Repressão mortal no Bahrein
Ao menos seis pessoas foram dadas como mortas e centenas como feridas depois que as forças de segurança do Bahrein expulsaram os manifestantes pró-democracia da Rotatória Pearl na capital, Manama.
Por Redação
[16 de março de 2011 - 16h55]
Ao menos seis pessoas foram dadas como mortas e centenas como feridas depois que as forças de segurança do Bahrein expulsaram os manifestantes pró-democracia da Rotatória Pearl na capital, Manama.
Um toque de recolher de 12 horas entrou em vigor às 16h em certas áreas da cidade, incluindo a Rotatória Pearl, o Porto Financeiro de Bahrein, além de diversos outros edifícios que tenham sido recentemente alvo de protestos.
Até o momento, maior parte da área havia sido evacuada depois que tropas apoiadas por tanques e helicópteros atacaram o local – foco de protestos anti-governo que já duravam semanas no pequeno reino – na manhã de quarta-feira, disse um correspondente da Al Jazeera.
Múltiplas explosões foram ouvidas e fumaça foi vista encobrindo o centro de Manama.
Informações dos hospitais confirmaram que três manifestantes haviam sido mortos e centenas de outros sido feridos na ofensiva, reportou a agência de notícias Reuters. Três policiais também foram relatados como mortos.
Nosso correspondente disse que a polícia, apoiada pelas forças militares, atacou os manifestantes por todos os lados e usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersas a multidão.
Manifestantes, intimidados pelo grande número de forças de segurança, recuaram da rotatória, disse ele. Às 17h a área estava silenciosa, ainda que algumas pessoas permanecessem nas ruas. Um helicóptero circulava pelo ar.
O movimento da juventude de Bahrein havia convocado um protesto em massa na quarta-feira à tarde, mas permaneceu incerto se, após o ocorrido, eles pretendiam se reagrupar em algum outro lugar da cidade.
A maior oposição no Bahrein, o partido Wefaq, recuou dos protestos, afirmando serem perigosos demais caso continuassem. Há o receio de que uma menor quantidade de pessoas resulte num maior nível de vítimas, disse nosso correspondente.
Desde a manhã de hoje, o Wefaq aconselhou o povo a “evitar confrontos com as forças de segurança, e a permanecerem pacíficos”, disse um membro do Wefaq para a Reuters.
Ali Al Aswad, outro membro do Wefaq, disse à Al Jazeera que o governo usou helicópteros Apache para atirar contra manifestantes pacíficos.
Ele disse que a situação estava bastante ruim e que o Bahrein caminhava em direção a um desastre. “As forças de segurança estão matando o povo, e nós chamamos a ONU para nos ajudar”, disse Aswad.
Estado de Emergência
A ação das forças de segurança veio um dia depois de ser declarado estado de emergência na ilha, e ao menos duas pessoas morreram em confrontos nos subúrbios de maioria xiita, em Sitra, nos arredores de Manama.
Uma ordem do rei “autorizou o comandante das forças de defesa do Bahrein a tomar todas as medidas necessárias para proteger a segurança do país e de seus cidadãos”, dizia uma declaração lida pela televisão nesta terça-feira.
Centenas de tropas sauditas adentraram o Bahrein na segunda-feira como parte de uma iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC por sua sigla em inglês) para proteger instalações governamentais ali em meio aos crescentes protestos contra o governo.
Não está ainda claro se a repressão violenta de quarta-feira envolveu tropas sauditas.
Syed Al Alawi, uma testemunha, disse à Al Jazeera que tropas cercavam o Hospital Salmania de forma a não permitir que médicos e enfermeiras entrassem.
Buscando ajuda, Alawi disse: “As tropas do GCC servem à luta contra forças estrangeiras, mas ao invés disso eles estão alvejando o povo do Bahrein. Que crime cometemos? Estamos somente reivindicando nossos direitos legítimos”.
Ao menos 500 manifestantes estiveram acampados na Rotatória Pearl no centro de Manama, como parte de seus protestos.
O pequeno reino com uma dominante maioria xiita foi abalado por protestos ao longo das últimas semanas. Os manifestantes, alegando discriminação e falta de direitos, reivindicam reformas políticas.
A chegada de tropas estrangeiras advém de um pedido do Bahrein aos membros do GCC.
Os Emirados Árabes Unidos também mandaram cerca de 500 policiais ao Bahrein, de acordo com Abdullah Bin Zayed Al-Nahyan, o Ministro das Relações Exteriores dos Emirados. O Qatar, por sua vez, ainda não descarta a possibilidade de suas tropas se juntarem às forças de repressão.
Sheik Hamad bin Jassim bin Jabr Al-Thani, o primeiro ministro do Qatar, disse à Al Jazeera: “Há responsabilidades e obrigações comuns aos países do GCC”.
Preocupação Internacional
Os EUA, que contam com o Bahrein e a Arábia Saudita entre seus aliados, fizeram um chamado à contenção dos protestos, mas se eximiu de dizer se apóia a chegada de novas tropas.
Hillary Clinton, a secretária de Estado americana, que fez um discurso no Egito, disse que o povo baremense deve “tomar medidas imediatas” no intuito de uma resolução política da crise.
O Irã, enquanto isso, fez um aviso sobre “interferências estrangeiras”.
“Os protestos pacíficos no Bahrein estão entre as questões internas daquele país, e criar uma atmosfera de medo e usar forças militares de outros países para oprimir estas reivindicações não é a solução”, disse Hossein Amir Abdollahian, espécie de porta-voz para o Ministério das Relações Exteriores do Irã, à agência iraniana de notícias, Fars.
Tradução de Cainã Vidor. Original em http://www.countercurrents.org/aljazeera160311.htm. Foto por http://www.flickr.com/photos/ryanbayona/.
(Revista Forum)
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