sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Psicopatia
Psicopata americano: Será mesmo?
por Isabel Nobre em 01 de jul de 2012 às 23:43 | 2 comentários
Entre a grande lista de filmes que não foram devidamente entendidos pelo publico, se encontra 'psicopata americano', um filme dirigido por Mary Harron que conta com Christian bale no papel principal. O filme foi baseado no livro de mesmo nome escrito por Bret Easton Ellis, e diz mais em entrelinhas, até obvias, do que no próprio filme.
Nenhum livro chocou tanto os Estados Unidos dos anos 90 quanto Psicopata Americano. Antes mesmo que fosse publicado (o New York Times e o Spy magazine reproduziram e publicaram trechos do livro) a Igreja e entidades anti-violência já protestavam nos jornais. Com isto a editora Simon and Schuster, que já tinha pago 300 mil dólares de adiantamento para o autor, rompeu o contrato. Depois de publicado pela editora Vintage Books (que o lançou com grande badalação e grupos de feministas aos gritos protestando na porta da sede da editora), ele foi considerado "chocante e exagerado" ao mostrar a vida urbana contemporânea dos ricos americanos através dos olhos de um assassino em série. Bret Ellis é perseguido até hoje por sua obra (basta ver o número de sites da internet que o atacam e defendem). Tanto assim, que a produção do filme foi boicotada diversas vezes durante as filmagens - principalmente no Canadá.
"O psicopata americano" relata a vida cotidiana de Patrick Bateman com todos os detalhes que, de tão rotineiros, podem passar despercebidos: os exercícios abdominais, o bronzeamento artificial, o ritual de cremes e óleos, o culto ao corpo... Minutos de filme descrevendo os pormenores que a sociedade capitalista induz a suas vítimas a fazerem. Um retrato da vida urbana e capitalista a partir da narração de Bateman – um yuppie (young urban professionals – jovens profissionais urbanos que foram símbolos de uma geração ambiciosa que circulava na Wall Street de Nova York).
Nos restaurantes da moda as conversas circulam ao redor de preocupações mundiais – a fome na África, a crise econômica no Terceiro Mundo – diálogos com os quais a personagem se preocupa tanto quanto com o modelo do cartão de crédito com o qual fará a carreira de cocaína no banheiro: sinais da hipocrisia circulante no mundo capitalista globalizado. O filme todo é uma crítica que utiliza de humor negro para retratar a indiferença pelas pessoas, o culto excessivo a aparência, e outros pormenores que são perceptíveis tanto nos jovens perdidos da década de 80, quanto na geração sempre conectada de hoje em dia.
Um dos momentos onde a analogia é mais profunda é na cena onde Patrick esfaqueia um mendigo.
- Perdi o emprego...
- Por quê? – pergunto, interessado de verdade. – Você andava bebendo? É por isso que foi despedido? Tráfico de informações confidenciais de mercado? Estou só brincando. Não, realmente, você andou bebendo no trabalho?
(...)
- Estou com fome – repete
- Ouça. Você acha justo tirar dinheiro de pessoas que têm emprego? Que trabalham mesmo? (Ellis, 1992, p. 161-162) [diálogo de Bateman com um morador de rua antes de esfaqueá-lo].
Uma pequena elite afasta-se daqueles que cada vez mais tomam as ruas graças à exclusão econômica e social. O jargão da individualidade transforma a pobreza em culpa individual e não social; assim, em nome de uma identidade as exclusões são legitimadas ao não se reconhecer o outro em suas diferenças. Até mesmo problemas econômicos são atribuídos ao individual. Culpabilizar um indivíduo é mais fácil do que encarar a própria responsabilidade pela condição alheia.
O que acontece em Psicopata Americano (American Psycho) - assim como ocorreu em Clube da Luta - é que as pessoas tendem a julgar um filme sem se aprofundar nele. Curiosamente, a violência gratuita nos cinemas não causa tanta polêmica. Mas, se ela traz consigo uma reflexão, uma crítica à sociedade, muitas vezes é ignorada. Ambos os filmes vêm a nós como um alerta, um aviso do que o consumismo desenfreado pode acarretar na mente de um ser humano. A imagem do sonho americano sendo dilacerada.
A trilha sonora de Psicopata Americano traduz a alma dos anos 80 ("Sussudio", de Phil Collins, "Hip to Be Square" de Huey Lewis and the News, e "Walking on Sunshine", de Katrina & The Waves) . Grande parte do orçamento do filme foi gasto no pagamento aos direitos autorais destes ícones da geração gananciosa: US$ 150 mil por Hip To Be Square; US$ 120 mil por Sussudio.
Alerto que a a seguir se encontram spoilers:
Há ainda a grande polêmica acerca do final do filme. O fim nos faz perguntar se ele realmente cometeu os assassinatos ou não. Independente de qual seja sua versão, pois cada pessoa que assiste o filme pode vir a ter uma opinião diferente, o fim vem a ser uma crítica, assim como todo o filme. Se você achar que ele realmente cometeu os crimes, então o interesse do proprietário do apartamento falou mais alto e ele preferiu esconder os corpos e vender o apartamento por um valor alto do que arcar com toda a burocracia de esperar uma investigação dos crimes e perder clientes. Se você acha que na verdade ele não cometeu os crimes, tudo foi só delírio, a sociedade fútil o deixou louco.
Fontes: Psicologia em Estudo - Contemporaneity: an american psychopathy?
isabelnobre
Artigo da autoria de Isabel Nobre.
Gasta todo o dinheiro que ganha em livros e é Cinéfila por natureza. Teve que ser várias vezes pra desentender melhor e vive em seu próprio mundo, bem mais divertido que o real..
Saiba como fazer parte da obvious.
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