Elogio ao cabelo branco
Ana Elisa Ribeiro
Os cabelos brancos são incomuns em minha família. Quem os podia ter, mantinha-os pintados de um castanho claro bastante convincente. O avô mais velho ostentava, desde sempre, uns cabelos prateados que em nada se pareciam com algo deselegante. Jeitosos e frequentemente penteados - com um pequeno pente de bolso -, esses cabelos foram motivo, a vida toda, de comentários elogiosos. É daí que conheço o mito do "homem grisalho charmoso".
Entre os parentes ainda mais próximos, vi reproduzido o mesmo expediente: a mãe com um castanho calculado, uma mistura de duas tinturas, para obter um resultado menos artificial. O pai de cabelos eternamente pretos, naturais, com leves insinuações de fios brancos na barba e nas costeletas.
Não somos uma família em que os fios brancos são precoces. Nenhum tio, nenhum primo. Não posso afirmar sobre as mulheres justamente porque nem elas mesmas devem se lembrar da última vez em que viram seus cabelos como são. Fica, então, a história camuflada dos fios de cabelo e, talvez, do envelhecer dessas pessoas. E a mim? O que caberia?
Certa vez, diante de Angela Lago, autora de literatura infantil que admiro muito, tomei coragem e elogiei seus branquíssimos cabelos curtos. Ela, com aquele olhar sorridente, me respondeu dizendo que "depois de certa idade, o branco traz um semblante de paz". Achei bonito, mas a baliza da "certa idade" ainda me desconcertou. O mesmo talvez eu dissesse a Adélia Prado, aquela senhora poeta mineira, que também traz sobre si uma coroa de fios branquíssimos. Quantos conselhos sobre isso ela deve ter enfrentado na vida? E quantos ela solenemente desconsiderou?
É, então, algo em que ponho reparo, desde sempre. Mas nem sei se sempre achei bonito ou interessante. Na verdade, meu incômodo vem das questões com a liberdade e os moldes - não modelos - que configuram o comportamento estético de uma mulher, em nossa sociedade.
Não quero enveredar por um discurso feminista ou cansativo. Quero mesmo é me lembrar da minha trajetória até o momento em que decidi que meus fios brancos ficariam como estão. E já estão há algum tempo.
Minha amiga, professora da Universidade Federal de São Carlos, tem os cabelos médios extraordinariamente grisalhos. E eu disse isso a ela, certa vez, prevendo meu futuro. Mas eu também investigava, junto ao meu elogio, como ela suportava a vida sendo uma mulher grisalha. E, sim, ela tinha umas experiências a contar.
Quantas pessoas se admiraram, ao me ver de perto, com meus fios longamente brancos? Quantas, quase desconhecidas, me deram conselhos sobre desleixo, cuidados, estética, feminilidade e tinturas? Quantos já me disseram, em tom tão delicado quanto auxiliar, que o cabelo branco me envelhece? Ah, caros, é bem o contrário: o envelhecimento é que os traz. Mas afora as questões de cronologia e lógica, estou diante de um conflito entre o que sou e o que devo ser.
Até hoje, desobedeci, francamente, a todos os conselhos, de amigos ou não, sobre cabelos brancos. Também desprezei as indicações de cor e técnica. Balaiagem pode despistar. Não vem ao caso. Mesmo nos salões de beleza, onde minhas características saltam mais aos olhos, tenho me esquivado dos desejos alheios para dar vazão aos meus. E vamos ficando assim, enquanto dura a persistência.
É teimosia? Não creio. É apenas o que é. Simples como as unhas crescerem e as rugas surgirem são os cabelos embranquecerem. Ou não? Curiosamente, isso não me parece extraordinário. Nem nos outros, nem em mim mesma. Onde está minha beleza? Se há alguma, está num conjunto e talvez na pinta ao lado do olho.
Os fios brancos vêm do couro cabeludo e descem até as espáduas. São transgressores, vivazes, destacam-se dos outros fios, tão mais, que são pretos. Fogem do alinhamento de tudo, esvoaçam mais transparentes. Ao contrário dos velhos da cidade, os fios brancos são pouco penteáveis. Alguns, para minha surpresa, são degradê. Vão ficando brancos, numa trajetória que deve ter ocorrido junto com os fatos da vida. Vão ficando mais duros e menos conciliáveis.
Li, numa revista, que os homens andavam platinando os cabelos pretos. Oh, céus! Para homens, isso é platinar. Quantos discursos não temos para nos driblar. Apenas às muito velhas é permitido desistir de se parecerem jovens. Que xampu é esse que deixa seus cabelos de um cinza lindo?
E então, vivia eu, plenamente, meu conflito entre os outros e meu cabelo, quando um amigo, terrivelmente doce, ao falarmos sobre alguma foto em que meus fios alvos apareciam em destaque, disse: "Deixa assim. Isso te dá um charme". Não foi pequeno meu susto ao ouvir um homem dizer o que quase ninguém diz, especialmente a uma mulher. Uma mulher charmosa não costumava ser a grisalha. Não sou ainda isso, mas posso vir a ser. E alguém me acharia, então, charmosa? É isso o que me anima a sempre pensar que há gosto para tudo, neste mundo. O discurso da diversidade é uma brincadeira, eu sei. Ele, geralmente, não passa de meia dúzia de frases na boca da maioria das pessoas. É, ainda, necessário se "encaixar". Mas quando um homem diz que está tudo bem, é pra se comemorar. E quando uma mulher me disser isso - o que é mais difícil -, vou achar que ainda é tempo de a gente viver como quer, inclusive com os cabelos.
Ana Elisa Ribeiro
(Digest. Cultural)
sábado, 31 de agosto de 2013
A Mulher
Raul Longo – A mulher que brochou os Hell’s Angels
Jair Bolsonaro planeja a "Operação 7 de Setembro".
Jair Bolsonaro planeja a “Operação 7 de Setembro”.
Os golpistas, estupradores no sentido mais clássico do gênero, são tão convictos de serem castrados que vão na marra mesmo. Como o Jair Bolsonaro, por exemplo, que anda convocando o que já chama de “Operação 7 de Setembro” para estupro coletivo da democracia brasileira.
Por Raul Longo(*)
Há poucos dias citei Freud explicando, em “A Dissolução do complexo de Édipo”, que a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto que o menino teme sua ocorrência. Talvez por aí se explique a barbárie do estupro.
Quem é o estuprador se não alguém sem convicção da própria masculinidade? Precisando provar para si mesmo ser dotado de algo que possa ser introduzido, descarta as demais particularidades estimuladoras da libido acionada pelo comportamento típico aos interesses sexuais de ambos os gêneros: a sedução.
Alguns estupradores até se comportam sedutoramente, mas apenas para atrair suas vítimas a uma situação que permita o violentar, expressão própria de quem não confia na própria capacidade de manutenção da masculinidade.
Esse comportamento não é exclusivo dos estupradores convencionais e se pode considerar que maus políticos também sejam estupradores que seduzem seus eleitores para depois extorquir o erário público. O fazem tão premeditada e violentamente quanto um estuprador. Apenas conseguiram desviar a libido para a posse de verbas públicas, ao invés do sexo, querem possuir as finanças. Mas dá no mesmo.
Isso sem considerar os golpistas, estupradores no sentido mais clássico do gênero: tão convictos de serem castrados que vão na marra mesmo. Como o Jair Bolsonaro, por exemplo, que anda convocando o que já chama de “Operação 7 de Setembro” para estupro coletivo da democracia brasileira.
Na mente doentia do estuprador sedutor, se a vítima cedeu à sedução ao ponto de o acompanhar onde impossível a interferência de terceiros, está garantido seu direito de violentá-la. O político com caráter de estuprador se comporta da mesma forma quando seduz seus eleitores a ponto de elegê-lo ao cargo que considera lhe dar o direito de violentar bens e finanças públicas, mas o sem nenhum caráter anda em bando ou os convoca. E agora isso virou onda pelas redes sociais transformadas em chamados às hordas bárbaras.
Dessa forma justificam e compensam seus complexos de impotência e a incapacidade de realização de algo agradável, prazeroso, útil, satisfatório àqueles que seduzem. Derruídos pela eterna incerteza do momento em que, enfim, serão castrados por suas insuficiências psicológicas. Daí a homofobia do Bolsonaro, resultante de sua pouca autoconvicção sexual.
Pode ser apenas teoria de um pseudo analista, mas explica não só as hordas bolsonárias que ameaçam a cidadania, como também o admirável poder e a força de algumas de minhas amigas. Naquela primeira oportunidade contei da psicóloga que castrou a prepotência da classe médica brasileira, popularmente conhecida como a Máfia de Branco, mas se minha amiga Guida Losso teve a cara de castrar o corporativismo mafioso, a Regina Brasil não deixou por menos e brochou os Hell’s Angels, horda bolsonária internacional, considerada como o sindicato do crime sobre duas rodas.
Muito temidos em todo o mundo, sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá, a fama dos Hell’s Angels também é vincada por modalidades criminosas: tráfico de drogas, violência gratuita e prática de estupros.
Por onde passam os Angels distribuem pancadaria pra todo lado, inclusive nas mulheres que violentam em todos os sentidos. Em dezembro de 1969, durante o Concerto de Altamont na Califórnia, mandaram ao hospital com traumatismo crânio a uma jovem grávida. Não especificamente isso, mas os bolsonários prometem coisa semelhante para o próximo 7 de setembro e para a segurança de seus fetos é recomendável que grávidas não cogitem comemorar o aniversário da independência.
Essa não será a primeira violência promovida pelo Bolsonaro que verbalmente já agrediu até a Preta Gil, e tampouco foi a única da horda dos Hell’s Angels. Naquele mesmo evento realizado pelo grupo inglês Rolling Stones que, entusiasmados pelo sucesso do Festival de Woodstock, quatro meses após promoveram novo concerto de rock e fizeram a besteira de contratar os Hell’s Angels como seguranças. O saldo foi mais drástico do que o traumatismo da grávida: além de centenas de espectadores feridos, quatro assassinatos com requintes de crueldades e por motivos fúteis, como o do jovem negro estrangulado por mero racismo e outro afogado em uma poça de água, além de um dos organizadores do show que esfaquearam até a morte.
Já antes da debandada do público o espetáculo foi suspenso porque os músicos recusaram se apresentar com medo de seus seguranças, depois que um integrante do grupo Jefferson Airplane foi atacado no palco por um Hell’s Angels. O que serve de sobreaviso inclusive aos eleitores do deputado que, pelo face book de sua ONG: Brazil no Corrupt, promete que o pau vai comer.
Segundo um amigo homossexual, isso de “pau comer” é vontade enrustida de dar, mas no caso do caso do Concerto de Altamont o FBI revelou ter descoberto um plano de vingança dos Angels que pretendiam matar Mike Jagger na casa de veraneio dos Rolling Stones nos Estados Unidos, à beira mar. Os agentes do FBI nem se meteram no assunto dos cabeludos, mas, interioranos, os Angels acabaram virando o barco no qual se aproximavam da casa dos Stones pelo mar. E assim se safou da morte um dos maiores ídolos sexuais masculinos do rock internacional, enquanto os bolsonários ianques tomaram um banho involuntário.
Aqui na Ilha de Santa Catarina nem precisamos do mar porque antes de atravessar o canal que nos separa do continente, os Angels já foram barrados pela Regina Brasil que mora bem ali na cabeceira da ponte. Mais exatamente na Rua Fúlvio Aducci, nas margens do bairro continental do Estreito.
Na madrugada do dia 19 de abril de 2012, uma quinta-feira, minha amiga estranhou uns roncos em frente à sua casa. Afastou a cortina e deu uma talibaga (olhadela, no vocabulário mané) e não gostou do que viu: uma patrola invadia o terreno do outro lado da rua. Como depois declarou para uma jornalista:
“- … um pequeno pulmão para o nosso bairro. Aqui tem árvores nativas, como jerivá, papata, gabiroba e pitanga que alimentam os pássaros. Acordo com o canto deles todos os dias. É lindo!”
Para melhor explicar a bronca da amiga com a substituição do chilrear de canários, bem-te-vis, tiés, cardeais, jaçanãs, baitacas, sabiás, caturritas, tico-ticos e outros vespertinos representantes da fauna aviária nativa e também migratória como a juriti; pelo rugido de uma escavadeira da Prefeitura Municipal de Florianópolis, antes é preciso contar que bem em frente a sua casa e ao lado do bosque que mencionou à repórter, instalou-se uma loja da Harley Davidson.
As motocicletas Harley Davidson, além da violência e do estupro, é outra marca registrada dos Hell’s Angels. Quem avistar um amontoado de motocicletas Harley Davidson pode passar ao largo porque tem um bando de arruaceiro no pedaço, a menos que seja uma revenda da marca. Nas maluquices das jogadas de marketing, vai se saber se bad boys como Bolsonaro não são meros garotos propaganda! Pelo sim, pelo não, os Angels se tornaram internacionalmente conhecidos como vetustos adolescentes mal resolvidos e onde tem revenda ou concessionária Harley Davidson, tem Hell’s Angels por perto.
Evidente que entre os muitos complexos de castração da classe média colonizada do Brasil, além de bolsonários também não poderia faltar a imitação dos Hell’s Angels. Em 2006, sobre suas indefectíveis Harley Davidson, um magote deles acabou com um evento realizado no autódromo de Interlagos, promovendo pânico entre espectadores e expositores. Voaram copos, garrafas e cadeiras, além de utilizarem facas, canivetes e revólveres.
Portanto nem aqui no Brasil se está livre desses sujeitos, mas naquela manhã, pelo menos para Florianópolis minha amiga Regina Brasil deu um jeito.
Quem a conhece sabe como é: alta, bonita, forte, de um sorriso enorme e abraço que, como diz uma sua aluna, “acalenta a alma”. Regina é um abrigo, mas não mexam com seus brios de Manezinha Tripeira, como ela mesma me ensinou serem chamados os do continente pelos ilhéus, em resposta ao epíteto depreciativo de “Manézinhos da Ilha”, aproveitando a existência de um matadouro pertinho da casa da Regina e já há muito demolido.
Tudo isso é coisa de antanho e claro que Regina, sensível professora de literatura adorada por seus alunos que a chamam de Super Regi, não mantenha nada de velhas indisposições provincianas; no entanto que se não revolva suas tripas porque dá em tempestade que foi trovejar do outro lado da rua.
Elegante e acostumada a expor aos vestibulandos as sutis e poéticas analogias compreendidas nas estrelinhas das frases dos grandes escritores (que muitas vezes desconfio que nem mesmo eles desconfiavam do que Regina lhes é capaz de descobrir), pacientemente minha amiga expôs ao tratorista o que mais tarde explicou à repórter:
“- … (aqui) Há conchas, ostras e até restos orgânicos de humanos ou animais que deveria servir para conhecermos nossa história”
Em outro trecho a jornalista Roberta Kremer (respeitem: não é Kramer, não! Não tem nada a ver com a Dora!) se incumbiu de completar as informações da professora; “No terreno não há placa informando se tratar de um sítio arqueológico identificado em 2003, e onde há vestígios de ocupação de 3 mil anos, além de povos dos século 18 e 19”.
Apenas cumpridor de ordens, só o que o maquinista pode fazer foi comunicar à prefeitura que havia uma mulher na frente da patrola, decidida a não deixá-lo fazer o serviço. O então prefeito Dário Berger não foi besta de se meter e passou a bomba pro Secretário de Obras que atendendo à solicitação ou negociação com a loja da Harley Davidson, havia autorizado a “limpeza” do terreno para aumentar o pátio de exposição dos brinquedinhos dos Hell’s Angels.
A declaração de Deglaber Goulart à mesma repórter foi drástica: “- Uma pessoa não pode impedir que se faça a limpeza do terreno. Ela não manda na prefeitura”.
Manda sim! Como é que não manda? Afinal quem elegeu o prefeito que o indicou como secretário, se não os cidadãos? Quem o elegeu como vereador, se não os cidadãos?
Como cidadã e professora, Regina Brasil deu uma lição no secretariozinho, conforme publicado lá no jornal da Roberta Kremer “- O que falta é um pouco de respeito com o outro. Se a gente soubesse que o outro é um ser interessante e deve ser respeitado, tudo seria melhor. Respeitar o bem público! Isso é cidadania.”
E é aí que a amiga confirma minha teoria do complexo de castração, já que concordo com a penalidade de crime hediondo para a corrupção por considerá-la estimulada pelos mesmos motivos que levam à prática do estupro: o complexo de castração. O estuprador sexual é movido pela certeza de que em algum momento perderá sua condição de se apoderar o que por natureza pertence a quem violenta, da mesma forma que o estuprador político se move pela certeza de que em algum momento perderá sua bolsonara condição de se apoderar do que por direito pertence ao eleitor, conforme intenciona a tal “Operação 7 de Setembro”.
Em ambos os casos o estupro ocorre pela incapacidade de relações consensuais, de compartilhar evoluções da confiança conquistada. Descrente da própria masculinidade a síndrome psicótica do complexo de castração se manifesta pela usurpação, seja na imposição pela supremacia da força física ou por sorrateira posse do alheio confiado às inexistentes responsabilidades políticas que, como no caso do Deglaber ou do ex-prefeito Dário Berger, sequer alcançam à cidadania, conforme demonstrado na lição da professora Regina Brasil.
Mas, segundo me relatou, o que mais a revoltou não foi nem o cagaço dos Hell’s Angels com os roncos de suas motocicletas intimidados pelo rugir da “Heroína”, como a consideraram seus vizinhos segundo o relato da repórter. O que deixou Regina indignada mesmo foi a gerente da Harley Davidson dizer que precisava arrumar um tanque de roupa para lavar. “- Pode?” – reclamou – “Isso é depor contra nossa própria classe!”
É… Nesse caso a gerente da Harley Davidson contradisse Freud e demonstrou que algumas mulheres também sofrem de complexo de castração. Sem dúvida! E é até capaz do Bolsonaro também ter eleitoras. O que faz lembrar um filme da italiana Liliana Cavani: “O Porteiro da Noite”, onde uma prisioneira judia se envolve numa paixão doentia por seu carcereiro e estuprador nazi.
Livre e forte como é, Regina Brasil não se deixou intimidar por ninguém. Veio polícia, veio político, e ela ali na frente da escavadeira na base do “Só passa se for por cima de mim”. Ameaçaram prender e ela confidenciou que pensou mesmo que teria de dormir na cadeia. Mas não arredou pé.
Até as rádios falaram da mulher maluca que parou a patrola e o trabalho da prefeitura, e a coragem da amiga virou assunto nacional até que lá pelo final do dia estacionou um carro preto e uns caras de polícia se aproximaram de Regina que já os recebeu de dedo, dizendo que dali não sairia. Mas esses se identificaram como Federais e explicaram que estavam ali para protegê-la.
Pois na última vez que nos encontramos Regina contou que neste agosto seria julgada a afronta dos Hell’s Angels mancomunados com o ex-prefeito Dário Berger, contra o patrimônio público florianopolitano. Com não a encontrei mais, espero que por esta crônica a faça me telefonar para contar o resultado do julgamento.
Se houver uma Regina Brasil em cada cidade onde a turma do Bolsonaro promete aprontar arruaça no próximo dia da independência, a tal da “Operação 7 de Setembro” vai pro vinagre.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.
Jair Bolsonaro planeja a "Operação 7 de Setembro".
Jair Bolsonaro planeja a “Operação 7 de Setembro”.
Os golpistas, estupradores no sentido mais clássico do gênero, são tão convictos de serem castrados que vão na marra mesmo. Como o Jair Bolsonaro, por exemplo, que anda convocando o que já chama de “Operação 7 de Setembro” para estupro coletivo da democracia brasileira.
Por Raul Longo(*)
Há poucos dias citei Freud explicando, em “A Dissolução do complexo de Édipo”, que a menina aceita a castração como fato consumado, enquanto que o menino teme sua ocorrência. Talvez por aí se explique a barbárie do estupro.
Quem é o estuprador se não alguém sem convicção da própria masculinidade? Precisando provar para si mesmo ser dotado de algo que possa ser introduzido, descarta as demais particularidades estimuladoras da libido acionada pelo comportamento típico aos interesses sexuais de ambos os gêneros: a sedução.
Alguns estupradores até se comportam sedutoramente, mas apenas para atrair suas vítimas a uma situação que permita o violentar, expressão própria de quem não confia na própria capacidade de manutenção da masculinidade.
Esse comportamento não é exclusivo dos estupradores convencionais e se pode considerar que maus políticos também sejam estupradores que seduzem seus eleitores para depois extorquir o erário público. O fazem tão premeditada e violentamente quanto um estuprador. Apenas conseguiram desviar a libido para a posse de verbas públicas, ao invés do sexo, querem possuir as finanças. Mas dá no mesmo.
Isso sem considerar os golpistas, estupradores no sentido mais clássico do gênero: tão convictos de serem castrados que vão na marra mesmo. Como o Jair Bolsonaro, por exemplo, que anda convocando o que já chama de “Operação 7 de Setembro” para estupro coletivo da democracia brasileira.
Na mente doentia do estuprador sedutor, se a vítima cedeu à sedução ao ponto de o acompanhar onde impossível a interferência de terceiros, está garantido seu direito de violentá-la. O político com caráter de estuprador se comporta da mesma forma quando seduz seus eleitores a ponto de elegê-lo ao cargo que considera lhe dar o direito de violentar bens e finanças públicas, mas o sem nenhum caráter anda em bando ou os convoca. E agora isso virou onda pelas redes sociais transformadas em chamados às hordas bárbaras.
Dessa forma justificam e compensam seus complexos de impotência e a incapacidade de realização de algo agradável, prazeroso, útil, satisfatório àqueles que seduzem. Derruídos pela eterna incerteza do momento em que, enfim, serão castrados por suas insuficiências psicológicas. Daí a homofobia do Bolsonaro, resultante de sua pouca autoconvicção sexual.
Pode ser apenas teoria de um pseudo analista, mas explica não só as hordas bolsonárias que ameaçam a cidadania, como também o admirável poder e a força de algumas de minhas amigas. Naquela primeira oportunidade contei da psicóloga que castrou a prepotência da classe médica brasileira, popularmente conhecida como a Máfia de Branco, mas se minha amiga Guida Losso teve a cara de castrar o corporativismo mafioso, a Regina Brasil não deixou por menos e brochou os Hell’s Angels, horda bolsonária internacional, considerada como o sindicato do crime sobre duas rodas.
Muito temidos em todo o mundo, sobretudo nos Estados Unidos e no Canadá, a fama dos Hell’s Angels também é vincada por modalidades criminosas: tráfico de drogas, violência gratuita e prática de estupros.
Por onde passam os Angels distribuem pancadaria pra todo lado, inclusive nas mulheres que violentam em todos os sentidos. Em dezembro de 1969, durante o Concerto de Altamont na Califórnia, mandaram ao hospital com traumatismo crânio a uma jovem grávida. Não especificamente isso, mas os bolsonários prometem coisa semelhante para o próximo 7 de setembro e para a segurança de seus fetos é recomendável que grávidas não cogitem comemorar o aniversário da independência.
Essa não será a primeira violência promovida pelo Bolsonaro que verbalmente já agrediu até a Preta Gil, e tampouco foi a única da horda dos Hell’s Angels. Naquele mesmo evento realizado pelo grupo inglês Rolling Stones que, entusiasmados pelo sucesso do Festival de Woodstock, quatro meses após promoveram novo concerto de rock e fizeram a besteira de contratar os Hell’s Angels como seguranças. O saldo foi mais drástico do que o traumatismo da grávida: além de centenas de espectadores feridos, quatro assassinatos com requintes de crueldades e por motivos fúteis, como o do jovem negro estrangulado por mero racismo e outro afogado em uma poça de água, além de um dos organizadores do show que esfaquearam até a morte.
Já antes da debandada do público o espetáculo foi suspenso porque os músicos recusaram se apresentar com medo de seus seguranças, depois que um integrante do grupo Jefferson Airplane foi atacado no palco por um Hell’s Angels. O que serve de sobreaviso inclusive aos eleitores do deputado que, pelo face book de sua ONG: Brazil no Corrupt, promete que o pau vai comer.
Segundo um amigo homossexual, isso de “pau comer” é vontade enrustida de dar, mas no caso do caso do Concerto de Altamont o FBI revelou ter descoberto um plano de vingança dos Angels que pretendiam matar Mike Jagger na casa de veraneio dos Rolling Stones nos Estados Unidos, à beira mar. Os agentes do FBI nem se meteram no assunto dos cabeludos, mas, interioranos, os Angels acabaram virando o barco no qual se aproximavam da casa dos Stones pelo mar. E assim se safou da morte um dos maiores ídolos sexuais masculinos do rock internacional, enquanto os bolsonários ianques tomaram um banho involuntário.
Aqui na Ilha de Santa Catarina nem precisamos do mar porque antes de atravessar o canal que nos separa do continente, os Angels já foram barrados pela Regina Brasil que mora bem ali na cabeceira da ponte. Mais exatamente na Rua Fúlvio Aducci, nas margens do bairro continental do Estreito.
Na madrugada do dia 19 de abril de 2012, uma quinta-feira, minha amiga estranhou uns roncos em frente à sua casa. Afastou a cortina e deu uma talibaga (olhadela, no vocabulário mané) e não gostou do que viu: uma patrola invadia o terreno do outro lado da rua. Como depois declarou para uma jornalista:
“- … um pequeno pulmão para o nosso bairro. Aqui tem árvores nativas, como jerivá, papata, gabiroba e pitanga que alimentam os pássaros. Acordo com o canto deles todos os dias. É lindo!”
Para melhor explicar a bronca da amiga com a substituição do chilrear de canários, bem-te-vis, tiés, cardeais, jaçanãs, baitacas, sabiás, caturritas, tico-ticos e outros vespertinos representantes da fauna aviária nativa e também migratória como a juriti; pelo rugido de uma escavadeira da Prefeitura Municipal de Florianópolis, antes é preciso contar que bem em frente a sua casa e ao lado do bosque que mencionou à repórter, instalou-se uma loja da Harley Davidson.
As motocicletas Harley Davidson, além da violência e do estupro, é outra marca registrada dos Hell’s Angels. Quem avistar um amontoado de motocicletas Harley Davidson pode passar ao largo porque tem um bando de arruaceiro no pedaço, a menos que seja uma revenda da marca. Nas maluquices das jogadas de marketing, vai se saber se bad boys como Bolsonaro não são meros garotos propaganda! Pelo sim, pelo não, os Angels se tornaram internacionalmente conhecidos como vetustos adolescentes mal resolvidos e onde tem revenda ou concessionária Harley Davidson, tem Hell’s Angels por perto.
Evidente que entre os muitos complexos de castração da classe média colonizada do Brasil, além de bolsonários também não poderia faltar a imitação dos Hell’s Angels. Em 2006, sobre suas indefectíveis Harley Davidson, um magote deles acabou com um evento realizado no autódromo de Interlagos, promovendo pânico entre espectadores e expositores. Voaram copos, garrafas e cadeiras, além de utilizarem facas, canivetes e revólveres.
Portanto nem aqui no Brasil se está livre desses sujeitos, mas naquela manhã, pelo menos para Florianópolis minha amiga Regina Brasil deu um jeito.
Quem a conhece sabe como é: alta, bonita, forte, de um sorriso enorme e abraço que, como diz uma sua aluna, “acalenta a alma”. Regina é um abrigo, mas não mexam com seus brios de Manezinha Tripeira, como ela mesma me ensinou serem chamados os do continente pelos ilhéus, em resposta ao epíteto depreciativo de “Manézinhos da Ilha”, aproveitando a existência de um matadouro pertinho da casa da Regina e já há muito demolido.
Tudo isso é coisa de antanho e claro que Regina, sensível professora de literatura adorada por seus alunos que a chamam de Super Regi, não mantenha nada de velhas indisposições provincianas; no entanto que se não revolva suas tripas porque dá em tempestade que foi trovejar do outro lado da rua.
Elegante e acostumada a expor aos vestibulandos as sutis e poéticas analogias compreendidas nas estrelinhas das frases dos grandes escritores (que muitas vezes desconfio que nem mesmo eles desconfiavam do que Regina lhes é capaz de descobrir), pacientemente minha amiga expôs ao tratorista o que mais tarde explicou à repórter:
“- … (aqui) Há conchas, ostras e até restos orgânicos de humanos ou animais que deveria servir para conhecermos nossa história”
Em outro trecho a jornalista Roberta Kremer (respeitem: não é Kramer, não! Não tem nada a ver com a Dora!) se incumbiu de completar as informações da professora; “No terreno não há placa informando se tratar de um sítio arqueológico identificado em 2003, e onde há vestígios de ocupação de 3 mil anos, além de povos dos século 18 e 19”.
Apenas cumpridor de ordens, só o que o maquinista pode fazer foi comunicar à prefeitura que havia uma mulher na frente da patrola, decidida a não deixá-lo fazer o serviço. O então prefeito Dário Berger não foi besta de se meter e passou a bomba pro Secretário de Obras que atendendo à solicitação ou negociação com a loja da Harley Davidson, havia autorizado a “limpeza” do terreno para aumentar o pátio de exposição dos brinquedinhos dos Hell’s Angels.
A declaração de Deglaber Goulart à mesma repórter foi drástica: “- Uma pessoa não pode impedir que se faça a limpeza do terreno. Ela não manda na prefeitura”.
Manda sim! Como é que não manda? Afinal quem elegeu o prefeito que o indicou como secretário, se não os cidadãos? Quem o elegeu como vereador, se não os cidadãos?
Como cidadã e professora, Regina Brasil deu uma lição no secretariozinho, conforme publicado lá no jornal da Roberta Kremer “- O que falta é um pouco de respeito com o outro. Se a gente soubesse que o outro é um ser interessante e deve ser respeitado, tudo seria melhor. Respeitar o bem público! Isso é cidadania.”
E é aí que a amiga confirma minha teoria do complexo de castração, já que concordo com a penalidade de crime hediondo para a corrupção por considerá-la estimulada pelos mesmos motivos que levam à prática do estupro: o complexo de castração. O estuprador sexual é movido pela certeza de que em algum momento perderá sua condição de se apoderar o que por natureza pertence a quem violenta, da mesma forma que o estuprador político se move pela certeza de que em algum momento perderá sua bolsonara condição de se apoderar do que por direito pertence ao eleitor, conforme intenciona a tal “Operação 7 de Setembro”.
Em ambos os casos o estupro ocorre pela incapacidade de relações consensuais, de compartilhar evoluções da confiança conquistada. Descrente da própria masculinidade a síndrome psicótica do complexo de castração se manifesta pela usurpação, seja na imposição pela supremacia da força física ou por sorrateira posse do alheio confiado às inexistentes responsabilidades políticas que, como no caso do Deglaber ou do ex-prefeito Dário Berger, sequer alcançam à cidadania, conforme demonstrado na lição da professora Regina Brasil.
Mas, segundo me relatou, o que mais a revoltou não foi nem o cagaço dos Hell’s Angels com os roncos de suas motocicletas intimidados pelo rugir da “Heroína”, como a consideraram seus vizinhos segundo o relato da repórter. O que deixou Regina indignada mesmo foi a gerente da Harley Davidson dizer que precisava arrumar um tanque de roupa para lavar. “- Pode?” – reclamou – “Isso é depor contra nossa própria classe!”
É… Nesse caso a gerente da Harley Davidson contradisse Freud e demonstrou que algumas mulheres também sofrem de complexo de castração. Sem dúvida! E é até capaz do Bolsonaro também ter eleitoras. O que faz lembrar um filme da italiana Liliana Cavani: “O Porteiro da Noite”, onde uma prisioneira judia se envolve numa paixão doentia por seu carcereiro e estuprador nazi.
Livre e forte como é, Regina Brasil não se deixou intimidar por ninguém. Veio polícia, veio político, e ela ali na frente da escavadeira na base do “Só passa se for por cima de mim”. Ameaçaram prender e ela confidenciou que pensou mesmo que teria de dormir na cadeia. Mas não arredou pé.
Até as rádios falaram da mulher maluca que parou a patrola e o trabalho da prefeitura, e a coragem da amiga virou assunto nacional até que lá pelo final do dia estacionou um carro preto e uns caras de polícia se aproximaram de Regina que já os recebeu de dedo, dizendo que dali não sairia. Mas esses se identificaram como Federais e explicaram que estavam ali para protegê-la.
Pois na última vez que nos encontramos Regina contou que neste agosto seria julgada a afronta dos Hell’s Angels mancomunados com o ex-prefeito Dário Berger, contra o patrimônio público florianopolitano. Com não a encontrei mais, espero que por esta crônica a faça me telefonar para contar o resultado do julgamento.
Se houver uma Regina Brasil em cada cidade onde a turma do Bolsonaro promete aprontar arruaça no próximo dia da independência, a tal da “Operação 7 de Setembro” vai pro vinagre.
*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Bob Dylan
nexus desconexos
Idéias e pontos de vista de um flâneur
Apenas Bob
por Luís Otávio Hott
Poeta, trovador, fora da lei, traidor, rock star, Arthur Rimbaud, Billy the Kid, Woody Guthrie, Elvis Presley, Bob Dylan já foi chamado de muitas coisas, e nunca foi nenhuma delas, apenas Bob Dylan.
Bob Dylan (nome artístico de Robert Allen Zimmerman; Duluth, 24 de maio de 1941), é um cantor e compositor norte-americano.
Nascido no estado de Minnesota, neto de imigrantes judeus russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, ainda adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a Universidade de Minnesota em 1959, voltou-se para a folk music, impressionado com a obra musical do lendário cantor folk Woody Guthrie, a quem foi visitar em Nova York em 1961.
Em 2004, Bob Dylan foi escolhido pela revista Rolling Stone, como o 2º melhor artista de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles, e uma de suas principais canções, "Like a Rolling Stone", foi escolhida como a melhor de todos os tempos. Influenciou diretamente grandes nomes do rock americano e britânico dos anos de 1960 e 1970.
Em setembro de 1959, Zimmerman se mudou para Minneapolis, para estudar na universidade de Minnesota. Durante a época, seu interesse inicial no rock and roll deu lugar a uma aproximação ao folk. Em 1985, Dylan explicou sua atração pelo folk: "A coisa sobre o rock'n'roll é que para mim de qualquer jeito ele não era suficiente... Havia bons bordões e ritmo pulsante... mas as canções não eram sérias ou não refletiam a vida de um modo realista. Eu sabia que quando eu entrei na música folk, era um tipo de coisa mais sério. As canções eram enchidas com mais desespero, mais tristeza, mais triunfo, mais fé no sobrenatural, sentimentos mais profundos". Logo começou a tocar no 10 O'Clock Scholar, uma cafeteria a poucas quadras do campus universitário, e se viu envolvido no circuito folk de Dinkytown.
Durante seus dias en Dinkytown, Zimmerman passou a se chamar de "Bob Dylan". Em uma entrevista concedida em 2004, Dylan disse: "Você nasce, sabe, com nomes errados, pais errados. Digo, isso acontece. Você se chama do que quiser se chamar.
Dylan abandonou a universidade após seu primeiro ano. Em janeiro de 1961, mudou-se para Nova Iorque com a esperança de ver seu ídolo musical, Woody Guthrie, que estava gravemente doente, com um estado avançado do mal de Hutington no hospital psiquiátrico de Greystone Park.
A partir de fevereiro de 1961, Dylan tocou em vários clubes do bairro de Greenwich Village. Em setembro, ele começou a ganhar certa reputação graças a uma resenha de Robert Shelton no The New York Times durante uma apresentação no Gerde's Folk City. No mesmo mês, Dylan tocou a harmônica para Carolyn Hester durante a gravação de seu terceiro álbum, o que levou seus talentos para a atenção do produtor John H. Hammond. Hammond contratou Dylan para a Columbia Records em outubro.
Mas logo Dylan mudou de rumos artísticos, afastando-se do movimento folk de protesto e voltando-se para canções mais pessoais, introspectivas, ligadas a uma visão muito particular de mundo. As questões sócio-políticas de seu tempo: racismo, guerra fria, guerra do Vietname, injustiça social, cedem espaço para a temática das desilusões amorosas, amores perdidos, vagabundos errantes, liberdade pessoal, viagens oníricas e surrealistas, embaladas pela influência da poesia beat. Esta transição se dá entre 1964 e 1966, quando Dylan eletrifica a sua música, passa a tocar com uma banda de blues-rock como apoio e choca a plateia folk, com sua aproximação ao rock.
O que produziu no início dos anos 70 não foi bem recebido pela crítica, considerado muito abaixo de seus melhores momentos. Apenas algumas canções destacam-se: "If Not For You" (1970), "Knockin' on Heaven's Door" (1973), "Forever Young" (1974). Mas ao voltar as turnês, acompanhado pelo grupo The Band, retorna a evidência e ao sucesso, principalmente pelo elogiado duplo ao vivo "Before the Flood" (1974). Na retomada da carreira de forma mais ativa, Dylan produz "Blood On Tracks" (1975) e "Desire" (1976), seus melhores discos nos anos 70, aclamados pela crítica. Deste último, a canção "Hurricane", baseado na história de Rubin Carter, um boxeador negro preso injustamente, foi um sucesso espetacular, ao mesmo tempo que a turnê Roling Thunder Revue (75/76) era aclamada por crítica e público.
Bob Dylan está no Brasil para uma série de shows da sua Never Ending Tour, Rio dia 15, Brasília dia 17, Belo Horizonte 19, São Paulo e Porto Alegre ainda. E, mesmo que, Bob peça no camarim morangos e 15 garrafas de champanhe que custam 2 mil reais e ainda faça um show "morno", temos que nos lembrar que estamos assistindo o show de um homem de 70 anos que sempre foi avesso à mídia e ao assédio do público. Mas que é um dos maiores letristas do século 20.
Torne-se fã da nossa página no facebook!
luishott
Artigo da autoria de Luís Otávio Hott.
Escritor e flaneur-voyeur, um flanvoyeur entre o playground e o abismo..
Saiba como fazer parte da obvious.
Idéias e pontos de vista de um flâneur
Apenas Bob
por Luís Otávio Hott
Poeta, trovador, fora da lei, traidor, rock star, Arthur Rimbaud, Billy the Kid, Woody Guthrie, Elvis Presley, Bob Dylan já foi chamado de muitas coisas, e nunca foi nenhuma delas, apenas Bob Dylan.
Bob Dylan (nome artístico de Robert Allen Zimmerman; Duluth, 24 de maio de 1941), é um cantor e compositor norte-americano.
Nascido no estado de Minnesota, neto de imigrantes judeus russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, ainda adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a Universidade de Minnesota em 1959, voltou-se para a folk music, impressionado com a obra musical do lendário cantor folk Woody Guthrie, a quem foi visitar em Nova York em 1961.
Em 2004, Bob Dylan foi escolhido pela revista Rolling Stone, como o 2º melhor artista de todos os tempos, ficando atrás somente dos Beatles, e uma de suas principais canções, "Like a Rolling Stone", foi escolhida como a melhor de todos os tempos. Influenciou diretamente grandes nomes do rock americano e britânico dos anos de 1960 e 1970.
Em setembro de 1959, Zimmerman se mudou para Minneapolis, para estudar na universidade de Minnesota. Durante a época, seu interesse inicial no rock and roll deu lugar a uma aproximação ao folk. Em 1985, Dylan explicou sua atração pelo folk: "A coisa sobre o rock'n'roll é que para mim de qualquer jeito ele não era suficiente... Havia bons bordões e ritmo pulsante... mas as canções não eram sérias ou não refletiam a vida de um modo realista. Eu sabia que quando eu entrei na música folk, era um tipo de coisa mais sério. As canções eram enchidas com mais desespero, mais tristeza, mais triunfo, mais fé no sobrenatural, sentimentos mais profundos". Logo começou a tocar no 10 O'Clock Scholar, uma cafeteria a poucas quadras do campus universitário, e se viu envolvido no circuito folk de Dinkytown.
Durante seus dias en Dinkytown, Zimmerman passou a se chamar de "Bob Dylan". Em uma entrevista concedida em 2004, Dylan disse: "Você nasce, sabe, com nomes errados, pais errados. Digo, isso acontece. Você se chama do que quiser se chamar.
Dylan abandonou a universidade após seu primeiro ano. Em janeiro de 1961, mudou-se para Nova Iorque com a esperança de ver seu ídolo musical, Woody Guthrie, que estava gravemente doente, com um estado avançado do mal de Hutington no hospital psiquiátrico de Greystone Park.
A partir de fevereiro de 1961, Dylan tocou em vários clubes do bairro de Greenwich Village. Em setembro, ele começou a ganhar certa reputação graças a uma resenha de Robert Shelton no The New York Times durante uma apresentação no Gerde's Folk City. No mesmo mês, Dylan tocou a harmônica para Carolyn Hester durante a gravação de seu terceiro álbum, o que levou seus talentos para a atenção do produtor John H. Hammond. Hammond contratou Dylan para a Columbia Records em outubro.
Mas logo Dylan mudou de rumos artísticos, afastando-se do movimento folk de protesto e voltando-se para canções mais pessoais, introspectivas, ligadas a uma visão muito particular de mundo. As questões sócio-políticas de seu tempo: racismo, guerra fria, guerra do Vietname, injustiça social, cedem espaço para a temática das desilusões amorosas, amores perdidos, vagabundos errantes, liberdade pessoal, viagens oníricas e surrealistas, embaladas pela influência da poesia beat. Esta transição se dá entre 1964 e 1966, quando Dylan eletrifica a sua música, passa a tocar com uma banda de blues-rock como apoio e choca a plateia folk, com sua aproximação ao rock.
O que produziu no início dos anos 70 não foi bem recebido pela crítica, considerado muito abaixo de seus melhores momentos. Apenas algumas canções destacam-se: "If Not For You" (1970), "Knockin' on Heaven's Door" (1973), "Forever Young" (1974). Mas ao voltar as turnês, acompanhado pelo grupo The Band, retorna a evidência e ao sucesso, principalmente pelo elogiado duplo ao vivo "Before the Flood" (1974). Na retomada da carreira de forma mais ativa, Dylan produz "Blood On Tracks" (1975) e "Desire" (1976), seus melhores discos nos anos 70, aclamados pela crítica. Deste último, a canção "Hurricane", baseado na história de Rubin Carter, um boxeador negro preso injustamente, foi um sucesso espetacular, ao mesmo tempo que a turnê Roling Thunder Revue (75/76) era aclamada por crítica e público.
Bob Dylan está no Brasil para uma série de shows da sua Never Ending Tour, Rio dia 15, Brasília dia 17, Belo Horizonte 19, São Paulo e Porto Alegre ainda. E, mesmo que, Bob peça no camarim morangos e 15 garrafas de champanhe que custam 2 mil reais e ainda faça um show "morno", temos que nos lembrar que estamos assistindo o show de um homem de 70 anos que sempre foi avesso à mídia e ao assédio do público. Mas que é um dos maiores letristas do século 20.
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luishott
Artigo da autoria de Luís Otávio Hott.
Escritor e flaneur-voyeur, um flanvoyeur entre o playground e o abismo..
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Manning
Manning: quando denunciar é mais grave do que cometer crimes
Escrito por Luiz Eça
Manning revelou coisas tão erradas que seu juramento de patriotismo e seu respeito ético ao código militar de conduta tiveram de ser postos de lado, diante de sua “moralidade fundamental”.
Essas palavras de John Watson, professor de ética no jornalismo da American University, justificam a atitude de Bradley Manning.
Mas não o absolveram de 19 acusações de crimes militares, que o condenaram a 35 anos de prisão.
Na verdade, Manning foi condenado por denunciar crimes cometidos pelas forças armadas norte-americanas.
Para o governo dos EUA, que o processou, em certos casos é mais grave a denúncia de crimes do que os próprios crimes.
Bush e sua coterie enganaram o povo norte-americano para poderem atacar o Iraque, sem motivo algum, causando a morte e o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive a morte de 4 mil de seus soldados.
Jamais foram processados por terem provocado uma guerra, o que o Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os crimes nazistas, considerou “o supremo crime internacional”.
Bush, também, ordenou secretamente a vigilância das comunicações das pessoas, sem mandado judicial, violando a Constituição.
Seu programa de “rendições” promoveu secretamente o sequestro de suspeitos no exterior e sua tortura em casas ocultas da CIA. Crime, segundo a constituição e as leis internacionais.
Obama recusou-se terminantemente a processar qualquer dos envolvidos nessas ações criminosas.
No seu governo, casos de tortura foram reportados no Afeganistão, em Guantánamo e na África. Novamente ninguém foi submetido a processo.
A prisão de Guantánamo, condenada em todo o mundo, que Bush fundou, foi mantida por Obama. Hoje, entre os 166 detentos, há 86 já isentados de qualquer acusação. Mesmo inocentes, ficaram presos por muitos anos. E lá continuam.
Uma interpretação distorcida da lei coloca os detentos de Guantánamo num limbo legal, sem proteção, nem das leis norte-americanas, nem da Convenção de Genebra.
O assassinato de suspeitos por drones no Paquistão, embora também atingisse centenas, senão milhares de civis inocentes (obra de Bush), foi multiplicado por Obama.
Ele incluiu ainda o Afeganistão e o Iêmen nos países objetos da ação mortal dos drones. Condenar à morte sem julgamento é proibido pela Constituição dos EUA.
Por iniciativa do Congresso e aprovação de Obama, instituiu-se uma lei que permite ao presidente mandar prender suspeitos e mantê-los encarcerados indefinidamente, sem julgamento. Novo desrespeito à Constituição de Jefferson, Washington, Tom Payne e outros pais da pátria.
No escândalo de Abu Ghraib, que chocou o mundo, o coronel Thomas Papas, supervisor do brutal tratamento de centenas de detentos, foi processado, sim. No entanto, pegou apenas uma multa de 8 mil dólares...
Enquanto isso, Bradley Manning, que foi submetido a uma prisão abusiva, passando inclusive muitos meses em prisão solitária, recebeu uma pena duríssima.
Crimes muito mais graves do que as infrações de Manning contra códigos militares não são sequer levados a julgamento pelo governo estadunidense. E perdoa seus agentes quando também agem assim.
Tal governo se dá o direito de desrespeitar as leis internacionais e norte-americanas, sempre que lhe interessa.
Mas denunciar as coisas que quer esconder por receio da opinião pública, isso é imperdoável. Que as penas da lei caiam sobre o atrevido!
Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o Mundo.
Escrito por Luiz Eça
Manning revelou coisas tão erradas que seu juramento de patriotismo e seu respeito ético ao código militar de conduta tiveram de ser postos de lado, diante de sua “moralidade fundamental”.
Essas palavras de John Watson, professor de ética no jornalismo da American University, justificam a atitude de Bradley Manning.
Mas não o absolveram de 19 acusações de crimes militares, que o condenaram a 35 anos de prisão.
Na verdade, Manning foi condenado por denunciar crimes cometidos pelas forças armadas norte-americanas.
Para o governo dos EUA, que o processou, em certos casos é mais grave a denúncia de crimes do que os próprios crimes.
Bush e sua coterie enganaram o povo norte-americano para poderem atacar o Iraque, sem motivo algum, causando a morte e o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive a morte de 4 mil de seus soldados.
Jamais foram processados por terem provocado uma guerra, o que o Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os crimes nazistas, considerou “o supremo crime internacional”.
Bush, também, ordenou secretamente a vigilância das comunicações das pessoas, sem mandado judicial, violando a Constituição.
Seu programa de “rendições” promoveu secretamente o sequestro de suspeitos no exterior e sua tortura em casas ocultas da CIA. Crime, segundo a constituição e as leis internacionais.
Obama recusou-se terminantemente a processar qualquer dos envolvidos nessas ações criminosas.
No seu governo, casos de tortura foram reportados no Afeganistão, em Guantánamo e na África. Novamente ninguém foi submetido a processo.
A prisão de Guantánamo, condenada em todo o mundo, que Bush fundou, foi mantida por Obama. Hoje, entre os 166 detentos, há 86 já isentados de qualquer acusação. Mesmo inocentes, ficaram presos por muitos anos. E lá continuam.
Uma interpretação distorcida da lei coloca os detentos de Guantánamo num limbo legal, sem proteção, nem das leis norte-americanas, nem da Convenção de Genebra.
O assassinato de suspeitos por drones no Paquistão, embora também atingisse centenas, senão milhares de civis inocentes (obra de Bush), foi multiplicado por Obama.
Ele incluiu ainda o Afeganistão e o Iêmen nos países objetos da ação mortal dos drones. Condenar à morte sem julgamento é proibido pela Constituição dos EUA.
Por iniciativa do Congresso e aprovação de Obama, instituiu-se uma lei que permite ao presidente mandar prender suspeitos e mantê-los encarcerados indefinidamente, sem julgamento. Novo desrespeito à Constituição de Jefferson, Washington, Tom Payne e outros pais da pátria.
No escândalo de Abu Ghraib, que chocou o mundo, o coronel Thomas Papas, supervisor do brutal tratamento de centenas de detentos, foi processado, sim. No entanto, pegou apenas uma multa de 8 mil dólares...
Enquanto isso, Bradley Manning, que foi submetido a uma prisão abusiva, passando inclusive muitos meses em prisão solitária, recebeu uma pena duríssima.
Crimes muito mais graves do que as infrações de Manning contra códigos militares não são sequer levados a julgamento pelo governo estadunidense. E perdoa seus agentes quando também agem assim.
Tal governo se dá o direito de desrespeitar as leis internacionais e norte-americanas, sempre que lhe interessa.
Mas denunciar as coisas que quer esconder por receio da opinião pública, isso é imperdoável. Que as penas da lei caiam sobre o atrevido!
Luiz Eça é jornalista.
Website: Olhar o Mundo.
Médicos Brasileiros
Porque prefiro ser tratado por médicos brasileiros. Ou não
Eu prefiro ser tratado por médicos brasileiros, embora 54,5% dos 2400 formandos que fizeram a prova do Conselho Regional de Medicina de SP não atingiram a nota mínima. O pior é que os erros se concentraram em áreas básicas. Mesmo assim vão poder exercer a profissão e atender aos infelizes que caírem em suas reprovadas mãos. Mas eu não moro em São Paulo.
Prefiro médicos brasileiros, porque eles são coisa nossa. Por exemplo, a gente liga pra marcar consulta e a telefonista do doutor pergunta: - é particular ou plano? Se for plano, empurram sua consulta lá pra frente. Particular, eles dão um jeitinho. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque quando chego ao consultório, fico esperando mais de uma hora pra ser atendido. É porque eles são bonzinhos, gostam de atender a todo mundo, e sabem que ali, no calor apertado da sala de espera, sempre pode rolar uma conversa agradável sobre sintomas e padecimentos com outros médicos. E a socialização é muito importante. Sem contar que podemos adquirir informação, com a leitura daquela Veja em que Airton Senna e Adriane Galisteu ainda estão namorando. Ah, tempo bom! É coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque quando a consulta é particular, eles fazem questão de não dar recibo, ou então a recepcionista pergunta se vou querer a nota fiscal, porque aí o preço é diferente. Não é sonegação, claro que não. É porque eles têm vergonha de espalhar quanto cobram pela consulta. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque eles vivem chorando miséria, mas, mesmo assim, no estacionamento dos médicos nos hospitais só tem carrão importado. Parece até pátio de delegacia de polícia. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque você faz todo o acompanhamento de sua doença com o doutor do seu plano de saúde, mas na hora da cirurgia, embora ela seja coberta pelo plano, o doutor sempre pede um por fora, pra ele e equipe. Inclusive o anestesista, aquele médico que não é médico, não tem plano, não obedece a sindicatos nem nada. É sempre por fora. É coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque várias vezes você chega ao posto de saúde, a uma emergência ou ao hospital e ele simplesmente não foi trabalhar, e usa de sua criatividade, inventando até dedinhos de silicone, para receber aquele salário que eles dizem que é uma merreca. Mas, isso é mentira, na verdade eles não vão trabalhar porque os hospitais, ambulatórios, as emergências e postos de saúde não dão condições. Eles só não largam o emprego porque têm pena dos pacientes que vão deixar na mão - embora não trabalhem. Pelo menos é o que dizem. Coisa nossa.
Só escrevo este texto, porque tenho vários amigos médicos e, infelizmente, não vejo nenhum deles se levantar contra esse hediondo corporativismo, contra essa maluquice generalizada de que seus colegas cubanos (que trabalham no mundo inteiro) são despreparados e, pior, vão espalhar a ideologia comunista pelo Brasil. Esses médicos que acham que municípios sem médicos têm que continuar assim, enquanto não tiverem infraestrutura, como naquela história da época da ditadura, de que era preciso primeiramente fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.
Se os médicos estivessem defendendo seu mercado de trabalho... Mas, não, os médicos estrangeiros só estão vindo ocupar vagas que foram recusadas por seus colegas brasileiros, que não querem trabalhar e também não querem que outros trabalhem. O paciente... ah, o paciente. Ele não é mais paciente, agora é cliente.
Claro que temos ótimos médicos. E muitos deles já se declararam a favor da vinda de seus colegas do exterior.
Temos ótimos médicos, repito. Vários deles trabalhando em condições precárias. Temos muito o que melhorar, e a presidenta Dilma reconheceu o problema em seu pronunciamento na TV:
(Blog do Mello)
Eu prefiro ser tratado por médicos brasileiros, embora 54,5% dos 2400 formandos que fizeram a prova do Conselho Regional de Medicina de SP não atingiram a nota mínima. O pior é que os erros se concentraram em áreas básicas. Mesmo assim vão poder exercer a profissão e atender aos infelizes que caírem em suas reprovadas mãos. Mas eu não moro em São Paulo.
Prefiro médicos brasileiros, porque eles são coisa nossa. Por exemplo, a gente liga pra marcar consulta e a telefonista do doutor pergunta: - é particular ou plano? Se for plano, empurram sua consulta lá pra frente. Particular, eles dão um jeitinho. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque quando chego ao consultório, fico esperando mais de uma hora pra ser atendido. É porque eles são bonzinhos, gostam de atender a todo mundo, e sabem que ali, no calor apertado da sala de espera, sempre pode rolar uma conversa agradável sobre sintomas e padecimentos com outros médicos. E a socialização é muito importante. Sem contar que podemos adquirir informação, com a leitura daquela Veja em que Airton Senna e Adriane Galisteu ainda estão namorando. Ah, tempo bom! É coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque quando a consulta é particular, eles fazem questão de não dar recibo, ou então a recepcionista pergunta se vou querer a nota fiscal, porque aí o preço é diferente. Não é sonegação, claro que não. É porque eles têm vergonha de espalhar quanto cobram pela consulta. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque eles vivem chorando miséria, mas, mesmo assim, no estacionamento dos médicos nos hospitais só tem carrão importado. Parece até pátio de delegacia de polícia. Coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque você faz todo o acompanhamento de sua doença com o doutor do seu plano de saúde, mas na hora da cirurgia, embora ela seja coberta pelo plano, o doutor sempre pede um por fora, pra ele e equipe. Inclusive o anestesista, aquele médico que não é médico, não tem plano, não obedece a sindicatos nem nada. É sempre por fora. É coisa nossa.
Prefiro médicos brasileiros, porque várias vezes você chega ao posto de saúde, a uma emergência ou ao hospital e ele simplesmente não foi trabalhar, e usa de sua criatividade, inventando até dedinhos de silicone, para receber aquele salário que eles dizem que é uma merreca. Mas, isso é mentira, na verdade eles não vão trabalhar porque os hospitais, ambulatórios, as emergências e postos de saúde não dão condições. Eles só não largam o emprego porque têm pena dos pacientes que vão deixar na mão - embora não trabalhem. Pelo menos é o que dizem. Coisa nossa.
Só escrevo este texto, porque tenho vários amigos médicos e, infelizmente, não vejo nenhum deles se levantar contra esse hediondo corporativismo, contra essa maluquice generalizada de que seus colegas cubanos (que trabalham no mundo inteiro) são despreparados e, pior, vão espalhar a ideologia comunista pelo Brasil. Esses médicos que acham que municípios sem médicos têm que continuar assim, enquanto não tiverem infraestrutura, como naquela história da época da ditadura, de que era preciso primeiramente fazer crescer o bolo para depois dividi-lo.
Se os médicos estivessem defendendo seu mercado de trabalho... Mas, não, os médicos estrangeiros só estão vindo ocupar vagas que foram recusadas por seus colegas brasileiros, que não querem trabalhar e também não querem que outros trabalhem. O paciente... ah, o paciente. Ele não é mais paciente, agora é cliente.
Claro que temos ótimos médicos. E muitos deles já se declararam a favor da vinda de seus colegas do exterior.
Temos ótimos médicos, repito. Vários deles trabalhando em condições precárias. Temos muito o que melhorar, e a presidenta Dilma reconheceu o problema em seu pronunciamento na TV:
(Blog do Mello)
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
Alice
A moda de Alice no País das Maravilhas: o antes e o agora
publicado em cinema por diana ribeiro
A nova adaptação cinematográfica do clássico de Lewis Caroll talvez seja a mais ousada e arrojada feita até hoje. O realizador Tim Burton moldou todas as personagens ao seu estilo, sem que estas perdessem a sua essência original. Embarque nesta viagem ao país das maravilhas, desde a antiga Alice na versão Disney até à actual Alice na versão Burton.
Pequena, de vestido azul pelos joelhos, sapatos rasos pretos e um longo cabelo loiro: assim era apresentada Alice, uma das muitas personagens de animação do universo Disney.
O escritor britânico Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Caroll, foi o responsável pela sua existência. A obra "Alice's Adventures in Wonderland" foi publicada em 1865. A história, preenchida por personagens estranhas e bizarras, passada num ambiente igualmente estranho e bizarro, despertou a curiosidade entre o público. Alice, uma menina que teria entre sete e oito anos, persegue um coelho que corre apressadamente por estar atrasado, olhando sempre o seu relógio. Ao cair na toca do animal, é transportada para um lugar mágico habitado por criaturas vindas directamente do mais surreal dos sonhos.
alice pais maravilhas wonderland
A protagonista, ao contrário do que muitos possam pensar, não foi criada somente a partir da imaginação do escritor. Alice Pleasance Liddell, filha do vice-chanceler da Universidade de Oxford e director da escola de Westminster em 1862, foi a grande inspiração. No entanto, a Alice-personagem foi ilustrada de maneira completamente diferente da original. Os cabelos longos e loiros, com um novo vestido, substituiram o cabelo curto, escuro e de franja inicial.
De entre as muitas adaptações e séries realizadas a partir do livro destacam-se três: o filme animado produzido pela Walt Disney em 1951; a série de animé feita em parceria pela Alemanha e Japão, estreada em Portugal, em 1987, no primeiro canal (RTP1) e o filme de Tim Burton de 2010, também para a Disney.
E ao longo de todas elas, algumas personagens foram sofrendo alterações, sendo que o maior contraste se deu na última versão.
alice pais maravilhas wonderland
Corajosa, destemida e racional são caracteristicas que a acompanham desde Caroll. Porém, quanto ao fisico já não é bem assim. A nova Alice cresceu, tem agora 19 anos. E com ela o vestido azul (agora quase até aos pés). As botas brancas tomaram o lugar dos simples sapatos pretos e Alice usa agora umas luvas sem dedos, remetendo para um estilo quase vitoriano com um misto de gótico.
A longa cabeleira também se mantêm, mas menos loira.
O conhecido actor Johnny Depp é o novo Chapeleiro Louco. Um papel que, segundo os críticos, parece ter sido escrito para ele. Mais psicadélico e louco do que nunca, mas sempre a tomar o seu chá e zangado com o Tempo e com a Rainha. Os cabelos brancos da animação deram lugar aos ruivos e frisados da versão de Burton. O laço azul passou a ser colorido e estampado, assim como a roupa. Uma brilhante e luminosa maquilhagem foi aplicada em redor dos olhos, lábios e bochechas. Uma imagem que, embora com diferentes pormenores, nos (re)lembra o famoso "Eduardo mãos tesoura" ou Willy Wonka de "Charile e a Fábrica de chocolate".
alice pais maravilhas wonderland
A malvada Rainha Vermelha, para além de se manter igual a si mesma, ganhou um renovado aspecto. Uma imagem mais elegante, feminina e, há até quem diga, mais sexy. Perdeu o vermelho dos pés à cabeça, assim como o coração gigante de cartão no vestido. Impossível não reparar no adorável batom a contrastar com o branco facial, quase em estilo gueixa moderna. O cabelo deixou de ser preto como na amimação, o vestido passou a azul, mas manteve o colarinho branco para cima.
Na versão Disney, não foi incluida a Rainha Branca. Esta personagem, assim como a anterior, só aparecem na sequela "Alice Through the Looking-Glass". Porém, o realizador decidiu pegar nas duas e dar-lhes lugar no filme. Também esta constrasta a tez clara com os lábios vermelhos. Aparece com um longo vestido branco.
Helena Bonham Carter e Anne Hathaway foram as actrizes que lhes deram vida, respectivamente.
E o que dizer do próprio País das Maravilhas? Um cenário primaveril que foi substituido por lugar sombrio, em tons pasteis e cores escuras. Com um toque de inocência e uma dose de obscuridade, lembrando em muito a arte de Mark Ryden.
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dianaribeiro
diana ribeiro Diana Ribeiro gosta de cores, comer algodão doce, ouvir as ondas do mar e cheirar livros novos. Não dispensa o uso de nenhum dos sentidos. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/01/alice_no_pais_das_maravilhas-_o_antes_e_o_agora.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+OBVIOUS+%28obvious+magazine%29#ixzz2dGjbe5nl
publicado em cinema por diana ribeiro
A nova adaptação cinematográfica do clássico de Lewis Caroll talvez seja a mais ousada e arrojada feita até hoje. O realizador Tim Burton moldou todas as personagens ao seu estilo, sem que estas perdessem a sua essência original. Embarque nesta viagem ao país das maravilhas, desde a antiga Alice na versão Disney até à actual Alice na versão Burton.
Pequena, de vestido azul pelos joelhos, sapatos rasos pretos e um longo cabelo loiro: assim era apresentada Alice, uma das muitas personagens de animação do universo Disney.
O escritor britânico Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Caroll, foi o responsável pela sua existência. A obra "Alice's Adventures in Wonderland" foi publicada em 1865. A história, preenchida por personagens estranhas e bizarras, passada num ambiente igualmente estranho e bizarro, despertou a curiosidade entre o público. Alice, uma menina que teria entre sete e oito anos, persegue um coelho que corre apressadamente por estar atrasado, olhando sempre o seu relógio. Ao cair na toca do animal, é transportada para um lugar mágico habitado por criaturas vindas directamente do mais surreal dos sonhos.
alice pais maravilhas wonderland
A protagonista, ao contrário do que muitos possam pensar, não foi criada somente a partir da imaginação do escritor. Alice Pleasance Liddell, filha do vice-chanceler da Universidade de Oxford e director da escola de Westminster em 1862, foi a grande inspiração. No entanto, a Alice-personagem foi ilustrada de maneira completamente diferente da original. Os cabelos longos e loiros, com um novo vestido, substituiram o cabelo curto, escuro e de franja inicial.
De entre as muitas adaptações e séries realizadas a partir do livro destacam-se três: o filme animado produzido pela Walt Disney em 1951; a série de animé feita em parceria pela Alemanha e Japão, estreada em Portugal, em 1987, no primeiro canal (RTP1) e o filme de Tim Burton de 2010, também para a Disney.
E ao longo de todas elas, algumas personagens foram sofrendo alterações, sendo que o maior contraste se deu na última versão.
alice pais maravilhas wonderland
Corajosa, destemida e racional são caracteristicas que a acompanham desde Caroll. Porém, quanto ao fisico já não é bem assim. A nova Alice cresceu, tem agora 19 anos. E com ela o vestido azul (agora quase até aos pés). As botas brancas tomaram o lugar dos simples sapatos pretos e Alice usa agora umas luvas sem dedos, remetendo para um estilo quase vitoriano com um misto de gótico.
A longa cabeleira também se mantêm, mas menos loira.
O conhecido actor Johnny Depp é o novo Chapeleiro Louco. Um papel que, segundo os críticos, parece ter sido escrito para ele. Mais psicadélico e louco do que nunca, mas sempre a tomar o seu chá e zangado com o Tempo e com a Rainha. Os cabelos brancos da animação deram lugar aos ruivos e frisados da versão de Burton. O laço azul passou a ser colorido e estampado, assim como a roupa. Uma brilhante e luminosa maquilhagem foi aplicada em redor dos olhos, lábios e bochechas. Uma imagem que, embora com diferentes pormenores, nos (re)lembra o famoso "Eduardo mãos tesoura" ou Willy Wonka de "Charile e a Fábrica de chocolate".
alice pais maravilhas wonderland
A malvada Rainha Vermelha, para além de se manter igual a si mesma, ganhou um renovado aspecto. Uma imagem mais elegante, feminina e, há até quem diga, mais sexy. Perdeu o vermelho dos pés à cabeça, assim como o coração gigante de cartão no vestido. Impossível não reparar no adorável batom a contrastar com o branco facial, quase em estilo gueixa moderna. O cabelo deixou de ser preto como na amimação, o vestido passou a azul, mas manteve o colarinho branco para cima.
Na versão Disney, não foi incluida a Rainha Branca. Esta personagem, assim como a anterior, só aparecem na sequela "Alice Through the Looking-Glass". Porém, o realizador decidiu pegar nas duas e dar-lhes lugar no filme. Também esta constrasta a tez clara com os lábios vermelhos. Aparece com um longo vestido branco.
Helena Bonham Carter e Anne Hathaway foram as actrizes que lhes deram vida, respectivamente.
E o que dizer do próprio País das Maravilhas? Um cenário primaveril que foi substituido por lugar sombrio, em tons pasteis e cores escuras. Com um toque de inocência e uma dose de obscuridade, lembrando em muito a arte de Mark Ryden.
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dianaribeiro
diana ribeiro Diana Ribeiro gosta de cores, comer algodão doce, ouvir as ondas do mar e cheirar livros novos. Não dispensa o uso de nenhum dos sentidos. Saiba como fazer parte da obvious.
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Pecebâo
Ilusões do PCB
Escrito por Gilvan Rocha
Na falta de uma análise marxista do velho PCB, alguns tentam explicar os seus equívocos, atribuindo-lhes ingenuidades e ilusões. Quando tentam compreender a política do caminho pacífico para o socialismo, imputam a esse erro uma formulação dotada de ilusões. Essa avaliação é descabida. O PCB, desde 1928, trilhou pelos caminhos traçados pela Terceira Internacional. Para entendermos as políticas formuladas pela Internacional, precisamos responder a uma pergunta: a que interesse servia essa instituição?
A derrota da revolução mundial levou à contrarrevolução para o seio da República Soviética e esse fenômeno se manifestou através do surgimento e da consolidação do stalinismo. Derrotada a revolução socialista na Rússia, sobre suas ruínas erigiu-se o capitalismo de Estado e, a partir desse fato, houve uma radical mudança política. Ao invés de se prestar a impulsionar a revolução mundial, como era o propósito inicial da nova Internacional, ela foi transformada em instrumento de sustentação dos interesses da burocracia instalada no seio do Estado soviético.
Dessa forma, a Internacional converteu-se numa multinacional a serviço da manutenção do mundo dividido em áreas de influência, convivendo pacificamente.
As posturas do velho PCB tinham como fonte os interesses da “pátria socialista”, que não vacilava em se sobrepor aos interesses históricos dos trabalhadores. É bem verdade que uma legião imensa de pessoas valorosas se propuseram a ir aos extremos do sacrifício para servir às políticas formuladas por Moscou. Essa mesma boa fé, esse mesmo espírito de sacrifício, vamos encontrar em pessoas que, fanaticamente, seguem diversos credos e por eles são capazes de se imolar.
Os abnegados “comunistas” não percebiam, regra geral, que por trás da política de equívocos e ilusões existiam interesses menores a serem defendidos. Pode-se assacar a grande massa de militantes uma postura ingênua, mas não é verdade que os descaminhos do “comunismo mundial” se devessem a simples erros teóricos.
Por trás desses erros nada inocentes, existiam os interesses da “pátria mãe” e em função deles se deveria sacrificar qualquer outro, principalmente os da revolução socialista mundial.
Leia também:
CUT e o neopeleguismo
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com
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Para ajudar o Correio da Cidadania e a construção da mídia independente
Escrito por Gilvan Rocha
Na falta de uma análise marxista do velho PCB, alguns tentam explicar os seus equívocos, atribuindo-lhes ingenuidades e ilusões. Quando tentam compreender a política do caminho pacífico para o socialismo, imputam a esse erro uma formulação dotada de ilusões. Essa avaliação é descabida. O PCB, desde 1928, trilhou pelos caminhos traçados pela Terceira Internacional. Para entendermos as políticas formuladas pela Internacional, precisamos responder a uma pergunta: a que interesse servia essa instituição?
A derrota da revolução mundial levou à contrarrevolução para o seio da República Soviética e esse fenômeno se manifestou através do surgimento e da consolidação do stalinismo. Derrotada a revolução socialista na Rússia, sobre suas ruínas erigiu-se o capitalismo de Estado e, a partir desse fato, houve uma radical mudança política. Ao invés de se prestar a impulsionar a revolução mundial, como era o propósito inicial da nova Internacional, ela foi transformada em instrumento de sustentação dos interesses da burocracia instalada no seio do Estado soviético.
Dessa forma, a Internacional converteu-se numa multinacional a serviço da manutenção do mundo dividido em áreas de influência, convivendo pacificamente.
As posturas do velho PCB tinham como fonte os interesses da “pátria socialista”, que não vacilava em se sobrepor aos interesses históricos dos trabalhadores. É bem verdade que uma legião imensa de pessoas valorosas se propuseram a ir aos extremos do sacrifício para servir às políticas formuladas por Moscou. Essa mesma boa fé, esse mesmo espírito de sacrifício, vamos encontrar em pessoas que, fanaticamente, seguem diversos credos e por eles são capazes de se imolar.
Os abnegados “comunistas” não percebiam, regra geral, que por trás da política de equívocos e ilusões existiam interesses menores a serem defendidos. Pode-se assacar a grande massa de militantes uma postura ingênua, mas não é verdade que os descaminhos do “comunismo mundial” se devessem a simples erros teóricos.
Por trás desses erros nada inocentes, existiam os interesses da “pátria mãe” e em função deles se deveria sacrificar qualquer outro, principalmente os da revolução socialista mundial.
Leia também:
CUT e o neopeleguismo
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com
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Médicos
O médico da Rua Voluntários da Pátria
medicogranaPor Ana Helena Tavares(*)
Era uma vez um estudante de medicina, que sonhava montar um consultório na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, RJ. Era um jovem bem nascido, sempre bem vestido e que se dizia bem resolvido.
Ele havia estudado, em seu ensino médio, algo sobre a Guerra do Paraguai, mas nada que lhe explicasse que, naquela época, o Brasil mandou escravos negros para o país vizinho prometendo-lhes, em troca, a alforria. Despreparados para o combate, muitos morreram lá. Dos que voltaram, alguns receberam a liberdade, outros não. Esses eram os “voluntários da pátria”.
Sem nunca ter se preocupado com a História de seu país, entrou para uma universidade pública para cursar medicina, mesmo podendo pagar uma particular. Afinal, o Estado tem que servir a gente como ele, o que não quer dizer que tenha que ficar dando bolsa aos mais humildes. “Um absurdo esse assistencialismo!”, ele sempre repetiu.
O que ele não imaginava é que estaria prestes a se formar bem na hora em que o governo resolveu criar um tal de “Mais médicos”. Alvoroço no meio acadêmico. “A formação de vocês tem que se basear nos serviços que prestarão à saúde privada. O negócio é ficarem dizendo que tudo é virose e atendendo à indústria de antibióticos. Palhaçada colocá-los em lugares ermos.”, confidenciou a ele um professor.
Convidado a servir à população de pequenas cidades no interior do Brasil, ganhando para isso um salário com o qual muitos brasileiros nem sonham, esperneou alegando que é preciso lutar por melhorias das condições de trabalho antes de colocar médicos para operar sem equipamentos adequados.
Tanto ele, como muitos de seus colegas, bateram o pé e disseram um redondo “não!” ao programa do governo. Disseram “não!” ao juramento de servir ao povo e preferiram jurar que é possível lutar por melhorias no interior do Brasil morando num confortável apartamento em Botafogo.
Não querem ir e não querem que ninguém mais vá. Nosso médico é daqueles que espalham que comunista come criancinha e não tem a dignidade de admitir quantos pobres já foram salvos pelos médicos cubanos ao redor do mundo. Afinal, pobre tem que morrer à míngua.
Enquanto isso, inúmeros professores aceitam trabalhar em lugares onde não há giz nas salas nem calçamento nas ruas. “Ah, mas uma aula mal dada é menos perigosa do que uma operação mal feita”, alega o nosso médico.
Imaginem o perigo de uma aula dada pelo atual presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, que afirmou: “Vou orientar meus médicos a não socorrerem erros dos colegas cubanos.” (vide aqui)
Enquanto aguardo o dia em que seja criado no Brasil o “Mais jornalistas”, para que sejam feitas mais reportagens que mostrem a realidade dos rincões de nosso país e também a realidade de um país embargado como Cuba, que prioriza a medicina preventiva, só posso lamentar que o nosso médico não tenha tido aula com o Dr. Adib Jatene:
“O sujeito não estuda medicina para conquistar posição social, acumular patrimônio, isso até pode acontecer. Ele estuda medicina para ajudar as pessoas que estão sofrendo a se sentir melhor. Esse é o objetivo da profissão. É isso que faz a profissão respeitável”, sentenciou Jatene. (vide aqui)
Como professor, também poderia ter tido o Zé Simão: “Se eu estivesse doente, no interior do Ceará, eu queria um médico humano. Tanto faz cubano, paulistano ou marciano”
Eis o ponto. Precisamos muito mais de humanidade do que de tecnologia. Precisamos também de humildade, aquela palavra que vem do latim “humus” e que, numa tradução livre, pode ser entendida como “filhos da terra”. Ou seja, o homem humilde, em sua origem, é aquele que jamais se esquece de onde veio – da terra – e para onde voltará – para a terra.
O nosso médico, filho de um cearense, sempre teve vergonha do pai. Sonhou tanto em montar um consultório num endereço nobre que conseguiu. No entanto, escravizado pelo corporativismo, nunca percebeu que, no nome da rua, havia uma promessa de liberdade.
*Ana Helena Tavares, jornalista, editora do site “Quem tem medo da democracia?”.
“O médico da Rua Voluntários da Pátria” é um personagem ficcional baseado em fatos reais.
(QTMD)
medicogranaPor Ana Helena Tavares(*)
Era uma vez um estudante de medicina, que sonhava montar um consultório na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, RJ. Era um jovem bem nascido, sempre bem vestido e que se dizia bem resolvido.
Ele havia estudado, em seu ensino médio, algo sobre a Guerra do Paraguai, mas nada que lhe explicasse que, naquela época, o Brasil mandou escravos negros para o país vizinho prometendo-lhes, em troca, a alforria. Despreparados para o combate, muitos morreram lá. Dos que voltaram, alguns receberam a liberdade, outros não. Esses eram os “voluntários da pátria”.
Sem nunca ter se preocupado com a História de seu país, entrou para uma universidade pública para cursar medicina, mesmo podendo pagar uma particular. Afinal, o Estado tem que servir a gente como ele, o que não quer dizer que tenha que ficar dando bolsa aos mais humildes. “Um absurdo esse assistencialismo!”, ele sempre repetiu.
O que ele não imaginava é que estaria prestes a se formar bem na hora em que o governo resolveu criar um tal de “Mais médicos”. Alvoroço no meio acadêmico. “A formação de vocês tem que se basear nos serviços que prestarão à saúde privada. O negócio é ficarem dizendo que tudo é virose e atendendo à indústria de antibióticos. Palhaçada colocá-los em lugares ermos.”, confidenciou a ele um professor.
Convidado a servir à população de pequenas cidades no interior do Brasil, ganhando para isso um salário com o qual muitos brasileiros nem sonham, esperneou alegando que é preciso lutar por melhorias das condições de trabalho antes de colocar médicos para operar sem equipamentos adequados.
Tanto ele, como muitos de seus colegas, bateram o pé e disseram um redondo “não!” ao programa do governo. Disseram “não!” ao juramento de servir ao povo e preferiram jurar que é possível lutar por melhorias no interior do Brasil morando num confortável apartamento em Botafogo.
Não querem ir e não querem que ninguém mais vá. Nosso médico é daqueles que espalham que comunista come criancinha e não tem a dignidade de admitir quantos pobres já foram salvos pelos médicos cubanos ao redor do mundo. Afinal, pobre tem que morrer à míngua.
Enquanto isso, inúmeros professores aceitam trabalhar em lugares onde não há giz nas salas nem calçamento nas ruas. “Ah, mas uma aula mal dada é menos perigosa do que uma operação mal feita”, alega o nosso médico.
Imaginem o perigo de uma aula dada pelo atual presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, que afirmou: “Vou orientar meus médicos a não socorrerem erros dos colegas cubanos.” (vide aqui)
Enquanto aguardo o dia em que seja criado no Brasil o “Mais jornalistas”, para que sejam feitas mais reportagens que mostrem a realidade dos rincões de nosso país e também a realidade de um país embargado como Cuba, que prioriza a medicina preventiva, só posso lamentar que o nosso médico não tenha tido aula com o Dr. Adib Jatene:
“O sujeito não estuda medicina para conquistar posição social, acumular patrimônio, isso até pode acontecer. Ele estuda medicina para ajudar as pessoas que estão sofrendo a se sentir melhor. Esse é o objetivo da profissão. É isso que faz a profissão respeitável”, sentenciou Jatene. (vide aqui)
Como professor, também poderia ter tido o Zé Simão: “Se eu estivesse doente, no interior do Ceará, eu queria um médico humano. Tanto faz cubano, paulistano ou marciano”
Eis o ponto. Precisamos muito mais de humanidade do que de tecnologia. Precisamos também de humildade, aquela palavra que vem do latim “humus” e que, numa tradução livre, pode ser entendida como “filhos da terra”. Ou seja, o homem humilde, em sua origem, é aquele que jamais se esquece de onde veio – da terra – e para onde voltará – para a terra.
O nosso médico, filho de um cearense, sempre teve vergonha do pai. Sonhou tanto em montar um consultório num endereço nobre que conseguiu. No entanto, escravizado pelo corporativismo, nunca percebeu que, no nome da rua, havia uma promessa de liberdade.
*Ana Helena Tavares, jornalista, editora do site “Quem tem medo da democracia?”.
“O médico da Rua Voluntários da Pátria” é um personagem ficcional baseado em fatos reais.
(QTMD)
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Política
Um ministro “verde” comanda o Itamaraty
por André Trigueiro*
Luiz Alberto Figueiredo 600div 300x150 Um ministro “verde” comanda o Itamaraty
Novo ministro das Relações Exteriores. Foto: Divulgação/ Internet
Como negociador-chefe do Brasil na COP-15 (a maior e mais importante de todas as Conferências do Clima realizadas até hoje, em Copenhagen, na Dinamarca) Figueiredo teve de interromper reuniões de trabalho com os colegas diplomatas para assessorar diretamente a então pré-candidata à Presidência da República Dilma Rousseff, que apareceu por lá para marcar pontos na corrida eleitoral juntamente com os demais pré-candidatos Marina Silva e José Serra. Dilma ficou marcada pela gafe cometida durante uma entrevista coletiva quando disse que “o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”. Pano rápido. E cara de paisagem para Figueiredo demais autoridades presentes.
A mais importante atribuição conferida a Luiz Alberto Figueiredo até ser nomeado hoje Ministro das Relações Exteriores foi a de coordenador-geral dos preparativos da Rio+20, o maior encontro da História da ONU em número de países. Ele organizou uma reunião com jornalistas semanas antes do evento para explicar os objetivos da Conferência, esclarecer dúvidas e manifestar com clareza as posições dele – e não apenas do país – em relação a várias questões.
Era comum ouvi-lo dizer que os negociadores dos países ricos “não eram ambientalistas”, e que as questões puramente econômicas preponderavam nos círculos diplomáticos. Defendia o direito de o país crescer de forma sustentável, desde que as nações mais ricas também assumissem compromissos nessa direção.
Com o tempo, Figueiredo aprendeu o “ecologês” e tomou gosto pelos assuntos ambientais. Em momentos de descontração, compartilhava suas expectativas mais sinceras de acordos multilaterais amplamente favoráveis à sustentabilidade, mesmo sabendo que isso seria impossível.
Agora Ministro, no comando do Itamaraty, Figueiredo terá a chance de qualificar melhor a posição do Brasil em duas agendas internacionais que convergirão em 2015. No calendário das negociações do clima, 2015 será o ano em que os países deverão apresentar prazos e metas para a mitigação e a adaptação das mudanças do clima. Também daqui a dois anos, as nações do planeta deverão apresentar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituirão as Metas do Milênio da ONU, resultado direto da Rio +20, organizada por ele.
Pode-se dizer que ele é hoje o diplomata mais preparado para assumir a condução dessas negociações estratégicas. Como ministro, é apenas um servidor direto da Presidência da República, mas que pode influenciar as canetadas da exigente chefe.
* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.
(Mundo Sustentável)
por André Trigueiro*
Luiz Alberto Figueiredo 600div 300x150 Um ministro “verde” comanda o Itamaraty
Novo ministro das Relações Exteriores. Foto: Divulgação/ Internet
Como negociador-chefe do Brasil na COP-15 (a maior e mais importante de todas as Conferências do Clima realizadas até hoje, em Copenhagen, na Dinamarca) Figueiredo teve de interromper reuniões de trabalho com os colegas diplomatas para assessorar diretamente a então pré-candidata à Presidência da República Dilma Rousseff, que apareceu por lá para marcar pontos na corrida eleitoral juntamente com os demais pré-candidatos Marina Silva e José Serra. Dilma ficou marcada pela gafe cometida durante uma entrevista coletiva quando disse que “o meio ambiente é um obstáculo ao desenvolvimento sustentável”. Pano rápido. E cara de paisagem para Figueiredo demais autoridades presentes.
A mais importante atribuição conferida a Luiz Alberto Figueiredo até ser nomeado hoje Ministro das Relações Exteriores foi a de coordenador-geral dos preparativos da Rio+20, o maior encontro da História da ONU em número de países. Ele organizou uma reunião com jornalistas semanas antes do evento para explicar os objetivos da Conferência, esclarecer dúvidas e manifestar com clareza as posições dele – e não apenas do país – em relação a várias questões.
Era comum ouvi-lo dizer que os negociadores dos países ricos “não eram ambientalistas”, e que as questões puramente econômicas preponderavam nos círculos diplomáticos. Defendia o direito de o país crescer de forma sustentável, desde que as nações mais ricas também assumissem compromissos nessa direção.
Com o tempo, Figueiredo aprendeu o “ecologês” e tomou gosto pelos assuntos ambientais. Em momentos de descontração, compartilhava suas expectativas mais sinceras de acordos multilaterais amplamente favoráveis à sustentabilidade, mesmo sabendo que isso seria impossível.
Agora Ministro, no comando do Itamaraty, Figueiredo terá a chance de qualificar melhor a posição do Brasil em duas agendas internacionais que convergirão em 2015. No calendário das negociações do clima, 2015 será o ano em que os países deverão apresentar prazos e metas para a mitigação e a adaptação das mudanças do clima. Também daqui a dois anos, as nações do planeta deverão apresentar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituirão as Metas do Milênio da ONU, resultado direto da Rio +20, organizada por ele.
Pode-se dizer que ele é hoje o diplomata mais preparado para assumir a condução dessas negociações estratégicas. Como ministro, é apenas um servidor direto da Presidência da República, mas que pode influenciar as canetadas da exigente chefe.
* André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
** Publicado originalmente no site Mundo Sustentável.
(Mundo Sustentável)
Internet
80% dos acessos à internet na América Latina são pré-pagos
Emilly Sousa
Adital
Foto:Reprodução/ReproducciónÉ grande a desigualdade no acesso à banda larga na América Latina. O mercado é majoritariamente móvel pré-pago, que responde por 80% dos acessos, segundo dados da revista especializada Teletime. As conexões são ineficientes, já que os cabos óticos submarinos não suportam a demanda crescente. Além disso, existe a divergência dos governos latino-americanos, que tratam de formas diferentes a telefonia fixa, móvel e a Internet.
Porém, o lado positivo é que investimentos estão sendo feitos. A implementação de cabos óticos para a construção de backbones, uma espécie de espinha dorsal que possibilita o acesso à rede, na Colômbia e no Peru e o lançamento de satélites que possibilitam uma conexão de alta velocidade e com custos reduzidos, podendo atingir três bilhões de pessoas em 180 países, prometem trazer mais pessoas ao processo da inclusão digital nos próximos anos.
A situação do Brasil no tocante à utilização da internet difere bastante em relação aos países da América Latina. Atualmente, mais de 3,2 mil municípios brasileiros já possuem internet rápida a preços populares. O fato se deve ao Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), projeto que por meio da parceria entre o Ministério das Comunicações do Brasil e as concessionárias de telefonia, possibilita que as empresas comercializem os pacotes de acesso à internet com velocidade de 1 megabit por segundo a R$ 35 mensais, já incluídos os impostos.
Das 360 localidades atendidas no primeiro trimestre deste ano, a maioria está localizada nas regiões Norte e Nordeste do país. É esperado que até o final do ano todos os municípios brasileiros sejam atendidos pelas operadoras. Já foram construídos mais de 25 mil quilômetros de redes de fibras ópticas para chegar às localidades onde ainda não há oferta por parte das concessionárias, segundo informações da Telebrás, responsável pela execução do PNBL. Para ver a lista dos locais beneficiados acesse aqui.
No caso da internet móvel, o Brasil tem a mais cara da região, como foi apontado no estudo realizado pela Associação Mundial de Telefonia Móvel (GSMA), com um aumento de até 50% nos preços entre 2010 e 2013. Foram analisados 17 países e dados referentes ao segundo trimestre deste ano. O levantamento, chamado "A Banda Larga Móvel na Base da Pirâmide da América Latina” se baseia nos planos mais acessíveis para a população local e mostra que, diferentemente dos países vizinhos, os preços subiram significativamente por aqui, como divulgou o IDGNow no início do mês.
(Adital)
Emilly Sousa
Adital
Foto:Reprodução/ReproducciónÉ grande a desigualdade no acesso à banda larga na América Latina. O mercado é majoritariamente móvel pré-pago, que responde por 80% dos acessos, segundo dados da revista especializada Teletime. As conexões são ineficientes, já que os cabos óticos submarinos não suportam a demanda crescente. Além disso, existe a divergência dos governos latino-americanos, que tratam de formas diferentes a telefonia fixa, móvel e a Internet.
Porém, o lado positivo é que investimentos estão sendo feitos. A implementação de cabos óticos para a construção de backbones, uma espécie de espinha dorsal que possibilita o acesso à rede, na Colômbia e no Peru e o lançamento de satélites que possibilitam uma conexão de alta velocidade e com custos reduzidos, podendo atingir três bilhões de pessoas em 180 países, prometem trazer mais pessoas ao processo da inclusão digital nos próximos anos.
A situação do Brasil no tocante à utilização da internet difere bastante em relação aos países da América Latina. Atualmente, mais de 3,2 mil municípios brasileiros já possuem internet rápida a preços populares. O fato se deve ao Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), projeto que por meio da parceria entre o Ministério das Comunicações do Brasil e as concessionárias de telefonia, possibilita que as empresas comercializem os pacotes de acesso à internet com velocidade de 1 megabit por segundo a R$ 35 mensais, já incluídos os impostos.
Das 360 localidades atendidas no primeiro trimestre deste ano, a maioria está localizada nas regiões Norte e Nordeste do país. É esperado que até o final do ano todos os municípios brasileiros sejam atendidos pelas operadoras. Já foram construídos mais de 25 mil quilômetros de redes de fibras ópticas para chegar às localidades onde ainda não há oferta por parte das concessionárias, segundo informações da Telebrás, responsável pela execução do PNBL. Para ver a lista dos locais beneficiados acesse aqui.
No caso da internet móvel, o Brasil tem a mais cara da região, como foi apontado no estudo realizado pela Associação Mundial de Telefonia Móvel (GSMA), com um aumento de até 50% nos preços entre 2010 e 2013. Foram analisados 17 países e dados referentes ao segundo trimestre deste ano. O levantamento, chamado "A Banda Larga Móvel na Base da Pirâmide da América Latina” se baseia nos planos mais acessíveis para a população local e mostra que, diferentemente dos países vizinhos, os preços subiram significativamente por aqui, como divulgou o IDGNow no início do mês.
(Adital)
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
Pintura
Egon Schiele: erotismo, agressividade e pobreza
publicado em artes e ideias por diana guerra
Sabia que no início do século XX o número de prostitutas em Viena era o maior per capita de todas as cidades da Europa? Não é coincidência ter sido nesta cidade que surgiu um pintor são sexual e controverso como Egon Schiele. Conheça melhor o trabalho do austríaco.
decadentismo, egon, erotismo, nu, nudez, pintura, schiele, viena
Arrojado e boémio, Egon Schiele (1890-1918) é uma figura de destaque do expressionismo alemão. Os seus desenhos expressam o erotismo através de figuras grotescas e linhas agressivas: prostitutas e trabalhadoras da classe baixa eram os seus modelos preferidos e causaram polémica na sociedade vienense de início do século XX.
O talento de Schiele cedo se notou. Contra a vontade da mãe e do tio, candidatou-se e conseguiu entrar na Academia de Viena aos 17 anos, logo na primeira tentativa. Um ano depois, em 1908, já participava numa exposição pública, de tema paisagístico.
No entanto, à medida que atingia uma idade mais madura, os seus temas foram-se tornando menos convencionais e a sua técnica mais ligada ao desenho e à aguarela. Dois anos após ter entrado na academia, abandonou-a para criar o Grupo de Arte Nova (Neukunstgruppe). A arte mais tradicional não lhe interessava e, em Dezembro do mesmo ano, o grupo organizou a sua primeira exposição, onde os corpos distorcidos de Schiele já estavam bem presentes.
decadentismo, egon, erotismo, nu, nudez, pintura, schiele, viena
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Nos anos seguintes, o pintor austríaco desenvolveu a sua linha original. A pobreza e a piedade ligam-se nos seus desenhos de linhas abruptas e formas intensas que acentuam o carácter erótico das personagens. A sexualidade e a homossexualidade estão sempre presentes e funcionam muitas vezes como uma forma de oposição à Igreja. Vemos mulheres nuas a beijarem-se em vários trabalhos e há um frade que acaricia uma freira.
As cores pálidas da decadência juntam-se aos tons vermelhos das zonas mais sensíveis do corpo. Fascinado pela devastação do sofrimento, Schiele escolhia como modelos mulheres magras de tipo andrógino e de classe baixa. Muitas delas eram prostitutas. O pintor foca os órgãos sexuais das suas personagens, quer pela posição do corpo, quer pelas cores utilizadas, em quadros despidos de quase todos os elementos decorativos e na ausência de qualquer pano de fundo.
Também os seus auto-retratos expressam a forma como encarava a realidade. De olhos cavados, testa alta e com um corpo esquelético, Schiele mostra-se repulsivo para a posterioridade, quando aos seus contemporâneos se mostrava atraente e de aspecto elegante.
decadentismo, egon, erotismo, nu, nudez, pintura, schiele, viena
Após ter fundado o seu grupo de arte, Schiele expôs em Zurique, Praga, Dresden, Budapeste, Colónia e Paris. Apesar das críticas vorazes dos europeus mais púdicos, o seu trabalho viajou além fronteiras devido à sua força de expressão e agressividade. Schiele faz-nos viajar entre a promiscuidade dos bairros mais pobres, obrigando-nos a observar (e aos seus contemporâneos do início do século XX) o que ninguém quer ver. Não foi por acaso que este pintor foi o protegido de Gustav Klimt.
Schiele quer chocar? Quer chamar a atenção para problemas sociais? É obcecado por sexo? Muito provavelmente, um pouco dos três. Pintou a sua primeira companheira e musa, Valeria, a sua esposa, Edith, e chegou até a pintar a sua irmã mais nova nua: de cabeleira ruiva, deitada e com um olhar provocador. A intimidade entre o pintor e os seus modelos é uma das características visíveis nos desenhos.
Infelizmente, a sua carreira foi curta. Schiele acabaria por falecer em 1918, com apenas 28 anos de idade, vítima de gripe espanhola. Os seus últimos desenhos foram da esposa, que tinha morrido três dias antes.
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diana
diana guerra é normalmente zote, mas dizem que também se interessa por arte, cultura e essas coisas óbvias. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/11/egon_schiele_erotismo_agressividade_e_pobreza.html#ixzz2d65jO1HE
publicado em artes e ideias por diana guerra
Sabia que no início do século XX o número de prostitutas em Viena era o maior per capita de todas as cidades da Europa? Não é coincidência ter sido nesta cidade que surgiu um pintor são sexual e controverso como Egon Schiele. Conheça melhor o trabalho do austríaco.
decadentismo, egon, erotismo, nu, nudez, pintura, schiele, viena
Arrojado e boémio, Egon Schiele (1890-1918) é uma figura de destaque do expressionismo alemão. Os seus desenhos expressam o erotismo através de figuras grotescas e linhas agressivas: prostitutas e trabalhadoras da classe baixa eram os seus modelos preferidos e causaram polémica na sociedade vienense de início do século XX.
O talento de Schiele cedo se notou. Contra a vontade da mãe e do tio, candidatou-se e conseguiu entrar na Academia de Viena aos 17 anos, logo na primeira tentativa. Um ano depois, em 1908, já participava numa exposição pública, de tema paisagístico.
No entanto, à medida que atingia uma idade mais madura, os seus temas foram-se tornando menos convencionais e a sua técnica mais ligada ao desenho e à aguarela. Dois anos após ter entrado na academia, abandonou-a para criar o Grupo de Arte Nova (Neukunstgruppe). A arte mais tradicional não lhe interessava e, em Dezembro do mesmo ano, o grupo organizou a sua primeira exposição, onde os corpos distorcidos de Schiele já estavam bem presentes.
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decadentismo, egon, erotismo, nu, nudez, pintura, schiele, viena
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Nos anos seguintes, o pintor austríaco desenvolveu a sua linha original. A pobreza e a piedade ligam-se nos seus desenhos de linhas abruptas e formas intensas que acentuam o carácter erótico das personagens. A sexualidade e a homossexualidade estão sempre presentes e funcionam muitas vezes como uma forma de oposição à Igreja. Vemos mulheres nuas a beijarem-se em vários trabalhos e há um frade que acaricia uma freira.
As cores pálidas da decadência juntam-se aos tons vermelhos das zonas mais sensíveis do corpo. Fascinado pela devastação do sofrimento, Schiele escolhia como modelos mulheres magras de tipo andrógino e de classe baixa. Muitas delas eram prostitutas. O pintor foca os órgãos sexuais das suas personagens, quer pela posição do corpo, quer pelas cores utilizadas, em quadros despidos de quase todos os elementos decorativos e na ausência de qualquer pano de fundo.
Também os seus auto-retratos expressam a forma como encarava a realidade. De olhos cavados, testa alta e com um corpo esquelético, Schiele mostra-se repulsivo para a posterioridade, quando aos seus contemporâneos se mostrava atraente e de aspecto elegante.
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Após ter fundado o seu grupo de arte, Schiele expôs em Zurique, Praga, Dresden, Budapeste, Colónia e Paris. Apesar das críticas vorazes dos europeus mais púdicos, o seu trabalho viajou além fronteiras devido à sua força de expressão e agressividade. Schiele faz-nos viajar entre a promiscuidade dos bairros mais pobres, obrigando-nos a observar (e aos seus contemporâneos do início do século XX) o que ninguém quer ver. Não foi por acaso que este pintor foi o protegido de Gustav Klimt.
Schiele quer chocar? Quer chamar a atenção para problemas sociais? É obcecado por sexo? Muito provavelmente, um pouco dos três. Pintou a sua primeira companheira e musa, Valeria, a sua esposa, Edith, e chegou até a pintar a sua irmã mais nova nua: de cabeleira ruiva, deitada e com um olhar provocador. A intimidade entre o pintor e os seus modelos é uma das características visíveis nos desenhos.
Infelizmente, a sua carreira foi curta. Schiele acabaria por falecer em 1918, com apenas 28 anos de idade, vítima de gripe espanhola. Os seus últimos desenhos foram da esposa, que tinha morrido três dias antes.
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diana
diana guerra é normalmente zote, mas dizem que também se interessa por arte, cultura e essas coisas óbvias. Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2011/11/egon_schiele_erotismo_agressividade_e_pobreza.html#ixzz2d65jO1HE
Terror
Mundo horrorizado
Não quero parecer piegas ou óbvia nesse texto. Também não gostaria que o leitor buscasse nele razões políticas ou ideológicas, mas que o encarasse como um desabafo...um desabafo de alguém que, como tantos milhões de seres humanos mundo afora, devem estar preocupados com o destino da humanidade.
Esse ataque com gás mortal na Síria, obrigou-me a parar tudo o que eu estava fazendo para dedicar alguns momentos à reflexão, coisa cada vez mais rara em nossas vidas à medida que a velocidade do tempo e dos acontecimentos é tão assustadora que vivemos voltados para o nosso próprio umbigo.
Confesso que tenho dificuldade em começar meu raciocínio... e aqui, como num reality show escrito, estou me colocando completamente vulnerável às emoções ao ver na internet fotos tão chocantes que me levaram às lágrimas.
Num primeiro momento hesitei em vê-las, mas depois tomei coragem e pensei que precisava ter essa visão da tragédia para poder escrever e, principalmente, refletir sobre ela.
Mas tenho certeza que nem as imagens mais chocantes foram necessárias para eu poder dimensionar em palavras o que deve ter acontecido com aquelas pessoas todas, mortas, inocentes alvos da estupidez humana que parece não ter fim.
Pelas informações da mídia e da oposição síria, foram jogadas bombas letais em regiões onde as famílias estavam dormindo e, assim, foram pegas de surpresa, sem terem para onde ir e muito menos se esconder. Não dá nem para imaginar o momento em que se viram sufocadas. Famílias inteiras com suas crianças que não tiveram chance de viver mais do que os poucos anos reservados para elas.
Nas fotos, mais do que chocantes, vemos as vítimas inocentes com olhos entreabertos, alguns esbugalhados, lábios roxos e rostos deesesperados em busca de ar, já que o gás atirado não as deixava respirar mais. Tudo muito triste e muito, muito preocupante.
Parece inocente e simples falar assim, mas é assim que eu consigo me expressar tentanto gritar meu medo, minha preocupação pelo que pode estar vindo por aí. Não é porque eu ou minha família estejamos, a princípio, em segurança que vou deixar de pensar, sofrer, chorar e lamentar profundamente por essas pessoas que não tiveram escolha na hora de nascer no lugar errado.
Eu, como mãe, e acho até que nem precisa ser mãe para sentir na pele tamanho sofrimento, vi fotos de crianças mortas por nada, pela ânsia violenta de poder e disputa que a cada dia faz mais vítimas em todos os lugares do mundo. Estou sim, revoltada, arrasada com o que vi daqui de longe. Confesso que olhei em volta e pensei... porque uns são tão felizes e outros tão miseráveis.
Quero ir mais além, quero me revoltar e não me acomodar, me conformar e pensar "que as coisas são assim mesmo", quero de alguma maneira pedir ajuda a alguém mesmo sem saber a quem.
Confesso que ao ver as imagens de centenas de corpos de inocentes crianças me passaram tantos medos pela cabeça que nem ouso pensar no que o futuro reserva à humanidade, sobretudo porque não consigo vislumbrar sinais de paz e harmonia entre os homens que se alimentam de guerras insensatas e cruéis.
Leila Cordeiro
(Direto da Redação)
Não quero parecer piegas ou óbvia nesse texto. Também não gostaria que o leitor buscasse nele razões políticas ou ideológicas, mas que o encarasse como um desabafo...um desabafo de alguém que, como tantos milhões de seres humanos mundo afora, devem estar preocupados com o destino da humanidade.
Esse ataque com gás mortal na Síria, obrigou-me a parar tudo o que eu estava fazendo para dedicar alguns momentos à reflexão, coisa cada vez mais rara em nossas vidas à medida que a velocidade do tempo e dos acontecimentos é tão assustadora que vivemos voltados para o nosso próprio umbigo.
Confesso que tenho dificuldade em começar meu raciocínio... e aqui, como num reality show escrito, estou me colocando completamente vulnerável às emoções ao ver na internet fotos tão chocantes que me levaram às lágrimas.
Num primeiro momento hesitei em vê-las, mas depois tomei coragem e pensei que precisava ter essa visão da tragédia para poder escrever e, principalmente, refletir sobre ela.
Mas tenho certeza que nem as imagens mais chocantes foram necessárias para eu poder dimensionar em palavras o que deve ter acontecido com aquelas pessoas todas, mortas, inocentes alvos da estupidez humana que parece não ter fim.
Pelas informações da mídia e da oposição síria, foram jogadas bombas letais em regiões onde as famílias estavam dormindo e, assim, foram pegas de surpresa, sem terem para onde ir e muito menos se esconder. Não dá nem para imaginar o momento em que se viram sufocadas. Famílias inteiras com suas crianças que não tiveram chance de viver mais do que os poucos anos reservados para elas.
Nas fotos, mais do que chocantes, vemos as vítimas inocentes com olhos entreabertos, alguns esbugalhados, lábios roxos e rostos deesesperados em busca de ar, já que o gás atirado não as deixava respirar mais. Tudo muito triste e muito, muito preocupante.
Parece inocente e simples falar assim, mas é assim que eu consigo me expressar tentanto gritar meu medo, minha preocupação pelo que pode estar vindo por aí. Não é porque eu ou minha família estejamos, a princípio, em segurança que vou deixar de pensar, sofrer, chorar e lamentar profundamente por essas pessoas que não tiveram escolha na hora de nascer no lugar errado.
Eu, como mãe, e acho até que nem precisa ser mãe para sentir na pele tamanho sofrimento, vi fotos de crianças mortas por nada, pela ânsia violenta de poder e disputa que a cada dia faz mais vítimas em todos os lugares do mundo. Estou sim, revoltada, arrasada com o que vi daqui de longe. Confesso que olhei em volta e pensei... porque uns são tão felizes e outros tão miseráveis.
Quero ir mais além, quero me revoltar e não me acomodar, me conformar e pensar "que as coisas são assim mesmo", quero de alguma maneira pedir ajuda a alguém mesmo sem saber a quem.
Confesso que ao ver as imagens de centenas de corpos de inocentes crianças me passaram tantos medos pela cabeça que nem ouso pensar no que o futuro reserva à humanidade, sobretudo porque não consigo vislumbrar sinais de paz e harmonia entre os homens que se alimentam de guerras insensatas e cruéis.
Leila Cordeiro
(Direto da Redação)
domingo, 25 de agosto de 2013
Casais
Você beijou Lilly – Bukowski
Você beijou Lilly – Bukowski
Era uma noite de quarta-feira. A televisão não estava muito boa. Theodore tinha cinquenta e seis anos. Sua esposa, Margaret, cinquenta. Os dois estavam casados há vinte anos e não tinham filhos. Ted apagou a luz. Os dois ficaram estirados no escuro.
- Bem – disse Margy –, não vai me dar um beijo de boa noite?
Ted deu um suspiro e voltou-se para ela. Deu-lhe um beijinho de leve.
- Você chama isso de beijo?
Ted não respondeu.
- Aquela mulher no programa parecia Lilly, não parecia?
- Não sei.
- Você sabe.
- Escuta, não comece nada, que não acontece nada.
- Você simplesmente não quer discutir as coisas. Só quer se fechar em sua concha. Seja honesto. A mulher do programa parecia Lilly, não parecia?
- Tudo bem. Tinha uma certa semelhança.
- Isso fez você se lembrar de Lilly?
- Oh, Deus…
- Não fuja. Fez você se lembrar dela?
- Por um momento, sim…
- Foi bom?
- Não, escuta, Margy, isso aconteceu há cinco anos!
- O tempo muda o que acontece?
- Eu pedi desculpas a você.
- Desculpas! Você sabe o que fez comigo? E se eu tivesse feito isso com algum homem? Como é que você ia se sentir?
- Eu não sei. Faça, e aí eu vou saber.
- Oh, agora você está sendo gozador. É uma piada!
- Margy, nós já discutimos essa coisa quatrocentas ou quinhentas noites.
- Quando você fazia amor com Lilly, a beijava como me beijou esta noite?
- Não, acho que não…
- Como, então? Como?
- Nossa, pare com isso!
- Como?
- Bem, diferente.
- Diferente como?
- Bem, era uma novidade. Eu estava excitado…
Margy sentou-se na cama e deu um grito. Depois parou.
- E quando você me beija não é excitante, é isso?
- Estamos acostumados um ao outro.
- Mas é isso que é amor: viver e crescer juntos.
- Tudo bem.
- “Tudo bem?” Que quer dizer com “tudo bem”?
- Quero dizer que você tem razão.
- Não diga isso como se estivesse falando sério. Você simplesmente não gosta de conversar. Tem vivido comigo esses anos todos. Sabe por quê?
- Não tenho certeza. As pessoas simplesmente se acomodam com as coisas, como o emprego. As pessoas simplesmente se acomodam com as coisas. Acontece.
- Quer dizer que estar comigo é como um emprego? É como um emprego?
- A gente bate o ponto no emprego.
- Lá vem você de novo. Isso é uma discussão séria!
- Tudo bem.
- “Tudo bem?” Seu asno nojento! Está quase dormindo!
- Margy, que você quer que eu faça? Isso aconteceu há anos!
- Tudo bem, eu lhe digo o que quero que faça! Quero que você me beije como beijava Lilly. Quero que me foda como fodia com Lilly!
- Eu não posso fazer isso…
- Por quê? Por que eu não excito você como Lilly excitava? Porque eu não sou nova?
- Eu mal me lembro de Lilly.
- Deve se lembrar bastante. Tudo bem, não precisa me foder! Só me beije como beijava Lilly!
- Oh, meu Deus, Margy, por favor, dá uma folga, eu lhe imploro!
- Eu quero saber por que temos vivido todos esses anos juntos! Será que eu desperdicei minha vida?
- Todo mundo desperdiça, quase todo mundo desperdiça.
- Desperdiçam a vida?
- Eu acho.
- Se você ao menos adivinhasse o quanto eu odeio você!
- Quer o divórcio?
- Se eu quero o divórcio? Oh, meu Deus, que calma a sua! Você arruína toda a porra da minha vida e depois me pergunta se eu quero o divórcio! Eu estou com cinquenta anos! Dei minha vida a você! Pra onde eu vou daqui?
- Pode ir pro inferno! Estou cheio de sua voz. Estou cheio de sua encheção de saco.
- E se eu tivesse feito isso com um homem?
- Eu gostaria que tivesse. Gostaria que tivesse!
Theodore fechou os olhos. Margaret soluçava. Lá fora, um cachorro latiu. Alguém tentava fazer um carro pegar. Não pegava. Fazia dezoito graus e meio numa cidadezinha de Illinois. James Carter era presidente dos Estados Unidos.
Theodore começou a roncar. Margaret foi à gaveta de baixo da cômoda e pegou o revólver. Calibre .22. Carregado. Voltou para junto do marido na cama.
Margaret sacudiu-o.
- Ted, querido, você está roncando…
Tornou a sacudi-lo.
- Que é…? – perguntou Ted.
Ela destravou o revólver e encostou-o na parte do peito dele mais perto dela e puxou o gatilho. A cama estremeceu e ela afastou o revólver. Um som muito parecido a um peido escapou da boca de Theodore. Ele não pareceu sentir dor. O luar entrava pela janela. Ela olhou, e o buraco era pequeno e não saía muito sangue. Margaret passou o revólver para o outro lado do peito de Theodore. Tornou a puxar o gatilho. Desta vez ele não emitiu nenhum som. Mas continuou respirando. Ela o observava. O sangue escorria. Tinha um fedor horrível.
Agora que ele agonizava, ela quase o amava. Mas Lilly, quando ela pensava em Lilly… a boca de Ted na dela, e todo o resto, aí queria atirar nele de novo… Ted sempre fora bonito de gola rulê e de verde, e quando peidava na cama sempre se virava primeiro – nunca peidava contra ela. Raramente faltava um dia no trabalho. Ia faltar amanhã…
Margaret soluçou durante algum tempo, depois adormeceu.
? ? ?
Quando Theodore acordou, sentiu como se tivesse agudos caniços enfiados em cada lado do peito. Não sentia dor. Levou as mãos ao peito e ergueu-as para a luz do luar. Estavam cobertas de sangue. Isso o confundiu. Ele olhou para Margaret. ela dormia e tinha na mão a arma que ele lhe ensinara a usar para proteger-se.
Ele sentou-se e o sangue começou a sair mais rápido dos dois buracos em seu peito. Margaret atirara nele quando ele dormia. Por foder com Lilly. Ele não conseguira nem atingir o clímax com Lilly.
Ele pensou: Estou quase morto, mas se conseguir escapar dela, tenho uma chance.
Theodore estendeu delicadamente o braço e desgrudou os dedos de Margaret do revólver. Ainda estava destravado.
Não quero matá-la, ele pensou, só quero escapar. Acho que tenho querido escapar no mínimo há quinze anos.
Conseguiu sair da cama. Pegou o revólver e apontou-o para o alto da coxa de Margaret, perna direita. Disparou.
Margy gritou e ele tapou-lhe a boca com a mão. Esperou alguns minutos, e tirou a mão.
-Que está fazendo, Theodore?
Ele apontou o revólver para o alto da coxa dela, perna esquerda. Disparou. Deteve o novo grito dela tapando-lhe de novo a boca com a mão. Manteve-a ali durante alguns minutos, depois tirou-a.
-Você beijou Lilly – disse Margaret.
Restavam duas balas no revólver. Ted empertigou-se e olhou os buracos em seu peito. O buraco do lado direito parara de sangrar. Do buraco do lado esquerdo esguichava uma fina linha vermelha, parecendo uma agulha, em intervalos regulares.
- Vou matar você! – disse Margaret, da cama.
- Você quer mesmo, não quer?
- Sim, sim! E vou!
Ted começou a sentir-se tonto e nauseado. Onde estava a polícia? sem dúvida teriam ouvido todos aqueles tiros. Onde estavam eles? Será que ninguém ouvia tiros?
Ele viu a janela. Disparou contra a janela. Estava ficando mais fraco. Caiu de joelhos. Foi de joelhos para a outra janela. Tornou a disparar. A bala fez um buraco no vidro mas não despedaçou. Uma sombra negra passou na frente dele. Depois sumiu.
Ele pensou: Preciso tirar esse revólver daqui!
Theodore reuniu suas últimas forças. Atirou o revólver contra a vidraça. O vidro quebrou-se mas o revólver caiu de volta dentro da sala…
Quando recuperou a consciência, a esposa estava parada de pé acima dele. estava na verdade de pé sobre as duas pernas que ele atirara. recarregava o revólver.
- Vou matar você – ela disse.
- Margy, pelo amor de Deus, escuta! Eu amo você!
- Rasteje, seu cão mentiroso!
- Margy, por favor…
Theodore começou a rastejar para o outro quarto.
Ela seguiu-o.
- Então, excitava você beijar Lilly?
- Não, não! Eu não gostei! Eu odiei!
- Vou estourar esses malditos lábios beijadores da sua boca!
- Margy, meu deus!
Ela pôs o revólver na boca dele.
- Toma aí um beijo pra você!
Disparou. A bala estourou parte do lábio inferior e parte do maxilar. Ele continuou consciente. Viu um dos sapatos dela no chão. Tornou a reunir suas forças e jogou o sapato contra outra janela. O vidro quebrou-se e o sapato caiu lá fora.
Margaret voltou o revólver contra o próprio peito. Puxou o gatilho…
Quando a polícia arrombou a porta, Margaret estava de pé, segurando o revólver.
- Tudo bem, madame, solte essa arma! – disse um dos tiras. Theodore ainda tentava afastar-se rastejando. Margaret apontou-lhe o revólver, disparou e errou. Depois caiu no chão, em sua camisola roxa.
- Que diabos aconteceu? – perguntou um dos tiras, curvando-se sobre Theodore.
Theodore virou a cabeça. A boca era uma bolha de sangue.
- Annn… – disse Theodore – annn…
- Eu detesto essas brigas domésticas – disse o outro tira.
- Uma verdadeira bagunça…
- É – disse o primeiro tira.
- Eu tive uma briga com minha esposa ainda hoje de manhã. A gente nunca sabe.
- Annn… – disse Theodore.
Lilly estava em casa vendo um velho filme de Marlon Brando na televisão. Sozinha. Sempre fora apaixonada por Marlon.
Soltou um peido baixinho. Levantou o vestido e começou a masturbar-se.
(Charles Bukowski, “Numa Fria”; tradução de Marcos Santarrita – Porto Alegre: L&PM,
(Magia da Poesia)
Você beijou Lilly – Bukowski
Era uma noite de quarta-feira. A televisão não estava muito boa. Theodore tinha cinquenta e seis anos. Sua esposa, Margaret, cinquenta. Os dois estavam casados há vinte anos e não tinham filhos. Ted apagou a luz. Os dois ficaram estirados no escuro.
- Bem – disse Margy –, não vai me dar um beijo de boa noite?
Ted deu um suspiro e voltou-se para ela. Deu-lhe um beijinho de leve.
- Você chama isso de beijo?
Ted não respondeu.
- Aquela mulher no programa parecia Lilly, não parecia?
- Não sei.
- Você sabe.
- Escuta, não comece nada, que não acontece nada.
- Você simplesmente não quer discutir as coisas. Só quer se fechar em sua concha. Seja honesto. A mulher do programa parecia Lilly, não parecia?
- Tudo bem. Tinha uma certa semelhança.
- Isso fez você se lembrar de Lilly?
- Oh, Deus…
- Não fuja. Fez você se lembrar dela?
- Por um momento, sim…
- Foi bom?
- Não, escuta, Margy, isso aconteceu há cinco anos!
- O tempo muda o que acontece?
- Eu pedi desculpas a você.
- Desculpas! Você sabe o que fez comigo? E se eu tivesse feito isso com algum homem? Como é que você ia se sentir?
- Eu não sei. Faça, e aí eu vou saber.
- Oh, agora você está sendo gozador. É uma piada!
- Margy, nós já discutimos essa coisa quatrocentas ou quinhentas noites.
- Quando você fazia amor com Lilly, a beijava como me beijou esta noite?
- Não, acho que não…
- Como, então? Como?
- Nossa, pare com isso!
- Como?
- Bem, diferente.
- Diferente como?
- Bem, era uma novidade. Eu estava excitado…
Margy sentou-se na cama e deu um grito. Depois parou.
- E quando você me beija não é excitante, é isso?
- Estamos acostumados um ao outro.
- Mas é isso que é amor: viver e crescer juntos.
- Tudo bem.
- “Tudo bem?” Que quer dizer com “tudo bem”?
- Quero dizer que você tem razão.
- Não diga isso como se estivesse falando sério. Você simplesmente não gosta de conversar. Tem vivido comigo esses anos todos. Sabe por quê?
- Não tenho certeza. As pessoas simplesmente se acomodam com as coisas, como o emprego. As pessoas simplesmente se acomodam com as coisas. Acontece.
- Quer dizer que estar comigo é como um emprego? É como um emprego?
- A gente bate o ponto no emprego.
- Lá vem você de novo. Isso é uma discussão séria!
- Tudo bem.
- “Tudo bem?” Seu asno nojento! Está quase dormindo!
- Margy, que você quer que eu faça? Isso aconteceu há anos!
- Tudo bem, eu lhe digo o que quero que faça! Quero que você me beije como beijava Lilly. Quero que me foda como fodia com Lilly!
- Eu não posso fazer isso…
- Por quê? Por que eu não excito você como Lilly excitava? Porque eu não sou nova?
- Eu mal me lembro de Lilly.
- Deve se lembrar bastante. Tudo bem, não precisa me foder! Só me beije como beijava Lilly!
- Oh, meu Deus, Margy, por favor, dá uma folga, eu lhe imploro!
- Eu quero saber por que temos vivido todos esses anos juntos! Será que eu desperdicei minha vida?
- Todo mundo desperdiça, quase todo mundo desperdiça.
- Desperdiçam a vida?
- Eu acho.
- Se você ao menos adivinhasse o quanto eu odeio você!
- Quer o divórcio?
- Se eu quero o divórcio? Oh, meu Deus, que calma a sua! Você arruína toda a porra da minha vida e depois me pergunta se eu quero o divórcio! Eu estou com cinquenta anos! Dei minha vida a você! Pra onde eu vou daqui?
- Pode ir pro inferno! Estou cheio de sua voz. Estou cheio de sua encheção de saco.
- E se eu tivesse feito isso com um homem?
- Eu gostaria que tivesse. Gostaria que tivesse!
Theodore fechou os olhos. Margaret soluçava. Lá fora, um cachorro latiu. Alguém tentava fazer um carro pegar. Não pegava. Fazia dezoito graus e meio numa cidadezinha de Illinois. James Carter era presidente dos Estados Unidos.
Theodore começou a roncar. Margaret foi à gaveta de baixo da cômoda e pegou o revólver. Calibre .22. Carregado. Voltou para junto do marido na cama.
Margaret sacudiu-o.
- Ted, querido, você está roncando…
Tornou a sacudi-lo.
- Que é…? – perguntou Ted.
Ela destravou o revólver e encostou-o na parte do peito dele mais perto dela e puxou o gatilho. A cama estremeceu e ela afastou o revólver. Um som muito parecido a um peido escapou da boca de Theodore. Ele não pareceu sentir dor. O luar entrava pela janela. Ela olhou, e o buraco era pequeno e não saía muito sangue. Margaret passou o revólver para o outro lado do peito de Theodore. Tornou a puxar o gatilho. Desta vez ele não emitiu nenhum som. Mas continuou respirando. Ela o observava. O sangue escorria. Tinha um fedor horrível.
Agora que ele agonizava, ela quase o amava. Mas Lilly, quando ela pensava em Lilly… a boca de Ted na dela, e todo o resto, aí queria atirar nele de novo… Ted sempre fora bonito de gola rulê e de verde, e quando peidava na cama sempre se virava primeiro – nunca peidava contra ela. Raramente faltava um dia no trabalho. Ia faltar amanhã…
Margaret soluçou durante algum tempo, depois adormeceu.
? ? ?
Quando Theodore acordou, sentiu como se tivesse agudos caniços enfiados em cada lado do peito. Não sentia dor. Levou as mãos ao peito e ergueu-as para a luz do luar. Estavam cobertas de sangue. Isso o confundiu. Ele olhou para Margaret. ela dormia e tinha na mão a arma que ele lhe ensinara a usar para proteger-se.
Ele sentou-se e o sangue começou a sair mais rápido dos dois buracos em seu peito. Margaret atirara nele quando ele dormia. Por foder com Lilly. Ele não conseguira nem atingir o clímax com Lilly.
Ele pensou: Estou quase morto, mas se conseguir escapar dela, tenho uma chance.
Theodore estendeu delicadamente o braço e desgrudou os dedos de Margaret do revólver. Ainda estava destravado.
Não quero matá-la, ele pensou, só quero escapar. Acho que tenho querido escapar no mínimo há quinze anos.
Conseguiu sair da cama. Pegou o revólver e apontou-o para o alto da coxa de Margaret, perna direita. Disparou.
Margy gritou e ele tapou-lhe a boca com a mão. Esperou alguns minutos, e tirou a mão.
-Que está fazendo, Theodore?
Ele apontou o revólver para o alto da coxa dela, perna esquerda. Disparou. Deteve o novo grito dela tapando-lhe de novo a boca com a mão. Manteve-a ali durante alguns minutos, depois tirou-a.
-Você beijou Lilly – disse Margaret.
Restavam duas balas no revólver. Ted empertigou-se e olhou os buracos em seu peito. O buraco do lado direito parara de sangrar. Do buraco do lado esquerdo esguichava uma fina linha vermelha, parecendo uma agulha, em intervalos regulares.
- Vou matar você! – disse Margaret, da cama.
- Você quer mesmo, não quer?
- Sim, sim! E vou!
Ted começou a sentir-se tonto e nauseado. Onde estava a polícia? sem dúvida teriam ouvido todos aqueles tiros. Onde estavam eles? Será que ninguém ouvia tiros?
Ele viu a janela. Disparou contra a janela. Estava ficando mais fraco. Caiu de joelhos. Foi de joelhos para a outra janela. Tornou a disparar. A bala fez um buraco no vidro mas não despedaçou. Uma sombra negra passou na frente dele. Depois sumiu.
Ele pensou: Preciso tirar esse revólver daqui!
Theodore reuniu suas últimas forças. Atirou o revólver contra a vidraça. O vidro quebrou-se mas o revólver caiu de volta dentro da sala…
Quando recuperou a consciência, a esposa estava parada de pé acima dele. estava na verdade de pé sobre as duas pernas que ele atirara. recarregava o revólver.
- Vou matar você – ela disse.
- Margy, pelo amor de Deus, escuta! Eu amo você!
- Rasteje, seu cão mentiroso!
- Margy, por favor…
Theodore começou a rastejar para o outro quarto.
Ela seguiu-o.
- Então, excitava você beijar Lilly?
- Não, não! Eu não gostei! Eu odiei!
- Vou estourar esses malditos lábios beijadores da sua boca!
- Margy, meu deus!
Ela pôs o revólver na boca dele.
- Toma aí um beijo pra você!
Disparou. A bala estourou parte do lábio inferior e parte do maxilar. Ele continuou consciente. Viu um dos sapatos dela no chão. Tornou a reunir suas forças e jogou o sapato contra outra janela. O vidro quebrou-se e o sapato caiu lá fora.
Margaret voltou o revólver contra o próprio peito. Puxou o gatilho…
Quando a polícia arrombou a porta, Margaret estava de pé, segurando o revólver.
- Tudo bem, madame, solte essa arma! – disse um dos tiras. Theodore ainda tentava afastar-se rastejando. Margaret apontou-lhe o revólver, disparou e errou. Depois caiu no chão, em sua camisola roxa.
- Que diabos aconteceu? – perguntou um dos tiras, curvando-se sobre Theodore.
Theodore virou a cabeça. A boca era uma bolha de sangue.
- Annn… – disse Theodore – annn…
- Eu detesto essas brigas domésticas – disse o outro tira.
- Uma verdadeira bagunça…
- É – disse o primeiro tira.
- Eu tive uma briga com minha esposa ainda hoje de manhã. A gente nunca sabe.
- Annn… – disse Theodore.
Lilly estava em casa vendo um velho filme de Marlon Brando na televisão. Sozinha. Sempre fora apaixonada por Marlon.
Soltou um peido baixinho. Levantou o vestido e começou a masturbar-se.
(Charles Bukowski, “Numa Fria”; tradução de Marcos Santarrita – Porto Alegre: L&PM,
(Magia da Poesia)
Gordas
As gordas nas telenovelas e na vida real
Recife (PE) - Leio nos jornais que Perséfone, a personagem obesa da novela “Amor à Vida”, é um dos núcleos de comédia na trama. Na telenovela, diferente da deusa na mitologia, Perséfone é mulher carente e virgem com mais de 30 anos. Vale dizer, ela é um amontoado de insucessos, piadas e desastres. Os colunistas de sucesso e superfície perguntam: será que a enfermeira virgem tem jeito? Será que um dia ela vai se apaixonar por alguém, ou pelo menos levar um homem para a cama?
Não sei se o grande público vive tão brutalizado que não vê nem percebe a mofa e zombaria que a telenovela faz com a vida de todos. Estão rindo de quê? Não veem que zombam das suas mulheres nas cozinhas, nos ônibus, nas ruas, no trabalho, tão obesas quanto a caricatura da novela? Ao que parece, não, porque a cada capítulo os jornais repetem e comentam a última de Perséfone, que ora vai para uma festinha atrás de um novo alvo e entra na mira de dois bandidos, ora sai correndo do quarto, com as roupas de um rapaz nas mãos, quando seu robe acaba esbarrando numa das velas românticas e pega fogo. Que engraçado, que comédia. O quanto é diferente essa personagem risível de uma pessoa real. Que diferença da tevê para uma gorda de nossas vidas. Os escritores que vemos o Brasil com a memória do coração temos outra realidade. Deixo para os leitores um trecho do meu romance O filho renegado de Deus.
Para os vizinhos, dona Maria era o que era, e com isso eles queriam dizer que ela era a sua pessoa física apenas, carnes, ossos e roupas. Deste modo e maneiras eles a viam: mulher – e aqui vai um gênero e universo de entendimento bárbaro -, gorda, baixinha, com um aspecto, ar, que não devia ser o da sua condição. Viam como um contrassenso absoluto que aquela pessoa, digo, aquela mulher gorda e baixa, não se desse conta da sua espécie de gente. Num tempo das divas glamurosas do cinema, num tempo de massacre da beleza anônima do povo suburbano, dona Maria era, não passava de “uma albacora”. Crua, essa palavra além da redução a um peixe, pois mulheres apenas se comiam e se tornar alimento era sua razão de ser, tal definição, difamação de Maria, amesquinhava-a numa coisa aquém do que entendiam o gênero feminino, pois era, além de mulher, gorda e baixinha, larga como as albacoras, que não eram uma dieta ideal para os comedores de carne bovina. Peixe gordo, congelado, a se comer apenas nas sextas-feiras santas, em sinal de penitência.
É curioso, no entanto, como as mulheres vizinhas guardavam de Maria outra visão. Elas a reconheciam como uma senhora decidida, solidária e resguardada de merecer piedade. Ela rejeitava, “me repugna”, como dizia, qualquer piedade para a sua condição. Mulher brava, de coragem e de raiva. Do gênero e da forma daqueles bravos a quem os fracos não temem, porque sabem que essa bravura se dirige somente contra o injusto mais forte. Lídia, a sua jovem comadre, dela falaria na lembrança em 2012: “Ela era uma mulher bonita, de rostinho redondo, com os olhos pequeninos, muito vivos. Para mim, era uma boneca índia”. E com os olhos rasos d’água desse modo a recordava a se balançar na cadeira, como a lembrar em silêncio a injustiça que atravessa a vida de mulheres como Maria, uma injustiça que também era feita contra ela mesma, Lídia, depois de passar por fracassados casamentos. A feminilidade, nelas, para elas, era um sofrimento. O que nos homens era desejo, danação, para elas era um vexame, como um dia na Ponte Duarte Coelho em que Lídia recebeu um vento tão forte, na chuva, que a impediu de caminhar, porque a saia levantou e as coxas ficaram à mostra. “Dona Maria era muito bonita, com os olhos miúdos, negrinhos”, repete. E cala, e embarga a voz. “Vocês não querem sapoti? Tá fresquinho”, oferece.
Em Jimeralto, que a ouve, dá uma bruta e brutal vontade de a abraçar, de lhe dizer “eu compreendo os seus sapotis, eu compreendo a sua dor, eu sei da sua infelicidade, eu sei do que você não se queixa, do que a magoa, eu sei, amiga da minha mãe”. E mais, amarga como uma proposta e uma promessa que é uma formulação de princípio: “Eu não vou calar o seu mundo!”. Ele sabe, e não diz nem a si mesmo, que revê em Lídia aquela Maria que se foi tão pletórica, vermelha, no vigor e sangue farto na altura dos seus 30 anos. Ah, é da sua natureza de homem a reencarnação, ah, é do seu gênero, gênese e ser de transmigração, como se o espírito quisesse um novo corpo para uma vida que não foi possível. Dói nele uma dorzinha doce e fina porque Lídia não é a sua mãe, mas sabe que por ela será capaz de a ouvir e de lhe falar. Com a intensidade aguda de um violino em uma romanza, naquela, ele sabe, guardada em seu silêncio, naquela maldita e fina romanza número 2 em fá maior. Porque tudo então lhe recorda a senhora gorda, albacora, albacora brava e bonita como uma bonequinha índia.
(Direto da Redação)- Urariano Mota
Recife (PE) - Leio nos jornais que Perséfone, a personagem obesa da novela “Amor à Vida”, é um dos núcleos de comédia na trama. Na telenovela, diferente da deusa na mitologia, Perséfone é mulher carente e virgem com mais de 30 anos. Vale dizer, ela é um amontoado de insucessos, piadas e desastres. Os colunistas de sucesso e superfície perguntam: será que a enfermeira virgem tem jeito? Será que um dia ela vai se apaixonar por alguém, ou pelo menos levar um homem para a cama?
Não sei se o grande público vive tão brutalizado que não vê nem percebe a mofa e zombaria que a telenovela faz com a vida de todos. Estão rindo de quê? Não veem que zombam das suas mulheres nas cozinhas, nos ônibus, nas ruas, no trabalho, tão obesas quanto a caricatura da novela? Ao que parece, não, porque a cada capítulo os jornais repetem e comentam a última de Perséfone, que ora vai para uma festinha atrás de um novo alvo e entra na mira de dois bandidos, ora sai correndo do quarto, com as roupas de um rapaz nas mãos, quando seu robe acaba esbarrando numa das velas românticas e pega fogo. Que engraçado, que comédia. O quanto é diferente essa personagem risível de uma pessoa real. Que diferença da tevê para uma gorda de nossas vidas. Os escritores que vemos o Brasil com a memória do coração temos outra realidade. Deixo para os leitores um trecho do meu romance O filho renegado de Deus.
Para os vizinhos, dona Maria era o que era, e com isso eles queriam dizer que ela era a sua pessoa física apenas, carnes, ossos e roupas. Deste modo e maneiras eles a viam: mulher – e aqui vai um gênero e universo de entendimento bárbaro -, gorda, baixinha, com um aspecto, ar, que não devia ser o da sua condição. Viam como um contrassenso absoluto que aquela pessoa, digo, aquela mulher gorda e baixa, não se desse conta da sua espécie de gente. Num tempo das divas glamurosas do cinema, num tempo de massacre da beleza anônima do povo suburbano, dona Maria era, não passava de “uma albacora”. Crua, essa palavra além da redução a um peixe, pois mulheres apenas se comiam e se tornar alimento era sua razão de ser, tal definição, difamação de Maria, amesquinhava-a numa coisa aquém do que entendiam o gênero feminino, pois era, além de mulher, gorda e baixinha, larga como as albacoras, que não eram uma dieta ideal para os comedores de carne bovina. Peixe gordo, congelado, a se comer apenas nas sextas-feiras santas, em sinal de penitência.
É curioso, no entanto, como as mulheres vizinhas guardavam de Maria outra visão. Elas a reconheciam como uma senhora decidida, solidária e resguardada de merecer piedade. Ela rejeitava, “me repugna”, como dizia, qualquer piedade para a sua condição. Mulher brava, de coragem e de raiva. Do gênero e da forma daqueles bravos a quem os fracos não temem, porque sabem que essa bravura se dirige somente contra o injusto mais forte. Lídia, a sua jovem comadre, dela falaria na lembrança em 2012: “Ela era uma mulher bonita, de rostinho redondo, com os olhos pequeninos, muito vivos. Para mim, era uma boneca índia”. E com os olhos rasos d’água desse modo a recordava a se balançar na cadeira, como a lembrar em silêncio a injustiça que atravessa a vida de mulheres como Maria, uma injustiça que também era feita contra ela mesma, Lídia, depois de passar por fracassados casamentos. A feminilidade, nelas, para elas, era um sofrimento. O que nos homens era desejo, danação, para elas era um vexame, como um dia na Ponte Duarte Coelho em que Lídia recebeu um vento tão forte, na chuva, que a impediu de caminhar, porque a saia levantou e as coxas ficaram à mostra. “Dona Maria era muito bonita, com os olhos miúdos, negrinhos”, repete. E cala, e embarga a voz. “Vocês não querem sapoti? Tá fresquinho”, oferece.
Em Jimeralto, que a ouve, dá uma bruta e brutal vontade de a abraçar, de lhe dizer “eu compreendo os seus sapotis, eu compreendo a sua dor, eu sei da sua infelicidade, eu sei do que você não se queixa, do que a magoa, eu sei, amiga da minha mãe”. E mais, amarga como uma proposta e uma promessa que é uma formulação de princípio: “Eu não vou calar o seu mundo!”. Ele sabe, e não diz nem a si mesmo, que revê em Lídia aquela Maria que se foi tão pletórica, vermelha, no vigor e sangue farto na altura dos seus 30 anos. Ah, é da sua natureza de homem a reencarnação, ah, é do seu gênero, gênese e ser de transmigração, como se o espírito quisesse um novo corpo para uma vida que não foi possível. Dói nele uma dorzinha doce e fina porque Lídia não é a sua mãe, mas sabe que por ela será capaz de a ouvir e de lhe falar. Com a intensidade aguda de um violino em uma romanza, naquela, ele sabe, guardada em seu silêncio, naquela maldita e fina romanza número 2 em fá maior. Porque tudo então lhe recorda a senhora gorda, albacora, albacora brava e bonita como uma bonequinha índia.
(Direto da Redação)- Urariano Mota
Neruda
Poeta imprescindible de Nuestra América: Nuestra América en los versos de Neruda
Daniela Saidman (Desde Venezuela. Especial para ARGENPRESS CULTURAL)
La tierra latinoamericana se dibuja en los versos del poeta chileno como un incendiado abrazo que es capaz de iluminar el futuro.
En un espiral de humo, como ecos del fuego, tocaban el cielo las incendiadas palabras del hombre que acababa de morir. La casa que había bautizado como La Chascona, que en quechua significa despeinada, como el poeta llamaba a su Matilde, fue víctima de la violencia que tantas veces demostraron los militares chilenos durante la dictadura, que a lo largo de diecisiete años destrozó a su pueblo. Los libros ardían, como si con ellos hubieran podido quemar la esperanza.
Pablo Neruda (Parral, 12 de julio de 1904 - Santiago de Chile, 23 de septiembre de 1973) dejó su residencia en la tierra apenas doce días después del Golpe de Estado contra Salvador Allende, pero su palabra amorosamente militante sigue pronunciando la vida.
Por televisión, Neruda había visto las llamas destruyendo La Moneda, los tanques disparando por las calles de Santiago, y por emisoras radiales argentinas escuchó las narraciones que describían cómo los cadáveres se deslizaban rumbo a la desmemoria, por el río Mapocho. Se inauguraba en Chile el terrorismo de Estado, el impuesto silencio de la muerte a destiempo y del olvido obligatorio.
Pero no consiguieron acallar su voz, porque Neruda vibra, desde siempre y para siempre, en la valentía con que los pueblos de Nuestra América construyen el imprescindible futuro que viene, el que nace de las entrañas de la tierra adolorida y sembrada de amores.
En 1945 recibió el Premio Nacional de Literatura de Chile, y ese mismo año fue electo Senador de la República por las provincias de Tarapacá y Antofagasta, meses después el poeta se integró al Partido Comunista chileno.
Neruda exiliado (1949), Neruda vivo, combativo, militante de los sueños y las solidaridades. Llegó a París y se quedó unos años en Italia. Regresó a Chile en 1952, publicó Los versos del capitán y en 1954, Las uvas y el viento, así como Odas elementales. Luego del triunfo de Allende fue designado embajador de Chile en Francia. El 21 de octubre de 1971 le fue concedido el Premio Nobel de Literatura.
EN LA TIERRA
En febrero de 1973 y por razones de salud, renunció a su cargo de embajador en Francia. El poeta que ya se encontraba enfermo y aunque reposaba en su casa de Isla Negra, seguía escribiendo y trabajando.
Pese a que el Cementerio General donde se realizó el acto fúnebre, se encontraba rodeado de soldados con ametralladoras, entre la multitud se escucharon desafiantes gritos en homenaje al poeta. La Internacional era entonada por los asistentes, quienes dieron así una masiva muestra de repudio al golpe militar.
AMÉRICA EN SU VOZ
Neruda sigue clamando en los versos que nos dejó por las voces juntas, por los pasos haciendo el mismo camino, por las miradas que tiemblen ante la miseria impuesta, para liberar y liberarnos del hambre de centurias y podamos hacer del poema un estandarte de sueños.
Con Neruda nombre de mujer lleva la tierra sembrada de soles. Esta América nacida en las alturas de México, que besa los mares y acaricia La Patagonia, sabe de los cantos paridos del dolor y del hambre y también de la esperanza y de las manos hacedoras de futuros. Esa es la América que narra Pablo Neruda en el Canto General, publicado por primera vez en México, en 1950.
En este libro que cuenta la historia nuestra, se relatan las glorias y los impuestos silencios de una tierra bañada con los colores, sabores, olores y sonidos que toda la realidad puede contener en su seno. América, mujer de pasos largos y largos tiempos, de una desnudez vestida con el verde de la selva y las montañas, la blancura de los salitres y las nieves, el azul de los mares y de todas las aguas que la surcan, bendecida por las diosas y dioses con las flores y las voces, maldecida con los desgarrados gritos de la muerte venida desde lejos y desde adentro.
“Sube conmigo, amor americano. / Besa conmigo las piedras secretas. / La plata torrencial del Urubamba / hace volar el polen a su copa amarilla. (…) Ven minúscula vida, entre las alas / de la tierra, mientras –cristal y frío, aire golpeado- / apartando esmeraldas combatidas, / oh agua salvaje, bajas de la nieve”.
Así se dibuja ésta, Nuestra América, en los versos de Neruda. Poeta comprometido con su tiempo y con sus gentes, hacedor de la palabra divinamente humana, profunda e irreverente, como los saltos de agua, como el cantar de todos los pueblos.
Nombre de mujer lleva esta tierra. América en mayúsculas. Germinará de su vientre el tiempo de los posibles y brotará a raudales toda la risa contenida, la alegría de encontrarse y encontrarnos, diversos y reconocidos. Eso seremos, un océano de encuentros y de puentes tendidos. Y allí estará el poeta jugando con las olas del viento, y será la sangre derramada durante siglos la que hará posible hacer nacer ésta otra América, que se vestirá de fuegos.
SUBE a nacer conmigo, hermano, del Canto General
Pablo Neruda
A través de la tierra juntad todos
los silenciosos labios derramados
y desde el fondo habladme toda esta larga noche
como si yo estuviera con vosotros anclado,
contadme todo, cadena a cadena,
eslabón a eslabón, y paso a paso,
afilad los cuchillos que guardasteis,
ponedlos en mi pecho y en mi mano,
como un río de rayos amarillos,
como un río de tigres enterrados,
y dejadme llorar, horas, días, años,
edades ciegas, siglos estelares.
Dadme el silencio, el agua, la esperanza.
Dadme la lucha, el hierro, los volcanes.
Apegadme los cuerpos como imanes.
Acudid a mis venas y a mi boca.
Hablad por mis palabras y mi sangre.
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Daniela Saidman (Desde Venezuela. Especial para ARGENPRESS CULTURAL)
La tierra latinoamericana se dibuja en los versos del poeta chileno como un incendiado abrazo que es capaz de iluminar el futuro.
En un espiral de humo, como ecos del fuego, tocaban el cielo las incendiadas palabras del hombre que acababa de morir. La casa que había bautizado como La Chascona, que en quechua significa despeinada, como el poeta llamaba a su Matilde, fue víctima de la violencia que tantas veces demostraron los militares chilenos durante la dictadura, que a lo largo de diecisiete años destrozó a su pueblo. Los libros ardían, como si con ellos hubieran podido quemar la esperanza.
Pablo Neruda (Parral, 12 de julio de 1904 - Santiago de Chile, 23 de septiembre de 1973) dejó su residencia en la tierra apenas doce días después del Golpe de Estado contra Salvador Allende, pero su palabra amorosamente militante sigue pronunciando la vida.
Por televisión, Neruda había visto las llamas destruyendo La Moneda, los tanques disparando por las calles de Santiago, y por emisoras radiales argentinas escuchó las narraciones que describían cómo los cadáveres se deslizaban rumbo a la desmemoria, por el río Mapocho. Se inauguraba en Chile el terrorismo de Estado, el impuesto silencio de la muerte a destiempo y del olvido obligatorio.
Pero no consiguieron acallar su voz, porque Neruda vibra, desde siempre y para siempre, en la valentía con que los pueblos de Nuestra América construyen el imprescindible futuro que viene, el que nace de las entrañas de la tierra adolorida y sembrada de amores.
En 1945 recibió el Premio Nacional de Literatura de Chile, y ese mismo año fue electo Senador de la República por las provincias de Tarapacá y Antofagasta, meses después el poeta se integró al Partido Comunista chileno.
Neruda exiliado (1949), Neruda vivo, combativo, militante de los sueños y las solidaridades. Llegó a París y se quedó unos años en Italia. Regresó a Chile en 1952, publicó Los versos del capitán y en 1954, Las uvas y el viento, así como Odas elementales. Luego del triunfo de Allende fue designado embajador de Chile en Francia. El 21 de octubre de 1971 le fue concedido el Premio Nobel de Literatura.
EN LA TIERRA
En febrero de 1973 y por razones de salud, renunció a su cargo de embajador en Francia. El poeta que ya se encontraba enfermo y aunque reposaba en su casa de Isla Negra, seguía escribiendo y trabajando.
Pese a que el Cementerio General donde se realizó el acto fúnebre, se encontraba rodeado de soldados con ametralladoras, entre la multitud se escucharon desafiantes gritos en homenaje al poeta. La Internacional era entonada por los asistentes, quienes dieron así una masiva muestra de repudio al golpe militar.
AMÉRICA EN SU VOZ
Neruda sigue clamando en los versos que nos dejó por las voces juntas, por los pasos haciendo el mismo camino, por las miradas que tiemblen ante la miseria impuesta, para liberar y liberarnos del hambre de centurias y podamos hacer del poema un estandarte de sueños.
Con Neruda nombre de mujer lleva la tierra sembrada de soles. Esta América nacida en las alturas de México, que besa los mares y acaricia La Patagonia, sabe de los cantos paridos del dolor y del hambre y también de la esperanza y de las manos hacedoras de futuros. Esa es la América que narra Pablo Neruda en el Canto General, publicado por primera vez en México, en 1950.
En este libro que cuenta la historia nuestra, se relatan las glorias y los impuestos silencios de una tierra bañada con los colores, sabores, olores y sonidos que toda la realidad puede contener en su seno. América, mujer de pasos largos y largos tiempos, de una desnudez vestida con el verde de la selva y las montañas, la blancura de los salitres y las nieves, el azul de los mares y de todas las aguas que la surcan, bendecida por las diosas y dioses con las flores y las voces, maldecida con los desgarrados gritos de la muerte venida desde lejos y desde adentro.
“Sube conmigo, amor americano. / Besa conmigo las piedras secretas. / La plata torrencial del Urubamba / hace volar el polen a su copa amarilla. (…) Ven minúscula vida, entre las alas / de la tierra, mientras –cristal y frío, aire golpeado- / apartando esmeraldas combatidas, / oh agua salvaje, bajas de la nieve”.
Así se dibuja ésta, Nuestra América, en los versos de Neruda. Poeta comprometido con su tiempo y con sus gentes, hacedor de la palabra divinamente humana, profunda e irreverente, como los saltos de agua, como el cantar de todos los pueblos.
Nombre de mujer lleva esta tierra. América en mayúsculas. Germinará de su vientre el tiempo de los posibles y brotará a raudales toda la risa contenida, la alegría de encontrarse y encontrarnos, diversos y reconocidos. Eso seremos, un océano de encuentros y de puentes tendidos. Y allí estará el poeta jugando con las olas del viento, y será la sangre derramada durante siglos la que hará posible hacer nacer ésta otra América, que se vestirá de fuegos.
SUBE a nacer conmigo, hermano, del Canto General
Pablo Neruda
A través de la tierra juntad todos
los silenciosos labios derramados
y desde el fondo habladme toda esta larga noche
como si yo estuviera con vosotros anclado,
contadme todo, cadena a cadena,
eslabón a eslabón, y paso a paso,
afilad los cuchillos que guardasteis,
ponedlos en mi pecho y en mi mano,
como un río de rayos amarillos,
como un río de tigres enterrados,
y dejadme llorar, horas, días, años,
edades ciegas, siglos estelares.
Dadme el silencio, el agua, la esperanza.
Dadme la lucha, el hierro, los volcanes.
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sábado, 24 de agosto de 2013
médicos Cubanos
De Marte, os cubanos estão chegando
Recife (PE) - Anuncia toda imprensa nos últimos dias: o governo federal voltou atrás e anunciou a contratação de 4 000 médicos cubanos. Os quatrocentos primeiros profissionais de Cuba chegam ao país no fim de semana. Eles irão suprir as vagas não preenchidas no programa Mais Médicos e virão ao país em um convênio com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).
Opas? Opa, porque mal souberam da notícia, os quatrocentos primeiros porta-vozes da extrema-direita, ou classe média raivosa, ou médicos defensores do próprio mercado assim irmanados, chegaram aos sites de notícias com seus comentários à beira dos maiores delírios. Tremem e temem, como se percebe, opa, nesta breve antologia do pensamento pré-histórico:
Os cubanos estão chegando. Brasileiros, se têm de ficar doentes, fiquem logo ou morram mais cedo, porque os bichos vão chegar. Se precisarem de cuidados médicos, deixem-se morrer, pois comunista nunca deve pôr a mão em vocês. Os cubanos são especialistas em guerrilha urbana e agitação e propaganda. São doentes propagadores da ideologia estalinista, tão ao gosto da ala política do PT. Eles formam o Cavalo de Troia de mais uma intentona comunista. São agentes políticos e falsos médicos. São agentes que fizeram curso de primeiros socorros para doutrinar a ideologia marxista no povo humilde do norte e nordeste. PT de patifes pretende levar o Brasil para uma cubanização! Isso já estava preparado desde o início pela comuna bolchevique.... E completou o presidente do Conselho Federal de Medicina, doutor Roberto D`Ávila: "os médicos cubanos poderão causar um genocídio".
E apesar do espanto, devemos reconhecer. Se o leitor atentar bem, notará que Cuba é o planeta vermelho. Devia mais era ser chamada de Marte, essa ilha marciana, de guerra no Caribe. Em tudo, esses médicos cubanos lembram os marcianos que um dia invadiram os Estados Unidos, na histórica adaptação para o rádio feita por Orson Welles, quando dramatizou o livro A Guerra dos Mundos. Se não, acompanhem.
Um objeto voador que partiu de Marte de Cuba se abre esta semana no Brasil. Do objeto, da insidiosa Cubana de Aviación, sairão os marcianos de Havana, que destruirão todos os humanos do Brasil com um raio da morte. Têm além disso uma nova arma que dispara bombas de fumo negro, puros de Habana, que matam todos os humanos nacionais entre fumos e fumaça. Nas próximas semanas, mais objetos voadores cairão do céu: quatro mil marcianos. A invasão será respondida com uma fuga em massa dos médicos residentes em São Paulo, todo o Nordeste, Amazônia e Acre, devido à queda de mais objetos voadores nos seus arredores. Nessa altura serão observados os costumes desses novos marcianos, pois eles usam os humanos como alimento, absorvendo o seu sangue e cérebro com a força de ideologias alienígenas.
Entretanto, através do imenso e etéreo abismo, mentes que estão para as nossas como estas estão para as dos animais selvagens, intelectos vastos mas frios e sem compaixão, contemplam nossa terra com olhos cobiçosos, e fazem seus planos contra nós. Cidadãos do Brasil: não devemos ocultar a gravidade da situação que nosso país atravessa. Senhoras e senhores, temos uma grave declaração a fazer. Por incrível que pareça, tanto as observações da ciência quanto a evidência diante de nossos olhos levam-nos à indiscutível conclusão de que esses estranhos seres que descem sobre Pernambuco, São Paulo, Rio e Bahia são a vanguarda de um exército de invasores vindos da ilha vermelha de Marte. Quatro mil homens armados de estetoscópio alcançarão o Brasil a partir de Congonhas ou de Guarulhos, e à sua passagem deixarão um pó escuro, vários cadáveres e um cheiro diabólico, pavoroso, exalando dos gradis dos porões dos edifícios, casas, casebres e igarapés do Brasil profundo.
Mas em lugar de homenzinhos verdes de quatro braços, serão quatro mil negros e barbudos com dois braços, correndo atrás de atacar os humanos do Brasil. Pois eis que desce um exército invasor de saudáveis e comunistas guerrilheiros. Os marcianos de Cuba parecem ter calculado a sua descida com sutileza surpreendente, com um senso de tempo e matemática avançada. E o mais grave: não querem ficar ricos à custa dos bolsos do povo. Uma raça muito estranha esses alienígenas cubanos, perigosíssimos. Se no leitor ainda residir alguma dúvida, olhe o vídeo da invasão no YouTube com os termos de busca “guerra dos mundos” Orson. Ou então leia as declarações dos médicos e extrema-direita irmanados no site mais próximo.
Urariano mota
(Direto da Redação)
Recife (PE) - Anuncia toda imprensa nos últimos dias: o governo federal voltou atrás e anunciou a contratação de 4 000 médicos cubanos. Os quatrocentos primeiros profissionais de Cuba chegam ao país no fim de semana. Eles irão suprir as vagas não preenchidas no programa Mais Médicos e virão ao país em um convênio com a Organização Panamericana de Saúde (Opas).
Opas? Opa, porque mal souberam da notícia, os quatrocentos primeiros porta-vozes da extrema-direita, ou classe média raivosa, ou médicos defensores do próprio mercado assim irmanados, chegaram aos sites de notícias com seus comentários à beira dos maiores delírios. Tremem e temem, como se percebe, opa, nesta breve antologia do pensamento pré-histórico:
Os cubanos estão chegando. Brasileiros, se têm de ficar doentes, fiquem logo ou morram mais cedo, porque os bichos vão chegar. Se precisarem de cuidados médicos, deixem-se morrer, pois comunista nunca deve pôr a mão em vocês. Os cubanos são especialistas em guerrilha urbana e agitação e propaganda. São doentes propagadores da ideologia estalinista, tão ao gosto da ala política do PT. Eles formam o Cavalo de Troia de mais uma intentona comunista. São agentes políticos e falsos médicos. São agentes que fizeram curso de primeiros socorros para doutrinar a ideologia marxista no povo humilde do norte e nordeste. PT de patifes pretende levar o Brasil para uma cubanização! Isso já estava preparado desde o início pela comuna bolchevique.... E completou o presidente do Conselho Federal de Medicina, doutor Roberto D`Ávila: "os médicos cubanos poderão causar um genocídio".
E apesar do espanto, devemos reconhecer. Se o leitor atentar bem, notará que Cuba é o planeta vermelho. Devia mais era ser chamada de Marte, essa ilha marciana, de guerra no Caribe. Em tudo, esses médicos cubanos lembram os marcianos que um dia invadiram os Estados Unidos, na histórica adaptação para o rádio feita por Orson Welles, quando dramatizou o livro A Guerra dos Mundos. Se não, acompanhem.
Um objeto voador que partiu de Marte de Cuba se abre esta semana no Brasil. Do objeto, da insidiosa Cubana de Aviación, sairão os marcianos de Havana, que destruirão todos os humanos do Brasil com um raio da morte. Têm além disso uma nova arma que dispara bombas de fumo negro, puros de Habana, que matam todos os humanos nacionais entre fumos e fumaça. Nas próximas semanas, mais objetos voadores cairão do céu: quatro mil marcianos. A invasão será respondida com uma fuga em massa dos médicos residentes em São Paulo, todo o Nordeste, Amazônia e Acre, devido à queda de mais objetos voadores nos seus arredores. Nessa altura serão observados os costumes desses novos marcianos, pois eles usam os humanos como alimento, absorvendo o seu sangue e cérebro com a força de ideologias alienígenas.
Entretanto, através do imenso e etéreo abismo, mentes que estão para as nossas como estas estão para as dos animais selvagens, intelectos vastos mas frios e sem compaixão, contemplam nossa terra com olhos cobiçosos, e fazem seus planos contra nós. Cidadãos do Brasil: não devemos ocultar a gravidade da situação que nosso país atravessa. Senhoras e senhores, temos uma grave declaração a fazer. Por incrível que pareça, tanto as observações da ciência quanto a evidência diante de nossos olhos levam-nos à indiscutível conclusão de que esses estranhos seres que descem sobre Pernambuco, São Paulo, Rio e Bahia são a vanguarda de um exército de invasores vindos da ilha vermelha de Marte. Quatro mil homens armados de estetoscópio alcançarão o Brasil a partir de Congonhas ou de Guarulhos, e à sua passagem deixarão um pó escuro, vários cadáveres e um cheiro diabólico, pavoroso, exalando dos gradis dos porões dos edifícios, casas, casebres e igarapés do Brasil profundo.
Mas em lugar de homenzinhos verdes de quatro braços, serão quatro mil negros e barbudos com dois braços, correndo atrás de atacar os humanos do Brasil. Pois eis que desce um exército invasor de saudáveis e comunistas guerrilheiros. Os marcianos de Cuba parecem ter calculado a sua descida com sutileza surpreendente, com um senso de tempo e matemática avançada. E o mais grave: não querem ficar ricos à custa dos bolsos do povo. Uma raça muito estranha esses alienígenas cubanos, perigosíssimos. Se no leitor ainda residir alguma dúvida, olhe o vídeo da invasão no YouTube com os termos de busca “guerra dos mundos” Orson. Ou então leia as declarações dos médicos e extrema-direita irmanados no site mais próximo.
Urariano mota
(Direto da Redação)
Vinicius
Mensagem à poesia – Vinicius de Moraes
Mensagem à poesia – Vinicius de Moraes
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta
noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte
do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas
carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema;
contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares,
e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado
para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for
preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem… – que se
não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um
herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue
numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes,
que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se
devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça
dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no
entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma
aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por
outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de
esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa
estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um
homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um
grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há
vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir
covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua
imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.
Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-Ia
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as
poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me
impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso…
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada
adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação
extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se…
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que
agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.
(Vinícius de Moraes)
(Poema retirado de “Antologia Poética”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, p. 160.)
(Magia da Poesia)
Mensagem à poesia – Vinicius de Moraes
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta
noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte
do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas
carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema;
contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares,
e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado
para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for
preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem… – que se
não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um
herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue
numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes,
que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se
devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça
dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no
entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma
aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por
outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de
esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa
estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um
homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um
grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há
vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir
covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua
imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.
Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-Ia
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as
poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me
impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso…
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada
adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação
extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se…
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que
agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.
(Vinícius de Moraes)
(Poema retirado de “Antologia Poética”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, p. 160.)
(Magia da Poesia)
Racionalidade
Dostoiévski no jornal Rascunho e 6 meses no portal Carta Maior
Fiódor Dostoiévski por Ricardo Humberto
Meus amigos,
Há pouco mais de duas semanas, o jornal Rascunho, www.rascunho.gazetadopovo.com.br, publicou meu ensaio Nem tudo o que é sólido desmancha no ar, sobre as tensões e contradições da modernidade narradas pela obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Eis o link: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/nem-tudo-o-que-e-solido-desmancha-no-ar/.
E aqui está um trecho do ensaio que talvez os instigue à leitura:
Uma personagem dostoievskiana que não foi concebida pelo escritor russo nos pode fornecer outra pista sobre o arrefecimento social da culpa: Rudolf Hoess, comandante de Auschwitz. Em sua autobiografia, escrita pouco antes de Hoess ser enforcado pelos poloneses em frente ao forno crematório que destinava às vítimas do Reich, o nazista descreveu alguns experimentos para otimizar a eficiência industrial do campo de concentração que administrava. Narra Hoess que, nos primórdios de Auschwitz, as execuções eram feitas por um pelotão de fuzilamento. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma: os corpos e seus pertences forneciam os insumos para a economia do campo. Dentes de ouro para a Suíça, cabelos para fardas, pele para forrar os abajures dos oficiais de altas patentes, carne e ossos para adubo. O único problema era o escoamento industrial dos corpos. Soldados perfilados acabavam fuzilando milhares de pessoas em um só dia. Sangue jorrava aos borbotões. Gritos e mais gritos. Lamúrias, súplicas ajoelhadas, “pelo amor de Deus, por piedade!”. Segundo Hoess, o ser humano ainda não se tornou uma máquina imune ao superaquecimento. Após uma estressante jornada de trabalho, os carrascos iam beber nas tavernas ao redor de Auschwitz e, subitamente, começavam a delatar o que faziam. Muitos continuavam a fuzilar fora da jornada de trabalho, o que, sempre segundo Hoess, exorbitava indignamente as funções homicidas. Outros passaram a apontar as armas para a própria têmpora. Suicídios em massa. Que fazer?! — pergunta o comandante angustiado. Que fazer?! Hoess caminhava de um lado para o outro como a areia da ampulheta, até que um método bastante racional — vale dizer, profundamente utilitário — lhe veio à mente: e se empregarmos o gás Zyklon B, que vinha sendo utilizado em Berlim para asfixiar débeis mentais na carroceria de caminhões, para substituir os pelotões de fuzilamento em Auschwitz? Eureka! As câmeras de gás diminuem os custos de produção letal. O Zyklon B é mais barato do que as armas e sua munição. Uma câmera de gás comporta mais de quinhentos corpos, ao passo que um paredão de fuzilamento dificilmente perfila mais de vinte condenados. E aqui está o ganho mais evidente: o sofrimento é silenciado por portas hermeticamente vedadas. O carrasco desaparece com o gás. Quem matou as vítimas? Uma impossibilidade físico-química, uma limitação dos pulmões. Os antigos carrascos só precisam dizer aos prisioneiros: vocês tomarão banhos de desinfecção. Os algozes, a bem dizer, tornam-se meros supervisores com o implemento das câmaras de gás. O sangue deixa de jorrar. Quando entrávamos nas câmaras de gás após as contínuas sessões, encontrávamos corpos ilesos. Nenhum arranhão, nenhuma escara. Cadáveres como todos nós um dia seremos. E, afinal de contas, o Zyklon B lhes trouxe uma solução mais racional. Em Auschwitz, a morte deixa de ser uma temeridade. Em Auschwitz, a morte passa a ser uma redenção.
(Autor?)
Fiódor Dostoiévski por Ricardo Humberto
Meus amigos,
Há pouco mais de duas semanas, o jornal Rascunho, www.rascunho.gazetadopovo.com.br, publicou meu ensaio Nem tudo o que é sólido desmancha no ar, sobre as tensões e contradições da modernidade narradas pela obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski. Eis o link: http://rascunho.gazetadopovo.com.br/nem-tudo-o-que-e-solido-desmancha-no-ar/.
E aqui está um trecho do ensaio que talvez os instigue à leitura:
Uma personagem dostoievskiana que não foi concebida pelo escritor russo nos pode fornecer outra pista sobre o arrefecimento social da culpa: Rudolf Hoess, comandante de Auschwitz. Em sua autobiografia, escrita pouco antes de Hoess ser enforcado pelos poloneses em frente ao forno crematório que destinava às vítimas do Reich, o nazista descreveu alguns experimentos para otimizar a eficiência industrial do campo de concentração que administrava. Narra Hoess que, nos primórdios de Auschwitz, as execuções eram feitas por um pelotão de fuzilamento. Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma: os corpos e seus pertences forneciam os insumos para a economia do campo. Dentes de ouro para a Suíça, cabelos para fardas, pele para forrar os abajures dos oficiais de altas patentes, carne e ossos para adubo. O único problema era o escoamento industrial dos corpos. Soldados perfilados acabavam fuzilando milhares de pessoas em um só dia. Sangue jorrava aos borbotões. Gritos e mais gritos. Lamúrias, súplicas ajoelhadas, “pelo amor de Deus, por piedade!”. Segundo Hoess, o ser humano ainda não se tornou uma máquina imune ao superaquecimento. Após uma estressante jornada de trabalho, os carrascos iam beber nas tavernas ao redor de Auschwitz e, subitamente, começavam a delatar o que faziam. Muitos continuavam a fuzilar fora da jornada de trabalho, o que, sempre segundo Hoess, exorbitava indignamente as funções homicidas. Outros passaram a apontar as armas para a própria têmpora. Suicídios em massa. Que fazer?! — pergunta o comandante angustiado. Que fazer?! Hoess caminhava de um lado para o outro como a areia da ampulheta, até que um método bastante racional — vale dizer, profundamente utilitário — lhe veio à mente: e se empregarmos o gás Zyklon B, que vinha sendo utilizado em Berlim para asfixiar débeis mentais na carroceria de caminhões, para substituir os pelotões de fuzilamento em Auschwitz? Eureka! As câmeras de gás diminuem os custos de produção letal. O Zyklon B é mais barato do que as armas e sua munição. Uma câmera de gás comporta mais de quinhentos corpos, ao passo que um paredão de fuzilamento dificilmente perfila mais de vinte condenados. E aqui está o ganho mais evidente: o sofrimento é silenciado por portas hermeticamente vedadas. O carrasco desaparece com o gás. Quem matou as vítimas? Uma impossibilidade físico-química, uma limitação dos pulmões. Os antigos carrascos só precisam dizer aos prisioneiros: vocês tomarão banhos de desinfecção. Os algozes, a bem dizer, tornam-se meros supervisores com o implemento das câmaras de gás. O sangue deixa de jorrar. Quando entrávamos nas câmaras de gás após as contínuas sessões, encontrávamos corpos ilesos. Nenhum arranhão, nenhuma escara. Cadáveres como todos nós um dia seremos. E, afinal de contas, o Zyklon B lhes trouxe uma solução mais racional. Em Auschwitz, a morte deixa de ser uma temeridade. Em Auschwitz, a morte passa a ser uma redenção.
(Autor?)
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Literatura
um café e um pãodequeijo
aquela conversa mineira de cafeteria no fim do dia...
Mia Couto e a saudade que nos constitui
por Stella Vilar
"Antes de nascer o mundo", de Mia Couto: a ficção poética do autor e o tema da saudade. A saudade dói em todos nós, mas como seria nosso mundo se não a sentíssemos?
Já dizia Caetano Veloso, na famosa "Língua", que "só se pode filosofar em alemão". Pois aqui coloco uma nova frase (que também é famosa, e praticamente provada linguisticamente): só se pode sentir "saudades" em português, já que a palavra só existe como tal em nossa língua.
E já que, falando em Língua, "a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade", conversaremos aqui sobre uma prosa poética, ou um um amor-amizade, que toca principalmente no tema da saudade.
Mia Couto é moçambicano de origem, vencedor de prêmios internacionais de literatura, famoso por "Terra Sonâmbula", seu primeiro título de grande expressão. Leitor de Fernando Pessoa e Guimarães Rosa, sua prosa é poética assim como a deste último, e sua obra é povoada por um mundo fantástico, que mostra sobretudo a magia da natureza, dos homens, da terra.
A literatura clássica em língua portuguesa, por mais realista e contida que seja, tem como característica exaltar algumas peculiaridades do que dá sentido ao mundo para seus falantes.
Em "Antes de nascer o mundo" (editado pela Cia. das Letras), Mia Couto apresenta uma história ocorrida em terras além do mundo, narrada por um menino: “Eu vivia em um ermo habitado apenas por cinco homens. Meu pai dera um nome ao lugarejo. Simplesmente chamado assim: “Jesusalém”. Aquela era a terra onde Jesus havia de se descrucificar. E pronto, final.”
Jesusalém era a terra onde habitava Mwanito, o narrador desta história, e sua família. Nesta terra, haviam se isolado esses cinco homens, fugindo do passado e de todas as lembranças que lhes pudessem causar dor. Assim ao menos o pai imaginava que seria quando tomou essa decisão. A terra "onde Jesus havia de se descrucificar". Seria mesmo esta a terra da salvação dos homens? Um mundo habitado somente pelo presente paralisado?
Afastar-se da dor, negar as lembranças, seria essa a solução para aquilo que não conseguimos controlar e que nos causa angústia, essa dor no peito que não passa?
Os personagens de Mia Couto não possuem história vivida, não estão inseridos no correr da vida. Em seus livros, o rio simboliza o tempo, simboliza o contínuo da vida. Os rios não corriam na terra de Jesusalém. Os personagens tanto estavam afastados do resto do mundo quanto de si mesmos. Retirar o passado é quase como retirar essa identidade, esse saber de si, o sentir-se parte desse todo de possibilidades e corredeiras que é a vida.
O que fomos, o tempo, é quase todo o sentido de nossas vidas. A saudade é essa expressão do que fica em nós depois de se recuperar a memória, de se resgatar a rota do rio. É aquela coisa boa de saber que tudo e todos que se foram nos constituem hoje, e que não mais têm volta, como as águas do rio. É a certeza de saber que o passado pode ser honrado, e revivido de novas formas.
Não se vive apenas de saudades, mas não se vive com saudades sem dor. A dor da perda é revivida a cada lembrança, mas há certeza de que o que perdemos ficou em nós, de alguma maneira. E os falantes das outras línguas, não sentiriam a "saudade"? Você pode "miss a thing" em inglês, você pode "manquer quelque chose" em francês, mas a saudade é um sentimento que não tem tradução. Ela une nossas almas de brasileiros, portugueses, moçambicanos, angolanos... É uma dor que dá sentido a quem somos, constituindo o tecido que abarca nosso mundo da lusofonia.
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stellavilar
Artigo da autoria de Stella Vilar.
Stella estuda psicologia, mas não passa o tempo todo analisando ninguém. Não é mineira, mas sente como se fosse. Acha que uma das melhores coisas é sentar e papear, seja papo cult ou não..
Saiba como fazer parte da obvious
aquela conversa mineira de cafeteria no fim do dia...
Mia Couto e a saudade que nos constitui
por Stella Vilar
"Antes de nascer o mundo", de Mia Couto: a ficção poética do autor e o tema da saudade. A saudade dói em todos nós, mas como seria nosso mundo se não a sentíssemos?
Já dizia Caetano Veloso, na famosa "Língua", que "só se pode filosofar em alemão". Pois aqui coloco uma nova frase (que também é famosa, e praticamente provada linguisticamente): só se pode sentir "saudades" em português, já que a palavra só existe como tal em nossa língua.
E já que, falando em Língua, "a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade", conversaremos aqui sobre uma prosa poética, ou um um amor-amizade, que toca principalmente no tema da saudade.
Mia Couto é moçambicano de origem, vencedor de prêmios internacionais de literatura, famoso por "Terra Sonâmbula", seu primeiro título de grande expressão. Leitor de Fernando Pessoa e Guimarães Rosa, sua prosa é poética assim como a deste último, e sua obra é povoada por um mundo fantástico, que mostra sobretudo a magia da natureza, dos homens, da terra.
A literatura clássica em língua portuguesa, por mais realista e contida que seja, tem como característica exaltar algumas peculiaridades do que dá sentido ao mundo para seus falantes.
Em "Antes de nascer o mundo" (editado pela Cia. das Letras), Mia Couto apresenta uma história ocorrida em terras além do mundo, narrada por um menino: “Eu vivia em um ermo habitado apenas por cinco homens. Meu pai dera um nome ao lugarejo. Simplesmente chamado assim: “Jesusalém”. Aquela era a terra onde Jesus havia de se descrucificar. E pronto, final.”
Jesusalém era a terra onde habitava Mwanito, o narrador desta história, e sua família. Nesta terra, haviam se isolado esses cinco homens, fugindo do passado e de todas as lembranças que lhes pudessem causar dor. Assim ao menos o pai imaginava que seria quando tomou essa decisão. A terra "onde Jesus havia de se descrucificar". Seria mesmo esta a terra da salvação dos homens? Um mundo habitado somente pelo presente paralisado?
Afastar-se da dor, negar as lembranças, seria essa a solução para aquilo que não conseguimos controlar e que nos causa angústia, essa dor no peito que não passa?
Os personagens de Mia Couto não possuem história vivida, não estão inseridos no correr da vida. Em seus livros, o rio simboliza o tempo, simboliza o contínuo da vida. Os rios não corriam na terra de Jesusalém. Os personagens tanto estavam afastados do resto do mundo quanto de si mesmos. Retirar o passado é quase como retirar essa identidade, esse saber de si, o sentir-se parte desse todo de possibilidades e corredeiras que é a vida.
O que fomos, o tempo, é quase todo o sentido de nossas vidas. A saudade é essa expressão do que fica em nós depois de se recuperar a memória, de se resgatar a rota do rio. É aquela coisa boa de saber que tudo e todos que se foram nos constituem hoje, e que não mais têm volta, como as águas do rio. É a certeza de saber que o passado pode ser honrado, e revivido de novas formas.
Não se vive apenas de saudades, mas não se vive com saudades sem dor. A dor da perda é revivida a cada lembrança, mas há certeza de que o que perdemos ficou em nós, de alguma maneira. E os falantes das outras línguas, não sentiriam a "saudade"? Você pode "miss a thing" em inglês, você pode "manquer quelque chose" em francês, mas a saudade é um sentimento que não tem tradução. Ela une nossas almas de brasileiros, portugueses, moçambicanos, angolanos... É uma dor que dá sentido a quem somos, constituindo o tecido que abarca nosso mundo da lusofonia.
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Stella estuda psicologia, mas não passa o tempo todo analisando ninguém. Não é mineira, mas sente como se fosse. Acha que uma das melhores coisas é sentar e papear, seja papo cult ou não..
Saiba como fazer parte da obvious
Manoel de Barros
embriaguez artística
Manoel menino de Barros
em Literatura por Victor Silveira
O menino poeta, das imagens transmutáveis, da singela e doce liberdade de mato, de pedras, lagartos e pássaros. E uma homenagem musicalizada, exaltando seu olhar.
O encantamento que me proporcionou o conhecimento da obra poética de Manoel de Barros, mantém se imune a despaixão. Uma espécie de apego aveludado, um recanto de intimidade, despretensiosidade, espontaneidade, alívio, suspiro e descanso. É dessa forma que se dá em mim a leitura de seus livros e poesias. Uma necessidade para além de um condicionamento engendrado. Mas sim uma fuga necessária e consciente, desse turbilhão chamado vida adulta. E o estímulo é sempre o mesmo. Aleatoriamente me pego a debulhar sua riqueza do nada, pela formas e cores de seus versos.
O "Fazer-se menino". O retorno ao estado de onipotência narcísica. De constante contentamento de brincar com as palavras. O feio do que não é espelho, onde ver a si mesmo contrai a imagem de uma imensidão de desconhecimento, que gera a busca por uma não-verdade inventiva. São dessas vivências do olhar de um menino, isoladas das cordas de sociabilidades morais e culturais, que sua letra vira pássaro e verso, e voa fora das assas.
Nessa experimentação fascinante de redescoberta das palavras e das coisas, o fazer-e-desfazer, a exaltação dos despropósitos e das insignificâncias. A subversão se instaura em sua obra poética causando uma ruptura literária de densidade crítica e de transvaloração.
Manoel menino de Barros, que tornou-se o título de uma música composta em homenagem ao poeta maior, por José Eduardo Gallindo Novo, o ZeDu. Em uma inciativa da Tv Morena de Mato Grosso, a música virou um clipe, em um projeto idealizado pelo jornalista Ronaldo Balla, de incentivo e divulgação das manifestações artísticas regionais sul-mato-grossenses, sendo difundida em veículos de comunicação em massa, rádio e TV.
O compositor conta que ao fazer uma visita a Manoel de Barros tinha a intenção de pedir uma poesia para musicalizar. "É um pedido ao qual o poeta responde sempre com a seguinte frase: Leia meus livros e disponha”.
E foi por este impulso que o músico decidiu, compor a musica homenageando e exaltando a obra mundialmente conhecida e aplaudida do poeta.
Manoel menino de barros
(José eduardo gallindo novo - zedu)
Néquinho
Me ensinas-te a reler
Re-olhar, reviver as grandezas do chão
Na poesia que nasceu dos desvãos
Pra brincar as palavras
No estame do som
Néquinho, és poeta que brota
Como o musgo em silêncio
De árvores a sublimar canções
Existência sem medida
Flor, lápis e papel
Rãs, ferrugem e pedras,
Manoel Manoel de barros
Nasceu cuiabá
Vive campo grande
Viveu corumbá
Rios de janeiros
Cidades do mundo
Sorveu água fresca
E a luz do pantanal
Manoel de barros
Exagera o azul
O desimportante
Futuro nobel
Manoel de barros
Olhar de menino
Uma garça branca
No azul do céu
Veja o vídeo Clipe Aqui:
Leia mais sobre o poeta em minha visão no artigo, A irracionalidade poética de: Manoel de Barros
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victor
Artigo da autoria de Victor Silveira.
Estudante de psicologia, que aspira Filosofia e Artes Visuais. Gosta de palavras assim como de silêncios. Costuma ser o intangível do que mostra ao vê-lo. .
Saiba como fazer parte da obvious.
Manoel menino de Barros
em Literatura por Victor Silveira
O menino poeta, das imagens transmutáveis, da singela e doce liberdade de mato, de pedras, lagartos e pássaros. E uma homenagem musicalizada, exaltando seu olhar.
O encantamento que me proporcionou o conhecimento da obra poética de Manoel de Barros, mantém se imune a despaixão. Uma espécie de apego aveludado, um recanto de intimidade, despretensiosidade, espontaneidade, alívio, suspiro e descanso. É dessa forma que se dá em mim a leitura de seus livros e poesias. Uma necessidade para além de um condicionamento engendrado. Mas sim uma fuga necessária e consciente, desse turbilhão chamado vida adulta. E o estímulo é sempre o mesmo. Aleatoriamente me pego a debulhar sua riqueza do nada, pela formas e cores de seus versos.
O "Fazer-se menino". O retorno ao estado de onipotência narcísica. De constante contentamento de brincar com as palavras. O feio do que não é espelho, onde ver a si mesmo contrai a imagem de uma imensidão de desconhecimento, que gera a busca por uma não-verdade inventiva. São dessas vivências do olhar de um menino, isoladas das cordas de sociabilidades morais e culturais, que sua letra vira pássaro e verso, e voa fora das assas.
Nessa experimentação fascinante de redescoberta das palavras e das coisas, o fazer-e-desfazer, a exaltação dos despropósitos e das insignificâncias. A subversão se instaura em sua obra poética causando uma ruptura literária de densidade crítica e de transvaloração.
Manoel menino de Barros, que tornou-se o título de uma música composta em homenagem ao poeta maior, por José Eduardo Gallindo Novo, o ZeDu. Em uma inciativa da Tv Morena de Mato Grosso, a música virou um clipe, em um projeto idealizado pelo jornalista Ronaldo Balla, de incentivo e divulgação das manifestações artísticas regionais sul-mato-grossenses, sendo difundida em veículos de comunicação em massa, rádio e TV.
O compositor conta que ao fazer uma visita a Manoel de Barros tinha a intenção de pedir uma poesia para musicalizar. "É um pedido ao qual o poeta responde sempre com a seguinte frase: Leia meus livros e disponha”.
E foi por este impulso que o músico decidiu, compor a musica homenageando e exaltando a obra mundialmente conhecida e aplaudida do poeta.
Manoel menino de barros
(José eduardo gallindo novo - zedu)
Néquinho
Me ensinas-te a reler
Re-olhar, reviver as grandezas do chão
Na poesia que nasceu dos desvãos
Pra brincar as palavras
No estame do som
Néquinho, és poeta que brota
Como o musgo em silêncio
De árvores a sublimar canções
Existência sem medida
Flor, lápis e papel
Rãs, ferrugem e pedras,
Manoel Manoel de barros
Nasceu cuiabá
Vive campo grande
Viveu corumbá
Rios de janeiros
Cidades do mundo
Sorveu água fresca
E a luz do pantanal
Manoel de barros
Exagera o azul
O desimportante
Futuro nobel
Manoel de barros
Olhar de menino
Uma garça branca
No azul do céu
Veja o vídeo Clipe Aqui:
Leia mais sobre o poeta em minha visão no artigo, A irracionalidade poética de: Manoel de Barros
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Artigo da autoria de Victor Silveira.
Estudante de psicologia, que aspira Filosofia e Artes Visuais. Gosta de palavras assim como de silêncios. Costuma ser o intangível do que mostra ao vê-lo. .
Saiba como fazer parte da obvious.
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