A Lei de Murphy: se pode dar errado, dará.
em artes e ideias por João Lopes em 15 de mai de 2013 às 05:43
Contar com a sorte nem sempre é a melhor escolha, em especial, quando sabemos que Lei de Murphy está sempre pronta para entrar em ação. A famosa Lei que define sobre a possibilidade de algo dar errado, segundo os seus arautos, é um processo inevitável. Se alguma coisa pode dar errado, então dará, frustrando até mesmo nossos grandiosos esforços, correrias contra o tempo etc. Pessimista além de tudo, a Lei de Murphy nos mostra que tentar evitar os erros pode não ser o caminho mais adequado, no entanto buscar o acerto pode nos livrar de muitas confusões.
Havia mil maneiras de se fazer isso corretamente, e havia uma errada. Sim, deu errado.
O aleatório, termo famoso, comum a partir do século XX, depois de passada a época dos determinismos do século XIX, surge dentro de diversas teorias ou leis. O acaso passa a ter um papel gigantesco na vida humana que até então, não sabia, pelo menos não como teorias que temos hoje, da existência de um acaso na ordem do universo.
Em 1949, o capitão Edward A. Murphy Jr. que era engenheiro da força aérea, e comandava sua base no Aeroporto Wright, nos Estados Unidos, foi à Califórnia levando uma espécie de presente para os testes do projeto MX981 que pretendia determinar até quanto de força da gravidade o homem poderia suportar.
Neste projeto, foi desenvolvido uma espécie de trenó-foguete chamado Gee Whiz, para simular uma possível colisão aérea. Para descobrir quanta força uma pessoa suportaria, era preciso que alguém, isto é, uma pessoa real, participasse dos testes dentro do Gee Whiz, o coronel John Paul Stapp que era físico de carreira na força aérea, na base de Edwards, Califórnia, se dispôs a participar dos testes, o que lhe rendeu, a posteriori, fraturas nos ossos, concussão e vasos sanguíneos rompidos nos olhos.
O capitão Edward Murphy levou alguns sensores para colaborar com os testes. Estes sensores eram capazes de medir a força da gravidade exata quando o trenó-foguete fizesse uma parada brusca, tornando mais efetiva a pesquisa da base. A história conta que, o primeiro teste, depois que Murphy colocou os sensores no corpo de Stapp, não foi bem sucedido. Os sensores fizeram uma leitura igual a zero, o que indicava que eles haviam sido instalados de maneira errada. Para cada sensor, havia duas maneiras de conectá-lo ao corpo do voluntário, e, cada um deles, foi instalado de maneira incorreta.
Murphy ao descobrir o erro do assistente que fez a instalação dos sensores disse algo como: se há duas formas de fazer alguma coisa, e uma delas resultará em um desastre, é dessa maneira que será feito. Certo tempo depois, Stapp, com bom humor, disse à imprensa que a segurança da equipe do projeto MX981 foi garantida graças à Lei de Murphy, e que a afirmação de Murphy possuía caráter de universalidade, por fim, completou: tudo que pode dar errado dará errado.
Daí em diante, a Lei de Murphy passou a ser usada, primeiro em publicações nos campos de pesquisa da área aeroespacial, depois virando até mesmo livros nos anos 70. Com o passar do tempo, ela foi expandida, endossada pela sabedoria popular ao redor do mundo, ganhando novos significados e premissas.
A ideia da Lei de Murphy é fatalista, compondo parte de uma espécie de destino que não pode por nós ser evitado. Um processo inexorável de ações e efeitos, em que temos probabilidades de erros e acertos, no entanto parece haver um ente que brinca conosco, ao passo em que tentamos a sorte, tendendo sempre, dentro das possibilidades, a nos levar ao erro. Ao que parece, o erro torna-se uma regra e o acerto uma exceção.
Esse ideário, por si mesmo, é contrário ao livre arbítrio humano, uma vez que tendo em um espaço amostral uma miríade de possibilidades, todas elas são desprezadas em face da possibilidade do erro. Neste processo, devemos considerar as escolhas humanas, a Lei de Murphy revela, sobretudo, a ignorância humana frente às escolhas que faz. Desse modo, se podemos fazer alguma coisa de maneira errada, escolheremos fazê-la, na metade das vezes que fizermos. Por outro lado, revela também, a nossa fragilidade frente às ações coletivas, isto é, todas as ações humanas realizadas no mundo, que, de algum modo, interferem na vida de cada indivíduo.
A lei de Murphy não garante nada, nem tampouco prova nada, ela é uma premissa apenas, evocada sempre para lembrar que coisas vão dar errado. Há inúmeros exemplos da famosa Lei em ação. Quem já deixou o seu pedaço de pão cair no chão, e notou que sempre cai do lado em que passamos a manteiga ou geleia sabe bem o que é a Lei de Murphy, ou ao trocarmos de faixa numa pista quando enfrentamos um trânsito e notamos que somente a faixa que escolhemos não anda. No ambiente de trabalho, ainda como exemplo, sempre que temos algum prazo a cumprir, e deixamos aquela tarefa para o último dia, não sobra tempo de fazer. Exemplos da nossa aparente má sorte parecem dar um ar ainda mais assertivo à Lei de Murphy.
Por fim, a luta constante das pessoas para evitar a Lei pessimista de Murphy parece não ter fim. Enquanto alguns gostam da Lei, por ser ela uma explicação de que não podemos evitar certas coisas, outros tentam utilizá-la de modo a livrar-se dessas possibilidades de erros. Nas ciências exatas, por exemplo, especificamente na matemática, há aqueles que tentam transformar a famosa Lei em uma equação para prever chances de erros em um determinado fenômeno. Joel Pel, engenheiro biológico da University of British Columbia, criou uma equação capaz de prever a ocorrência da Lei de Murphy.
Equação.jpgA fórmula usa uma constante igual a um, um fator inconstante e algumas variáveis. Nesta fórmula, Pel usa a importância do evento (I), a complexidade do sistema envolvido (C), a urgência da necessidade de o sistema funcionar (U) e a frequência com que o sistema é usado (F).
Texto: Science Creative Quarterly
Foto da internet
Viver para tentar evitar a ocorrência de erros pode não ser uma boa escolha, correndo o risco de perecermos do que prevê a Lei de Murphy: se tem possibilidade de dar errado, dará. Mais sensato seria, procurarmos o acerto, a busca por efetividade nas nossas escolhas, o pensamento sobre as consequências da cada uma delas, e a tomada de decisões baseadas no pensamento a curto, médio e longo prazo. Uma coisa é certa, aqueles corajosos capazes de encarar a vida com o peito aberto, que tocam com seriedade o seu dia a dia, sempre superarão as previsões ruins. A Lei de Murphy é um maravilhoso alerta de que vivemos em um universo que segue uma ordem, a da imperfeição, e ainda de que todas as coisas contêm inúmeras possibilidades e diferentes modos de serem feitas.
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Fontes das referências históricas [em inglês]:
The Science Creative Quarterly
University of British Columbia
joaolopes
Artigo da autoria de João Lopes.
João Lopes é estudante de Direito, está tentando cultivar um canteiro, ainda não escolheu as flores, paulistano, gosta de ciências sociais e física quântica, não largou as poesias. .
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