quarta-feira, 25 de abril de 2012

Arte

Quando Rubem Braga se encontra com Manuel Bandeira em Crônicas por Rodrigo Della Santina em 21 de abr de 2012 às 19:07 Dois homens: um cronista e um poeta. Dois gigantes da literatura brasileira. {5BE8172A-C118-4CB1-BCC6-B5411A847D7E}_Ruben%20Braga[1].jpg “(...) e naquele instante se achava sozinho no salão dos doces, perante o Grande Bolo Iluminado. Então tivemos a consciência de que estávamos sendo televisionados e minha namorada se disfarçou numa jovem casuarina; sentei-me no chão, apoiei a cabeça no seu tronco e adormeci. Quando acordei, ela era outra mulher e passava a mão na minha cabeça e me dizia: ‘agora eu me chamo Teresa’. Eu não quis perguntar por quê; tive receio de que ela me contasse alguma coisa triste e então me ergui dizendo rapidamente: ‘vamos ao Pavilhão La Fiesta onde há gôndolas de cristal na água azul e distribuição de laranja-cravo; vamos assistir à corrida das Zebras Imperiais e ver a Girafa que planta bananeira, dizem que é uma coisa louca’. Ela, porém, fez um sorriso de dúvida, ou de pena, e partiu. Quando olhei em torno vi que não havia mais ninguém. Eu estava sozinho na penumbra e no silêncio; sentei-me em um banco de pedra e fiquei apenas olhando uma parede cinzenta, uma parede fria, uma parede lisa, triste. Uma parede”. (Fragmento de “Quermesse” de Rubem Braga) manuelbandeira[1].jpg Madrigal tão engraçadinho Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos. (Manuel Bandeira) Profundamente Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído do bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente * Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. (Manuel Bandeira) *** Note que, além do cenário e do "adormecer" e "despertar" de ambas as obras, na crônica Rubem Braga escreve que "então me ergui dizendo rapidamente...", bem ao ritmo, ao fôlego de "Madrigal...". rodrigosantina Artigo da autoria de Rodrigo Della Santina. Poeta, cronista e contista formado em Letras pela UNIMESP. Tem dois livros de poesia publicados sob os títulos “Intertrigem” e “O Limiar do Surto”.. Saiba como fazer parte da obvious. Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/o_limiar_da_lucidez/2012/04/quando-rubem-braga-se-encontrou-com-manuel-bandeira.html#ixzz1suhdUp9t (Obvious)

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