Síria: ''A resposta não são os mísseis, mas sim um julgamento penal''. Entrevista com Jody Williams
"Não se resolve o problema com mais violência e mais bombas. É preciso dar espaço para a diplomacia dos Estados, mas também dos povos, demonstrando com os fatos que a alternativa ao uso das armas não é a resignação". Assim diz a norte-americana Jody Williams, prêmio Nobel da Paz de 1997, fundadora da Campanha Internacional de Proibição de Minas Terrestres.
A reportagem é de Umberto De Giovannangeli, publicada no jornal L'Unità, 08-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A guerra não é a solução, é o problema", ratifica Jody Williams, signatária de um apelo contra uma solução de força na Síria, juntamente com outras cinco mulheres prêmios Nobel da Paz: Shirin Ebadi (Irã), Tawakkol Karman (Iêmen), Mairead Maguire (Irlanda), Rigoberta Menchu Tum (Guatemala), Leymah Gbowee (Libéria), reunidas na Nobel Women's Iniziative.
Eis a entrevista.
Do que nasce o apelo das seis prêmios Nobel da Paz?
Da convicção de que não há solução militar para esse conflito. Todos os esforços devem convergir para a determinação de uma trégua que seja a premissa para o início de um processo político capaz de pôr fim a um conflito que está devastando e brutalizando a Síria.
Mas há quem considere que é necessário agir rapidamente e enviar um sinal claro para Bashar al-Assad.
Enviar um sinal não significa automaticamente lançar mísseis Tomahawks. É preciso esperar o relatório final dos inspetores da ONU, sem emitir sentenças antes. Existem procedimentos previstos pelas Nações Unidas e nas Nações Unidas. Esses procedimentos devem ser respeitados. Ninguém, mesmo que inspirado pelas melhores intenções, pode se erigir a juiz e executor. Nem mesmo se for o presidente dos Estados Unidos.
Resta a questão do uso de armas químicas contra civis.
Um fato gravíssimo, um ato execrável. Uma vez confirmadas as responsabilidades, é preciso chegar a um julgamento penal, individual e coletivo, contra aqueles que se mancharam com tal crime. Existem instituições internacionais predispostas para isso, como o Tribunal Penal Internacional de Haia. Com relação a isso, a comunidade internacional deve encontrar uma unidade de intenções, caso contrário, o não à ação militar na Síria equivaleria a um encobrimento daqueles que se mancharam com crimes de guerra e contra a humanidade. Eu insisto neste ponto: por muito tempo, a comunidade internacional assistiu passivamente ao banho de sangue na Síria.
O mundo tem o dever moral de encontrar uma saída, porque disso também depende a imagem internacional, a própria credibilidade da ONU e de todas as nações que permanecem indiferentes diante de tal tragédia gigantesca. Assim como não se podem alimentar mais dúvidas sobre o fato de que a brutal repressão ordenada por Assad contra o seu próprio povo representa o pior caso possível de violência deliberada contra a população civil a que assistimos nos últimos anos. A alternativa à ação militar "mirada" levantada pelo presidente Obama não pode, não deve ser a resignação nem ignorar os crimes cometidos pelo regime sírio. Impedir a intervenção não deve parecer como uma vitória do ditador sírio.
Os olhos do mundo estão voltados para a Casa Branca e para as decisões que Barack Obama se prepara para tomar.
Eu ampliaria o ângulo visual e também olharia para o que Moscou e Pequim farão ou não. Muitas vezes, de fato, nesses dois anos de guerra civil, a Rússia e a China usaram o direito de veto no Conselho de Segurança da ONU para parar qualquer resolução de condenação da violência exercida pelo regime de Assad contra a população civil. Esse direito de veto garantiu, de fato, a impunidade para Bashar al-Assad. A força do regime sírio está diante de todos na divisão da comunidade internacional. Assad deve sentir sobre si uma pressão total, compartilhada. Caso contrário, ele pensará que sempre pode ter uma chance para continuar governando com a força mais brutal. Por isso, devemos usar a mesma determinação com que devemos nos opor à ação militar para dizer que, se realmente russos e chineses querem uma solução política para a Síria, pois bem, que o demonstrem com os fatos.
Quais, por exemplo?
Impedir o fornecimento de armas ao regime sírio – e a mesma coisa, do lado oposto, deveria ser feito pela Arábia Saudita, financiadora de grupos mais extremistas no fronte dos rebeldes – e pressionar Damasco para que assine a Convenção contra as Armas Químicas, que dá ao organismo de implementação, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, na sigla em inglês), poderes de controle e de verificação in loco para que não se produzam, se desenvolvam, que não se armazenem nem usem armas químicas. Desse modo, se enviaria um sinal inequívoco para Assad: o tempo da impunidade acabou. E se faria isso com a "arma" do direito e da legalidade internacionais, muito mais eficazes, além de legítimas, do que as ações militares "miradas".
A oposição síria pede um apoio militar.
Eu não acredito que haja uma via militar para a democracia. Quem pensou que podia impô-la de fora determinou apenas novas desgraças, como aconteceu no Iraque com a guerra desejada por Bush. Eu continuo considerando que existem outros instrumentos de pressão que, para serem exercidos com eficácia, precisam de um pleno compartilhamento internacional. É essa vontade política que continua sendo defeituosa. E só os senhores da guerra obtêm vantagem com isso.
(I.H.U.)
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