quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pensamentando

Causos pela liberdade
Em “Crônicas do mundo ao revés”, Flávio Aguiar parte de histórias reais, aquelas que todo mundo ouve, e acrescenta uma dose de ficção. Não se trata de um livro autobiográfico, mas ele afirma: “Eu não sou responsável por o que os narradores narram, mas defendo até a morte o direito de eles dizerem o que têm para dizer”
Por Adriana Delorenzo
[07 de abril de 2011 - 12h16]


O professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP) Flávio Aguiar lançou, em março, seu último livro: “Crônicas do mundo ao revés”. A obra é composta por 19 narrativas, 15 contos e 4 crônicas, mas poderia ser definido como um livro de causos.

O conjunto de histórias é dividido em quatro partes, sendo que a primeira delas “Tempos difíceis” relaciona-se com os anos de chumbo (1964-1985). “É sobretudo um apanhado do tempo da ditadura, mas não é só. Há um compromisso político da liberdade, uma conquista individual, que é um patrimônio coletivo”, afirma. “Todos têm o direito de conquistar a liberdade, agora a opção é de cada um. Ou ela está enraizada na pessoa, ou não.”

Se os causos iniciais apresentam uma semelhança com a realidade vivida naquela época, o restante do livro desperta a mesma sensação no leitor com histórias que se passam em outras situações. Entre elas, muitas acontecem no Rio Grande do Sul, terra do gaúcho Aguiar. “O livro prima justamente pela mistura dos planos de ficção e realidade”, explica. Isso não é por acaso. Para o professor, a junção implica numa reflexão sobre o momento histórico que estamos vivendo. “Hoje ficção e realidade andam de mãos dadas o tempo todo. Somos continuamente bombardeados por sequências de imagens sobre cuja idoneidade e até mesmo sobre cuja origem, nós não temos a menor idéia. Existe todo um esforço para que nós assumamos aquilo como verdade, como sendo uma reprodução fiel dos fatos e acontecimentos.”

O autor diz ainda que essa situação trazida para o livro pode ser encarada como uma crítica à mídia convencional: “Ela te bombardeia com um monte de sequências narrativas e não quer que você analise”. Segundo ele, a realidade é apresentada de uma maneira distanciada, como uma reflexão que está pronta. “É como se dissessem assim: olha você não precisa sonhar, nós sonhamos por você. O seu sonho está pronto.”

Aguiar alerta que muitas vezes as pessoas procuram assumir esse caminho, como se necessitassem de uma droga. “Como se precisasse de algo justamente para não assumir esse caminho da liberdade, que é penoso, cheio de dúvidas, de problemas, e que muitas vezes causam inicialmente uma sensação de isolamento. Isso está presente na maioria dos narradores dessas histórias.”

No livro, o real é a inspiração, e a imaginação do autor é o ingrediente principal. Aguiar diz que foi fiel à epigrafe no início da obra: “A imaginação é a memória que enlouqueceu”, de Mario Quintana. “Parto de fatos reais, e os desenvolvo com o objetivo de torná-los floreados. Mais exuberantes do ponto de vista de explorar as consequências dos seus significados.”

A liberdade faz-se presente em “Crônicas do mundo ao revés”. Em cada história, há um narrador diferente, “são relações únicas entre o narrador particular e os personagens com quem ele se relaciona”.

Serviço

Título: Crônicas do mundo ao revés
Autor: Flávio Aguiar
Editora: Boitempo Editorial
Prefácio: Maria Rita Kehl (apresentação)
Posfácio: Roniwalter Jatobá (orelha)
Páginas: 136
Ano de publicação: 2011
ISBN: 978-85-7559-170-3
Preço: R$ 30,00

(Revista Forum)

Nenhum comentário:

Postar um comentário