segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ivette


    Sabor de Mar (47)

    

    E a Ivette? Onde estaria a Ivette? Maria Eduarda sabia que ela estava à sua frente, mas sabia que não era a líder. Havia outra corredoras, mais moças, atletas de verdade, que tinham vindo de outros estados para disputar a prova, como a Eliane Reinhart. A Ivette ia completar 40 anos, mas só dois dias depois da Maratona. Naquele sábado, ela competia ainda na faixa etária de 35 a 39 anos, a mesma de Maria Eduarda. A disputa amigável entre ambas era saber quem chegaria na frente, mas Maria Eduarda estava até disposta a deixá-la ganhar, como uma homenagem a quem a iniciara no esporte. Só não queria perder para a mulher do Fernando Azeredo, embora soubesse que ela ainda nem chegara aos 30 anos.

    Aquele dia, 22 de novembro de 1980, foi um dos mais felizes da vida de Maria Eduarda. Ao dobrar de volta na Avenida Princesa Isabel, para entrar de novo na Avenida Atlântica, viu Rodrigo, Verinha, Aluízio e Elvira, bem na esquina, onde a direção da prova colocara uma fiscalização especial, para evitar que os espertinhos virassem à esquerda e rumassem diretamente até a chegada no Leme, sem ir ao fim do Leblon e retornar. Os quatro gritaram quando ela passou e pareciam orgulhosos, especialmente Rodrigo e Verinha. A noite já havia caído e Maria Eduarda ouviu quando Aluízio anunciou bem alto: “Ganhou aquele americano, o Greg Meyer”. Os homens de ponta já haviam terminado, a Eliane Reinhart devia vir já de volta, na altura do Posto Seis, mas Maria Eduarda tinha ainda 16 quilômetros pela frente. Não importava, nada importava, ela estava dentro de seu ritmo e chegou a pensar: “Se eu não estiver morta quando pegar a Avenida Atlântica de volta, posso até apertar um pouquinho minhas passadas nos últimos quatro quilômetros.

    E, ao chegar ao fim do Leblon, sentiu que aquele dia seria mesmo muito especial. Estava cansada, pois já correra 34 quilômetros, mas não tão cansada quanto esperava. O importante é que passara, ali perto do Country Club, pela temida barreira dos 32 quilômetros. Paulinho Olivieri lhe dissera: “Se você ultrapassar os 32 quilômetros e não sentir que seu gás acabou, você vai completar a prova. Podes crer”. Paulinho era um pouco como o Frederico Hochstatter, mas pela metade. Misturava a segunda e a terceira pessoas.

    Ao chegar perto do final do Leblon, Maria Eduarda viu Ivette, correndo na direção oposta. Estava uns cem metros à sua frente. Parecia mais cansada do que ela.

    

    Nota do Editor: na primeira quinta-feira de cada mês, José Inácio Werneck publica um trecho de seu livro Sabor de Mar.
(Direto da Redação)

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