Obama

Uma noite infeliz Bristol (EUA) – Amigos, não vou dizer que Barack Obama perderá a próxima eleição presidencial por causa de sua fraca atuação diante do desafiante Mitt Romey no debate desta quarta-feira à noite. Mas quase digo que, depois do que vi, Obama merece perder. Entretanto, há um raio de esperança. Escrevo antes de aparecerem novas pesquisas de opinião, auscultando as pessoas que assistiram ao debate, mas tenho meu IBOPE doméstico, que se constitui de um eleitor. No caso, uma eleitora, minha mulher, e eleitora indecisa. É natural que eu tenha me decepcionado com a atuação de Obama, que se mostrou distante, tímido e, muitas vezes, deu a impressão não apenas de que não se preparara devidamente, mas até de que gostaria de estar em qualquer outro lugar, menos naquele palco, diante de Mitt Romney, diante do jornalista Jimmy Lehrer, diante daquelas cameras de televisão, diante daquele público entre 40 e 50 milhões de pessoas. Mas, hoje de manhã, conversando com minha mulher, recolhi dela a seguinte impressão: Barack Obama falou para a nação e procurou explicar os fatos, enquanto Mitt Romney mostrou-se excessivamente agressivo e pouco verossímel. Eis o que me disse esta leitora indecisa, em resposta ao meu questionamento: “Como é que Romney vai manter os cortes de impostos para os milionários, manter todos os gastos militares e ainda assim acabar com o déficit? Quem vai pagar a conta?”. Há gente levantando a tese de que Barama Obama, que chegou a Denver apenas na tarde do debate, sofreu o “efeito altitude”. Denver fica nas Montanhas Rochosas, a pouco mais de 1600 metros, e seu ar é rarefeito. Isto talvez explique a apatia de Obama e seu aspecto cansado, pouco saudável. Em debates entre um presidente em exercício e um candidato ao lugar, é natural que o desafiante parta para o ataque mas nesta quarta-feira tivemos dois casos extremos. Romney, como sempre impecavelmente penteado e escanhoado, com um sorriso de confiança beirando a arrogância, a encarar firmemente Barack Obama, Já o presidente parecia ter medo de olhar para seu interlocutor e deixou de dizer claramente o que seria sua mensagem mais forte: a de que a receita de Mitt Romey para melhorar a condição dos pobres e remediados é dar mais dinheiro aos ricos. Teria sido tão simples e verdadeiro falar isto e voltar-se para Mitt Romney, olho no olho. Barack Obama não o fez. Resta saber se os demais eleitores indecisos terão percebido o que minha mulher percebeu: um Mitt Romey que foi todo estilo e nenhuma substância. Nota do editor: na primeira quinta-feira de cada mês, publicamos um trecho de livro Sabor do Mar, do colunista Werneck. Por causa do debate presidencial, ele fica adiado para a próxima semana. (Direto da Redação)