segunda-feira, 30 de abril de 2012
Pensamentando
Quem é esse?
Por Renato Prata Biar(*)
Quem é esse outro que me olha no espelho
E que de tão diferente, se parece tanto comigo?
De onde vem tanta indignação a ponto de deformar o seu rosto?
Ele não responde; apenas me encara.
Desse olhar melancólico e inquiridor
Vejo escapar o cansaço esperançoso…
Sujeito teimoso feito uma mula!
Dos conselhos do meu pai
Não segui nenhum. Como posso estar tão parecido com ele então?
Gostaria de seguir rumos diferentes
Mas quando nasci, havia um número muito limitado
de rumos a seguir; decidi forjar o meu.
O rumo que queria tomar
Não será seguido nem por mim mesmo, mas por outros eus…
Se mulas eles também forem (e tomara que sejam)
Não se contentarão com os rumos
escolhidos por mim e criarão outros.
Diabo de bicho doido é o homem!
Lembro dos meus brinquedos e sinto falta deles.
Sinto falta do pensamento descomprometido e vago.
Lembro do cheiro do primeiro beijo
Do pé descalço na terra
Do pedaço do dedo que o paralelepípedo tomou pra ele.
Da inocência que, perdida,
nunca mais se encontra novamente.
Das brincadeiras e das brigas… E foram muitas!
Agora sim reconheço esse aí no espelho: sou eu.
Sou esse que nunca imaginei ser
Sou esse que esconde a criança que ainda é
Para ser respeitado como homem que demonstra ser.
O mundo não respeita a infância.
Que saudade do uniforme da escola
e da hora do recreio!
Que saudade do meu pai!
Pensando bem,
Todas as lutas de todos no mundo
Talvez tenha um único objetivo:
Perpetuar o mundo da criança.
*Renato Prata Biar é historiador. Colabora com o “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Mar de Prata“.
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