Megalomaníaca
Viver não é preciso. Escrever é preciso.
O corpo: entre a cruz e a espada
em Artes por Janne Alves de Souza em 13 de jan de 2012 às 21:21
Lugar de vida, de desejos e prazeres, o corpo, historicamente esteve sempre "entre a cruz e a espada". Símbolo e expressão das tensões e conflitos entre sagrado e profano, céu e inferno, alto e baixo, o corpo foi, na Idade Média, condenado pela Igreja. O corpo era então, para a Igreja, o lugar da tentação e do pecado. Como declarou o papa Gregório, O Grande, era “a abominável vestimenta da alma”.
A vergonha causada em Adão e Eva pela nudez do corpo é a primeira consequência imediata do pecado original. Daí, um corpo livre do pecado deve ser encoberto, deve abster-se do gozo, dos desejos e dos prazeres. Há uma rejeição do corpo na Idade Média disseminada pela Igreja que pregava a exaltação do espírito, a elevação da alma e a repreensão dos prazeres, dos desejos e das necessidades corpóreas sob a forma da penitência e da dedicação à vida monástica. Para a Igreja, que tem no monge o modelo ideal de vida, a salvação da alma passa por uma penitência corporal. Para elevar-se ao céu, é preciso abandonar o corpo.
Na transição da Idade Média para o Renascimento vigorava um novo cânon corporal, que definiu as formas de representação do corpo e que dialogava com a proposição da Igreja sobre o corpo, caracterizava-se pelo acabamento do corpo, por sua completude e individualidade. Fecham-se todas as extremidades e orifícios do corpo, eliminam-se qualquer possibilidade de contato do corpo com o exterior, dissimula-se toda a vida orgânica e natural do corpo. Cada corpo é uma unidade perfeita, sem falhas, que não se alia a outro corpo, nem ao que lhe é externo. Anula-se a sexualidade e elimina-se qualquer manifestação de vida íntima e interior do corpo. Ou seja, nega-se a incompletude, o inacabamento e o despreparo do corpo humano, renega-se a organicidade da vida íntima corporal.
A este cânon corporal, opõe-se o grotesco. O corpo grotesco é, ao contrário, um corpo aberto e orgânico. A palavra grotesco surgiu no século XIV e tem sua origem etimológica na palavra gruta. Desde então passou a ser utilizada para designar uma categoria estética (e também estilística) e é aplicada às diversas manifestações artísticas, literais e pictóricas. O grotesco caracteriza-se pelo hibridismo das formas, pela presença, numa mesma figura, de elementos humanos e animais ou vegetais, por uma composição heterogênea e exagerada (a exemplo das figuras bizarras de Hyeronimus Bosch), que provoca o rebaixamento (bathos) de tudo que é dito sagrado ou tido como superior, pela subversão dos padrões e cânones estabelecidos, criando uma nova ordem de lógica interna própria, de significado aberto e universal.
O grotesco refere-se frequentemente às partes baixas do corpo, a uma animalidade que aturde, foge à harmonia das formas, transgride as leis da natureza e da proporção, as fronteiras entre natureza e cultura entre os reinos animal e humano. O grotesco desconstrói essa ideia de corpo fechado do novo cânon a partir da desconstrução do corpo, da exposição das suas extremidades e da exploração da sua fragilidade e despreparo. O corpo grotesco é um corpo que contínua em outro corpo, que não está separado do mundo, mas está unido a ele de forma natural e orgânica.
É o corpo o lugar privilegiado das manifestações do grotesco. Nele o grotesco exprime sua visão de mundo. O corpo grotesco não renega sua naturalidade, não esconde sua vida íntima, ao contrário, realiza-se a partir dela. Há na concepção grotesca do corpo um caráter de contestação e subversão da ordem natural e lógica da vida corporal e do tempo. No grotesco, o tempo é cíclico e a vida corporal é natural e orgânica, é biológica.
Característico das manifestações culturais populares na Idade Média e no Renascimento, o grotesco é a libertação do corpo. Com a abertura das extremidades e dos orifícios do corpo, no grotesco, o corpo continua para além de seus limites. É um corpo embrionário que continua em outro corpo, que vive para além de seus limites, que se funde a outro corpo. É um corpo que se cria e recria - corpo criador e criatura - continuamente em outros corpos e que participa da existência de todas as coisas. Essa ambivalência é um traço característico e essencial do corpo grotesco: o novo corpo nasce da morte do primeiro, continua-o, ambos os corpos são princípio e fim continuamente. O corpo grotesco é um corpo em metamorfose.
jannesouza
Artigo da autoria de Janne Alves de Souza.
Uma moça privada de si mesma, mas tão sensível aos encantos discretos das pequenas coisas da vida... .
Saiba como fazer parte da obvious.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Pensamentando
ser ou não ser
Arte e Vida
A Sombra e o Dia
por João de Barros em 24 de dez de 2012 às 00:52
Passos ecoam, sorrisos se abrem, corações se atraem, cabeças viram, opiniões se consolidam e a imagem é marcada a ferro e fogo nas mentes alheias.
A cidade geralmente está suando em suas primeiras horas úteis da manhã. Dia de semana. Pessoas andam e correm atrás de metas e objetivos bastante simples como receber seu salário e gastá-lo logo após com as futilidades essenciais do dia a dia. Meus mocassins tocam o asfalto quente e sólido. E enquanto dou a primeira inspirada no ar conturbado do centro da cidade, minhas mãos tremem de ansiedade. Meu andar é firme e preciso, enquanto acendo o primeiro L.S do dia. Forte e atraente, porém discreto.
O som de "Atomic" de Blondie ataca os meus ouvidos, a batida é envolvente e nostálgica. Volto o olhar para a placa "Bem vindo a xxxxxx" o nome pichado em prateado tenta atingir os meus olhos com vertiginosa intensidade, mas os óculos escuros ajudam a toda esta cena passar quase imperceptível.
Todo o dia só pode ser descrito como um fluxo de consciência neurótica digna de Woody Allen. Possibilidades são calculadas, situações são repassadas e passadas mais um vez na minha cabeça, enquanto o que falo permanece relevante. Sorrisos são descobertos, e nesses mesmos sorrisos é onde jaz a minha oportunidade de lucro. Lucro material é claro e lucro pseudoemocional, provindo em maior parte de elogios à minha eficiência e aparência notável. Uma senhora arrisca:
- Quantos anos você tem?
- 20.
- A quantos você vive de verdade?
Enquanto ela sai, só consigo tentar me lembrar com quantos anos eu li "O Apanhador no campo de centeio" e fiz uma garota atingir o orgasmo. A resposta seria 15 para ambos (apesar de não ter certeza sobre o primeiro). A seguir "Smooth Operator" de Sade toca e me faz ter memórias nostalgicas de um passado não tão remoto. Os semáforos parecem transcrever o que estou sentindo enquanto vou de encontro a eles. Os postes me vigiam e dão suporte a toda a realidade ao meu redor. É quase engraçado o quanto toda essa estrutura em que estou envolvido é vazia. Assustadoramente oca e desalmada. Em seguida as vitrines me lembram que 80% do meu tempo eu não sou totalmente o oposto dessas características. Sinto meu olhar queimar o vidro em que meu reflexo está sendo reproduzido. Tudo o que vejo é a sombra de um ser frio e sem coração. Sombra colocada ali para atingir a posse de uma maior quantidade desse mesmo vazio através de dinheiro e reconhecimento.
A sombra não questiona, nem tem remorso, ela simplesmente existe, é real e imediata quanto o próprio tempo que me empurra para frente. Meus mocassins continuam em atrito com o calor do asfalto, mas estão impecáveis. Sinto medo da idéia desta sombra cavar mais e mais fundo dentro de mim. Não é a toa que a procura de emoção se tornou maior nestes últimos meses. Sendo que esta procura acaba e recomeça com mais rapidez a cada vez que me dou por satisfeito. Me sinto excepcionalmente completo. E enquanto tudo isso que se passou é escondido com mais eficiência do que a própria demonstração das emoções que sinto, me pego guardando e prestigiando tudo aquilo que me parece ser real e abstrato.
(Obvius)
Arte e Vida
A Sombra e o Dia
por João de Barros em 24 de dez de 2012 às 00:52
Passos ecoam, sorrisos se abrem, corações se atraem, cabeças viram, opiniões se consolidam e a imagem é marcada a ferro e fogo nas mentes alheias.
A cidade geralmente está suando em suas primeiras horas úteis da manhã. Dia de semana. Pessoas andam e correm atrás de metas e objetivos bastante simples como receber seu salário e gastá-lo logo após com as futilidades essenciais do dia a dia. Meus mocassins tocam o asfalto quente e sólido. E enquanto dou a primeira inspirada no ar conturbado do centro da cidade, minhas mãos tremem de ansiedade. Meu andar é firme e preciso, enquanto acendo o primeiro L.S do dia. Forte e atraente, porém discreto.
O som de "Atomic" de Blondie ataca os meus ouvidos, a batida é envolvente e nostálgica. Volto o olhar para a placa "Bem vindo a xxxxxx" o nome pichado em prateado tenta atingir os meus olhos com vertiginosa intensidade, mas os óculos escuros ajudam a toda esta cena passar quase imperceptível.
Todo o dia só pode ser descrito como um fluxo de consciência neurótica digna de Woody Allen. Possibilidades são calculadas, situações são repassadas e passadas mais um vez na minha cabeça, enquanto o que falo permanece relevante. Sorrisos são descobertos, e nesses mesmos sorrisos é onde jaz a minha oportunidade de lucro. Lucro material é claro e lucro pseudoemocional, provindo em maior parte de elogios à minha eficiência e aparência notável. Uma senhora arrisca:
- Quantos anos você tem?
- 20.
- A quantos você vive de verdade?
Enquanto ela sai, só consigo tentar me lembrar com quantos anos eu li "O Apanhador no campo de centeio" e fiz uma garota atingir o orgasmo. A resposta seria 15 para ambos (apesar de não ter certeza sobre o primeiro). A seguir "Smooth Operator" de Sade toca e me faz ter memórias nostalgicas de um passado não tão remoto. Os semáforos parecem transcrever o que estou sentindo enquanto vou de encontro a eles. Os postes me vigiam e dão suporte a toda a realidade ao meu redor. É quase engraçado o quanto toda essa estrutura em que estou envolvido é vazia. Assustadoramente oca e desalmada. Em seguida as vitrines me lembram que 80% do meu tempo eu não sou totalmente o oposto dessas características. Sinto meu olhar queimar o vidro em que meu reflexo está sendo reproduzido. Tudo o que vejo é a sombra de um ser frio e sem coração. Sombra colocada ali para atingir a posse de uma maior quantidade desse mesmo vazio através de dinheiro e reconhecimento.
A sombra não questiona, nem tem remorso, ela simplesmente existe, é real e imediata quanto o próprio tempo que me empurra para frente. Meus mocassins continuam em atrito com o calor do asfalto, mas estão impecáveis. Sinto medo da idéia desta sombra cavar mais e mais fundo dentro de mim. Não é a toa que a procura de emoção se tornou maior nestes últimos meses. Sendo que esta procura acaba e recomeça com mais rapidez a cada vez que me dou por satisfeito. Me sinto excepcionalmente completo. E enquanto tudo isso que se passou é escondido com mais eficiência do que a própria demonstração das emoções que sinto, me pego guardando e prestigiando tudo aquilo que me parece ser real e abstrato.
(Obvius)
Engels
Impressões do jovem Engels
Celso A. Uequed Pitol
O jovem alemão Friedrich Engels estava com a vida feita. Rico, bem-nascido numa das mais prósperas famílias de Bremen, cultíssimo - já na adolescência havia escrito vários poemas e aprendido idiomas estrangeiros - e de boa aparência, foi designado pelo pai para cuidar dos negócios da família em Manchester, na Inglaterra. Não era pouco: Manchester era o maior centro industrial do mundo, a cidade das chaminés e das máquinas que abastecia os quatro cantos do planeta de tecidos, produtos químicos, trilhos de trem e muito mais. Abrir um escritório naquela cidade representava, na época, mais ou menos o mesmo que, hoje, abrir um em Nova York, Los Angeles ou Chicago. Era, enfim, o tipo de emprego que qualquer pai zeloso gostaria de dar para o filhão. E para lá se foi o jovem Engels, armado com algumas garrafas de vinho do Porto, várias cartas das namoradas, seus melhores ternos e, é claro, livros - muitos livros. Obras de Hegel, Feuerbach, Bruno Bauer, Max Stirner e de muitos outros grandes nomes da maior glória que sua pátria fragmentada e instável podia ostentar naqueles tempos: a filosofia alemã.
E não qualquer filosofia. Uma filosofia crítica, crente no poder da razão humana, pronta para sair das modorrentas páginas dos compêndios, agarrar o leitor pelo pescoço e convencê-lo, às sacudidas, de que ficar ali parado não ajudava nada a mudar um mundo cuja principal característica era a contínua transformação, o contínuo devir, a contínua e incessante luta de opostos. Era preciso participar. E o século XIX, época da Revolução Industrial, do progresso técnico sem limites, do aumento desmedido de riquezas, oferecia uma oportunidade ímpar para um jovem como ele tomar parte do comboio da História. Engels e seus amigos - entre os quais contava um judeu irritadiço chamado Karl Marx - logo perceberam que o progresso gerava uma imensa massa de despossuídos como nunca a humanidade havia visto . Descobrir qual o papel dessa massa dentro da História tornou-se logo uma das principais preocupações de jovens como ele. Assim sendo, ir a Manchester, o coração do capitalismo do século XIX, tinha um sentido todo especial para ele - tanto quanto para seu pai. Só que o velho não desconfiava que o garotão Friedrich, por trás dos belos ternos, do sorriso fácil e encantador, dos bons modos de gentleman e do ar um tanto dândi, escondia dentro de si um socialista revolucionário.
Foi assim que Engels chegou a Manchester em 1842. Estava interessado tanto nas condições que levaram a Inglaterra à dianteira do mundo capitalista quanto no destino que este mundo deixava para a classe trabalhadora, assunto de primeira ordem no seu círculo intelectual. Mas falar do povo pobre era uma coisa. Outra bem diferente era vê-los ao vivo. E não deve ter sido agradável a experiência do menino bem alimentado ao ver in loco aquela gente maltrapilha, homens, mulheres e crianças sujos de graxa e pó, magros, de olhos afundados e pele ressecada pelo frio e pela desnutrição perambulando pelas ruas dos distritos mais pobres das cidades. Na sua Alemanha natal, bem menos industrializada, o pobre vivia no campo, frequentemente em casinhas estilo enxaimel, cercada por agradáveis jardins e uma pequena horta de onde a família tirava a sua alimentação básica. O lavrador alemão - assim como o artesão, o carpinteiro e o tecelão - trabalhava e via o resultado do seu trabalho em suas mãos, ou, no máximo, nas mãos do patrão. Lá viviam, sim, alguns operários pobres, que Engels havia visto de longe em uma ou outra visita à fábrica do pai. Mas nada comparável àquele povo extenuado, abrutalhado pelas 14 horas diárias de trabalho ininterrupto que ele via na avançadíssima Inglaterra. E o pior é que não podia fazer muito por eles, já que estas pessoas eram nada menos do que os seus empregados - ou seja, por mais pesada que fosse a sua consciência, era preciso tocar a firma e, para tocar a firma, ele precisava deles. O fraco estômago do bem-nascido jovem da Renânia tinha de aguentar aquelas barbaridades durante o dia de trabalho. Mas só durante o dia. Quando o expediente acabava, Engels tomava uma charrete para sua casa num bairro rico de Manchester, sentava à escrivaninha, molhava a pena na tinta e começava a escrever, indignado, aquilo que viria a ser o seu primeiro livro: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, publicado no Brasil pela editora Boitempo.
Não foi uma tarefa fácil. Apesar do ardor de jovem rico e sensível que via a pobreza extrema pela primeira vez - algo facilmente perceptível pelo tom indignado que Engels emprega na maior parte do texto -, a confecção do livro exigiu dele um pouco mais do que o senso de justiça, a arguta observação empírica e a retórica de grande escritor. Em sua escrivaninha, ao lado do tinteiro e da pena, pousavam dezenas de relatórios de inspetores de fábricas, denúncias de instituições de caridade, recortes de reportagens de jornais ingleses, anuários estatísticos e trabalhos de pesquisa social então incipientes, porém muito úteis como fonte de pesquisa. É bem provável que Engels fosse, naquela altura, o dono da mais rica documentação sobre a exploração dos trabalhadores ingleses de toda a Grã-Bretanha, complementada pelas suas próprias observações pessoais sobre o estado dos bairros proletários das principais cidades do país. E dessas observações A situação da classes trabalhadoras na Inglaterra está cheio. Em nenhum outro momento as qualidades de Engels como escritor e jornalista aparecem tão claramente como quando ele fala das cidades e das paisagens rurais inglesas:
"A área lanígera do West Riding, no Yorkshire, é encantadora: uma sucessão de verdes colinas, cujas elevações se tornam mais e mais abruptas na direção oeste até culminarem na crista escarpada de Blackstone Edge, divisória entre o mar da Irlanda e o mar do Norte. O vale do Aire, onde se situa Leeds, e o do Calder, percorrido pela ferrovia Manchester-Leeds, contam-se entre os mais sugestivos da Inglaterra, semeados por fábricas, vilas e cidades; as casas cinzentas de pedra, limpas e atraentes, comparadas às construções de tijolos cobertos de fuligem do Lancashire, são graciosas à vista. "
Este é um momento especialmente agradável do livro. Engels gentilmente convida o leitor para viajar pela Merry Old England de céu cinzento e terra verdejante, conhecer suas metrópoles e suas cidadezinhas, passear pelas suas ruas principais e, quando quase nos sentimos capazes de respirar o agradável ar dos parques e das praças, ele nos devolve à terra com apontamentos indignados sobre a miséria dos bairros pobres, a desnutrição, as mortes pela fome e as vidas gastas diante das máquinas. Quando chega a hora de descrever as condições de vida dos trabalhadores, Engels dá, na maior parte das vezes, voz aos jornais, revistas e relatórios. Quando fala do que viu nas fábricas em suas andanças pela Inglaterra, não consegue conter a revolta interior e proclama, em altos brados, "que deverá explodir uma revolução diante da qual a primeira Revolução Francesa e 1794 serão uma brincadeira de crianças".
Não deixa de ser curioso. Engels viveu o suficiente para ver aquele país então francamente revolucionário de 1842 transformar-se no povo mais pequeno-burguês do planeta, preferindo os confortos do capitalismo moderado às refulgentes palavras dos socialistas revolucionários - que, por sinal, usufruíam e ainda usufruem de boa parte destes confortos. Na introdução da obra ele aponta que, antes da Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses "ganhavam para suprir suas necessidades e dispunham de tempo para um trabalho sadio no seu jardim ou em seu campo, trabalho que para eles era uma forma de descanso; e podiam, ainda, com seus vizinhos, participar de passatempos e distrações". O progresso roubou-lhes tudo isso. Ora, o que eles queriam era, apenas, voltar a ter essa vida - com alguns reparos, alguns ganhos advindos do desenvolvimento tecnológico, algumas facilidades urbanas, mas, essencialmente, essa vida - que é a que têm hoje, passado século e meio de discursos, palanques, reuniões canceladas pela polícia, prisões de seus líderes e a conclusão, com a chegada do líder operário James Keir Hardie ao parlamento, no fim do século XIX, de que era melhor deixar essa coisa de revolução de lado e garantir o dinheiro do pint de cerveja e dos ingressos para os jogos do Liverpool e do Manchester United. Os operários ingleses, que Engels e depois seu amigo Marx tanto louvariam e enxergariam como células das revoluções do porvir, seriam os primeiros a renegarem definitivamente o marxismo.
Não podemos culpá-los. O marxismo - que é o que Engels defende, mesmo sem, à época, ter tido maiores encontros com Karl Marx - tem pressupostos pelo menos duvidosos e promete um resultado nada animador. Afirma que todas as criações do espírito humano são decorrência direta ou indireta da estrutura econômica da sociedade em que vivem e que a consciência humana é, direta ou indiretamente, produto dessa mesma estrutura, dando pouco espaço para bobagens pequeno-burguesas como gênio individual ou livre-iniciativa. Por outro lado, promete um futuro de ditadura , em que os soi-disant proletários tomarão as rédeas dos destinos da Humanidade. Não faltam bons motivos para os trabalhadores preferirem o jogo do seu time preferido à ditadura do proletariado, assim como não faltam bons motivos para os intelectuais não levarem as palavras de Marx e Engels a sério. Pouco adiantaram os avisos de um Lúkacs, que, preocupado com as generalizações que via os críticos do marxismo fazerem, diferenciava esta forma de marxismo, que ele chamava de "vulgar", do verdadeiro marxismo ortodoxo, que nada tinha de determinista e mecânico como seus críticos queriam fazer crer: já em 1940, Edmund Wilson mandava essa diferenciação às favas ao dizer, secamente, que todo marxismo é vulgar. E não é difícil concordar com ele. Por mais que Lukács diga que a estrutura econômica não é o que determina diretamente as criações do espírito, o fato é que os seus próprios ensaios sobre literatura dão verdadeiras aulas de economia e vinculam tanto a obra quanto a biografia do escritor às circunstâncias de época. Por mais que um Nelson Werneck Sodré concorde com Lúkacs, ele escreveu uma História da Literatura Brasileira onde o leitor aprende, com detalhes, os números da importação de escravos para a Bahia e não lemos um só poema de Gregório de Matos Guerra. Por mais que todos eles pensem que o marxismo é muito mais aberto e refinado do que o mau entendedor pensa, que não é bem assim essa história de determinismo econômico, que isso não passa de manobra dos pensadores burgueses (como se o termo "pensadores burgueses" já não fosse interpretação mecânica a partir da economia...), a grande verdade é que a base econômica, em última instância, acaba sempre por preponderar no desenvolvimento político, jurídico, filosófico, religioso e literário, mesmo que estes reajam sobre aquela e vice-versa. E isto foi dito por ninguém menos do que o próprio Engels, numa carta escrita - vejam só - para refutar a idéia de que o materialismo histórico era determinista.
A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra traz em germe esta ideia central do marxismo. Para Engels, tudo o que os operários - e os burgueses - pensam e a maneira como agem decorre única e exclusivamente da situação social em que se encontram. Isto é discutível? Provavelmente. Mas discutamos, então: qual a melhor maneira para analisar corretamente aquela época? Não parece claro que, quando se trata da classe dos totalmente despossuídos, dos semi-escravizados, dos que têm de contar os últimos pence para comprar pão preto para a família esfomeada, as condições econômicas são a causa prepoderante do seu comportamento? E que tudo o que eles falem, pensem e façam deriva, direta ou indiretamente, de uma situação-limite onde o lado econômico prepondera? E mais: que, quando uma sociedade, como a da Inglaterra de 1842, é claramente constituída de duas classes com interesses diametralmente diferentes, estamos falando de uma luta de classes de fato? Difícil contradizer. Pois, por tudo de mau que temos para dizer do marxismo - e não só dele, é bom que se lembre - é certo que não podemos nunca mais esquecer da importância dos meios de produção e as condições materiais da existência para o estudo de uma época, lição que grandes como Max Weber, Karl Mannhein, Benedetto Croce e tantos outros não-marxistas souberam receber. Da mesma forma procederam muitos marxistas declarados, capazes de ler e reler os trabalhos de Marx, rejeitando sem medo aquilo que já não serve ou nunca serviu e acolhendo o que deve e pode ser acolhido: é o caso de um Benjamin, de um Labriola, de um E.P. Thompson ou de um Hobsbawm, para quem A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra era nada menos que "um marco na história do capitalismo" e "uma obra-prima". E não é de outra maneira que devemos saudá-lo hoje: como um grande livro de historiador, um relato pulsante de um momento decisivo e uma denúncia que, passado século e meio, permanece atual e interessante. Temos, assim, o privilégio de ler um documento escrito por alguém que não só viveu aquela época como trabalhou para mudá-la radicalmente. E, no fim das contas, foi o que este jovem rico, culto e de boa aparência conseguiu: mudar radicalmente o mundo. Mesmo que não da maneira como chegou a imaginar.
Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 25/12/2012
(Dig. Cultural)
Celso A. Uequed Pitol
O jovem alemão Friedrich Engels estava com a vida feita. Rico, bem-nascido numa das mais prósperas famílias de Bremen, cultíssimo - já na adolescência havia escrito vários poemas e aprendido idiomas estrangeiros - e de boa aparência, foi designado pelo pai para cuidar dos negócios da família em Manchester, na Inglaterra. Não era pouco: Manchester era o maior centro industrial do mundo, a cidade das chaminés e das máquinas que abastecia os quatro cantos do planeta de tecidos, produtos químicos, trilhos de trem e muito mais. Abrir um escritório naquela cidade representava, na época, mais ou menos o mesmo que, hoje, abrir um em Nova York, Los Angeles ou Chicago. Era, enfim, o tipo de emprego que qualquer pai zeloso gostaria de dar para o filhão. E para lá se foi o jovem Engels, armado com algumas garrafas de vinho do Porto, várias cartas das namoradas, seus melhores ternos e, é claro, livros - muitos livros. Obras de Hegel, Feuerbach, Bruno Bauer, Max Stirner e de muitos outros grandes nomes da maior glória que sua pátria fragmentada e instável podia ostentar naqueles tempos: a filosofia alemã.
E não qualquer filosofia. Uma filosofia crítica, crente no poder da razão humana, pronta para sair das modorrentas páginas dos compêndios, agarrar o leitor pelo pescoço e convencê-lo, às sacudidas, de que ficar ali parado não ajudava nada a mudar um mundo cuja principal característica era a contínua transformação, o contínuo devir, a contínua e incessante luta de opostos. Era preciso participar. E o século XIX, época da Revolução Industrial, do progresso técnico sem limites, do aumento desmedido de riquezas, oferecia uma oportunidade ímpar para um jovem como ele tomar parte do comboio da História. Engels e seus amigos - entre os quais contava um judeu irritadiço chamado Karl Marx - logo perceberam que o progresso gerava uma imensa massa de despossuídos como nunca a humanidade havia visto . Descobrir qual o papel dessa massa dentro da História tornou-se logo uma das principais preocupações de jovens como ele. Assim sendo, ir a Manchester, o coração do capitalismo do século XIX, tinha um sentido todo especial para ele - tanto quanto para seu pai. Só que o velho não desconfiava que o garotão Friedrich, por trás dos belos ternos, do sorriso fácil e encantador, dos bons modos de gentleman e do ar um tanto dândi, escondia dentro de si um socialista revolucionário.
Foi assim que Engels chegou a Manchester em 1842. Estava interessado tanto nas condições que levaram a Inglaterra à dianteira do mundo capitalista quanto no destino que este mundo deixava para a classe trabalhadora, assunto de primeira ordem no seu círculo intelectual. Mas falar do povo pobre era uma coisa. Outra bem diferente era vê-los ao vivo. E não deve ter sido agradável a experiência do menino bem alimentado ao ver in loco aquela gente maltrapilha, homens, mulheres e crianças sujos de graxa e pó, magros, de olhos afundados e pele ressecada pelo frio e pela desnutrição perambulando pelas ruas dos distritos mais pobres das cidades. Na sua Alemanha natal, bem menos industrializada, o pobre vivia no campo, frequentemente em casinhas estilo enxaimel, cercada por agradáveis jardins e uma pequena horta de onde a família tirava a sua alimentação básica. O lavrador alemão - assim como o artesão, o carpinteiro e o tecelão - trabalhava e via o resultado do seu trabalho em suas mãos, ou, no máximo, nas mãos do patrão. Lá viviam, sim, alguns operários pobres, que Engels havia visto de longe em uma ou outra visita à fábrica do pai. Mas nada comparável àquele povo extenuado, abrutalhado pelas 14 horas diárias de trabalho ininterrupto que ele via na avançadíssima Inglaterra. E o pior é que não podia fazer muito por eles, já que estas pessoas eram nada menos do que os seus empregados - ou seja, por mais pesada que fosse a sua consciência, era preciso tocar a firma e, para tocar a firma, ele precisava deles. O fraco estômago do bem-nascido jovem da Renânia tinha de aguentar aquelas barbaridades durante o dia de trabalho. Mas só durante o dia. Quando o expediente acabava, Engels tomava uma charrete para sua casa num bairro rico de Manchester, sentava à escrivaninha, molhava a pena na tinta e começava a escrever, indignado, aquilo que viria a ser o seu primeiro livro: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, publicado no Brasil pela editora Boitempo.
Não foi uma tarefa fácil. Apesar do ardor de jovem rico e sensível que via a pobreza extrema pela primeira vez - algo facilmente perceptível pelo tom indignado que Engels emprega na maior parte do texto -, a confecção do livro exigiu dele um pouco mais do que o senso de justiça, a arguta observação empírica e a retórica de grande escritor. Em sua escrivaninha, ao lado do tinteiro e da pena, pousavam dezenas de relatórios de inspetores de fábricas, denúncias de instituições de caridade, recortes de reportagens de jornais ingleses, anuários estatísticos e trabalhos de pesquisa social então incipientes, porém muito úteis como fonte de pesquisa. É bem provável que Engels fosse, naquela altura, o dono da mais rica documentação sobre a exploração dos trabalhadores ingleses de toda a Grã-Bretanha, complementada pelas suas próprias observações pessoais sobre o estado dos bairros proletários das principais cidades do país. E dessas observações A situação da classes trabalhadoras na Inglaterra está cheio. Em nenhum outro momento as qualidades de Engels como escritor e jornalista aparecem tão claramente como quando ele fala das cidades e das paisagens rurais inglesas:
"A área lanígera do West Riding, no Yorkshire, é encantadora: uma sucessão de verdes colinas, cujas elevações se tornam mais e mais abruptas na direção oeste até culminarem na crista escarpada de Blackstone Edge, divisória entre o mar da Irlanda e o mar do Norte. O vale do Aire, onde se situa Leeds, e o do Calder, percorrido pela ferrovia Manchester-Leeds, contam-se entre os mais sugestivos da Inglaterra, semeados por fábricas, vilas e cidades; as casas cinzentas de pedra, limpas e atraentes, comparadas às construções de tijolos cobertos de fuligem do Lancashire, são graciosas à vista. "
Este é um momento especialmente agradável do livro. Engels gentilmente convida o leitor para viajar pela Merry Old England de céu cinzento e terra verdejante, conhecer suas metrópoles e suas cidadezinhas, passear pelas suas ruas principais e, quando quase nos sentimos capazes de respirar o agradável ar dos parques e das praças, ele nos devolve à terra com apontamentos indignados sobre a miséria dos bairros pobres, a desnutrição, as mortes pela fome e as vidas gastas diante das máquinas. Quando chega a hora de descrever as condições de vida dos trabalhadores, Engels dá, na maior parte das vezes, voz aos jornais, revistas e relatórios. Quando fala do que viu nas fábricas em suas andanças pela Inglaterra, não consegue conter a revolta interior e proclama, em altos brados, "que deverá explodir uma revolução diante da qual a primeira Revolução Francesa e 1794 serão uma brincadeira de crianças".
Não deixa de ser curioso. Engels viveu o suficiente para ver aquele país então francamente revolucionário de 1842 transformar-se no povo mais pequeno-burguês do planeta, preferindo os confortos do capitalismo moderado às refulgentes palavras dos socialistas revolucionários - que, por sinal, usufruíam e ainda usufruem de boa parte destes confortos. Na introdução da obra ele aponta que, antes da Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses "ganhavam para suprir suas necessidades e dispunham de tempo para um trabalho sadio no seu jardim ou em seu campo, trabalho que para eles era uma forma de descanso; e podiam, ainda, com seus vizinhos, participar de passatempos e distrações". O progresso roubou-lhes tudo isso. Ora, o que eles queriam era, apenas, voltar a ter essa vida - com alguns reparos, alguns ganhos advindos do desenvolvimento tecnológico, algumas facilidades urbanas, mas, essencialmente, essa vida - que é a que têm hoje, passado século e meio de discursos, palanques, reuniões canceladas pela polícia, prisões de seus líderes e a conclusão, com a chegada do líder operário James Keir Hardie ao parlamento, no fim do século XIX, de que era melhor deixar essa coisa de revolução de lado e garantir o dinheiro do pint de cerveja e dos ingressos para os jogos do Liverpool e do Manchester United. Os operários ingleses, que Engels e depois seu amigo Marx tanto louvariam e enxergariam como células das revoluções do porvir, seriam os primeiros a renegarem definitivamente o marxismo.
Não podemos culpá-los. O marxismo - que é o que Engels defende, mesmo sem, à época, ter tido maiores encontros com Karl Marx - tem pressupostos pelo menos duvidosos e promete um resultado nada animador. Afirma que todas as criações do espírito humano são decorrência direta ou indireta da estrutura econômica da sociedade em que vivem e que a consciência humana é, direta ou indiretamente, produto dessa mesma estrutura, dando pouco espaço para bobagens pequeno-burguesas como gênio individual ou livre-iniciativa. Por outro lado, promete um futuro de ditadura , em que os soi-disant proletários tomarão as rédeas dos destinos da Humanidade. Não faltam bons motivos para os trabalhadores preferirem o jogo do seu time preferido à ditadura do proletariado, assim como não faltam bons motivos para os intelectuais não levarem as palavras de Marx e Engels a sério. Pouco adiantaram os avisos de um Lúkacs, que, preocupado com as generalizações que via os críticos do marxismo fazerem, diferenciava esta forma de marxismo, que ele chamava de "vulgar", do verdadeiro marxismo ortodoxo, que nada tinha de determinista e mecânico como seus críticos queriam fazer crer: já em 1940, Edmund Wilson mandava essa diferenciação às favas ao dizer, secamente, que todo marxismo é vulgar. E não é difícil concordar com ele. Por mais que Lukács diga que a estrutura econômica não é o que determina diretamente as criações do espírito, o fato é que os seus próprios ensaios sobre literatura dão verdadeiras aulas de economia e vinculam tanto a obra quanto a biografia do escritor às circunstâncias de época. Por mais que um Nelson Werneck Sodré concorde com Lúkacs, ele escreveu uma História da Literatura Brasileira onde o leitor aprende, com detalhes, os números da importação de escravos para a Bahia e não lemos um só poema de Gregório de Matos Guerra. Por mais que todos eles pensem que o marxismo é muito mais aberto e refinado do que o mau entendedor pensa, que não é bem assim essa história de determinismo econômico, que isso não passa de manobra dos pensadores burgueses (como se o termo "pensadores burgueses" já não fosse interpretação mecânica a partir da economia...), a grande verdade é que a base econômica, em última instância, acaba sempre por preponderar no desenvolvimento político, jurídico, filosófico, religioso e literário, mesmo que estes reajam sobre aquela e vice-versa. E isto foi dito por ninguém menos do que o próprio Engels, numa carta escrita - vejam só - para refutar a idéia de que o materialismo histórico era determinista.
A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra traz em germe esta ideia central do marxismo. Para Engels, tudo o que os operários - e os burgueses - pensam e a maneira como agem decorre única e exclusivamente da situação social em que se encontram. Isto é discutível? Provavelmente. Mas discutamos, então: qual a melhor maneira para analisar corretamente aquela época? Não parece claro que, quando se trata da classe dos totalmente despossuídos, dos semi-escravizados, dos que têm de contar os últimos pence para comprar pão preto para a família esfomeada, as condições econômicas são a causa prepoderante do seu comportamento? E que tudo o que eles falem, pensem e façam deriva, direta ou indiretamente, de uma situação-limite onde o lado econômico prepondera? E mais: que, quando uma sociedade, como a da Inglaterra de 1842, é claramente constituída de duas classes com interesses diametralmente diferentes, estamos falando de uma luta de classes de fato? Difícil contradizer. Pois, por tudo de mau que temos para dizer do marxismo - e não só dele, é bom que se lembre - é certo que não podemos nunca mais esquecer da importância dos meios de produção e as condições materiais da existência para o estudo de uma época, lição que grandes como Max Weber, Karl Mannhein, Benedetto Croce e tantos outros não-marxistas souberam receber. Da mesma forma procederam muitos marxistas declarados, capazes de ler e reler os trabalhos de Marx, rejeitando sem medo aquilo que já não serve ou nunca serviu e acolhendo o que deve e pode ser acolhido: é o caso de um Benjamin, de um Labriola, de um E.P. Thompson ou de um Hobsbawm, para quem A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra era nada menos que "um marco na história do capitalismo" e "uma obra-prima". E não é de outra maneira que devemos saudá-lo hoje: como um grande livro de historiador, um relato pulsante de um momento decisivo e uma denúncia que, passado século e meio, permanece atual e interessante. Temos, assim, o privilégio de ler um documento escrito por alguém que não só viveu aquela época como trabalhou para mudá-la radicalmente. E, no fim das contas, foi o que este jovem rico, culto e de boa aparência conseguiu: mudar radicalmente o mundo. Mesmo que não da maneira como chegou a imaginar.
Celso A. Uequed Pitol
Canoas, 25/12/2012
(Dig. Cultural)
Venezuela
Hugo Chávez: e Cuba?
Eric Nepomuceno - Carta Maior
A cada dia que passa aportam em Cuba cem mil barris de petróleo venezuelano. Chegam a preços favorecidos. Se fosse recorrer ao mercado, o estado cubano não teria como pagar esses cem mil barris vitais. Ou até que teria, mas boa parte dos parcos recursos país sucumbiria. É disso que se trata.
Como se fosse pouco, a Venezuela é uma das mais generosas fontes de ingressos para Cuba. Faz décadas que a ilha obtém divisas em quantidades essenciais com a venda de serviços profissionais ao exterior.
Esse é, aliás, o segmento que mais recursos propicia a Cuba: no ano passado, foram seis bilhões de dólares, o triplo do turismo (dois bilhões) e cinco vezes mais que as exportações de níquel (um bilhão e duzentos milhões).
Em todo o mundo, o país que mais gera recursos pagando por serviços profissionais a Cuba é a Venezuela. Existem pelo menos 40 mil profissionais cubanos, todos altamente especializados, trabalhando no país presidido por Hugo Chávez.
São, em sua maioria, médicos. Mas também há assistentes sociais, engenheiros, psicólogos e profissionais de várias outras áreas trabalhando principalmente nas chamadas missões sociais, gigantescos mutirões dedicados a construir e equipar bairros populares, destinados à população carente. Somente em 2012 funcionaram 47 projetos conjuntos entre os dois países, que vão de educação a esporte, de agricultura a saúde. Isso, para não mencionar empresas binacionais e uma vasta gama de assessoria em gestão, segurança pública e instrução militar que Cuba presta aos venezuelanos.
Por essas e por outras, a presença da Venezuela e sua revolução bolivariana é de importância imensa para Cuba, que passa por uma etapa de transformações significativas em sua economia, com reflexos óbvios em seu cotidiano.
Para trás ficaram os tempos de agrura provocados pelo fim abrupto da antiga União Soviética, quando da noite para o dia a ilha perdeu 85% de seu comércio exterior e a economia entrou em colapso. Depois de terem alcançado um estágio de relativa bonança ao longo dos anos 80, de forma igualitária e estável, os cubanos viram como em apenas três anos – entre 1990 e 1993 – o PIB do país despencou quase 40%.
A vida cotidiana virou um tormento, com apagões diários que em alguns bairros de Havana duravam até 16 horas, e o país praticamente ficou sem transporte. Um tempo de sacrifício e resistência árdua, marcado para sempre na memória de gerações.
O cenário, hoje, é certamente diferente. Ao longo dos últimos seis anos foram implantadas reformas que estão significando um forte estímulo à produção, enquanto a economia cresce a taxas sólidas. Mas ainda assim há problemas sérios.
A ilha continua dependendo da importação de alimentos, e a demanda, que afeta a tudo que é tipo de produtos e serviços, é muito superior à oferta nacional. Há um evidente hiato nessa etapa de transição, e todos em Cuba – tanto no governo como nas ruas – têm plena consciência de que esse processo será lento. Tentar apressá-lo seria pôr tudo em risco.
Pois bem: nesse quadro, uma eventual interrupção da cooperação venezuelana teria consequências funestas em Cuba. Não seria, é verdade, como o colapso da primeira metade dos anos 90. Mas ainda assim, o peso da falta seria tremendo, e se faria sentir de maneira contundente.
Os cubanos sabem disso. Os venezuelanos sabem disso. Os opositores dos dois governos não apenas sabem, como já traçam projeções do que acontecerá caso a cooperação seja suspensa, e não parecem exatamente preocupados com as consequências. Que, aliás, seriam sentidas fortemente nos dois países.
Na Venezuela, porque, entre outras coisas, a saúde pública entraria em pane, e essa é uma das conquistas mais valorizadas pelos milhões de venezuelanos beneficiados pelo governo. Em Cuba, pelo corte abrupto do petróleo e de todo o resto.
Nicolás Maduro, indicado por Chávez para sucedê-lo, conta com a confiança de Fidel e Raúl Castro. Aliás, esse foi um dos pontos que pesaram a seu favor no momento da escolha para a difícil, muito difícil tarefa de suceder o condutor do processo bolivariano na Venezuela.
Na eventualidade de uma nova eleição, caso Hugo Chávez não possa assumir seu quarto mandato consecutivo, Maduro é o candidato favorito. Ele certamente manterá os acordos entre seu país e Cuba. Será, porém, um desafio a mais: a oposição terá mais força, e seu principal dirigente, Henrique Capriles, o mesmo que Chávez derrotou com folga em outubro passado, já deixou mais do que claro que se opõe terminantemente à ideia de continuar beneficiando a ilha.
Não há dúvida que, aconteça o que acontecer com Chávez, e isso vale inclusive para a possibilidade de um afastamento definitivo, as linhas básicas e centrais da revolução bolivariana serão preservadas. Mesmo sem ele, o chavismo continuará determinando o processo político venezuelano por muitos anos. Mas alguns de seus aspectos – e a forte ajuda que o país presta principalmente a Cuba, mas também a outros governos da região – com certeza passarão a ser alvo preferencial da oposição. Impedidos de acabar os programas sociais que beneficiam milhões de venezuelanos (a reação popular seria de dimensões impensáveis), os que se opõem a Chávez e seu governo irão buscar brechas para despejar sua artilharia.
A solidariedade internacional será um dos ímãs para seus ataques. Todos sabem disso – a começar, claro, pelos cubanos. E, com razão, estão preocupados.
Postado por Carmen Figueiredo às 11:11
(Um olhar postado p o mundo)
Eric Nepomuceno - Carta Maior
A cada dia que passa aportam em Cuba cem mil barris de petróleo venezuelano. Chegam a preços favorecidos. Se fosse recorrer ao mercado, o estado cubano não teria como pagar esses cem mil barris vitais. Ou até que teria, mas boa parte dos parcos recursos país sucumbiria. É disso que se trata.
Como se fosse pouco, a Venezuela é uma das mais generosas fontes de ingressos para Cuba. Faz décadas que a ilha obtém divisas em quantidades essenciais com a venda de serviços profissionais ao exterior.
Esse é, aliás, o segmento que mais recursos propicia a Cuba: no ano passado, foram seis bilhões de dólares, o triplo do turismo (dois bilhões) e cinco vezes mais que as exportações de níquel (um bilhão e duzentos milhões).
Em todo o mundo, o país que mais gera recursos pagando por serviços profissionais a Cuba é a Venezuela. Existem pelo menos 40 mil profissionais cubanos, todos altamente especializados, trabalhando no país presidido por Hugo Chávez.
São, em sua maioria, médicos. Mas também há assistentes sociais, engenheiros, psicólogos e profissionais de várias outras áreas trabalhando principalmente nas chamadas missões sociais, gigantescos mutirões dedicados a construir e equipar bairros populares, destinados à população carente. Somente em 2012 funcionaram 47 projetos conjuntos entre os dois países, que vão de educação a esporte, de agricultura a saúde. Isso, para não mencionar empresas binacionais e uma vasta gama de assessoria em gestão, segurança pública e instrução militar que Cuba presta aos venezuelanos.
Por essas e por outras, a presença da Venezuela e sua revolução bolivariana é de importância imensa para Cuba, que passa por uma etapa de transformações significativas em sua economia, com reflexos óbvios em seu cotidiano.
Para trás ficaram os tempos de agrura provocados pelo fim abrupto da antiga União Soviética, quando da noite para o dia a ilha perdeu 85% de seu comércio exterior e a economia entrou em colapso. Depois de terem alcançado um estágio de relativa bonança ao longo dos anos 80, de forma igualitária e estável, os cubanos viram como em apenas três anos – entre 1990 e 1993 – o PIB do país despencou quase 40%.
A vida cotidiana virou um tormento, com apagões diários que em alguns bairros de Havana duravam até 16 horas, e o país praticamente ficou sem transporte. Um tempo de sacrifício e resistência árdua, marcado para sempre na memória de gerações.
O cenário, hoje, é certamente diferente. Ao longo dos últimos seis anos foram implantadas reformas que estão significando um forte estímulo à produção, enquanto a economia cresce a taxas sólidas. Mas ainda assim há problemas sérios.
A ilha continua dependendo da importação de alimentos, e a demanda, que afeta a tudo que é tipo de produtos e serviços, é muito superior à oferta nacional. Há um evidente hiato nessa etapa de transição, e todos em Cuba – tanto no governo como nas ruas – têm plena consciência de que esse processo será lento. Tentar apressá-lo seria pôr tudo em risco.
Pois bem: nesse quadro, uma eventual interrupção da cooperação venezuelana teria consequências funestas em Cuba. Não seria, é verdade, como o colapso da primeira metade dos anos 90. Mas ainda assim, o peso da falta seria tremendo, e se faria sentir de maneira contundente.
Os cubanos sabem disso. Os venezuelanos sabem disso. Os opositores dos dois governos não apenas sabem, como já traçam projeções do que acontecerá caso a cooperação seja suspensa, e não parecem exatamente preocupados com as consequências. Que, aliás, seriam sentidas fortemente nos dois países.
Na Venezuela, porque, entre outras coisas, a saúde pública entraria em pane, e essa é uma das conquistas mais valorizadas pelos milhões de venezuelanos beneficiados pelo governo. Em Cuba, pelo corte abrupto do petróleo e de todo o resto.
Nicolás Maduro, indicado por Chávez para sucedê-lo, conta com a confiança de Fidel e Raúl Castro. Aliás, esse foi um dos pontos que pesaram a seu favor no momento da escolha para a difícil, muito difícil tarefa de suceder o condutor do processo bolivariano na Venezuela.
Na eventualidade de uma nova eleição, caso Hugo Chávez não possa assumir seu quarto mandato consecutivo, Maduro é o candidato favorito. Ele certamente manterá os acordos entre seu país e Cuba. Será, porém, um desafio a mais: a oposição terá mais força, e seu principal dirigente, Henrique Capriles, o mesmo que Chávez derrotou com folga em outubro passado, já deixou mais do que claro que se opõe terminantemente à ideia de continuar beneficiando a ilha.
Não há dúvida que, aconteça o que acontecer com Chávez, e isso vale inclusive para a possibilidade de um afastamento definitivo, as linhas básicas e centrais da revolução bolivariana serão preservadas. Mesmo sem ele, o chavismo continuará determinando o processo político venezuelano por muitos anos. Mas alguns de seus aspectos – e a forte ajuda que o país presta principalmente a Cuba, mas também a outros governos da região – com certeza passarão a ser alvo preferencial da oposição. Impedidos de acabar os programas sociais que beneficiam milhões de venezuelanos (a reação popular seria de dimensões impensáveis), os que se opõem a Chávez e seu governo irão buscar brechas para despejar sua artilharia.
A solidariedade internacional será um dos ímãs para seus ataques. Todos sabem disso – a começar, claro, pelos cubanos. E, com razão, estão preocupados.
Postado por Carmen Figueiredo às 11:11
(Um olhar postado p o mundo)
domingo, 30 de dezembro de 2012
Copa
Mascote da Copa, tatu-bola poderá ser extinto em 50 anos
Mascote da Copa do Mundo de 2014 classificado como espécie “vulnerável” em uma tabela internacional de animais em risco de extinção, o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) será rebaixado para a categoria “em perigo de extinção”, um nível mais próximo da extinção.
A mudança de status do tatu-bola deverá ser anunciada no início do ano que vem, quando o governo brasileiro fará uma atualização da situação de espécies brasileiras na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o tatu-bola foi uma das 1.818 espécies brasileiras analisadas em levantamento concluído em outubro deste ano. A mudança de status do animal aguarda a aprovação do Ministério do Meio Ambiente.
De acordo com a escala usada pela IUCN, o risco de extinção do mamífero, que já era considerado “alto”, passa a ser considerado “muito alto”. A vice-presidente do grupo de pesquisa sobre Xenartros (tatus, tamanduás e preguiças) da IUCN, a brasileira Flávia Miranda, que participou do levantamento do ICMBio, disse à Agência Brasil que a espécie perdeu mais de 50% de seu habitat nos últimos dez anos.
“Na última avaliação do Brasil, esse status caiu. A situação ficou bem mais crítica. Conseguimos sentar com alguns pesquisadores do Nordeste e vimos que está havendo declínio populacional”, disse Flávia.
Organização não-governamental responsável pela campanha em prol da escolha do tatu-bola como mascote da Copa do Mundo de 2014, a Associação Caatinga diz que a espécie é muito sensível à destruição de seu habitat - a caatinga e o cerrado brasileiros - e só consegue sobreviver em ambientes bem conservados.
“É uma espécie que sente as alterações no ambiente. Se há desmatamento, queimada, expansão urbana ou de novas áreas de agricultura, ele desaparece, porque não suporta alterações ambientais", explica o secretário-executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro.
Segundo ele, o tatu-bola está em perigo e, se nada for feito de imediato em termos de preservação, a espécie poderá ser extinta em até 50 anos. Castro lembra que o mamífero também sofre ameaça de caçadores, embora a caça venha diminuindo com o passar do tempo, já tem sido mais difícil encontrar a espécie na natureza.
Com a escolha do animal como mascote da Copa de 2014, Castro acredita que os olhos do mundo se voltarão para a espécie e sua situação de ameaça poderá ser revertida. “A Associação Caatinga se aliou à IUCN, em junho deste ano, e construiu um projeto de conservação do tatu-bola, que pretende, em dez anos, reduzir o status de ameça dentro da lista vermelha”, disse.
Além de ações voltadas para a pesquisa, a conservação das áreas onde há tatus-bola e a educação ambiental, pretende-se usar eventos e jogos da Copa do Mundo para divulgar a espécie. “Estamos buscando parceria com a Fifa [Federação Internacional de Futebol, que realiza o mundial], com patrocinadores do evento e outras entidades preocupadas com questões ambientais”, disse.
Apesar disso, de acordo com o coordenador-geral de Manejo para a Conservação ICMBio, Ugo Vercillo, o tatu-bola não receberá nenhum tratamento especial do governo brasileiro por ter sido escolhido mascote da Copa de 2014. “Não existe nenhuma mudança do nosso planejamento em virtude da espécie ser mascote da Copa do Mundo. Está previsto, no próximo ano, elaborarmos o Plano de Ação dos Xenartros, que incluirá o tatu-bola”, informou por e-mail.
Fonte: Agência Brasil
Mascote da Copa do Mundo de 2014 classificado como espécie “vulnerável” em uma tabela internacional de animais em risco de extinção, o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) será rebaixado para a categoria “em perigo de extinção”, um nível mais próximo da extinção.
A mudança de status do tatu-bola deverá ser anunciada no início do ano que vem, quando o governo brasileiro fará uma atualização da situação de espécies brasileiras na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o tatu-bola foi uma das 1.818 espécies brasileiras analisadas em levantamento concluído em outubro deste ano. A mudança de status do animal aguarda a aprovação do Ministério do Meio Ambiente.
De acordo com a escala usada pela IUCN, o risco de extinção do mamífero, que já era considerado “alto”, passa a ser considerado “muito alto”. A vice-presidente do grupo de pesquisa sobre Xenartros (tatus, tamanduás e preguiças) da IUCN, a brasileira Flávia Miranda, que participou do levantamento do ICMBio, disse à Agência Brasil que a espécie perdeu mais de 50% de seu habitat nos últimos dez anos.
“Na última avaliação do Brasil, esse status caiu. A situação ficou bem mais crítica. Conseguimos sentar com alguns pesquisadores do Nordeste e vimos que está havendo declínio populacional”, disse Flávia.
Organização não-governamental responsável pela campanha em prol da escolha do tatu-bola como mascote da Copa do Mundo de 2014, a Associação Caatinga diz que a espécie é muito sensível à destruição de seu habitat - a caatinga e o cerrado brasileiros - e só consegue sobreviver em ambientes bem conservados.
“É uma espécie que sente as alterações no ambiente. Se há desmatamento, queimada, expansão urbana ou de novas áreas de agricultura, ele desaparece, porque não suporta alterações ambientais", explica o secretário-executivo da Associação Caatinga, Rodrigo Castro.
Segundo ele, o tatu-bola está em perigo e, se nada for feito de imediato em termos de preservação, a espécie poderá ser extinta em até 50 anos. Castro lembra que o mamífero também sofre ameaça de caçadores, embora a caça venha diminuindo com o passar do tempo, já tem sido mais difícil encontrar a espécie na natureza.
Com a escolha do animal como mascote da Copa de 2014, Castro acredita que os olhos do mundo se voltarão para a espécie e sua situação de ameaça poderá ser revertida. “A Associação Caatinga se aliou à IUCN, em junho deste ano, e construiu um projeto de conservação do tatu-bola, que pretende, em dez anos, reduzir o status de ameça dentro da lista vermelha”, disse.
Além de ações voltadas para a pesquisa, a conservação das áreas onde há tatus-bola e a educação ambiental, pretende-se usar eventos e jogos da Copa do Mundo para divulgar a espécie. “Estamos buscando parceria com a Fifa [Federação Internacional de Futebol, que realiza o mundial], com patrocinadores do evento e outras entidades preocupadas com questões ambientais”, disse.
Apesar disso, de acordo com o coordenador-geral de Manejo para a Conservação ICMBio, Ugo Vercillo, o tatu-bola não receberá nenhum tratamento especial do governo brasileiro por ter sido escolhido mascote da Copa de 2014. “Não existe nenhuma mudança do nosso planejamento em virtude da espécie ser mascote da Copa do Mundo. Está previsto, no próximo ano, elaborarmos o Plano de Ação dos Xenartros, que incluirá o tatu-bola”, informou por e-mail.
Fonte: Agência Brasil
Arte
Banksy: arte de guerrilha, segredos e animais
publicado em artes e ideias por priscilla santos
É fatal que o homem conhecido como Banksy seja o maior artista de rua dos nossos tempos. O alcance global do conteúdo de suas obras, aliados à uma certa onipresença e a ousadia na escolha dos lugares a serem interferidos (a Disneylandia ou os pingüins do Zoológico de Londres) fizeram de seus stenciles imediatamente reconhecíveis pelo grande público mas, a despeito disso, seu nome verdadeiro, ano de nascimento e cidade natal permanecem um mistério.
No último janeiro, uma parede grafitada por ele fora vendida a 400 mil dólares e, meses depois, duas peças menores seriam avaliadas em 50 mil libras cada uma e postas em leilão junto com fotografias do Elthon John e Faye Danaway; desde o ano passado, pedaços de rua grafitados têm sido arrancados e vendidos no e-Bay a 20 mil libras. Tanto furor tem a ver com a crescente atenção e importância que as intervenções urbanas vêm ganharam nos grandes e médios centros urbanos de todo mundo depois de saírem da esfera da pichação pura – uma concorrência entre grupos e indivíduos pichadores cujo objetivo é, essencialmente, elevarem seus nome e assinaturas através do vandalismo mais arriscado. As intervenções urbanas são agora parte da chamada arte contemporânea pelo refinamento dos objetivos, referências das gravuras e complexidade das mesmas; são instalações artísticas à céu aberto que hoje dialogam com o aspecto do pixe (nada de tintas nobres, técnicas acadêmicas ou amenidades) e com as grandes galerias de arte.
Banksy é um dos cabeças-de-chave desse movimento que têm levado as ruas para dentro dos museus e a arte para transeuntes. Suas gravuras possuem um claro conteúdo político, rebelde, que se derrama em sarcasmos tão violentos quanto sutis: o soldado sendo revistado pela menininha, o guerrilheiro que joga um buquê de flores ao invés de uma bomba, a empregada varrendo a sujeira para dentro da parede, os dois assassinos de Pulp Fiction portando bananas ao invés de armas, ou portando armas, mas vestidos de bananas. São protestos que podem ser compreendidos e sentidos do mesmo modo por londrinos e colombianos, Banksy mexe com a cultura de massa, com os produtos e a miséria nossa de cada dia e depois embala tudo com tinta preta e referências à artistas contemporâneos como a fotógrafa norte-americana Diane Arbus ou o pop-artist Andy Warhol.
A genialidade do artista está lançada agora na Village Pet Store And Charcoal Grill, uma bizarra loja de animais animatrônicos (uma categoria de robôs originalmente criada pelos estúdios Disney) onde as grandes atrações são salsichas feito minhocas, câmeras de segurança, um chipanzé que assiste pornografia na Discovery Chanel e uma fazendola de McNuggets. A loja, na 7th Avenue ficou totalmente aberta ao público, dia e noite, até o Halloween e suas novas exposições são ainda desconhecidas mas, para se ter o gosto de toda obra de Banksy, basta rolar esta página e acompanhar Banksy em imagens e vídeos.
Sobre a autora: priscilla santos é adoradora de cervejas e colabora com o obvious. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/11/banksy_arte_de_guerrilha_segredos_e_animais.html#ixzz2GBrzi0Sl
publicado em artes e ideias por priscilla santos
É fatal que o homem conhecido como Banksy seja o maior artista de rua dos nossos tempos. O alcance global do conteúdo de suas obras, aliados à uma certa onipresença e a ousadia na escolha dos lugares a serem interferidos (a Disneylandia ou os pingüins do Zoológico de Londres) fizeram de seus stenciles imediatamente reconhecíveis pelo grande público mas, a despeito disso, seu nome verdadeiro, ano de nascimento e cidade natal permanecem um mistério.
No último janeiro, uma parede grafitada por ele fora vendida a 400 mil dólares e, meses depois, duas peças menores seriam avaliadas em 50 mil libras cada uma e postas em leilão junto com fotografias do Elthon John e Faye Danaway; desde o ano passado, pedaços de rua grafitados têm sido arrancados e vendidos no e-Bay a 20 mil libras. Tanto furor tem a ver com a crescente atenção e importância que as intervenções urbanas vêm ganharam nos grandes e médios centros urbanos de todo mundo depois de saírem da esfera da pichação pura – uma concorrência entre grupos e indivíduos pichadores cujo objetivo é, essencialmente, elevarem seus nome e assinaturas através do vandalismo mais arriscado. As intervenções urbanas são agora parte da chamada arte contemporânea pelo refinamento dos objetivos, referências das gravuras e complexidade das mesmas; são instalações artísticas à céu aberto que hoje dialogam com o aspecto do pixe (nada de tintas nobres, técnicas acadêmicas ou amenidades) e com as grandes galerias de arte.
Banksy é um dos cabeças-de-chave desse movimento que têm levado as ruas para dentro dos museus e a arte para transeuntes. Suas gravuras possuem um claro conteúdo político, rebelde, que se derrama em sarcasmos tão violentos quanto sutis: o soldado sendo revistado pela menininha, o guerrilheiro que joga um buquê de flores ao invés de uma bomba, a empregada varrendo a sujeira para dentro da parede, os dois assassinos de Pulp Fiction portando bananas ao invés de armas, ou portando armas, mas vestidos de bananas. São protestos que podem ser compreendidos e sentidos do mesmo modo por londrinos e colombianos, Banksy mexe com a cultura de massa, com os produtos e a miséria nossa de cada dia e depois embala tudo com tinta preta e referências à artistas contemporâneos como a fotógrafa norte-americana Diane Arbus ou o pop-artist Andy Warhol.
A genialidade do artista está lançada agora na Village Pet Store And Charcoal Grill, uma bizarra loja de animais animatrônicos (uma categoria de robôs originalmente criada pelos estúdios Disney) onde as grandes atrações são salsichas feito minhocas, câmeras de segurança, um chipanzé que assiste pornografia na Discovery Chanel e uma fazendola de McNuggets. A loja, na 7th Avenue ficou totalmente aberta ao público, dia e noite, até o Halloween e suas novas exposições são ainda desconhecidas mas, para se ter o gosto de toda obra de Banksy, basta rolar esta página e acompanhar Banksy em imagens e vídeos.
Sobre a autora: priscilla santos é adoradora de cervejas e colabora com o obvious. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/11/banksy_arte_de_guerrilha_segredos_e_animais.html#ixzz2GBrzi0Sl
Educação
Uma época de grandes brasileiros
A morte de Oscar Niemeyer nos leva a lembrar um dos episódios mais relevantes da história da luta por um Brasil melhor. Com as ideias de Anísio Teixeira, a genialidade de Darcy Ribeiro e Maria Yedda Linhares, sob a liderança de Leonel Brizola, criou-se, no início dos anos de 1980, no Rio de Janeiro, uma projeto emancipador de educação.
Francisco Carlos Teixeira
A morte de Oscar Niemeyer nos leva, para além das homenagens de praxe, a lembrar um dos episódios mais relevantes da nossa história presente e a sua participação na luta por um Brasil melhor. Com as ideias de Anísio Teixeira, a vontade e a genialidade de Darcy Ribeiro e Maria Yedda Linhares, sob o manto visionário de Leonel Brizola, criou-se, no início dos anos de 1980, no Rio de Janeiro, uma projeto emancipador de educação – bombardeado pela direita demófoba e ignorado pela esquerda. Eram os CIEPS, um expressão da doação de Niemeymer ao povo brasileiro!
A educação é uma meta política!
Anísio Teixeira
Coube a Anísio Teixeira a criação da Universidade do Distrito Federal/UDF, em 1935, a partir de um projeto de educação democrática, laica e igual para todos. O analfabetismo, e além disso, a ignorância da massa populacional brasileira – em face de uma elite que estudava em colégios religiosos de língua francesa – era visto, então como hoje, como a chave da reprodução das desigualdades sociais. Anísio Teixeira (1900-1971) buscou na criação da UDF uma ferramenta de “formação de professores” que deveria irradiar suas ações para todo o país e, daí, superar o entrave básico da miséria: a ignorância.
Era, ainda, uma “quase” resposta “nacional”, menos elitista, – ou getulista? – à criação da USP em 1934, que deveria reunir a elite paulista derrubada de décadas de controle social pelo getulismo em ascensão. Longe deste debate, para o “Dr. Anísio” tratava-se, com certeza, de um projeto político dotado de outro sentido, de uma meta emancipadora e popular: "Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra", insistia o “Doutor Anísio”. Na UDF estavam grandes intelectuais do país como Brochado da Rocha, Afrânio Peixoto, San Thiago Dantas, Afonso Pena Jr. E claro, seu idealizador, Anísio Teixeira. Uma missão francesa foi buscada para a instalação dos novos cursos com nomes do calibre de Francis Ruellan, Henry Hauser, Eugène Alberti e Jacques Perrot. Contudo, de forma bíblica, o criador e a criatura não se mostraram fiéis. Já em 1937 a UDF era fechada no bojo da repressão que se seguia a proclamação do Estado Novo e, em seu lugar, surgiria, em 1938, a Universidade do Brasil, conservadora e repleta de expoentes do estadonovismo de Vargas. Claro, que muitos dos espíritos livres, dos homens verdadeiramente de ideias, já não poderiam lá lecionar, entre eles o seu criador, Anísio Teixeira.
A educação emacipadora e seus inimigos
Maria Yedda, que começara seus estudos na UDF e acabaria indo para Columbia, para o Barnard College, onde participara de projetos populares de educação no âmbito do New Deal de F.D. Roosevelt, retornava ao Brasil e envolvia-se, na criaçãoda UNE, em várias propostas de educação popular. Lutou pela redemocratização do país participando ativamente da fundação da UNE, da qual foi sua primeira diretora do Departamento de Cultura. Em 1946, com o curso já completo de “História e Geografia”, seria chamada por Carlos Miguel Delgado de Carvalho (1884-1980) – um intelectual singular para criar a “cátedra” de História Contemporânea. Delgado de Carvalho pode ser, com justiça, considerado o fundador dos estudos contemporâneos no Rio de Janeiro e, creio, sem erro, de tais estudos no Brasil. Aí, na UB, retoma o projeto de Anísio Teixeira de uma educação emancipadora e popular, iniciando um largo combate contra o reacionarismo universitário que culminaria nas cassações de 1964 e 1969.
Enquanto a noviça USP dedicava-se, de forma aprofundada, sob a égide de professores como Alice Cannabrava e Eduardo França de Oliveira, aos estudos de História do Brasil, no Rio de Janeiro a tradição do IHGB e a presença obsedante e obliterante de Hélio Vianna impediam estudos realmente valiosos de História do Brasil [1]. Neste vácuo Delgado de Carvalho conseguiu implantar com sucesso, e de forma autônoma, a “cadeira” de História Moderna e Contemporânea [2]. Na UDF e na Universidade do Brasil, sua sucessora, a presença/ausência de Anísio Teixeira foi insuperável em razão dos objetivos e métodos que puderam, bem ou mal, sobreviver ao seu fundador.
A ideia da educação como a busca da justiça social seria, apesar de tudo, um marco da nova universidade em especial na “Filosofia”. Por isso, as metas da UDF, e depois da UB, seriam sempre a formação de professores. Como fazer uma revolução educacional, libertadora, capaz de acelerar a emancipação social, se não havia professores suficientes? Era necessário – e aqui ouvimos as palavras do “Doutor Anísio” formar professores e estes professores deveriam ter a consciência de sua missão emancipadora e superadora da desigualdade social. Essa será a missão da UDF e, quando extinta, a “tarefa” da Faculdade Nacional de Filosofia/FnFi. Missão e tragédia, posto que a formação de professores críticos, voltados para a emancipação social, será a razão maior para o desmonte brutal da FnFi pelo regime de 1964.
Da “escola-parque” aos CIEPS
Com o “Doutor” Anísio, como todos o chamavam, Maria Yedda e, mais tarde, Darcy Ribeiro – que vinha de outra tradição, a USP, onde conviveu com Claude Lévi-Strauss - voltaram-se intensamente para a questão da formação de professores e que iria marcar, como afirmamos, a docência na antiga FnFi. Ambos, Darcy e Yedda, voltaram ao projeto educativo do “Doutor Anísio”, amigo e conselheiro mais velho, o responsável pelo projeto emancipador da “Escola-Parque”, ainda em Salvador, e também o imenso programa de escolas públicas organizado no governo Pedro Ernesto no Distrito Federal, entre 1931-1936, no âmbito do “Movimento da Escola Nova”. Anos mais tarde, durante a redemocratização do Brasil (nos anos de 1980), Darcy e Maria Yedda assumiriam as responsabilidades pela Educação no Governo Leonel Brizola. Lançaram, então, o projeto de uma escola republicana, laica, obrigatória e de tempo integral para as crianças: os CIEPs. Na entrega à população do primeiro CIEP, após dias e noites – noites que passei em claro, cuidando de detalhes do prédio construído por Niemeyer – de intenso trabalho e críticas classistas de toda a imprensa, pude então ouvir Darcy ecoar, longe e perto, as ideias do “Doutor” Anísio: “Quanto mais pobre e carente sejam nossas crianças, mais ricos devem ser os instrumentos educacionais colocados ao seu alcance”. Praticávamos, então, a “Educação Emancipadora”.
A chance perdida
Neste mesmo dia um grande jornal carioca dizia em seu editorial: não
precisamos de escolas “faraônicas”, precisamos de mais presídios (sic)! Havia, então, uma crítica furibunda contra a arquitetura “ soviética” de Niemeyer, sobre os “gastos” faraônicos com “escolões”, desdenhando o fato de se gastar dinheiro – e tanto dinheiro! – com pobres. Niemeyer manteve-se incrivelmente sereno, lembrando Anísio Teixeira, e reafirmando, em voz baixa e segura: as crianças merecem tudo de bom!
O mais incrível do – falso! – debate era o fato de que a moderna, bela e digna arquitetura dos CIEPS não era cara: com seus blocos em concreto, pré-moldados, a construção era rápida e eficaz, modelada em uma planta única. A oposição residia, em verdade, em serem escolas para “pobres!”.
A grande contribuição de Anísio Teixeira, presente nos “escolões” de Brizola, foi, sem dúvida, a crença que ele implantou, de forma generosa, nos corações dos amigos e alunos: somente a educação, a educação para todos, vence e supera a desigualdade social. Tratava-se, de forma clara e inspirativa, pela vez primeira, de dar “voz” aqueles condenados, pela miséria e pela ignorância, à opressão. Esta era a natureza da Educação Emancipadora, como queria Anísio Teixeira. Assim, a formação de professores compromissados com a mudança, o projeto inicial da FnFi, e as grandes escolas públicas, das escolas de Pedro Ernesto até os CIEPs, foram pensadas como resposta para a questão da superação do subdesenvolvimento. A presença de Anísio Teixeira – que se estendera nos anos de 1950-1960 na CAPES, no INEP e na idealização da UnB - foi uma marca insuperável na formação da UDF, da FnFI e, por fim, no projeto dos CIEPs. Nem sua estranha morte apagou esta presença [3].
Eram tempos de luta e ali estavam, juntos, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro, Maria Yedda Linhares, Leonel Brizola e, pairando sobre todos, como um deus tutelar, Anísio Teixeira.
NOTAS
[1] Helio Vianna, filho de um comendador mineiro nascido em 1908 em Belo Horizonte, formou-se em Direito na antiga Faculdade Nacional de Direito, do Rio de Janeiro, mais tarde incorporada a UDF e Universidade do Brasil – e suas aulas e seu livro-texto guardaram sempre seu leguleio e apego ao formalismo, longe da heurística da História. Integrou-se, a convite de Plínio Salgado em 1931, na Ação Integralista Brasileira/AIB, onde era responsável pela versão integralista de textos e cursos de História do Brasil, chamada então “História pátria”, criando uma vulgata fascistizada da “História Nacional”. Com Lourival Fontes criou, e foi redator, da revista “Hierarquia”, onde defendia ideias e soluções de extrema-direita para o Brasil. Em 1939, em pleno Estado Novo, e graças a suas relações com o diretor do DIP, foi nomeado o primeiro catedrático de História do Brasil da FnFI. No cargo manteve uma postura repressiva a qualquer tentativa de organizar um setor de pesquisa, considerando seu livro “História do Brasil: 1822-1937”, que seguia, ainda em 1945, sua “História do Brasil Colonial”, como texto acabado e insuperável da História do Brasil. As características do ensino de História do Brasil, sob Helio Vianna, pontuavam claramente o ideário fascista do Integralismo: as origens puramente europeias do Brasil, a invisibilidade de índios e negros – exceto nas fantasias nacionalistas típicas do Integralismo para os índios – e uma grande ênfase nos chamados “Movimentos Nativistas”, pressupondo teleologicamente a existência de um Brasil desde a Aclamação de Amador Bueno até a instalação do Estado Nacional em 1937.
[2] Ver DO VALE, Nayara Galeno. Delgado de Carvalho e o Ensino de História: livros didáticos em tempos de reformas educacionais (1931-1946). Dissertação de Mestrado, PPGHIS/UFRJ, 2011.
[3] Vou aqui reproduzir um trecho de uma popular enciclopédia digital sobre a morte do “Doutor Anísio” visando marcar, não esquecer, as condições do ocorrido: “...Depois da última visita, ao lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Anísio desapareceu. Preocupada, sua família investigou seu paradeiro, sendo informada pelos militares de que ele se encontrava detido. Uma longa procura por informações teve início — repetindo um drama vivido por centenas de famílias brasileiras durante a ditadura militar. Mas, ao contrário das desencontradas informações e pistas falsas, seu corpo foi finalmente encontrado no fosso do elevador do prédio do imortal Aurélio, na Praia de Botafogo, no Rio. Dois dias haviam se passado de seu desaparecimento. Seu corpo não tinha sinais de queda, nem hematomas que a comprovassem. A versão oficial foi de "acidente". Calava-se, para um Brasil mergulhado em sombras, uma voz em defesa da educação — portador da "subversiva" ideia de um país melhor. Era o dia 14 de março de 1971” In: http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%ADsio_Teixeira
(*) Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
(Carta Maior)
A morte de Oscar Niemeyer nos leva a lembrar um dos episódios mais relevantes da história da luta por um Brasil melhor. Com as ideias de Anísio Teixeira, a genialidade de Darcy Ribeiro e Maria Yedda Linhares, sob a liderança de Leonel Brizola, criou-se, no início dos anos de 1980, no Rio de Janeiro, uma projeto emancipador de educação.
Francisco Carlos Teixeira
A morte de Oscar Niemeyer nos leva, para além das homenagens de praxe, a lembrar um dos episódios mais relevantes da nossa história presente e a sua participação na luta por um Brasil melhor. Com as ideias de Anísio Teixeira, a vontade e a genialidade de Darcy Ribeiro e Maria Yedda Linhares, sob o manto visionário de Leonel Brizola, criou-se, no início dos anos de 1980, no Rio de Janeiro, uma projeto emancipador de educação – bombardeado pela direita demófoba e ignorado pela esquerda. Eram os CIEPS, um expressão da doação de Niemeymer ao povo brasileiro!
A educação é uma meta política!
Anísio Teixeira
Coube a Anísio Teixeira a criação da Universidade do Distrito Federal/UDF, em 1935, a partir de um projeto de educação democrática, laica e igual para todos. O analfabetismo, e além disso, a ignorância da massa populacional brasileira – em face de uma elite que estudava em colégios religiosos de língua francesa – era visto, então como hoje, como a chave da reprodução das desigualdades sociais. Anísio Teixeira (1900-1971) buscou na criação da UDF uma ferramenta de “formação de professores” que deveria irradiar suas ações para todo o país e, daí, superar o entrave básico da miséria: a ignorância.
Era, ainda, uma “quase” resposta “nacional”, menos elitista, – ou getulista? – à criação da USP em 1934, que deveria reunir a elite paulista derrubada de décadas de controle social pelo getulismo em ascensão. Longe deste debate, para o “Dr. Anísio” tratava-se, com certeza, de um projeto político dotado de outro sentido, de uma meta emancipadora e popular: "Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra", insistia o “Doutor Anísio”. Na UDF estavam grandes intelectuais do país como Brochado da Rocha, Afrânio Peixoto, San Thiago Dantas, Afonso Pena Jr. E claro, seu idealizador, Anísio Teixeira. Uma missão francesa foi buscada para a instalação dos novos cursos com nomes do calibre de Francis Ruellan, Henry Hauser, Eugène Alberti e Jacques Perrot. Contudo, de forma bíblica, o criador e a criatura não se mostraram fiéis. Já em 1937 a UDF era fechada no bojo da repressão que se seguia a proclamação do Estado Novo e, em seu lugar, surgiria, em 1938, a Universidade do Brasil, conservadora e repleta de expoentes do estadonovismo de Vargas. Claro, que muitos dos espíritos livres, dos homens verdadeiramente de ideias, já não poderiam lá lecionar, entre eles o seu criador, Anísio Teixeira.
A educação emacipadora e seus inimigos
Maria Yedda, que começara seus estudos na UDF e acabaria indo para Columbia, para o Barnard College, onde participara de projetos populares de educação no âmbito do New Deal de F.D. Roosevelt, retornava ao Brasil e envolvia-se, na criaçãoda UNE, em várias propostas de educação popular. Lutou pela redemocratização do país participando ativamente da fundação da UNE, da qual foi sua primeira diretora do Departamento de Cultura. Em 1946, com o curso já completo de “História e Geografia”, seria chamada por Carlos Miguel Delgado de Carvalho (1884-1980) – um intelectual singular para criar a “cátedra” de História Contemporânea. Delgado de Carvalho pode ser, com justiça, considerado o fundador dos estudos contemporâneos no Rio de Janeiro e, creio, sem erro, de tais estudos no Brasil. Aí, na UB, retoma o projeto de Anísio Teixeira de uma educação emancipadora e popular, iniciando um largo combate contra o reacionarismo universitário que culminaria nas cassações de 1964 e 1969.
Enquanto a noviça USP dedicava-se, de forma aprofundada, sob a égide de professores como Alice Cannabrava e Eduardo França de Oliveira, aos estudos de História do Brasil, no Rio de Janeiro a tradição do IHGB e a presença obsedante e obliterante de Hélio Vianna impediam estudos realmente valiosos de História do Brasil [1]. Neste vácuo Delgado de Carvalho conseguiu implantar com sucesso, e de forma autônoma, a “cadeira” de História Moderna e Contemporânea [2]. Na UDF e na Universidade do Brasil, sua sucessora, a presença/ausência de Anísio Teixeira foi insuperável em razão dos objetivos e métodos que puderam, bem ou mal, sobreviver ao seu fundador.
A ideia da educação como a busca da justiça social seria, apesar de tudo, um marco da nova universidade em especial na “Filosofia”. Por isso, as metas da UDF, e depois da UB, seriam sempre a formação de professores. Como fazer uma revolução educacional, libertadora, capaz de acelerar a emancipação social, se não havia professores suficientes? Era necessário – e aqui ouvimos as palavras do “Doutor Anísio” formar professores e estes professores deveriam ter a consciência de sua missão emancipadora e superadora da desigualdade social. Essa será a missão da UDF e, quando extinta, a “tarefa” da Faculdade Nacional de Filosofia/FnFi. Missão e tragédia, posto que a formação de professores críticos, voltados para a emancipação social, será a razão maior para o desmonte brutal da FnFi pelo regime de 1964.
Da “escola-parque” aos CIEPS
Com o “Doutor” Anísio, como todos o chamavam, Maria Yedda e, mais tarde, Darcy Ribeiro – que vinha de outra tradição, a USP, onde conviveu com Claude Lévi-Strauss - voltaram-se intensamente para a questão da formação de professores e que iria marcar, como afirmamos, a docência na antiga FnFi. Ambos, Darcy e Yedda, voltaram ao projeto educativo do “Doutor Anísio”, amigo e conselheiro mais velho, o responsável pelo projeto emancipador da “Escola-Parque”, ainda em Salvador, e também o imenso programa de escolas públicas organizado no governo Pedro Ernesto no Distrito Federal, entre 1931-1936, no âmbito do “Movimento da Escola Nova”. Anos mais tarde, durante a redemocratização do Brasil (nos anos de 1980), Darcy e Maria Yedda assumiriam as responsabilidades pela Educação no Governo Leonel Brizola. Lançaram, então, o projeto de uma escola republicana, laica, obrigatória e de tempo integral para as crianças: os CIEPs. Na entrega à população do primeiro CIEP, após dias e noites – noites que passei em claro, cuidando de detalhes do prédio construído por Niemeyer – de intenso trabalho e críticas classistas de toda a imprensa, pude então ouvir Darcy ecoar, longe e perto, as ideias do “Doutor” Anísio: “Quanto mais pobre e carente sejam nossas crianças, mais ricos devem ser os instrumentos educacionais colocados ao seu alcance”. Praticávamos, então, a “Educação Emancipadora”.
A chance perdida
Neste mesmo dia um grande jornal carioca dizia em seu editorial: não
precisamos de escolas “faraônicas”, precisamos de mais presídios (sic)! Havia, então, uma crítica furibunda contra a arquitetura “ soviética” de Niemeyer, sobre os “gastos” faraônicos com “escolões”, desdenhando o fato de se gastar dinheiro – e tanto dinheiro! – com pobres. Niemeyer manteve-se incrivelmente sereno, lembrando Anísio Teixeira, e reafirmando, em voz baixa e segura: as crianças merecem tudo de bom!
O mais incrível do – falso! – debate era o fato de que a moderna, bela e digna arquitetura dos CIEPS não era cara: com seus blocos em concreto, pré-moldados, a construção era rápida e eficaz, modelada em uma planta única. A oposição residia, em verdade, em serem escolas para “pobres!”.
A grande contribuição de Anísio Teixeira, presente nos “escolões” de Brizola, foi, sem dúvida, a crença que ele implantou, de forma generosa, nos corações dos amigos e alunos: somente a educação, a educação para todos, vence e supera a desigualdade social. Tratava-se, de forma clara e inspirativa, pela vez primeira, de dar “voz” aqueles condenados, pela miséria e pela ignorância, à opressão. Esta era a natureza da Educação Emancipadora, como queria Anísio Teixeira. Assim, a formação de professores compromissados com a mudança, o projeto inicial da FnFi, e as grandes escolas públicas, das escolas de Pedro Ernesto até os CIEPs, foram pensadas como resposta para a questão da superação do subdesenvolvimento. A presença de Anísio Teixeira – que se estendera nos anos de 1950-1960 na CAPES, no INEP e na idealização da UnB - foi uma marca insuperável na formação da UDF, da FnFI e, por fim, no projeto dos CIEPs. Nem sua estranha morte apagou esta presença [3].
Eram tempos de luta e ali estavam, juntos, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro, Maria Yedda Linhares, Leonel Brizola e, pairando sobre todos, como um deus tutelar, Anísio Teixeira.
NOTAS
[1] Helio Vianna, filho de um comendador mineiro nascido em 1908 em Belo Horizonte, formou-se em Direito na antiga Faculdade Nacional de Direito, do Rio de Janeiro, mais tarde incorporada a UDF e Universidade do Brasil – e suas aulas e seu livro-texto guardaram sempre seu leguleio e apego ao formalismo, longe da heurística da História. Integrou-se, a convite de Plínio Salgado em 1931, na Ação Integralista Brasileira/AIB, onde era responsável pela versão integralista de textos e cursos de História do Brasil, chamada então “História pátria”, criando uma vulgata fascistizada da “História Nacional”. Com Lourival Fontes criou, e foi redator, da revista “Hierarquia”, onde defendia ideias e soluções de extrema-direita para o Brasil. Em 1939, em pleno Estado Novo, e graças a suas relações com o diretor do DIP, foi nomeado o primeiro catedrático de História do Brasil da FnFI. No cargo manteve uma postura repressiva a qualquer tentativa de organizar um setor de pesquisa, considerando seu livro “História do Brasil: 1822-1937”, que seguia, ainda em 1945, sua “História do Brasil Colonial”, como texto acabado e insuperável da História do Brasil. As características do ensino de História do Brasil, sob Helio Vianna, pontuavam claramente o ideário fascista do Integralismo: as origens puramente europeias do Brasil, a invisibilidade de índios e negros – exceto nas fantasias nacionalistas típicas do Integralismo para os índios – e uma grande ênfase nos chamados “Movimentos Nativistas”, pressupondo teleologicamente a existência de um Brasil desde a Aclamação de Amador Bueno até a instalação do Estado Nacional em 1937.
[2] Ver DO VALE, Nayara Galeno. Delgado de Carvalho e o Ensino de História: livros didáticos em tempos de reformas educacionais (1931-1946). Dissertação de Mestrado, PPGHIS/UFRJ, 2011.
[3] Vou aqui reproduzir um trecho de uma popular enciclopédia digital sobre a morte do “Doutor Anísio” visando marcar, não esquecer, as condições do ocorrido: “...Depois da última visita, ao lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Anísio desapareceu. Preocupada, sua família investigou seu paradeiro, sendo informada pelos militares de que ele se encontrava detido. Uma longa procura por informações teve início — repetindo um drama vivido por centenas de famílias brasileiras durante a ditadura militar. Mas, ao contrário das desencontradas informações e pistas falsas, seu corpo foi finalmente encontrado no fosso do elevador do prédio do imortal Aurélio, na Praia de Botafogo, no Rio. Dois dias haviam se passado de seu desaparecimento. Seu corpo não tinha sinais de queda, nem hematomas que a comprovassem. A versão oficial foi de "acidente". Calava-se, para um Brasil mergulhado em sombras, uma voz em defesa da educação — portador da "subversiva" ideia de um país melhor. Era o dia 14 de março de 1971” In: http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%ADsio_Teixeira
(*) Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
(Carta Maior)
Armas
Associação de rifles dos EUA diz que controle de armas não impedirá massacres
Tiroteio em escola reacendeu debate sobre regulamentação de posse de armas
O vice-presidente da Associação Nacional de Rifles dos Estados Unidos, Wayne LaPierre, disse neste domingo (23/12) que as medidas de controle de armas não vão impedir massacres como o ocorrido em uma escola em Connecticut, no último dia 14. O tema entrou em debate desde o tiroteio com autoridades norte-americanas se comprometendo a lutar por uma regulamentação da posse de armas.
"A arma é uma ferramenta, o problema são os criminosos", disse o advogado, durante entrevista no programa Meet the Press, exibido pela emissora de televisão NBC. O dirigente da entidade defendeu a proposta que fez na sexta-feira, do uso de seguranças armados nas escolas.
LaPierre se posicionou contra a lei proposta pela senadora democrata Dianne Feinstein, que proíbe que particulares tenham armas de assalto. Na opinião do advogado, essas restrições "não irão fazer com que as crianças fiquem mais seguras".
"Se é uma loucura colocar policiais e seguranças armados em nossas escolas para proteger nossas crianças, então me chamem de louco", afirmou o vice-presidente da Associação Nacional de Rifles
No dia 14 de dezembro, Adam Lanza, de 20 anos, matou sua mãe em casa e foi armado para uma escola, onde matou 20 crianças e seis professores, se suicidando em seguida. O massacre reacendeu a discussão sobre armas nos Estados Unidos.
O presidente Barack Obama se comprometeu a buscar a proibição da venda de armas de tipo militar e carregadores longos.
(operamundi)
Tiroteio em escola reacendeu debate sobre regulamentação de posse de armas
O vice-presidente da Associação Nacional de Rifles dos Estados Unidos, Wayne LaPierre, disse neste domingo (23/12) que as medidas de controle de armas não vão impedir massacres como o ocorrido em uma escola em Connecticut, no último dia 14. O tema entrou em debate desde o tiroteio com autoridades norte-americanas se comprometendo a lutar por uma regulamentação da posse de armas.
"A arma é uma ferramenta, o problema são os criminosos", disse o advogado, durante entrevista no programa Meet the Press, exibido pela emissora de televisão NBC. O dirigente da entidade defendeu a proposta que fez na sexta-feira, do uso de seguranças armados nas escolas.
LaPierre se posicionou contra a lei proposta pela senadora democrata Dianne Feinstein, que proíbe que particulares tenham armas de assalto. Na opinião do advogado, essas restrições "não irão fazer com que as crianças fiquem mais seguras".
"Se é uma loucura colocar policiais e seguranças armados em nossas escolas para proteger nossas crianças, então me chamem de louco", afirmou o vice-presidente da Associação Nacional de Rifles
No dia 14 de dezembro, Adam Lanza, de 20 anos, matou sua mãe em casa e foi armado para uma escola, onde matou 20 crianças e seis professores, se suicidando em seguida. O massacre reacendeu a discussão sobre armas nos Estados Unidos.
O presidente Barack Obama se comprometeu a buscar a proibição da venda de armas de tipo militar e carregadores longos.
(operamundi)
sábado, 29 de dezembro de 2012
Garota indiana morre
A postagem de hoje é dedicada in memorian a garota indiana currada por 6 'animais'
Amor
Não te Envergonhes de Dizer...
Delasnieve Daspet
.
Eis-nos - face descoberta,
pés descalços,
alma aberta.
Fomos convocados a viver o amor,
um amor verdadeiro.
Fomos chamados à felicidade de doar,
pois quanto mais se ama, mais
feliz se vive.
Quem ama tem o brilho no olhar e a
luz na fronte.
Vamos tornar reais os sonhos
dos que ainda se atrevem a sonhar,
construindo um mundo novo.
Vamos viver intensamente o ontem,
o hoje e o amanhã sem medo de sombras.
Vamos viver este momento, verdadeiro,
e sem medo, sem receios, sem vergonha,
num crescimento total,
começo por dizer: eu te amo!
________________
Delasnieve Daspet
.
Eis-nos - face descoberta,
pés descalços,
alma aberta.
Fomos convocados a viver o amor,
um amor verdadeiro.
Fomos chamados à felicidade de doar,
pois quanto mais se ama, mais
feliz se vive.
Quem ama tem o brilho no olhar e a
luz na fronte.
Vamos tornar reais os sonhos
dos que ainda se atrevem a sonhar,
construindo um mundo novo.
Vamos viver intensamente o ontem,
o hoje e o amanhã sem medo de sombras.
Vamos viver este momento, verdadeiro,
e sem medo, sem receios, sem vergonha,
num crescimento total,
começo por dizer: eu te amo!
________________
'Judeus'
Judeus, Hebreus, Sionistas, Israelenses e Israelitas. Quem é quem?
Para falar com justiça dos judeus e evitar o racismo e ideias pré-concebidas, é necessário que se entenda a diferença e o significado de cinco definições lingüísticas fundamentais: Judeus, Hebreus, Sionistas, Israelenses e Israelitas.
Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.
[...]
1 – Judeus: (do latim Iudaeus, e este do hebraico yehudi). Adjetivo. Judeus são aqueles que praticam a religião conhecida como Judaísmo. O Judaísmo é uma religião que teve origem com a revelação divina da Toráh no monte Sinai a um grupo de tribos hebraicas. Judeus são aqueles que professam esta religião, independentemente da sua raça. O único e fundamental compromisso dos judeus é unicamente com Deus, estando esse pacto referido na Toráh ou Pentateuco. Segundo a Toráh e outras escrituras sagradas do Judaísmo, os judeus foram exilados de Palestina (antes Canaã) há mais de mil anos por vontade divina, como castigo por terem abandonado os deveres religiosos para com Deus. Desde então, os judeus estão mortalmente proibidos de se aproximarem da zona do Monte do Templo, onde antigamente estava o Sinédrio, ou Templo, na época dos Macabeus; a Toráh e o Talmude proíbem que os judeus formem um Estado, um país independente ou forcem terminar o exílio. Eles acreditam que o seu exílio terminará pacificamente com a vinda do Messias (P e B), numa época ideal na qual todos os povos do mundo se unirão em paz ao serviço do Criador. Estas são as autênticas crenças históricas dos judeu, como bem o explicam as poucas comunidades que atualmente os representam e quem as negue, NÃO É JUDEU.
Isto foi explicado e clarificado por algumas das organizações que verdadeiramente representam a posição do Judaísmo histórico no mundo atual, como Satmar Hassidic e Neturei Karta.
Alguns anos depois da composição deste artigo, encontrei uma interessante explicação sobre este tópico publicada pelo Centro Virtual Cervantes de Língua Espanhola, que confirma o ponto de vista exposto neste artigo.
2 – Israelitas: Adjetivo. Termo proveniente da Bíblia, com que se tem designado historicamente o povo judeu.
3 – Hebreus: Do latim Hebraeus, e este do hebraico ‘ibri, e este talvez proveniente do acádio hapirum, pária, vagabundo, transumante. Adjetivo. Designação histórica de um povo nómada do deserto, oriundo do Médio Oriente. Os hebreus são uma etnia, raça ou povo, com padrões genéticos e características físicas próprias e distintas de outros povos. Assume-se geralmente que a maioria dos hebreus praticam o Judaísmo, mas a verdade é que uma grande parte não são judeus, hoje em dia, talvez a maioria. E tal como atualmente a maioria dos muçulmanos não são árabes, muitos judeus não são hebreus, como também muitos hebreus não são judeus, mas sim ateus, cristãos, sionistas, comunistas ou muçulmanos.
Pode-se ser hebreu sem ser judeu, não praticando o Judaísmo; e se pode ser judeu sem ser hebreu, através da conversão ao Judaísmo, sendo de outra raça qualquer, como no caso das comunidades negras de judeus na Etiópia.
4 – Sionista: Adjetivo. É a pessoa que adere ao movimento político do Sionismo, um movimento nacional socialista hebraico originado por descendentes de judeus europeus (ashkenazis), que se tornaram laicos ou apostataram do Judaísmo, cujo objetivo fundamental, após a queda do Terceiro Reich no século XX, foi a colonização forçada da Palestina para fundar aí um Estado hebraico, a qual se levou a cabo mediante repressão e assassinatos, uma vez que Palestina nunca esteve desabitada. De início este movimento foi seriamente resistido no mundo judeu e os rabinos ortodoxos o declararam “um partido ou seita herege, apóstata e anti-judeu”. Atualmente o acusam de racista por professar uma ideologia de ódio aos árabes e de praticar o genocídio e limpeza étnica na Palestina. Os kibuts “socialistas”, tão publicitados nos anos 60, 70 e 80, foram uma forma de enganar a população, propondo no início uma convivência idealista que os palestinos lamentavelmente aceitaram, pois sentiram que as suas condições de vida iriam melhorar. O Sionismo foi racista e supremacista desde o início. Sua plataforma política implica o extermínio ou deportação dos não israelenses (pt, israelitas), sejam ou não judeus, para conseguir a criação do “Grande Israel”, que abrangeria parte de Síria e outras nações limítrofes, como se pode entender das declarações dos seus principais líderes e ideólogos, como Ben Gurión e Golda Meir.
judeusO movimento sionista começou então uma forte propaganda política entre as comunidades judaicas do mundo, agitando o fantasma do anti-semitismo e assegurando que nenhum judeu está seguro fora de Israel. O movimento foi ganhando adeptos entre os hebreus e algumas comunidades de judeus, que foram abandonando os princípios do Judaísmo e substituindo a lealdade a Deus e à sua religião histórica pela lealdade política a um Estado.
5 – Israelense(1) : Adjetivo. Cidadão habitante e leal ao Estado de Israel. Não se deve confundir com o adjetivo “israelita”, que ainda hoje se utiliza para se designar os judeus.
Conclusão: Uma pessoa pode ser hebréia, sionista e israelense. Pode ser cristã, chinesa e sionista. Uma pessoa pode ser israelense, cristã e de origem ariana. Mas jamais pode ser judeu e sionista simultaneamente, porque os fundamentos do Judaísmo e do Sionismo contradizem-se, como explicam as organizações de judeus ortodoxos antes mencionadas, que têm esclarecido a diferença fundamental entre Sionismo e Judaísmo: (http://www.nkusa.org/foreign_language/spanish/UASR.cfm).
A ideia de que “judeu” e “sionista” são sinônimos é una falácia inventada pelo movimento sionista para diminuir as comunidades judaicas dispersas pelo mundo e transladá-las para Palestina, convidando os judeus a desconhecer a proibição de Deus e dos seus sábios, dizendo-lhes que na realidade o Judaísmo não é religião mas sim uma cultura e um conjunto de tradições, o que é absolutamente falso. Engano este que o mundo parece acreditar, inclusive árabes e muçulmanos, chamando judeus aos sionistas e vice-versa.
Por último, à luz do exposto, Israel não pode ser lingüísticamente denominado como um “Estado Judaico”.
A maioria dos hebreus e judeus em geral têm muitas dúvidas sobre tudo o que diz respeito a Israel; alguns estão contra e outros estão a favor da sua existência como Estado, mas são poucos os que defendem Israel sem reservas e justificam os seus crimes. Quanto aos sionistas, a maioria deles não são nem judeus nem de origem hebraica. Inclusive, como é do conhecimento público, as igrejas evangélicas da América Latina são abertamente sionistas.
A reprodução total ou parcial deste artigo está permitida, citando o autor, sob licença de Creative Commons, 2007.
Nota do tradutor: Em português do Brasil e em língua castelhana, a diferença entre israelense (israelí em castelhano) e israelita é facilmente identificada. Em português europeu o termo “israelitas” refere-se aos cidadãos do estado de Israel e também ao termo bíblico referente ao povo judeu.
Autor: Moámmer Darman al-Muháyir
Fonte: WebIslam
Tradução: Sionismo.net
Para falar com justiça dos judeus e evitar o racismo e ideias pré-concebidas, é necessário que se entenda a diferença e o significado de cinco definições lingüísticas fundamentais: Judeus, Hebreus, Sionistas, Israelenses e Israelitas.
Em nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso.
[...]
1 – Judeus: (do latim Iudaeus, e este do hebraico yehudi). Adjetivo. Judeus são aqueles que praticam a religião conhecida como Judaísmo. O Judaísmo é uma religião que teve origem com a revelação divina da Toráh no monte Sinai a um grupo de tribos hebraicas. Judeus são aqueles que professam esta religião, independentemente da sua raça. O único e fundamental compromisso dos judeus é unicamente com Deus, estando esse pacto referido na Toráh ou Pentateuco. Segundo a Toráh e outras escrituras sagradas do Judaísmo, os judeus foram exilados de Palestina (antes Canaã) há mais de mil anos por vontade divina, como castigo por terem abandonado os deveres religiosos para com Deus. Desde então, os judeus estão mortalmente proibidos de se aproximarem da zona do Monte do Templo, onde antigamente estava o Sinédrio, ou Templo, na época dos Macabeus; a Toráh e o Talmude proíbem que os judeus formem um Estado, um país independente ou forcem terminar o exílio. Eles acreditam que o seu exílio terminará pacificamente com a vinda do Messias (P e B), numa época ideal na qual todos os povos do mundo se unirão em paz ao serviço do Criador. Estas são as autênticas crenças históricas dos judeu, como bem o explicam as poucas comunidades que atualmente os representam e quem as negue, NÃO É JUDEU.
Isto foi explicado e clarificado por algumas das organizações que verdadeiramente representam a posição do Judaísmo histórico no mundo atual, como Satmar Hassidic e Neturei Karta.
Alguns anos depois da composição deste artigo, encontrei uma interessante explicação sobre este tópico publicada pelo Centro Virtual Cervantes de Língua Espanhola, que confirma o ponto de vista exposto neste artigo.
2 – Israelitas: Adjetivo. Termo proveniente da Bíblia, com que se tem designado historicamente o povo judeu.
3 – Hebreus: Do latim Hebraeus, e este do hebraico ‘ibri, e este talvez proveniente do acádio hapirum, pária, vagabundo, transumante. Adjetivo. Designação histórica de um povo nómada do deserto, oriundo do Médio Oriente. Os hebreus são uma etnia, raça ou povo, com padrões genéticos e características físicas próprias e distintas de outros povos. Assume-se geralmente que a maioria dos hebreus praticam o Judaísmo, mas a verdade é que uma grande parte não são judeus, hoje em dia, talvez a maioria. E tal como atualmente a maioria dos muçulmanos não são árabes, muitos judeus não são hebreus, como também muitos hebreus não são judeus, mas sim ateus, cristãos, sionistas, comunistas ou muçulmanos.
Pode-se ser hebreu sem ser judeu, não praticando o Judaísmo; e se pode ser judeu sem ser hebreu, através da conversão ao Judaísmo, sendo de outra raça qualquer, como no caso das comunidades negras de judeus na Etiópia.
4 – Sionista: Adjetivo. É a pessoa que adere ao movimento político do Sionismo, um movimento nacional socialista hebraico originado por descendentes de judeus europeus (ashkenazis), que se tornaram laicos ou apostataram do Judaísmo, cujo objetivo fundamental, após a queda do Terceiro Reich no século XX, foi a colonização forçada da Palestina para fundar aí um Estado hebraico, a qual se levou a cabo mediante repressão e assassinatos, uma vez que Palestina nunca esteve desabitada. De início este movimento foi seriamente resistido no mundo judeu e os rabinos ortodoxos o declararam “um partido ou seita herege, apóstata e anti-judeu”. Atualmente o acusam de racista por professar uma ideologia de ódio aos árabes e de praticar o genocídio e limpeza étnica na Palestina. Os kibuts “socialistas”, tão publicitados nos anos 60, 70 e 80, foram uma forma de enganar a população, propondo no início uma convivência idealista que os palestinos lamentavelmente aceitaram, pois sentiram que as suas condições de vida iriam melhorar. O Sionismo foi racista e supremacista desde o início. Sua plataforma política implica o extermínio ou deportação dos não israelenses (pt, israelitas), sejam ou não judeus, para conseguir a criação do “Grande Israel”, que abrangeria parte de Síria e outras nações limítrofes, como se pode entender das declarações dos seus principais líderes e ideólogos, como Ben Gurión e Golda Meir.
judeusO movimento sionista começou então uma forte propaganda política entre as comunidades judaicas do mundo, agitando o fantasma do anti-semitismo e assegurando que nenhum judeu está seguro fora de Israel. O movimento foi ganhando adeptos entre os hebreus e algumas comunidades de judeus, que foram abandonando os princípios do Judaísmo e substituindo a lealdade a Deus e à sua religião histórica pela lealdade política a um Estado.
5 – Israelense(1) : Adjetivo. Cidadão habitante e leal ao Estado de Israel. Não se deve confundir com o adjetivo “israelita”, que ainda hoje se utiliza para se designar os judeus.
Conclusão: Uma pessoa pode ser hebréia, sionista e israelense. Pode ser cristã, chinesa e sionista. Uma pessoa pode ser israelense, cristã e de origem ariana. Mas jamais pode ser judeu e sionista simultaneamente, porque os fundamentos do Judaísmo e do Sionismo contradizem-se, como explicam as organizações de judeus ortodoxos antes mencionadas, que têm esclarecido a diferença fundamental entre Sionismo e Judaísmo: (http://www.nkusa.org/foreign_language/spanish/UASR.cfm).
A ideia de que “judeu” e “sionista” são sinônimos é una falácia inventada pelo movimento sionista para diminuir as comunidades judaicas dispersas pelo mundo e transladá-las para Palestina, convidando os judeus a desconhecer a proibição de Deus e dos seus sábios, dizendo-lhes que na realidade o Judaísmo não é religião mas sim uma cultura e um conjunto de tradições, o que é absolutamente falso. Engano este que o mundo parece acreditar, inclusive árabes e muçulmanos, chamando judeus aos sionistas e vice-versa.
Por último, à luz do exposto, Israel não pode ser lingüísticamente denominado como um “Estado Judaico”.
A maioria dos hebreus e judeus em geral têm muitas dúvidas sobre tudo o que diz respeito a Israel; alguns estão contra e outros estão a favor da sua existência como Estado, mas são poucos os que defendem Israel sem reservas e justificam os seus crimes. Quanto aos sionistas, a maioria deles não são nem judeus nem de origem hebraica. Inclusive, como é do conhecimento público, as igrejas evangélicas da América Latina são abertamente sionistas.
A reprodução total ou parcial deste artigo está permitida, citando o autor, sob licença de Creative Commons, 2007.
Nota do tradutor: Em português do Brasil e em língua castelhana, a diferença entre israelense (israelí em castelhano) e israelita é facilmente identificada. Em português europeu o termo “israelitas” refere-se aos cidadãos do estado de Israel e também ao termo bíblico referente ao povo judeu.
Autor: Moámmer Darman al-Muháyir
Fonte: WebIslam
Tradução: Sionismo.net
Jorge Amado
A obra revolucionária de Jorge Amado
Leia em nosso site: A obra revolucionária de Jorge Amado
Jorge Amado e Zélia Gattai“…Minha criação romanesca decorre da intimidade, da cumplicidade com o povo. Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor, não um literato; em verdade, sou um obá – em língua iorubá da Bahia, obá significa ministro, velho, sábio: sábio da sabedoria do povo”.
Falar de Jorge Amado remete-nos à adolescência. Assim como eu, grande parte dos(as) militantes revolucionários(as) se emocionou, aderiu ou fortaleceu sua adesão à causa da liberdade e do socialismo ao beber na fonte dos Ásperos Tempos, Agonia da Noite e Luz no Túnel, que compõem a trilogia dos Subterrâneos da Liberdade. E os Capitães da Areia, de cujas aventuras se ergue Pedro Bala para lutar na Seara Vermelha da luta camponesa e da Rebelião de 1935? A luta pela posse da terra na região cacaueira da Bahia, tão bem retratada em São Jorge dos Ilhéus e Terras do Sem-Fim. E o Mundo da Paz, mostrando as mudanças promovidas pelo socialismo na URSS e nas democracias populares do Leste europeu? O Cavaleiro da Esperança com sua Coluna, percorrendo o país de Sul a Norte, chamando o povo a se levantar contra a opressão, por uma democracia de verdade!
De onde vem tanta inspiração, capaz de traduzir-se em personagens bravas, sempre gente simples enfrentando o poder, esquecendo o “eu” para pensar no “coletivo”? Mesmo quando deixa de escrever romances políticos para dedicar-se ao romanceiro de costumes, os heróis e heroínas não saem das classes dominantes, mas do seio dos excluídos, tais como Gabriela, Tereza Batista, Tieta do Agreste. São mulheres negras, terra.
Menino grapiúna (do litoral)
Quem diria, Jorge Amado era filho de coronel do cacau, João Amado, casado com Eulália Leal, dona Lalu. Nasceu em Itabuna, mas, ainda criança, a família se mudou para Ilhéus. O nascimento foi no dia 10 de agosto de 1912. “Aprendi com os camponeses nas roças de cacau, os coronéis em Ilhéus e os proletários nas universidades dos becos e ladeiras de Salvador”. Para a capital, foi aos 11 anos, estudar em colégio interno dos jesuítas. Era comum. Os coronéis se orgulhavam de ter filhos doutores. Mas Jorge demorou pouco. Não cursou o terceiro ano, Fugiu da portaria onde um tio o deixara. Os padres até gostaram, pois no ano anterior, o “moleque” os escandalizara, proclamando-se ateu e bolchevique.
Aos 14 anos, começou a trabalhar em jornal, aos 18, publicou seu primeiro romance, País do Carnaval, do qual ele não gostava, considerando que ainda não tinha um estilo próprio, estava sob influência europeia. No seguinte, Cacau, tudo muda, o estilo é próprio, é brasileiro, com o povo em cena no enredo e na linguagem. Será um romance proletário? Perguntou. Era. E vieram outros tantos, alguns citados no início desta louvação.
Em 1928, entrou na Academia dos Rebeldes, formada por jovens escritores baianos que pretendiam afastar as letras baianas da retórica, da oratória balofa, da literatice. Dar à literatura um caráter nacional e social, reescrever a linguagem, aproximando-a da fala do povo. Conseguiram. “Sentíamo-nos brasileiros e baianos, vivíamos com o povo em intimidade e com ele construímos, jovens e libérrimos, nas ruas pobres da Bahia”.
A família
Aos 20 anos, casou com Matilde, com quem ficou até 1944 e teve uma filha, Lila. Mas o grande amor de sua vida foi Zélia Gattai. Eles se conheceram em 1945, no Primeiro Congresso de Escritores Brasileiros, realizado em São Paulo. Zélia era casada, mas Jorge não desistiu. Deu certo. Ela também separou-se e passaram a viver juntos em julho do mesmo ano, assim permanecendo sob o signo da paixão até a morte. Tiveram dois filhos: João Jorge e Paloma.
Militância política
Homem da escrita e da ação, desde jovem, Jorge Amado se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado em 1922. Ele se definia como um militante de base que cumpria tarefas de direção. Em 1946, com a abertura política, candidatou-se a deputado federal, eleito por São Paulo.Não queria exercer o mandato; sua ideia era atrair votos, renunciando após a eleição, quando assumiria um suplente do Partido. Mas, atendendo ao pedido de Prestes, permaneceu até os parlamentares comunistas terem seus mandatos cassados, 1947.
Sobre sua atuação, fala Jorge Amado: “Custou-me muito esforço; tarefa difícil e chata; fiz o possível”. Considera que o resultado mais importante foi a apresentação de emenda constitucional, vitoriosa, garantindo a liberdade de crença no Brasil. Apesar de a República ter proclamado o Brasil um Estado laico, na prática, a Igreja Católica conservava todos os privilégios e recebia altos subsídios dos cofres públicos. Já os protestantes, os espíritas e, sobretudo, as religiões de origem africana não tinham apoio algum. No caso dos cultos africanos, assim como toda cultura negra, a ordem era exterminar mesmo. Jorge Amado se engajara na luta contra a discriminação e opressão aos terreiros desde os 14 anos. Expõe essa luta em romances como Jubiabá e Bahia de Todos os Santos. Ele próprio foi consagrado como Obá de Xangô.
Foi muito atuante também na Comissão de Educação e Cultura. Dedicado, chegava à Câmara Federal às 14 horas e retornava pelas 20 horas. Quando havia sessão noturna, não tinha hora para chegar. Zélia, também militante, sentia a ausência do amado, mas compreendia.
Com a cassação dos mandatos e a colocação do PCB na ilegalidade, a família se muda para a França, de onde também é expulsa em 1948, seguindo para a Tchecoslováquia. Participou da organização de inúmeros eventos de caráter político e cultural pela paz mundial. Em1952, recebeu em Moscou o Prêmio Internacional Stálin da Paz.
Retorna ao Brasil. Em março de 1953, ano em que morre Josef Stálin, Jorge estaria entre os integrantes da representação do PCB às solenidades funerais do grande líder. Por problemas de voo, a comissão não conseguiu embarcar, o que permitiu que Jorge Amado pudesse sepultar o escritor e amigo muito querido, Graciliano Ramos, falecido no mesmo mês.
Em 1954, o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, agora revisionista, faz denúncias de uma série de crimes pretensamente cometidos por Stálin. Jorge Amado, que o chamara de Pai do Povo em várias obras, vacila. O famoso arquiteto Oscar Niemeyer, também grande amigo, tenta convencê-lo: “É tudo invencionice capitalista”. Mas não teve jeito.
Manteve, entretanto, a coerência de princípios. Afirmou: “…não me sinto desligado do compromisso assumido de não revelar informações a que tive acesso por ser militante comunista. Mesmo que a inconfidência não traga mais consequência alguma, não me sinto no direito de alardear o que me foi revelado em confiança”.
No Governo Médici, em 1970, assinou, junto com Érico Veríssimo um manifesto contra a censura prévia à publicação de livros (já era aplicada nos jornais, televisão e letras de canções) e articulou sua publicação na imprensa. Os principais jornais o publicaram, provocando declarações de apoio de muitos escritores, um verdadeiro movimento nacional contra a censura.
Em 1974, ainda sob a Ditadura Militar, escreveu no livro Bahia de Todos os Santos: “Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano, Carlos Marighella”.
Em 1986, tendo o Governo Sarney reatado relações com Cuba, Jorge Amado e Zélia Gattai tiveram encontro com Fidel Castro. Na ocasião, o Governo cubano estava dialogando com a Igreja Católica, com a assessoria de teólogos da libertação, especialmente frei Betto. Jorge propôs a Fidel que o mesmo diálogo fosse realizado com as religiões de origem africana tão populares em Cuba como no Brasil. O Comandante ouviu, reflexivo, não respondeu. Avalia Jorge Amado: “Na sala do Comitê Central, deixei soltos os orixás para reflexão de Fidel Castro”.
Para que prêmios?
Jorge Amado recebeu muitos prêmios pelo mundo inteiro. Mas o prêmio maior que ele considerava era o fato de ter revolucionado a literatura, levando o povo e seu jeito de falar para ser o sujeito de suas obras. Nada de academicismo, embora tenha ganhado assento na Academia Brasileira de Letras, em 1961. “Não escrevo para ganhar prêmios; outros motivos me inspiram e ordenam; não receber o Nobel não me aflige, nunca pensei merecê-lo. Opino por infeliz o escritor que trabalha e cria em função de prêmios e honrarias”.
Obra revolucionária, eterna, universal
Impossível melhor balanço da vida de Jorge Amado, que faleceu em 2001, que o feito por ele mesmo: “A vida me deu mais do que pedi, mereci e desejei. Vivi ardentemente cada dia, cada hora, cada instante. Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e da liberdade. Bati-me contra os preconceitos, ousei práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos, fui o oposto. Chorei e ri, sofri, amei, me diverti”. Sobre a sua obra, avalia o escritor do povo: “Recolho-me à minha modesta condição de intérprete menor do povo da Bahia com o que me basta e sobra”.
Em relação à sua obra, não posso concordar. Peço licença ao mestre Guimarães Rosa para devolver a Jorge Amado a dedicatória que fez ao romancista mineiro: “Sua obra é eterna (e revolucionária, acrescento) porque você a escreveu com sangue e não com tinta as histórias do povo brasileiro”. Salve, Jorge Amado. Axé!
Nota: A fonte de informações e das citações deste artigo foi Navegação de Cabotagem, livro de memórias do autor publicado pela Editora Record, Rio de Janeiro, 1992.
José Levino é historiador
--------------------------
“Jorge Amado fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes”
Posted: 21 Dec 2012 06:40 PM PST
Leia em nosso site: “Jorge Amado fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes”
José Leite de Oliveira Júnior é professor do Departamento de Literatura da UFCGraduado em letras pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), mestrado em letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), José Leite de Oliveira Júnior é professor do Departamento de Literatura da UFC e estudioso da obra de Jorge Amado, além de artista plástico. Em entrevista a A Verdade sobre a vida e a obra de um dos maiores escritores da humanidade, Leite afirma que “Jorge Amado foi um militante marxista que fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes.”
A Verdade – Jorge Amado é considerado um dos maiores autores brasileiros do séculoXX, um dos mais lidos fora do País. Sua obra é rica emregionalismos e contrastes sociais. Qual o significado para o Brasildesses inúmeros livros produzidos por ele?
Professor José Leite – A obra de Jorge Amado se alinha entre aquelas que vêm construindo oque se pode chamar de “mitologia da nacionalidade”. Autores como GonçalvesDias, José de Alencar, Érico Veríssimo, Patativa do Assaré e Jorge Amado estabeleceram poeticamente o espelho pelo qual nos reconhecemosbrasileiros. Não há Estado-nação, vale lembrar, sem essa base poético-mítica.
A vida de Jorge Amado foi marcada por uma intensa intervenção política – ele até foideputado constituinte, em 1946, pelo Partido Comunista Brasileiro.Como medir essa influência comunista na obra dele?
Jorge Amado foi um militante marxista que fez de sua obra um campode estudo da luta de classes. Seus primeiros romances trazem a marcatípica do combate ideológico desferido no período entre a Primeira e aSegunda Guerra. Obras ficcionais, como Suor (1931), Cacau (1933),Jubiabá (1934), às quais acrescento a narrativa nãoficcional de O Cavaleiro da Esperança (1942), representam o que demelhor se produziu no Brasil no ramo da literatura engajada. Ao contrário do que muitos afirmam – certamente sem uma leitura séria desses romances –a qualidade dessas produções é admirável do ponto de vista daliterariedade. Prova disso é a riqueza de metáforas, o expressionismoaplicado na construção das personagens, a coerência figurativa no desenhodos ambientes da Bahia e a intertextualidade com o naturalismo, porexemplo, tudo a comprovar a precocidade do jovem escritor. Mais adiante,superada a fase do engajamento mais ortodoxo, ele deslocaria o olhar parasubprodutos da alienação, como a marginalidade, a prostituição, o racismo, a intolerância religiosa e mesmo a depredação da natureza, portanto semjamais perder o fio ideológico que liga o velho escritor já afastado doPartido ao jovem militante.
O local que esse autor ocupa no cenário literário atual é merecido? Osestudos acadêmicos e outras pesquisas sobre ele são suficientes?
Jorge Amado é infinitamente maior do que a crítica acadêmica de seutrabalho. Faltam estudos acadêmicos profundos sobre o que ele produziu esobram cacoetes e farpas automatizadas de uma pretensa crítica burguesa,com ressonância restrita aos corredores das faculdades, que tenta diminuiro valor de sua obra, mas não se traduz numa produção intelectualmerecedora de atenção. A poética de um Mar morto, o valor humanístico deum Tenda dos milagres ou a crônica inspirada de Gabriela, cravo e canela, entre muitos outros exemplos, ficarão como patrimônio do povobrasileiro, enquanto a mesquinhez da depredação enviesada não resistirá aosopro da História.
Existe alguma influência estrangeira na obra de Jorge Amado?
As maiores influências, a meu ver, vêm do século dezenove, o queinclui os autores europeus. Ele recuperou o romantismo, que o conservousempre apaixonado, e também o naturalismo, sobretudo pelo interessesocial. No século vinte, a ficção russa de um Gorki transparece no jovem
Jorge Amado e o chileno Neruda, de quem foi grande amigo, certamente seharmoniza com a prosa poética do escritor baiano amadurecido.
Ele sempre falou do papel de Zélia, sua esposa, na sua carreiraliterária. Você poderia nos contar brevemente como essa relação foiimportante?
Zélia Gattai é filha de anarquista italiano. A imagem do pai, numaSão Paulo dos primeiros anos do século vinte, ela deixou no delicioso livrode memórias Anarquistas, graças a Deus (1979). Seu encontro com JorgeAmado remonta ao contexto da luta pela anistia, no fim do Estado Novo.Pelos depoimentos que ficaram, sabe-se que Jorge Amado sempre encontrounela a primeira leitora, atenta à produção dos originais, convivendo comas personagens ainda no estado de nascença ficcional. Não há como imaginarum sem o outro.
Qual é para você a maior marca e a mais importante inovação de Jorge Amado?
A maior marca é a brasilidade de sua obra. E a maior invenção foi aternura com que tratou as vítimas da alienação.
Serley Leal e Michell Plattini, Fortaleza
(A Verdade)
Leia em nosso site: A obra revolucionária de Jorge Amado
Jorge Amado e Zélia Gattai“…Minha criação romanesca decorre da intimidade, da cumplicidade com o povo. Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor, não um literato; em verdade, sou um obá – em língua iorubá da Bahia, obá significa ministro, velho, sábio: sábio da sabedoria do povo”.
Falar de Jorge Amado remete-nos à adolescência. Assim como eu, grande parte dos(as) militantes revolucionários(as) se emocionou, aderiu ou fortaleceu sua adesão à causa da liberdade e do socialismo ao beber na fonte dos Ásperos Tempos, Agonia da Noite e Luz no Túnel, que compõem a trilogia dos Subterrâneos da Liberdade. E os Capitães da Areia, de cujas aventuras se ergue Pedro Bala para lutar na Seara Vermelha da luta camponesa e da Rebelião de 1935? A luta pela posse da terra na região cacaueira da Bahia, tão bem retratada em São Jorge dos Ilhéus e Terras do Sem-Fim. E o Mundo da Paz, mostrando as mudanças promovidas pelo socialismo na URSS e nas democracias populares do Leste europeu? O Cavaleiro da Esperança com sua Coluna, percorrendo o país de Sul a Norte, chamando o povo a se levantar contra a opressão, por uma democracia de verdade!
De onde vem tanta inspiração, capaz de traduzir-se em personagens bravas, sempre gente simples enfrentando o poder, esquecendo o “eu” para pensar no “coletivo”? Mesmo quando deixa de escrever romances políticos para dedicar-se ao romanceiro de costumes, os heróis e heroínas não saem das classes dominantes, mas do seio dos excluídos, tais como Gabriela, Tereza Batista, Tieta do Agreste. São mulheres negras, terra.
Menino grapiúna (do litoral)
Quem diria, Jorge Amado era filho de coronel do cacau, João Amado, casado com Eulália Leal, dona Lalu. Nasceu em Itabuna, mas, ainda criança, a família se mudou para Ilhéus. O nascimento foi no dia 10 de agosto de 1912. “Aprendi com os camponeses nas roças de cacau, os coronéis em Ilhéus e os proletários nas universidades dos becos e ladeiras de Salvador”. Para a capital, foi aos 11 anos, estudar em colégio interno dos jesuítas. Era comum. Os coronéis se orgulhavam de ter filhos doutores. Mas Jorge demorou pouco. Não cursou o terceiro ano, Fugiu da portaria onde um tio o deixara. Os padres até gostaram, pois no ano anterior, o “moleque” os escandalizara, proclamando-se ateu e bolchevique.
Aos 14 anos, começou a trabalhar em jornal, aos 18, publicou seu primeiro romance, País do Carnaval, do qual ele não gostava, considerando que ainda não tinha um estilo próprio, estava sob influência europeia. No seguinte, Cacau, tudo muda, o estilo é próprio, é brasileiro, com o povo em cena no enredo e na linguagem. Será um romance proletário? Perguntou. Era. E vieram outros tantos, alguns citados no início desta louvação.
Em 1928, entrou na Academia dos Rebeldes, formada por jovens escritores baianos que pretendiam afastar as letras baianas da retórica, da oratória balofa, da literatice. Dar à literatura um caráter nacional e social, reescrever a linguagem, aproximando-a da fala do povo. Conseguiram. “Sentíamo-nos brasileiros e baianos, vivíamos com o povo em intimidade e com ele construímos, jovens e libérrimos, nas ruas pobres da Bahia”.
A família
Aos 20 anos, casou com Matilde, com quem ficou até 1944 e teve uma filha, Lila. Mas o grande amor de sua vida foi Zélia Gattai. Eles se conheceram em 1945, no Primeiro Congresso de Escritores Brasileiros, realizado em São Paulo. Zélia era casada, mas Jorge não desistiu. Deu certo. Ela também separou-se e passaram a viver juntos em julho do mesmo ano, assim permanecendo sob o signo da paixão até a morte. Tiveram dois filhos: João Jorge e Paloma.
Militância política
Homem da escrita e da ação, desde jovem, Jorge Amado se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado em 1922. Ele se definia como um militante de base que cumpria tarefas de direção. Em 1946, com a abertura política, candidatou-se a deputado federal, eleito por São Paulo.Não queria exercer o mandato; sua ideia era atrair votos, renunciando após a eleição, quando assumiria um suplente do Partido. Mas, atendendo ao pedido de Prestes, permaneceu até os parlamentares comunistas terem seus mandatos cassados, 1947.
Sobre sua atuação, fala Jorge Amado: “Custou-me muito esforço; tarefa difícil e chata; fiz o possível”. Considera que o resultado mais importante foi a apresentação de emenda constitucional, vitoriosa, garantindo a liberdade de crença no Brasil. Apesar de a República ter proclamado o Brasil um Estado laico, na prática, a Igreja Católica conservava todos os privilégios e recebia altos subsídios dos cofres públicos. Já os protestantes, os espíritas e, sobretudo, as religiões de origem africana não tinham apoio algum. No caso dos cultos africanos, assim como toda cultura negra, a ordem era exterminar mesmo. Jorge Amado se engajara na luta contra a discriminação e opressão aos terreiros desde os 14 anos. Expõe essa luta em romances como Jubiabá e Bahia de Todos os Santos. Ele próprio foi consagrado como Obá de Xangô.
Foi muito atuante também na Comissão de Educação e Cultura. Dedicado, chegava à Câmara Federal às 14 horas e retornava pelas 20 horas. Quando havia sessão noturna, não tinha hora para chegar. Zélia, também militante, sentia a ausência do amado, mas compreendia.
Com a cassação dos mandatos e a colocação do PCB na ilegalidade, a família se muda para a França, de onde também é expulsa em 1948, seguindo para a Tchecoslováquia. Participou da organização de inúmeros eventos de caráter político e cultural pela paz mundial. Em1952, recebeu em Moscou o Prêmio Internacional Stálin da Paz.
Retorna ao Brasil. Em março de 1953, ano em que morre Josef Stálin, Jorge estaria entre os integrantes da representação do PCB às solenidades funerais do grande líder. Por problemas de voo, a comissão não conseguiu embarcar, o que permitiu que Jorge Amado pudesse sepultar o escritor e amigo muito querido, Graciliano Ramos, falecido no mesmo mês.
Em 1954, o 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, agora revisionista, faz denúncias de uma série de crimes pretensamente cometidos por Stálin. Jorge Amado, que o chamara de Pai do Povo em várias obras, vacila. O famoso arquiteto Oscar Niemeyer, também grande amigo, tenta convencê-lo: “É tudo invencionice capitalista”. Mas não teve jeito.
Manteve, entretanto, a coerência de princípios. Afirmou: “…não me sinto desligado do compromisso assumido de não revelar informações a que tive acesso por ser militante comunista. Mesmo que a inconfidência não traga mais consequência alguma, não me sinto no direito de alardear o que me foi revelado em confiança”.
No Governo Médici, em 1970, assinou, junto com Érico Veríssimo um manifesto contra a censura prévia à publicação de livros (já era aplicada nos jornais, televisão e letras de canções) e articulou sua publicação na imprensa. Os principais jornais o publicaram, provocando declarações de apoio de muitos escritores, um verdadeiro movimento nacional contra a censura.
Em 1974, ainda sob a Ditadura Militar, escreveu no livro Bahia de Todos os Santos: “Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano, Carlos Marighella”.
Em 1986, tendo o Governo Sarney reatado relações com Cuba, Jorge Amado e Zélia Gattai tiveram encontro com Fidel Castro. Na ocasião, o Governo cubano estava dialogando com a Igreja Católica, com a assessoria de teólogos da libertação, especialmente frei Betto. Jorge propôs a Fidel que o mesmo diálogo fosse realizado com as religiões de origem africana tão populares em Cuba como no Brasil. O Comandante ouviu, reflexivo, não respondeu. Avalia Jorge Amado: “Na sala do Comitê Central, deixei soltos os orixás para reflexão de Fidel Castro”.
Para que prêmios?
Jorge Amado recebeu muitos prêmios pelo mundo inteiro. Mas o prêmio maior que ele considerava era o fato de ter revolucionado a literatura, levando o povo e seu jeito de falar para ser o sujeito de suas obras. Nada de academicismo, embora tenha ganhado assento na Academia Brasileira de Letras, em 1961. “Não escrevo para ganhar prêmios; outros motivos me inspiram e ordenam; não receber o Nobel não me aflige, nunca pensei merecê-lo. Opino por infeliz o escritor que trabalha e cria em função de prêmios e honrarias”.
Obra revolucionária, eterna, universal
Impossível melhor balanço da vida de Jorge Amado, que faleceu em 2001, que o feito por ele mesmo: “A vida me deu mais do que pedi, mereci e desejei. Vivi ardentemente cada dia, cada hora, cada instante. Briguei pela boa causa, a do homem e a da grandeza, a do pão e da liberdade. Bati-me contra os preconceitos, ousei práticas condenadas, percorri os caminhos proibidos, fui o oposto. Chorei e ri, sofri, amei, me diverti”. Sobre a sua obra, avalia o escritor do povo: “Recolho-me à minha modesta condição de intérprete menor do povo da Bahia com o que me basta e sobra”.
Em relação à sua obra, não posso concordar. Peço licença ao mestre Guimarães Rosa para devolver a Jorge Amado a dedicatória que fez ao romancista mineiro: “Sua obra é eterna (e revolucionária, acrescento) porque você a escreveu com sangue e não com tinta as histórias do povo brasileiro”. Salve, Jorge Amado. Axé!
Nota: A fonte de informações e das citações deste artigo foi Navegação de Cabotagem, livro de memórias do autor publicado pela Editora Record, Rio de Janeiro, 1992.
José Levino é historiador
--------------------------
“Jorge Amado fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes”
Posted: 21 Dec 2012 06:40 PM PST
Leia em nosso site: “Jorge Amado fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes”
José Leite de Oliveira Júnior é professor do Departamento de Literatura da UFCGraduado em letras pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), mestrado em letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), José Leite de Oliveira Júnior é professor do Departamento de Literatura da UFC e estudioso da obra de Jorge Amado, além de artista plástico. Em entrevista a A Verdade sobre a vida e a obra de um dos maiores escritores da humanidade, Leite afirma que “Jorge Amado foi um militante marxista que fez de sua obra um campo de estudo da luta de classes.”
A Verdade – Jorge Amado é considerado um dos maiores autores brasileiros do séculoXX, um dos mais lidos fora do País. Sua obra é rica emregionalismos e contrastes sociais. Qual o significado para o Brasildesses inúmeros livros produzidos por ele?
Professor José Leite – A obra de Jorge Amado se alinha entre aquelas que vêm construindo oque se pode chamar de “mitologia da nacionalidade”. Autores como GonçalvesDias, José de Alencar, Érico Veríssimo, Patativa do Assaré e Jorge Amado estabeleceram poeticamente o espelho pelo qual nos reconhecemosbrasileiros. Não há Estado-nação, vale lembrar, sem essa base poético-mítica.
A vida de Jorge Amado foi marcada por uma intensa intervenção política – ele até foideputado constituinte, em 1946, pelo Partido Comunista Brasileiro.Como medir essa influência comunista na obra dele?
Jorge Amado foi um militante marxista que fez de sua obra um campode estudo da luta de classes. Seus primeiros romances trazem a marcatípica do combate ideológico desferido no período entre a Primeira e aSegunda Guerra. Obras ficcionais, como Suor (1931), Cacau (1933),Jubiabá (1934), às quais acrescento a narrativa nãoficcional de O Cavaleiro da Esperança (1942), representam o que demelhor se produziu no Brasil no ramo da literatura engajada. Ao contrário do que muitos afirmam – certamente sem uma leitura séria desses romances –a qualidade dessas produções é admirável do ponto de vista daliterariedade. Prova disso é a riqueza de metáforas, o expressionismoaplicado na construção das personagens, a coerência figurativa no desenhodos ambientes da Bahia e a intertextualidade com o naturalismo, porexemplo, tudo a comprovar a precocidade do jovem escritor. Mais adiante,superada a fase do engajamento mais ortodoxo, ele deslocaria o olhar parasubprodutos da alienação, como a marginalidade, a prostituição, o racismo, a intolerância religiosa e mesmo a depredação da natureza, portanto semjamais perder o fio ideológico que liga o velho escritor já afastado doPartido ao jovem militante.
O local que esse autor ocupa no cenário literário atual é merecido? Osestudos acadêmicos e outras pesquisas sobre ele são suficientes?
Jorge Amado é infinitamente maior do que a crítica acadêmica de seutrabalho. Faltam estudos acadêmicos profundos sobre o que ele produziu esobram cacoetes e farpas automatizadas de uma pretensa crítica burguesa,com ressonância restrita aos corredores das faculdades, que tenta diminuiro valor de sua obra, mas não se traduz numa produção intelectualmerecedora de atenção. A poética de um Mar morto, o valor humanístico deum Tenda dos milagres ou a crônica inspirada de Gabriela, cravo e canela, entre muitos outros exemplos, ficarão como patrimônio do povobrasileiro, enquanto a mesquinhez da depredação enviesada não resistirá aosopro da História.
Existe alguma influência estrangeira na obra de Jorge Amado?
As maiores influências, a meu ver, vêm do século dezenove, o queinclui os autores europeus. Ele recuperou o romantismo, que o conservousempre apaixonado, e também o naturalismo, sobretudo pelo interessesocial. No século vinte, a ficção russa de um Gorki transparece no jovem
Jorge Amado e o chileno Neruda, de quem foi grande amigo, certamente seharmoniza com a prosa poética do escritor baiano amadurecido.
Ele sempre falou do papel de Zélia, sua esposa, na sua carreiraliterária. Você poderia nos contar brevemente como essa relação foiimportante?
Zélia Gattai é filha de anarquista italiano. A imagem do pai, numaSão Paulo dos primeiros anos do século vinte, ela deixou no delicioso livrode memórias Anarquistas, graças a Deus (1979). Seu encontro com JorgeAmado remonta ao contexto da luta pela anistia, no fim do Estado Novo.Pelos depoimentos que ficaram, sabe-se que Jorge Amado sempre encontrounela a primeira leitora, atenta à produção dos originais, convivendo comas personagens ainda no estado de nascença ficcional. Não há como imaginarum sem o outro.
Qual é para você a maior marca e a mais importante inovação de Jorge Amado?
A maior marca é a brasilidade de sua obra. E a maior invenção foi aternura com que tratou as vítimas da alienação.
Serley Leal e Michell Plattini, Fortaleza
(A Verdade)
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Saturno
Cassini detecta miniatura do Nilo numa lua de Saturno
Os cientistas deduziram que o rio está cheio de líquido
2012-12-17
Falhas podem levar à abertura de bacias <br> (Imagem: NASA/JPL–Caltech/ASI)
A missão internacional Cassini detectou o que parece ser uma versão extraterrestre em miniatura do rio Nilo: o vale de um rio na lua de Saturno, Titã, que se estende por mais de 400 quilómetros, da nascente até um mar grande. É a primeira vez que imagens revelaram um sistema de rio com esta dimensão, com uma resolução tão alta, num lugar fora da Terra.
Os cientistas deduziram que o rio está cheio de líquido, porque parece escuro, ao longo da sua extensão total, na imagem de radar de alta resolução, o que indica uma superfície lisa. "Embora existam alguns curtos, meandros locais, a linearidade relativa do vale do rio sugere que segue o rasto de pelo menos uma falha, semelhante a outros grandes rios que correm para a margem sul deste mesmo mar de Titã", disse Jani Radebaugh, membro da equipa de radar da Cassini, na Brigham Young University, EUA.
"Tais falhas – fracturas na rocha de Titã – podem não implicar tectónica de placas, como acontece na Terra, mas ainda assim podem levar à abertura de bacias e, talvez, à formação de mares gigantes", continuou.
Titã é o único mundo que conhecemos que tem líquido estável na sua superfície. Enquanto na Terra temos o ciclo da água, em Titã ocorre um ciclo equivalente, envolvendo hidrocarbonetos, como o etano e o metano.
Imagens de luz visível das câmaras da Cassini, no final de 2010, revelaram regiões que escureceram após chuvas recentes. O espectrómetro de mapeamento visual e de infravermelhos confirmou, em 2008, a presença de etano líquido num lago no hemisfério sul de Titã, conhecido como Ontario Lacus.
"A imagem de radar deste rio fornece outra foto fantástica de um mundo em movimento, que foi sugerido a partir das imagens de canais e valas visto pela sonda Huygens da ESA enquanto descia à superfície da Lua em 2005", referiu Nicolas Altobelli, cientista de projecto para a Cassini.
A Cassini foi projectada, desenvolvida e montada no JPL. O radar foi construído pelo JPL e pela ASI, em cooperação com membros da equipe dos EUA e de vários países europeus.
(Ciencia hoje)
Os cientistas deduziram que o rio está cheio de líquido
2012-12-17
Falhas podem levar à abertura de bacias <br> (Imagem: NASA/JPL–Caltech/ASI)
A missão internacional Cassini detectou o que parece ser uma versão extraterrestre em miniatura do rio Nilo: o vale de um rio na lua de Saturno, Titã, que se estende por mais de 400 quilómetros, da nascente até um mar grande. É a primeira vez que imagens revelaram um sistema de rio com esta dimensão, com uma resolução tão alta, num lugar fora da Terra.
Os cientistas deduziram que o rio está cheio de líquido, porque parece escuro, ao longo da sua extensão total, na imagem de radar de alta resolução, o que indica uma superfície lisa. "Embora existam alguns curtos, meandros locais, a linearidade relativa do vale do rio sugere que segue o rasto de pelo menos uma falha, semelhante a outros grandes rios que correm para a margem sul deste mesmo mar de Titã", disse Jani Radebaugh, membro da equipa de radar da Cassini, na Brigham Young University, EUA.
"Tais falhas – fracturas na rocha de Titã – podem não implicar tectónica de placas, como acontece na Terra, mas ainda assim podem levar à abertura de bacias e, talvez, à formação de mares gigantes", continuou.
Titã é o único mundo que conhecemos que tem líquido estável na sua superfície. Enquanto na Terra temos o ciclo da água, em Titã ocorre um ciclo equivalente, envolvendo hidrocarbonetos, como o etano e o metano.
Imagens de luz visível das câmaras da Cassini, no final de 2010, revelaram regiões que escureceram após chuvas recentes. O espectrómetro de mapeamento visual e de infravermelhos confirmou, em 2008, a presença de etano líquido num lago no hemisfério sul de Titã, conhecido como Ontario Lacus.
"A imagem de radar deste rio fornece outra foto fantástica de um mundo em movimento, que foi sugerido a partir das imagens de canais e valas visto pela sonda Huygens da ESA enquanto descia à superfície da Lua em 2005", referiu Nicolas Altobelli, cientista de projecto para a Cassini.
A Cassini foi projectada, desenvolvida e montada no JPL. O radar foi construído pelo JPL e pela ASI, em cooperação com membros da equipe dos EUA e de vários países europeus.
(Ciencia hoje)
Filateria
Filatelia Médica : a história contada nos selos
publicado em recortes por camila oliveira
Filatelia não é somente a arte de colecionar selos. É também a arte de apreciar e armazenar fatos históricos importantes para a humanidade. Quem já não se deparou com selos postais e ficou a admirar seus desenhos? Através da arte da filatelia podemos ficar a conhecer melhor o tema da história médica.
O primeiro selo postal surgiu na Inglaterra no dia 6 de Maio de 1840 e foi feito por Rowland Hill (1795-1875), membro do Parlamento inglês. O selo era conhecido como "one penny black", selo negro, que trazia o rosto da rainha Vitória em branco e revelou-se uma invenção muito prática. Antes da criação do selo, o destinatário é que deveria pagar a tarifa e isso gerava um número enorme de devoluções. Os primeiros selos tinham apenas três desenhos: a efígie, o brasão e a cifra, ou uma mistura deles. Somente no começo do século XX começaram a surgir os selos com motivos comemorativos. A filatelia surgiu então como um passatempo entre seus apreciadores através de casas de filatelia. Seu valor comercial na época pode ser comparado ao índice Dow Jones de hoje. Mas o que vamos mostrar aqui são pequenas obras postais que narram a evolução médica.
Toda vez que leio ou releio assuntos sobre a história da Medicina fico num estado de fascinação. Fico a pensar nas dificuldades da época e nos médicos cientistas que com determinação descobriram vacinas, inventaram e adaptaram instrumentos cirúrgicos, relatando e divulgando tudo que era descoberto. Penso na exaustão de suas pesquisas, em quantos falharam e quantos deram certo e na paciência de recomeçar o trabalho para o bem comum. Por conta dessa longa trajetória, uma das formas que aconselho para aqueles que têm a curiosidade de saber quem foi quem nesta história e o que fez como contribuição a humanidade é observar alguns selos postais que foram lançados nestes longos anos como forma de homenagear tanto o criador como a criatura.
O interessante de alguns selos é o detalhismo que existe e os países onde foram lançados. Podemos ter como homenageados desde Hipocrátes (pai da Medicina), passando por Alexandre Fleming (descobridor da penicilina), até um pequeno selo postal lembrando a gripe H1N1 atualmente. Na maioria dos casos, são lançados normalmente em países onde os homenageados nasceram ou passaram grande parte da sua vida por conta dos estudos e pesquisas.
O valor de um selo comemorativo varia de acordo com sua tiragem na época e o tempo que o mesmo ficou em circulação. O tamanho e desenhos é de acordo com o gosto e as peculiaridades do país. Alguns selos são lançados apenas para colecionadores e nem chegam a ser feitos para postagem. São aqueles que normalmente apresentam um leve relevo e predominância de filamentos em dourado ou mesmo cores menos habituais em selos comuns. No caso da filatelia médica os selos exibem a face do homenageado, em que área atuou e o que descobriu, e ainda o ano de seu nascimento e morte. Assim temos um pequeno resumo visual e simples do legado médico.
No website do Dr. Elvio Armando Tuoto, neurologista, médico do trabalho, membro fundador e titular da Academia de História da Medicina e também apreciador da filatelia médica, poderemos conhecer uma excelente coleção sobre este assunto.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/02/filatelia_medica_a_historia_contada_nos_selos.html#ixzz2FViVmzOp
publicado em recortes por camila oliveira
Filatelia não é somente a arte de colecionar selos. É também a arte de apreciar e armazenar fatos históricos importantes para a humanidade. Quem já não se deparou com selos postais e ficou a admirar seus desenhos? Através da arte da filatelia podemos ficar a conhecer melhor o tema da história médica.
O primeiro selo postal surgiu na Inglaterra no dia 6 de Maio de 1840 e foi feito por Rowland Hill (1795-1875), membro do Parlamento inglês. O selo era conhecido como "one penny black", selo negro, que trazia o rosto da rainha Vitória em branco e revelou-se uma invenção muito prática. Antes da criação do selo, o destinatário é que deveria pagar a tarifa e isso gerava um número enorme de devoluções. Os primeiros selos tinham apenas três desenhos: a efígie, o brasão e a cifra, ou uma mistura deles. Somente no começo do século XX começaram a surgir os selos com motivos comemorativos. A filatelia surgiu então como um passatempo entre seus apreciadores através de casas de filatelia. Seu valor comercial na época pode ser comparado ao índice Dow Jones de hoje. Mas o que vamos mostrar aqui são pequenas obras postais que narram a evolução médica.
Toda vez que leio ou releio assuntos sobre a história da Medicina fico num estado de fascinação. Fico a pensar nas dificuldades da época e nos médicos cientistas que com determinação descobriram vacinas, inventaram e adaptaram instrumentos cirúrgicos, relatando e divulgando tudo que era descoberto. Penso na exaustão de suas pesquisas, em quantos falharam e quantos deram certo e na paciência de recomeçar o trabalho para o bem comum. Por conta dessa longa trajetória, uma das formas que aconselho para aqueles que têm a curiosidade de saber quem foi quem nesta história e o que fez como contribuição a humanidade é observar alguns selos postais que foram lançados nestes longos anos como forma de homenagear tanto o criador como a criatura.
O interessante de alguns selos é o detalhismo que existe e os países onde foram lançados. Podemos ter como homenageados desde Hipocrátes (pai da Medicina), passando por Alexandre Fleming (descobridor da penicilina), até um pequeno selo postal lembrando a gripe H1N1 atualmente. Na maioria dos casos, são lançados normalmente em países onde os homenageados nasceram ou passaram grande parte da sua vida por conta dos estudos e pesquisas.
O valor de um selo comemorativo varia de acordo com sua tiragem na época e o tempo que o mesmo ficou em circulação. O tamanho e desenhos é de acordo com o gosto e as peculiaridades do país. Alguns selos são lançados apenas para colecionadores e nem chegam a ser feitos para postagem. São aqueles que normalmente apresentam um leve relevo e predominância de filamentos em dourado ou mesmo cores menos habituais em selos comuns. No caso da filatelia médica os selos exibem a face do homenageado, em que área atuou e o que descobriu, e ainda o ano de seu nascimento e morte. Assim temos um pequeno resumo visual e simples do legado médico.
No website do Dr. Elvio Armando Tuoto, neurologista, médico do trabalho, membro fundador e titular da Academia de História da Medicina e também apreciador da filatelia médica, poderemos conhecer uma excelente coleção sobre este assunto.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2010/02/filatelia_medica_a_historia_contada_nos_selos.html#ixzz2FViVmzOp
Futebol
Kanela
Togo Renan Soares, o Kanela, não foi apenas o maior técnico da História do basquete brasileiro ou do basquete mundial como declarou esta semana Rubén Magnano. Foi um homem à frente do seu tempo. Maior do que os números impressionantes de sua ficha técnica.
Raul Milliet Filho
Togo Renan Soares, o Kanela, não foi apenas o maior técnico da História do basquete brasileiro ou do basquete mundial como declarou esta semana Rubén Magnano. Foi um homem à frente do seu tempo. Maior do que os números impressionantes de sua ficha técnica.
Dirigindo a seleção masculina, conquistou o bicampeonato mundial (1959 e 1963), a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma em 1960, foi decacampeão carioca pelo Flamengo, dentre vários outros títulos.
Kanela era eclético, inquieto, disciplinado e explosivo.
Técnico de futebol (Botafogo, Bangu, E.C.Brasil e Flamengo) e de remo, sua vida se confunde com a História do esporte brasileiro na transição do amadorismo para o profissionalismo.
Estrategista brilhante, metódico, um líder à beira da quadra e do campo, respeitado por atletas e dirigentes. Sem saber nadar, foi técnico de water polo, campeão pelo Botafogo em 1944.
Paraibano, nascido em 1906, muda-se para o Rio de Janeiro com 11 anos, ingressando no Colégio Militar, instituição que lhe apresentou o mundo dos esportes.
Em 1921, torna-se sócio do Botafogo, onde pela sua canela branca e fina, ganha o apelido que o acompanhou para sempre.
“Eu comecei minha vida esportiva jogando e torcendo para o Botafogo...eu entrei para sócio-atleta, mas praticava futebol muito mal, era um mau atleta em questão de habilidade. A minha vida era: de manhã, o Botafogo de Regatas, e à tarde, o Botafogo de Futebol.”
(Depoimento a Pedro Zamora- em “A Era Kanela”)
Em 1925, Kanela é convidado por Carlito Rocha, então diretor geral dos esportes do clube, para dirigir o time juvenil de futebol do Botafogo, conquistando naquele mesmo ano, aos 19 anos, o título de campeão carioca invicto.
Começava ali sua carreira vitoriosa de técnico.
Poucos sabem, mas ele foi o responsável por revelar Domingos da Guia para o futebol. No início da carreira, Domingos jogava no meio campo do Bangu. O centro-médio da época. Kanela convenceu-o a recuar e jogar como zagueiro de área. Domingos tornou-se o maior zagueiro da História do futebol brasileiro, um dos grandes do futebol mundial.
No ano de 1984, em uma longa conversa/entrevista que tivemos, puxei o assunto sobre Domingos da Guia. Kanela lembrou-se das afirmações de Gilberto Freyre em seu prefácio ao livro clássico de Mário Filho, “O negro no futebol brasileiro” O escritor fala do estilo “um tanto álgido” do futebol de Domingos, quase sem floreios e jogadas de efeito. Para ele, e para o próprio Kanela, Domingos da Guia tinha as qualidades da moderação, sobriedade, sem perder a criatividade.
Pude perceber que a definição de Gilberto Freyre para Domingos da Guia caía como uma luva em Kanela: “Um apolíneo entre dionisíacos”.
Em outro texto, Gilberto Freyre lembra as características dos apolíneos, relativas a Apolo, deus grego caracterizado pelo equilíbrio, disciplina e comedimento. E dos dionisíacos, de Dionísio, deus grego dos ciclos vitais, do entusiasmo, da alegria e da inspiração criadora. Dionísio ou Baco, para os romanos.
A decisão de Kanela de recuar Domingos da Guia para a zaga revela sua ousadia e criatividade, próprias de um dionisíaco e abre caminho para conhecermos outra história, ainda mais desconhecida.
Uma história que diz respeito à marcação da defesa no início dos anos 30. Só o espírito observador e inquieto de Kanela poderia explicar porque ele foi um dos primeiros a estudar e aplicar no Brasil a segunda lei do impedimento de 1925. Ele e Gentil Cardoso.
Esta mudança da lei do impedimento representou um divisor de águas no futebol mundial, tornando este esporte mais interessante, rápido e alegre.
A partir daí, era imprescindível recuar mais um jogador e formar uma linha de 3 na zaga. No Brasil poucos enxergavam isso.
Ao recuar Domingos da Guia, Kanela foi profético e certeiro, não só revelando um grande craque, mas dando um passo decisivo para modernizar taticamente o nosso futebol.
Ao tomar esta atitude, Kanela teve a frieza e o equilíbrio de um apolíneo e a inspiração criadora de um dionisíaco. E ninguém melhor do que Domingos da Guia para executar esta função até então desconhecida no futebol brasileiro. Frio, conhecia como ninguém a arte da colocação em campo, dono de passes precisos e antecipações quase perfeitas.
Em 1925, os times europeus começaram a jogar no 1-3-2-2-3, o famoso WM, inventado por Herbert Chapman, treinador do Arsenal.
No Brasil, continuamos por mais de 10 anos jogando no antiquado 1-2-3-5. Perdemos alguns títulos importantes, como o da Copa do Mundo de 1938, por este atraso tático.
Kanela e Gentil Cardoso foram pioneiros e dirigiram o Bangu e o Bonsucesso, respectivamente, no esquema tático inovador. Embora não tenham tido força e prestígio para implantar esta nova filosofia de jogo no país, abriram e pavimentaram o caminho para o técnico húngaro Dori Kurschner realizar esta e outras mudanças a partir de sua passagem pelo Flamengo e Botafogo, entre 1937 e 1940.
No futebol juvenil do Botafogo, Kanela foi campeão em vários anos. Em 1935-1936 dirigiu o time principal do clube em uma excursão ao México e EUA, voltando invicto.
Em 1942, ainda no Botafogo, o técnico Kanela inicia a jornada do tricampeonato de futebol amador, com um time que fez história. Atuaram craques como Paulo Tovar, Otávio de Morais e Augusto Willemsen. Cabe lembrar a grande popularidade e importância do futebol amador e de seus campeonatos no Rio de Janeiro nas décadas de 1930 e 1940.
Em 1933 assume o basquete do Botafogo, em paralelo às suas funções de técnico do futebol juvenil. Foi tricampeão carioca de basquete (1935-1937), campeão em 1939 e tetracampeão de 1942 a 1945.
Assim como nos outros esportes, Kanela afirmava que foi um bom técnico, mas um péssimo jogador de basquete.
Togo fica no Botafogo de 1921 até 1947, quando após mais uma de uma série de desavenças com Carlito Rocha, abandona o clube e vai para o Flamengo.
Esta mudança será decisiva para a sua vida e para o basquete brasileiro.
Enquanto no Botafogo, como era comum naqueles tempos de amadorismo (só o futebol se profissionalizara em 1933), Kanela se dividia entre o futebol, water polo e basquete; no Flamengo, a partir de 1950, passa a dedicar-se quase que exclusivamente ao basquete.
Revolucionou o treinamento do basquete brasileiro, valorizando os contra-ataques e introduzindo os arremessos da “zona-morta”. Decretou o fim da “zona-morta”, fazendo seus atletas executarem esses arremessos à exaustão.
A preparação física, o condicionamento atlético e as inovações no campo tático eram observados atentamente por Kanela, que foi precursor do treinamento seriado no basquete nacional.
Foi um ídolo mesmo numa época em que a seleção brasileira era composta por craques como Algodão, Wlamir Marques e Amaury Pasos.
No Flamengo era comum o ginásio – que hoje leva seu nome – ficar lotado para ver o time de Kanela treinar.
Respirava basquete o tempo todo. Era daquele tipo de técnico com estilo professoral, que a toda hora parava o treino para explicar o jeito certo de executar determinada jogada. Como no caso do “jump”, principalmente após as mudanças das regras limitando a posse de bola até o “chute”.
Estreou como técnico da seleção brasileira de basquete em 1951. Dirigiu a seleção em quinze competições: sete vezes campeão; três vezes vice; quatro vezes terceiro lugar e uma vez sétimo lugar.
Em 1954, concentra a seleção brasileira de basquete durante três meses na fase de preparação para o campeonato mundial no Rio de Janeiro, na inauguração do Maracanãzinho. O Brasil conquista o vice-campeonato.
Ele considerava este momento como uma virada nos rumos desse esporte.
“Em 1954 é que a coisa começou a mudar. Nós trouxemos oito cariocas, oito paulistas, dois gaúchos para um treinamento sério. Neste treinamento apareceram Wlamir e Amaury.” (Entrevista concedida ao Projeto Memória do Esporte)
Amaury tinha apenas 19 anos e formou, ao lado de Wlamir ,uma dupla de ouro para o basquete.
O basquete masculino brasileiro conquistou três medalhas de bronze em olimpíadas: em Londres (1948); Roma (1960) e Tóquio (1964). Embora só tenha sido técnico em Roma, o talento de Kanela esteve presente tanto em Tóquio (a base da seleção de basquete tinha sido montada por ele no bicampeonato mundial de 1963) quanto em Londres.
Se nos treinamentos era um estrategista, dentro de quadra ele se transformava. Com um temperamento explosivo, envolvia-se constantemente em brigas e confusões, principalmente com árbitros, dirigentes e torcedores adversários.
Foi um personagem retratado pela pena privilegiada dos maiores cronistas esportivos brasileiros.
Nelson Rodrigues, em “O Tapa Cívico”, exaltou a bofetada de Kanela no árbitro uruguaio, durante o jogo histórico contra a União Soviética em pleno Maracanãzinho, no Mundial de 1963.
Em 2006, o centenário de nascimento de Kanela quase não foi lembrado. Agora, no dia 12 de dezembro: 20 anos do seu falecimento.
Deixa Falar: o megafone do esporte não poderia deixar de reverenciar Togo Renan Soares.
(*) De Raul Milliet Filho, ver também Mario Monicelli e o samba carioca: um diálogo possível e irreverente, artigo escrito para o XXVI Simpósio Nacional da Anpuh( Associação Nacional de Historia) em 2011.
(**) Deixa Falar: o megafone do esporte é publicado conjuntamente na Carta Maior, no blog do Juca, e no Literatura na Arquibancada quinzenalmente, sábado sim, sábado não, debatendo o esporte em geral e o futebol em particular, dialogando com a História, Política, Música, Economia, Literatura, Cinema, Teatro, Humor etc.
(*) Doutor em História Social pela USP, professor, pesquisador e gestor de políticas sociais na área pública.
(Carta Maior)
Togo Renan Soares, o Kanela, não foi apenas o maior técnico da História do basquete brasileiro ou do basquete mundial como declarou esta semana Rubén Magnano. Foi um homem à frente do seu tempo. Maior do que os números impressionantes de sua ficha técnica.
Raul Milliet Filho
Togo Renan Soares, o Kanela, não foi apenas o maior técnico da História do basquete brasileiro ou do basquete mundial como declarou esta semana Rubén Magnano. Foi um homem à frente do seu tempo. Maior do que os números impressionantes de sua ficha técnica.
Dirigindo a seleção masculina, conquistou o bicampeonato mundial (1959 e 1963), a medalha de bronze nas Olimpíadas de Roma em 1960, foi decacampeão carioca pelo Flamengo, dentre vários outros títulos.
Kanela era eclético, inquieto, disciplinado e explosivo.
Técnico de futebol (Botafogo, Bangu, E.C.Brasil e Flamengo) e de remo, sua vida se confunde com a História do esporte brasileiro na transição do amadorismo para o profissionalismo.
Estrategista brilhante, metódico, um líder à beira da quadra e do campo, respeitado por atletas e dirigentes. Sem saber nadar, foi técnico de water polo, campeão pelo Botafogo em 1944.
Paraibano, nascido em 1906, muda-se para o Rio de Janeiro com 11 anos, ingressando no Colégio Militar, instituição que lhe apresentou o mundo dos esportes.
Em 1921, torna-se sócio do Botafogo, onde pela sua canela branca e fina, ganha o apelido que o acompanhou para sempre.
“Eu comecei minha vida esportiva jogando e torcendo para o Botafogo...eu entrei para sócio-atleta, mas praticava futebol muito mal, era um mau atleta em questão de habilidade. A minha vida era: de manhã, o Botafogo de Regatas, e à tarde, o Botafogo de Futebol.”
(Depoimento a Pedro Zamora- em “A Era Kanela”)
Em 1925, Kanela é convidado por Carlito Rocha, então diretor geral dos esportes do clube, para dirigir o time juvenil de futebol do Botafogo, conquistando naquele mesmo ano, aos 19 anos, o título de campeão carioca invicto.
Começava ali sua carreira vitoriosa de técnico.
Poucos sabem, mas ele foi o responsável por revelar Domingos da Guia para o futebol. No início da carreira, Domingos jogava no meio campo do Bangu. O centro-médio da época. Kanela convenceu-o a recuar e jogar como zagueiro de área. Domingos tornou-se o maior zagueiro da História do futebol brasileiro, um dos grandes do futebol mundial.
No ano de 1984, em uma longa conversa/entrevista que tivemos, puxei o assunto sobre Domingos da Guia. Kanela lembrou-se das afirmações de Gilberto Freyre em seu prefácio ao livro clássico de Mário Filho, “O negro no futebol brasileiro” O escritor fala do estilo “um tanto álgido” do futebol de Domingos, quase sem floreios e jogadas de efeito. Para ele, e para o próprio Kanela, Domingos da Guia tinha as qualidades da moderação, sobriedade, sem perder a criatividade.
Pude perceber que a definição de Gilberto Freyre para Domingos da Guia caía como uma luva em Kanela: “Um apolíneo entre dionisíacos”.
Em outro texto, Gilberto Freyre lembra as características dos apolíneos, relativas a Apolo, deus grego caracterizado pelo equilíbrio, disciplina e comedimento. E dos dionisíacos, de Dionísio, deus grego dos ciclos vitais, do entusiasmo, da alegria e da inspiração criadora. Dionísio ou Baco, para os romanos.
A decisão de Kanela de recuar Domingos da Guia para a zaga revela sua ousadia e criatividade, próprias de um dionisíaco e abre caminho para conhecermos outra história, ainda mais desconhecida.
Uma história que diz respeito à marcação da defesa no início dos anos 30. Só o espírito observador e inquieto de Kanela poderia explicar porque ele foi um dos primeiros a estudar e aplicar no Brasil a segunda lei do impedimento de 1925. Ele e Gentil Cardoso.
Esta mudança da lei do impedimento representou um divisor de águas no futebol mundial, tornando este esporte mais interessante, rápido e alegre.
A partir daí, era imprescindível recuar mais um jogador e formar uma linha de 3 na zaga. No Brasil poucos enxergavam isso.
Ao recuar Domingos da Guia, Kanela foi profético e certeiro, não só revelando um grande craque, mas dando um passo decisivo para modernizar taticamente o nosso futebol.
Ao tomar esta atitude, Kanela teve a frieza e o equilíbrio de um apolíneo e a inspiração criadora de um dionisíaco. E ninguém melhor do que Domingos da Guia para executar esta função até então desconhecida no futebol brasileiro. Frio, conhecia como ninguém a arte da colocação em campo, dono de passes precisos e antecipações quase perfeitas.
Em 1925, os times europeus começaram a jogar no 1-3-2-2-3, o famoso WM, inventado por Herbert Chapman, treinador do Arsenal.
No Brasil, continuamos por mais de 10 anos jogando no antiquado 1-2-3-5. Perdemos alguns títulos importantes, como o da Copa do Mundo de 1938, por este atraso tático.
Kanela e Gentil Cardoso foram pioneiros e dirigiram o Bangu e o Bonsucesso, respectivamente, no esquema tático inovador. Embora não tenham tido força e prestígio para implantar esta nova filosofia de jogo no país, abriram e pavimentaram o caminho para o técnico húngaro Dori Kurschner realizar esta e outras mudanças a partir de sua passagem pelo Flamengo e Botafogo, entre 1937 e 1940.
No futebol juvenil do Botafogo, Kanela foi campeão em vários anos. Em 1935-1936 dirigiu o time principal do clube em uma excursão ao México e EUA, voltando invicto.
Em 1942, ainda no Botafogo, o técnico Kanela inicia a jornada do tricampeonato de futebol amador, com um time que fez história. Atuaram craques como Paulo Tovar, Otávio de Morais e Augusto Willemsen. Cabe lembrar a grande popularidade e importância do futebol amador e de seus campeonatos no Rio de Janeiro nas décadas de 1930 e 1940.
Em 1933 assume o basquete do Botafogo, em paralelo às suas funções de técnico do futebol juvenil. Foi tricampeão carioca de basquete (1935-1937), campeão em 1939 e tetracampeão de 1942 a 1945.
Assim como nos outros esportes, Kanela afirmava que foi um bom técnico, mas um péssimo jogador de basquete.
Togo fica no Botafogo de 1921 até 1947, quando após mais uma de uma série de desavenças com Carlito Rocha, abandona o clube e vai para o Flamengo.
Esta mudança será decisiva para a sua vida e para o basquete brasileiro.
Enquanto no Botafogo, como era comum naqueles tempos de amadorismo (só o futebol se profissionalizara em 1933), Kanela se dividia entre o futebol, water polo e basquete; no Flamengo, a partir de 1950, passa a dedicar-se quase que exclusivamente ao basquete.
Revolucionou o treinamento do basquete brasileiro, valorizando os contra-ataques e introduzindo os arremessos da “zona-morta”. Decretou o fim da “zona-morta”, fazendo seus atletas executarem esses arremessos à exaustão.
A preparação física, o condicionamento atlético e as inovações no campo tático eram observados atentamente por Kanela, que foi precursor do treinamento seriado no basquete nacional.
Foi um ídolo mesmo numa época em que a seleção brasileira era composta por craques como Algodão, Wlamir Marques e Amaury Pasos.
No Flamengo era comum o ginásio – que hoje leva seu nome – ficar lotado para ver o time de Kanela treinar.
Respirava basquete o tempo todo. Era daquele tipo de técnico com estilo professoral, que a toda hora parava o treino para explicar o jeito certo de executar determinada jogada. Como no caso do “jump”, principalmente após as mudanças das regras limitando a posse de bola até o “chute”.
Estreou como técnico da seleção brasileira de basquete em 1951. Dirigiu a seleção em quinze competições: sete vezes campeão; três vezes vice; quatro vezes terceiro lugar e uma vez sétimo lugar.
Em 1954, concentra a seleção brasileira de basquete durante três meses na fase de preparação para o campeonato mundial no Rio de Janeiro, na inauguração do Maracanãzinho. O Brasil conquista o vice-campeonato.
Ele considerava este momento como uma virada nos rumos desse esporte.
“Em 1954 é que a coisa começou a mudar. Nós trouxemos oito cariocas, oito paulistas, dois gaúchos para um treinamento sério. Neste treinamento apareceram Wlamir e Amaury.” (Entrevista concedida ao Projeto Memória do Esporte)
Amaury tinha apenas 19 anos e formou, ao lado de Wlamir ,uma dupla de ouro para o basquete.
O basquete masculino brasileiro conquistou três medalhas de bronze em olimpíadas: em Londres (1948); Roma (1960) e Tóquio (1964). Embora só tenha sido técnico em Roma, o talento de Kanela esteve presente tanto em Tóquio (a base da seleção de basquete tinha sido montada por ele no bicampeonato mundial de 1963) quanto em Londres.
Se nos treinamentos era um estrategista, dentro de quadra ele se transformava. Com um temperamento explosivo, envolvia-se constantemente em brigas e confusões, principalmente com árbitros, dirigentes e torcedores adversários.
Foi um personagem retratado pela pena privilegiada dos maiores cronistas esportivos brasileiros.
Nelson Rodrigues, em “O Tapa Cívico”, exaltou a bofetada de Kanela no árbitro uruguaio, durante o jogo histórico contra a União Soviética em pleno Maracanãzinho, no Mundial de 1963.
Em 2006, o centenário de nascimento de Kanela quase não foi lembrado. Agora, no dia 12 de dezembro: 20 anos do seu falecimento.
Deixa Falar: o megafone do esporte não poderia deixar de reverenciar Togo Renan Soares.
(*) De Raul Milliet Filho, ver também Mario Monicelli e o samba carioca: um diálogo possível e irreverente, artigo escrito para o XXVI Simpósio Nacional da Anpuh( Associação Nacional de Historia) em 2011.
(**) Deixa Falar: o megafone do esporte é publicado conjuntamente na Carta Maior, no blog do Juca, e no Literatura na Arquibancada quinzenalmente, sábado sim, sábado não, debatendo o esporte em geral e o futebol em particular, dialogando com a História, Política, Música, Economia, Literatura, Cinema, Teatro, Humor etc.
(*) Doutor em História Social pela USP, professor, pesquisador e gestor de políticas sociais na área pública.
(Carta Maior)
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Infelicidade
por Julio Daio Borges
22/10/2009 às 09h37
Manifesto Infeliz
"Infelicidade é mais que um mero sentimento. É um direito humano.
Nós somos muito mais inclinados à infelicidade que ao seu contrário. Se somos livres para perseguir a felicidade, não nos leva mais que alguns minutos pensando e ponderando para a infelicidade se instalar. É um sentimento muito mais natural e familiar que a felicidade. Afinal, é compartilhado por muitos mais do que a escassa alegria vivenciada pelos chamados privilegiados.
A infelicidade é democrática: pode afetar qualquer um. Também é alcançada muito mais facilmente: até em uma terra de abundância, a falta de apenas uma coisa pode trazer infinita infelicidade.
Se abraçada, a infelicidade pode despertar uma gama muito mais ampla de sentimentos (depressão, autodesprezo, raiva) que seu oposto, a felicidade, que simplesmente é.
A infelicidade não coloca pressão naquele que a sente, ao contrário da constante e mundial exigência à qual somos submetidos para sermos felizes. A infelicidade não nos persegue. Ela surge dentro de nós.
E não há nada que possa aplacá-la. Enquanto uma pequena, singela desilusão pode devastar a felicidade, algumas pessoas simplesmente nascem com uma capacidade extraordinária para a infelicidade, que nenhuma quantidade de coisas boas, momentos alegres e pessoas queridas pode destruir.
Apesar de tudo isso, a infelicidade sempre foi mal vista. De remédios pesados, a fofos e coloridos desenhos animados, esses inquisidores felizes tentam há eras suprimir a infelicidade e impor a felicidade, a todo custo. No passado, eles acreditavam que a infelicidade era causada pelo constante medo da morte, pragas ou fome, ou a falta de condições de vida de qualidade. Mas o tempo se encarregou de mostrar que nenhum aumento de salário, escolhas, liberdade, saúde, expectativa de vida ou conta bancária das pessoas pode diminuir a infelicidade nos seus corações.
Nós temos, desde o nascimento, o potencial - e o direito - de sermos infelizes. Um poeta poderia até mesmo expressar que 'ser Humano é ter o poder de ser infeliz'.
A infelicidade não surge de fora, não é imposta, tampouco demandada, muito menos esperada. Ela nasce livre e genuinamente, sem cobrar nada.
É tempo de pararmos de depreciar a infelicidade, abraçando essa capacidade verdadeiramente humana, natural à sua mente, ao seu coração e à sua alma, e admitindo que nós somos, e possivelmente seremos, para sempre, infelizes."
Larissa Pontez, no seu JOM.
Especial 100 anos de Luiz Gonzaga
(Digest. Cultural)
22/10/2009 às 09h37
Manifesto Infeliz
"Infelicidade é mais que um mero sentimento. É um direito humano.
Nós somos muito mais inclinados à infelicidade que ao seu contrário. Se somos livres para perseguir a felicidade, não nos leva mais que alguns minutos pensando e ponderando para a infelicidade se instalar. É um sentimento muito mais natural e familiar que a felicidade. Afinal, é compartilhado por muitos mais do que a escassa alegria vivenciada pelos chamados privilegiados.
A infelicidade é democrática: pode afetar qualquer um. Também é alcançada muito mais facilmente: até em uma terra de abundância, a falta de apenas uma coisa pode trazer infinita infelicidade.
Se abraçada, a infelicidade pode despertar uma gama muito mais ampla de sentimentos (depressão, autodesprezo, raiva) que seu oposto, a felicidade, que simplesmente é.
A infelicidade não coloca pressão naquele que a sente, ao contrário da constante e mundial exigência à qual somos submetidos para sermos felizes. A infelicidade não nos persegue. Ela surge dentro de nós.
E não há nada que possa aplacá-la. Enquanto uma pequena, singela desilusão pode devastar a felicidade, algumas pessoas simplesmente nascem com uma capacidade extraordinária para a infelicidade, que nenhuma quantidade de coisas boas, momentos alegres e pessoas queridas pode destruir.
Apesar de tudo isso, a infelicidade sempre foi mal vista. De remédios pesados, a fofos e coloridos desenhos animados, esses inquisidores felizes tentam há eras suprimir a infelicidade e impor a felicidade, a todo custo. No passado, eles acreditavam que a infelicidade era causada pelo constante medo da morte, pragas ou fome, ou a falta de condições de vida de qualidade. Mas o tempo se encarregou de mostrar que nenhum aumento de salário, escolhas, liberdade, saúde, expectativa de vida ou conta bancária das pessoas pode diminuir a infelicidade nos seus corações.
Nós temos, desde o nascimento, o potencial - e o direito - de sermos infelizes. Um poeta poderia até mesmo expressar que 'ser Humano é ter o poder de ser infeliz'.
A infelicidade não surge de fora, não é imposta, tampouco demandada, muito menos esperada. Ela nasce livre e genuinamente, sem cobrar nada.
É tempo de pararmos de depreciar a infelicidade, abraçando essa capacidade verdadeiramente humana, natural à sua mente, ao seu coração e à sua alma, e admitindo que nós somos, e possivelmente seremos, para sempre, infelizes."
Larissa Pontez, no seu JOM.
Especial 100 anos de Luiz Gonzaga
(Digest. Cultural)
Internet
A primeira derrota digital dos EUA
por Redação do The Wall Street Journal
A primeira derrota digital dos EUA
A primeira derrota digital dos EUA
Maioria dos países membros das Nações Unidas aprovam tratado que dá a governantes mais poderes de censurar a internet
A internet aberta e disponível sem a autorização de qualquer governo proporcionou uma grande liberdade de informação a pessoas ao redor do mundo. Uma liberdade, aparentemente, boa demais para durar. Em uma recente votação das Nações Unidas sobre a União Internacional das Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês), em Dubai, governos autoritários venceram a primeira batalha para restringir a liberdade na internet.
Uma maioria de 89 dos 193 países membros aprovou um tratado que dá aos governantes poderes de acabar com o acesso livre à internet em seus países. Embora chocados, os diplomatas americanos não deveriam ter ficado surpresos com o resultado. Há muito, governos autoritários, liderados por Rússia e China, clamam por controle sobre a internet, cuja forma aberta e descentralizada dificulta a contenção do acesso a informações.
Durante a conferência, foi feita uma votação sobre o referendo que daria a governos novos poderes sobre a internet. O resultado foi 89 países membros a favor contra 55. A maioria a favor da restrição inclui países autoritários como China, Rússia e Irã. Pelas regras da ITU, a medida pode entrar em vigor nesses países a partir de 2015. Os demais países não restringirão o acesso, mas seus usuários serão prejudicados pela separação do mundo virtual em dois: aberto e fechado.
Até o momento da votação, os Estados Unidos ainda não tinham percebido a dimensão desta espécie de “guerra fria digital”. Enquanto isso, Rússia e China faziam lobby a favor da restrição.
A votação em Dubai marca o início de uma batalha que ainda se estenderá por um longo período. Muitos países estão empenhados em restringir ou fechar totalmente o acesso à internet. Mas, assim como na guerra fria, esses países estão fadados a derrota caso os países livres resolvam lutar. A população quer liberdade e, eventualmente, a alcançará, independentemente da vontade de governos.
* Publicado originalmente no site The Wall Street Journal e retirado do site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)
por Redação do The Wall Street Journal
A primeira derrota digital dos EUA
A primeira derrota digital dos EUA
Maioria dos países membros das Nações Unidas aprovam tratado que dá a governantes mais poderes de censurar a internet
A internet aberta e disponível sem a autorização de qualquer governo proporcionou uma grande liberdade de informação a pessoas ao redor do mundo. Uma liberdade, aparentemente, boa demais para durar. Em uma recente votação das Nações Unidas sobre a União Internacional das Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês), em Dubai, governos autoritários venceram a primeira batalha para restringir a liberdade na internet.
Uma maioria de 89 dos 193 países membros aprovou um tratado que dá aos governantes poderes de acabar com o acesso livre à internet em seus países. Embora chocados, os diplomatas americanos não deveriam ter ficado surpresos com o resultado. Há muito, governos autoritários, liderados por Rússia e China, clamam por controle sobre a internet, cuja forma aberta e descentralizada dificulta a contenção do acesso a informações.
Durante a conferência, foi feita uma votação sobre o referendo que daria a governos novos poderes sobre a internet. O resultado foi 89 países membros a favor contra 55. A maioria a favor da restrição inclui países autoritários como China, Rússia e Irã. Pelas regras da ITU, a medida pode entrar em vigor nesses países a partir de 2015. Os demais países não restringirão o acesso, mas seus usuários serão prejudicados pela separação do mundo virtual em dois: aberto e fechado.
Até o momento da votação, os Estados Unidos ainda não tinham percebido a dimensão desta espécie de “guerra fria digital”. Enquanto isso, Rússia e China faziam lobby a favor da restrição.
A votação em Dubai marca o início de uma batalha que ainda se estenderá por um longo período. Muitos países estão empenhados em restringir ou fechar totalmente o acesso à internet. Mas, assim como na guerra fria, esses países estão fadados a derrota caso os países livres resolvam lutar. A população quer liberdade e, eventualmente, a alcançará, independentemente da vontade de governos.
* Publicado originalmente no site The Wall Street Journal e retirado do site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)
Resistir
Resistir
Posted: 28 Oct 2010 06:58 PM PDT
Da importância de resistir
26-Jan-2009
Há uma distância tão grande entre o grau de consciência das grandes massas populares e a revolução socialista que se compreende porque muitos preferem trocar a proposta revolucionária por sucedâneos aparentemente mais à mão.
Não vai nisso qualquer insinuação de oportunismo. Pode-se perfeitamente adotar essa alternativa com a melhor das intenções.
A crítica vai por outro lado: objetivamente ela é mais inviável do que a proposta radical. E pior: na remota hipótese de que fosse viável, seria frustrante, porque as reformas no capitalismo não resolvem nenhum dos problemas que seus sinceros proponentes se propõem a resolver.
A melhor saída para o dilema em que se encontram os socialistas do mundo inteiro na conjuntura tão adversa que estão vivendo parece ser a que Gilio Pontecorvo formulou a partir de um diálogo do personagem José Dolores – o líder negro de uma rebelião de escravos destroçada pelas tropas inglesas em uma ilha das Antilhas - no seu extraordinário filme: "Queimada".
Ao ser conduzido por um soldado (visivelmente perturbado por estar conduzindo uma pessoa da sua raça para o quartel onde seria enforcado), José Dolores explicou-lhe, pacientemente, por que era necessário que ele morresse, a fim de que a revolução continuasse. No final, perguntou: "Você entendeu?". O perplexo condutor respondeu: "Não". E José Dolores disse-lhe com um sorriso triste: "Você irá entender porque hoje começou a pensar nisso".
O diálogo traça um programa para os socialistas contemporâneos em conjuntura tão adversa: a preocupação principal nos dias de hoje não é ser entendido pela grande massa popular (porque não serão mesmo), mas expor a proposta na sua inteireza e afiançá-la com seu exemplo.
(Correio da Cidadania)
Posted: 28 Oct 2010 06:58 PM PDT
Da importância de resistir
26-Jan-2009
Há uma distância tão grande entre o grau de consciência das grandes massas populares e a revolução socialista que se compreende porque muitos preferem trocar a proposta revolucionária por sucedâneos aparentemente mais à mão.
Não vai nisso qualquer insinuação de oportunismo. Pode-se perfeitamente adotar essa alternativa com a melhor das intenções.
A crítica vai por outro lado: objetivamente ela é mais inviável do que a proposta radical. E pior: na remota hipótese de que fosse viável, seria frustrante, porque as reformas no capitalismo não resolvem nenhum dos problemas que seus sinceros proponentes se propõem a resolver.
A melhor saída para o dilema em que se encontram os socialistas do mundo inteiro na conjuntura tão adversa que estão vivendo parece ser a que Gilio Pontecorvo formulou a partir de um diálogo do personagem José Dolores – o líder negro de uma rebelião de escravos destroçada pelas tropas inglesas em uma ilha das Antilhas - no seu extraordinário filme: "Queimada".
Ao ser conduzido por um soldado (visivelmente perturbado por estar conduzindo uma pessoa da sua raça para o quartel onde seria enforcado), José Dolores explicou-lhe, pacientemente, por que era necessário que ele morresse, a fim de que a revolução continuasse. No final, perguntou: "Você entendeu?". O perplexo condutor respondeu: "Não". E José Dolores disse-lhe com um sorriso triste: "Você irá entender porque hoje começou a pensar nisso".
O diálogo traça um programa para os socialistas contemporâneos em conjuntura tão adversa: a preocupação principal nos dias de hoje não é ser entendido pela grande massa popular (porque não serão mesmo), mas expor a proposta na sua inteireza e afiançá-la com seu exemplo.
(Correio da Cidadania)
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Remédios
Drogas antigas e remédios caseiros
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
Se pensa que alguns medicamentos actuais, como o Prozac ou o Xanax, entre outros, são drogas muito fortes e tem receio em tomá-los talvez tenha razão. Só um especialista os pode prescrever e em condições muito específicas, pois cada doente é um caso. Mas os nossos avós e bisavós tomavam outro tipo de remédios mais agressivos com toda a confiança e despreocupação. Os tempos eram outros, é certo, mas eles sobreviveram para criar os nossos pais e ainda nos criar os netos (nós) em muitos casos. Dá que pensar. Muitos desses remédios, que não eram vendidos sequer em farmácias, eram feitos com substâncias que hoje são consideradas "ilegais", ou seja, drogas. Ópio, heroína, cocaína eram as mais comuns. Custa-lhe a acreditar? Então veja.
A heroína, por exemplo, era considerada benéfica no tratamento das dores há cerca de 100 anos atrás. Utilizava-se como um substituto da morfina pois, dizia-se, não era viciante. Para além do efeito analgésico, possuía também outras propriedades no combate à asma, tosse ou pneumonia. A empresa farmacêutica Bayer comercializava-a como um remédio para a tosse das crianças. Muitas vezes misturava-se com glicerina, com açúcar e com outros aromas para quebrar o seu sabor amargo, como se pode ver neste rótulo da empresa americana Martin H. Smith Company, de Nova Iorque.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
O ópio nem sempre foi mal visto. Conhecido há centenas de anos no Oriente pelas suas propriedades relaxantes e sedativas, foi adoptado pela medicina ocidental durante muito tempo como anestesiante. Podia ser usado também para o tratamento da asma ou mesmo para "acalmar" bebés recém-nascidos. Com 45% de álcool, além do mais, devia ser realmente muito eficaz.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
E por falar em crianças, um dos melhores remédios para as dores de dentes infantis eram os drops de cocaína. Não apenas acalmavam a dor como também melhoravam o humor de quem os chupava. Para os cantores, professores e oradores era "indispensáveis" as drageias de cocaína e mentol, pois acalmavam gargantas irritadas e davam "suavidade e elasticidade" às cordas vocais. Serviam ainda para animar estes profissionais, fazendo com que atingissem o máximo da performance.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
Uma das formas mais vulgares de consumir cocaína com fins terapêuticos era misturada no vinho. Estes vinhos tinham propriedades medicinais e ainda "recreativas", actuando como uma espécie de anti-depressivo. Destacamos o vinho Mariani, muito famoso no seu tempo (1865) sobretudo devido ao Papa Leão XIII. Consta que Sua Eminência carregava sempre consigo um frasco deste líquido abençoado e, inclusive, premiou o seu criador com uma medalha de ouro!
Sobre o autor: benjamin júnior esteve ligado às artes e tecnologia, sendo um dos fundadores da obvious. Adora o inverno, o conchego da lareira, bom vinho, boa comida e, acima de tudo, boa companhia. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/12/drogas_antigas.html#ixzz2FVjFYFdW
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
Se pensa que alguns medicamentos actuais, como o Prozac ou o Xanax, entre outros, são drogas muito fortes e tem receio em tomá-los talvez tenha razão. Só um especialista os pode prescrever e em condições muito específicas, pois cada doente é um caso. Mas os nossos avós e bisavós tomavam outro tipo de remédios mais agressivos com toda a confiança e despreocupação. Os tempos eram outros, é certo, mas eles sobreviveram para criar os nossos pais e ainda nos criar os netos (nós) em muitos casos. Dá que pensar. Muitos desses remédios, que não eram vendidos sequer em farmácias, eram feitos com substâncias que hoje são consideradas "ilegais", ou seja, drogas. Ópio, heroína, cocaína eram as mais comuns. Custa-lhe a acreditar? Então veja.
A heroína, por exemplo, era considerada benéfica no tratamento das dores há cerca de 100 anos atrás. Utilizava-se como um substituto da morfina pois, dizia-se, não era viciante. Para além do efeito analgésico, possuía também outras propriedades no combate à asma, tosse ou pneumonia. A empresa farmacêutica Bayer comercializava-a como um remédio para a tosse das crianças. Muitas vezes misturava-se com glicerina, com açúcar e com outros aromas para quebrar o seu sabor amargo, como se pode ver neste rótulo da empresa americana Martin H. Smith Company, de Nova Iorque.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
O ópio nem sempre foi mal visto. Conhecido há centenas de anos no Oriente pelas suas propriedades relaxantes e sedativas, foi adoptado pela medicina ocidental durante muito tempo como anestesiante. Podia ser usado também para o tratamento da asma ou mesmo para "acalmar" bebés recém-nascidos. Com 45% de álcool, além do mais, devia ser realmente muito eficaz.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
E por falar em crianças, um dos melhores remédios para as dores de dentes infantis eram os drops de cocaína. Não apenas acalmavam a dor como também melhoravam o humor de quem os chupava. Para os cantores, professores e oradores era "indispensáveis" as drageias de cocaína e mentol, pois acalmavam gargantas irritadas e davam "suavidade e elasticidade" às cordas vocais. Serviam ainda para animar estes profissionais, fazendo com que atingissem o máximo da performance.
Antigos Cura Doencas Drogas Farmacia Medicina Remedios Saude
Uma das formas mais vulgares de consumir cocaína com fins terapêuticos era misturada no vinho. Estes vinhos tinham propriedades medicinais e ainda "recreativas", actuando como uma espécie de anti-depressivo. Destacamos o vinho Mariani, muito famoso no seu tempo (1865) sobretudo devido ao Papa Leão XIII. Consta que Sua Eminência carregava sempre consigo um frasco deste líquido abençoado e, inclusive, premiou o seu criador com uma medalha de ouro!
Sobre o autor: benjamin júnior esteve ligado às artes e tecnologia, sendo um dos fundadores da obvious. Adora o inverno, o conchego da lareira, bom vinho, boa comida e, acima de tudo, boa companhia. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/12/drogas_antigas.html#ixzz2FVjFYFdW
Nanotecnologia
Nanopartícula portuguesa patenteada
nos Estados Unidos da América
A tecnologia foi desenvolvida por investigadores da Universidade de Coimbra
2012-12-17
Por Sara Pelicano
Sérgio Simões, João Nuno Monteiro e Vera Moura desenvolveram a nanopartícula.
Os Estados Unidos da América concederam uma patente a uma nanopartícula de nova geração para o tratamento do cancro da mama, a PEGASEMP™, desenvolvida por uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.
“Fizemos o pedido da patente em 2008”, diz João Nuno Moreira, um dos três cientistas envolvidos no desenvolvimento desta nanopartícula. A equipa completa-se com Vera Moura e Sérgio Simões.
“Uma qualquer nova tecnologia para que possa ser colocada no mercado, portanto fique disponível para os doentes, tem de cumprir dois pressupostos. Por um lado deve-se provar a sua eficácia e por outro deve estar protegido nos grandes mercados da área farmacêutica e foi isso que conseguimos agora com esta patente”, adianta João Nuno Moreira.
A patente “chama a atenção” da indústria farmacêutica e daí “pode decorrer algum investimento” que, em última análise, leva à colocação da nanopartícula no mercado. “Deste modo, a empresa que venha a comercializar a tecnologia tem exclusividade da exploração comercial desta tecnologia, neste caso no mercado americano que é o maior na área farmacêutica”, explica o investigador.
A nanopartícula PEGASEMP™ tem sido testada apenas em animais, mas os resultados são promissores. “A nova nanopartícula distingue-se pela capacidade de, não só matar as células cancerígenas, mas também os vasos sanguíneos que alimentam o tumor, impedindo assim que o cancro se alastre no organismo e evitando reincidências”, explicam os cientistas.
Ao entrar no cancro, a nanopartícula liberta o seu conteúdo e mata as células cancerígenas.
João Nuno Moreira adianta ao Ciência Hoje que “dentro de sensivelmente três anos querem dar início aos ensaios clínicos. Sendo comprovada a eficácia, serão necessários mais quatro anos para que esta nova tecnologia entre no mercado”.
Para dar continuidade ao trabalho, João Nuno Moreira, Vera Moura e Sérgio Simões fundaram a empresa Treat-U, incubada no Biocant, em Cantanhede. “A criação da empresa é uma forma de organização diferente. É uma maneira de podermos candidatar a outro tipo de financiamento como o QREN [Quadro de Referência Estratégica Nacional]”, explica João Nuno Moreira.
E esta forma de organização já deu os seus frutos. No âmbito do QREN, estes três cientistas conseguiram meio milhão de euros para continuar o trabalho.
(cIENCIA hOJE)
nos Estados Unidos da América
A tecnologia foi desenvolvida por investigadores da Universidade de Coimbra
2012-12-17
Por Sara Pelicano
Sérgio Simões, João Nuno Monteiro e Vera Moura desenvolveram a nanopartícula.
Os Estados Unidos da América concederam uma patente a uma nanopartícula de nova geração para o tratamento do cancro da mama, a PEGASEMP™, desenvolvida por uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular e da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.
“Fizemos o pedido da patente em 2008”, diz João Nuno Moreira, um dos três cientistas envolvidos no desenvolvimento desta nanopartícula. A equipa completa-se com Vera Moura e Sérgio Simões.
“Uma qualquer nova tecnologia para que possa ser colocada no mercado, portanto fique disponível para os doentes, tem de cumprir dois pressupostos. Por um lado deve-se provar a sua eficácia e por outro deve estar protegido nos grandes mercados da área farmacêutica e foi isso que conseguimos agora com esta patente”, adianta João Nuno Moreira.
A patente “chama a atenção” da indústria farmacêutica e daí “pode decorrer algum investimento” que, em última análise, leva à colocação da nanopartícula no mercado. “Deste modo, a empresa que venha a comercializar a tecnologia tem exclusividade da exploração comercial desta tecnologia, neste caso no mercado americano que é o maior na área farmacêutica”, explica o investigador.
A nanopartícula PEGASEMP™ tem sido testada apenas em animais, mas os resultados são promissores. “A nova nanopartícula distingue-se pela capacidade de, não só matar as células cancerígenas, mas também os vasos sanguíneos que alimentam o tumor, impedindo assim que o cancro se alastre no organismo e evitando reincidências”, explicam os cientistas.
Ao entrar no cancro, a nanopartícula liberta o seu conteúdo e mata as células cancerígenas.
João Nuno Moreira adianta ao Ciência Hoje que “dentro de sensivelmente três anos querem dar início aos ensaios clínicos. Sendo comprovada a eficácia, serão necessários mais quatro anos para que esta nova tecnologia entre no mercado”.
Para dar continuidade ao trabalho, João Nuno Moreira, Vera Moura e Sérgio Simões fundaram a empresa Treat-U, incubada no Biocant, em Cantanhede. “A criação da empresa é uma forma de organização diferente. É uma maneira de podermos candidatar a outro tipo de financiamento como o QREN [Quadro de Referência Estratégica Nacional]”, explica João Nuno Moreira.
E esta forma de organização já deu os seus frutos. No âmbito do QREN, estes três cientistas conseguiram meio milhão de euros para continuar o trabalho.
(cIENCIA hOJE)
Assinar:
Comentários (Atom)