the Lizard King.



anafilipa
Ana Filipa Carvalho Estudante de Belas-Artes apaixonada por todas as formas de arte mas com um fraquinho especial por música. Saiba como fazer parte da obvious.

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