terça-feira, 31 de julho de 2012
Escrita
É possível escrever com os olhos!
Sistema inovador pode ajudar pessoas privadas de movimento
2012-07-31
Um ecrã especial reconhece os movimentos do olho através de um sistema complexo de alterações de contraste e de discos estáticos
Um ecrã especial reconhece os movimentos do olho através de um sistema complexo de alterações de contraste e de discos estáticos
Um grupo de seis pessoas conseguiu escrever com os olhos através de um processo de formação e aprendizagem que lhes permitiu usar os movimentos musculares dos olhos para escrever no ecrã de um computador e, assim, comunicar.
Segundo a notícia avançada pelo jornal espanhol ABC, o sistema descrito no Jornal Current Biology não se baseia na inserção de um chip qualquer nem nada parecido no cérebro. De acordo com Jean Lorenceau, investigador da Universidade Pierre e Marie Curie, em França, através de um simples processo de aprendizagem, aprende-se uma série de truques para que o mecanismo dos olhos neuromusculares faça algo que normalmente é impossível: “Produzir voluntariamente movimentos oculares suaves em direcções arbitrárias”.
“Ao contrário do que se acreditava, estes resultados demonstram que se pode ter um controlo completo e voluntário para fazer movimentos suaves com os olhos”, afirma Jean Lorenceau. Para o cientista, esta descoberta também fornece uma ferramenta para que através de movimentos suaves dos olhos, estas pessoas possam algum dia chegar a desenhar, escrever ou assinar.
Foi o próprio Jean Lorenceau, em frente a um ecrã especial que reconhece os movimentos do olho através de um sistema complexo de alterações de contraste e de discos estáticos, que descobriu que se produziam alguns efeitos estranhos no ecrã com o movimento controlado dos seus olhos. Pela primeira vez, podia ver os movimentos dos seus próprios olhos reflectidos no ecrã. Com um pouco de prática, pouco a pouco descobriu que também podia controlar esses movimentos.
A técnica do cientista baseia-se em alterações em contraste para enganar os olhos em termos da percepção do movimento. Ao ver que o ecrã muda de contraste, as pessoas podem aprender a controlar os movimentos dos seus olhos forma suave, explica.
Assim, para testar este sistema inovador, seis voluntários e o próprio autor do estudo se submeteram à aprendizagem durante uma sessão de 30 minutos até que os olhos começaram a respeitá-los. Depois de um tempo, os participantes foram capazes de escrever letras e palavras e números apenas com o movimento de seus olhos.
A descoberta pode ser muito benéfica para as pessoas privadas de movimento, como as com esclerose lateral amiotrófica (ELA). Também poderá ajudar a melhorar o controlo do movimento dos olhos em pessoas com certas doenças, como a dislexia ou transtorno de hiperatividade (TDAH) e problemas de atenção.
(Ciência hoje)
Olimpíadas
Uma entrevista com o pai (adotivo) da Olimpíada
Com o começo dos Jogos Olímpicos, me sinto na obrigação de entrevistar alguém sobre o assunto. Acabei optando pelo Barão de Coubertin, o homem que provocou a ressurreição das Olimpíadas. Só havia um pequeno detalhe a superar: o Barão morreu há mais de setenta anos.
José Roberto Torero
Com o começo dos Jogos Olímpicos, me sinto na obrigação de entrevistar alguém sobre o assunto. Mas quem? Michael Phelps seria bom, Usain Bolt seria ótimo. Isinbayeva ou Sharapova, melhor ainda. Porém, acabei optando por um personagem mais importante do que estes: o Barão de Coubertin, o homem que provocou a ressurreição das Olimpíadas. Só havia um pequeno detalhe a superar: o Barão morreu há mais de setenta anos. Mas isso não seria problema para quem conhece Zé Cabala e tem duas notas de cinquenta.
Quando cheguei à casa do mensageiro das almas, do carteiro dos espíritos, do facebook do além, ele estava fazendo seus exercícios de meditação vipassana, um elevado estado de concentração que aos leigos chamam de cochilo.
Pigarreei para tirá-lo do transe. Ele limpou a remela dos olhos e disse:
- Bem vindo, nobre periodista internético. Em que posso ajudá-lo?
- Eu gostaria de entrevistar o Barão de Coubertin.
-Trouxe a oferenda?
Logo que mostrei as duas notas, ele começou a correr pela sala. E não só a correr. Imitou o discóbolo, deu um salto em altura sobre o sofá, fingiu jogar basquete, vôlei e futebol, e, por fim, nadou sobre o tapete. Então, já bem suado, levantou-se, ajeitou o turbante e falou com sotaque francês:
- Pierre-Charles Frédy, às suas ordens.
- O Barão de Coubertin?
- Em carne, osso e espectro.
- Que honra! Bem, para começar, eu queria saber de onde veio seu interesse pelo esporte.
- Da religião cristã.
- Heim?
- Eu explico. É que fui estudar na Inglaterra quando tinha uns 17 anos. Lá conheci um movimento chamado “Cristianismo muscular”, que buscava a perfeição espiritual através do esporte e da higiene. O principal líder desta doutrina era o pastor anglicano Thomas Arnold, e me tornei seu discípulo.
- Eu nunca tinha ouvido esta história sobre o senhor.
- Pois é, o pessoal só fica dizendo que eu inventei a frase: "O importante não é vencer, é competir". Mas essa frase nem é minha. É do pastor Ethelbert Talbot.
- E depois desta sua fase inglesa?
- Viajei para o Canadá e para os EUA, a fim de estudar o papel da educação física no desenvolvimento do indivíduo. Quando voltei para Paris, já com uns 25 anos, criei a União dos Esportes Atléticos e a primeira revista esportiva, a Revue Athlétique.
- O senhor se formou em pedagogía, certo?
- Certo. E para mim o esporte é algo pedagógico. Ele mostra que o espírito de luta é fundamental. O bom esportista recua mas não desiste. Sofre, mas não foge. Se lhe falta fôlego, descansa e espera. E, se é derrotado, anima seus companheiros.
- Como foi a luta para a volta dos Jogos Olímpicos?
- Em 1892, eu apresentei na Universidade Sorbonne, em Paris, um estudo sobre "Os exercícios físicos no mundo moderno". E propus recriar os Jogos Olímpicos.
- Aposto que foi um sucesso.
- Ninguém deu a menor bola.
- E quando o senhor conseguiu virar o jogo?
- Dois anos depois, no mesmo lugar, eu organizei um congresso internacional. Nem coloquei a recriação dos Jogos na pauta, para não afugentar o pessoal. Mas no final do congresso inclui o assunto e ele foi aprovado. Também propus que a primeira edição fosse em Atenas. Os ingleses, os alemães e o governo grego eram contra, mas consegui o apoio do Duque de Esparta, príncipe herdeiro da Grécia, e ele convenceu os reticentes.
- Imagino que tenha sido complicado organizar estes primeiros Jogos.
- Muito. A Grécia, como agora, estava com problemas financeiros. Mas o príncipe conseguiu que fossem emitidos selos comemorativos para arrecadar dinheiro. E Jorge Averof, um milionário egipcio, se propôs a pagar a reconstrução do estádio de Atenas. No dia 6 de janeiro de 1896, a chama olímpica voltou a brilhar. Renasciam os Jogos Olímpicos, com a presença de 13 países e 311 atletas. Todos homens, é claro.
- O senhor era contra a competição para mulheres?
- Totalmente. A mulher tem um corpo que prima pela graça. Não se pode estragá-lo com ginásticas embrutecedoras. Enquanto eu era presidente do COI, não permiti que elas participassem. Mas depois de 1924, quando eu saí, elas foram entrando. E tudo começou por causa de uma tal de Alice Milliat, que em 1921 criou os Jogos Mundiais Femininos. Com o tempo, a solução foi incorporar as mulheres, antes que elas fizessem uma competição forte só delas.
- O senhor também era contra o profissionalismo, não era?
- Totalmente. O esporte deve ser praticado por paixão e por saúde.
- Mas isso não faria com que o esporte fosse exclusivo para os ricos?
- Para mim, o dinheiro tira a pureza do esporte.
-Mas, já que alguém vai ganhar dinheiro, não é justo dividi-lo com os atletas? O dinheiro deve ficar só com os promotores dos eventos?
- Olhe, comigo não ficou nada. Gastei minha fortuna para promover a volta dos Jogos Olímpicos. Morri sem dinheiro.
- Onde e como?
- Em 1937, quando estava caminhando num parque em Genebra. Um ataque cardíaco fulminante. Meu corpo foi enterrado em Lausanne. Mas meu coração foi sepultado perto das ruínas da antiga Olímpia. Não poderia haver honra maior para mim.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros
, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
(Carta Maior)
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Assange
EL MUNDO › GARZON, LETRADO DE ASSANGE
El Wiki abogado
El ex juez español Baltasar Garzón (foto) encabezará el equipo de abogados que defiende a Wikileaks y a su fundador, Julian Assange, con quien se reunió ayer en la embajada de Ecuador en Londres, donde el ex hacker se encuentra refugiado desde hace más de un mes. La plataforma Wikileaks, que reveló miles de secretos de Estado, dejando en ridículo a buena parte de la diplomacia internacional, confirmó la información a través de un comunicado. “El juez español, abogado y jurista internacional Baltasar Garzón liderará el equipo legal que representa a Julian Assange y Wikileaks”, señaló el documento difundido ayer. Según la organización, la decisión llegó luego de la reunión privada que mantuvieron Garzón y Assange en la sede de la embajada ecuatoriana en Londres para “discutir una nueva y contundente estrategia jurídica que buscará defender tanto a Wikileaks como a su fundador”.
Según Wikileaks, el ex magistrado de la Audiencia Nacional española mostró durante el encuentro su preocupación por la ausencia de garantías en el proceso judicial abierto contra Assange y por el acoso al que está siendo sometido el australiano, “con consecuencias irreparables para su propia salud física y mental”. Las amenazas en su contra se agravaron “con la actitud coactiva y cómplice del gobierno de Suecia y el Reino Unido”, que están violando sus derechos, acusó Wikileaks.
Por último, el texto de la plataforma consideró que Baltasar Garzón “revolucionó el sistema internacional judicial dos décadas atrás al emitir una orden de arresto internacional en contra del jefe de Estado de Chile Augusto Pinochet”. El australiano Assange se encuentra desde hace más de un mes refugiado en la embajada ecuatoriana en Londres, desde donde realizó una petición de asilo a Ecuador, pedido por el que el presidente Rafael Correa reiteró que hará “las consultas que sean necesarias y que dialogará con quien sea sobre su caso”.
En este sentido, el mandatario ecuatoriano reiteró en varias oportunidades que su gobierno tomará “una decisión absolutamente solidaria, soberana, en función de los principios humanistas que iluminan nuestra revolución, que iluminan nuestra Constitución”. El fundador de Wikileaks expresó además que se está llevando adelante una persecución en su contra para solicitar asilo a Ecuador, así como para evitar una extradición del Reino Unido a Suecia, donde se lo acusa de supuestos delitos sexuales. En varias ocasiones Assange negó los presuntos abusos sexuales y violación de los que es acusado en Suecia, aseguró que fueron relaciones consentidas que mantuvo con dos mujeres en Estocolmo en el verano de 2010 y alegó que esas acusaciones tienen motivaciones políticas. Las autoridades ecuatorianas también sopesan el riesgo denunciado por Assange de que sea juzgado por razones políticas y pudiera ser condenado a muerte en el caso de ser extraditado a Estados Unidos, donde podría ser sentenciado por filtrar cables diplomáticos de la principal potencia mundial.
Según publicó ayer el diario El País de España, la defensa de Assange buscará defender tanto a Wikileaks como a su fundador “de los abusos de proceso y de arbitrariedades del sistema financiero internacional que pondrán de manifiesto el alcance real de la operación contra Julian Assange”. Asimismo, perseguirá demostrar que “el proceso secreto que se sigue en los Estados Unidos supone una clara amenaza que vicia cualquier otro proceso, como el que motiva la petición de extradición para ser cuestionado en Suecia, solicitud que aparece como mero instrumento para conseguir aquella finalidad”. Wikileaks denunció del mismo modo la actitud “coactiva” del gobierno británico que, “sin ofrecer garantías creíbles respecto de Suecia y los EE.UU, está moviendo todos los resortes para acabar con una situación que le perjudica”.
(Pagina 12)
Terremotos
Terremotos da multidão
Posted: 24 Jul 2012 07:48 AM PDT
Blog EntreMentes
Dois anos atrás (24/07/10), 21 pessoas foram esmagadas até à morte pela multidão que compareceu ao festival de música Love Parade, em Duisberg, Alemanha.Não houve um estouro, um empurra-empurra intencional, nem uma histeria em massa que causasse as mortes.
Então, como é que essas 21 pessoas morreram?
Dirk Helbing e Pratik Mukerji parecem ter a resposta.
A maioria das mortes ocorreu por causa de um fenômeno conhecido como "terremotos da multidão". Que ocorrem quando a densidade de uma multidão se torna tão grande que os indivíduos são forçados ao contato corporal, uns com os outros.
Quando isso acontece, forças são transmitidas em cadeia, através da multidão, de um corpo para outro. Uma transmissão de força semelhante à que ocorre em um material granular como a areia numa ampulheta, por exemplo.
Este tipo de encravamento pode fazer com que as forças cresçam até níveis letais. Além do mais, essas cadeias de transmissão podem enviar ondas de pressão no meio da multidão.
É isso o que mata. Não é a densidade global da multidão, mas sim a transmissão de forças, de uma maneira quase aleatória. O que faz com que as pessoas caiam, criando um efeito dominó na multidão que esmaga as pessoas à morte.
As conclusões de Helbing e Mukerji se baseiam, em grande parte, na análise de vídeos do desastre, que foram gravados por pessoas do público, na época. E esses vídeos, que dão uma visão macabra dos acontecimentos, foram também reunidos pelos autores em uma página da web. Link
Fontes
'Crowd Quakes' Were A Key Factor In LoveParade Disaster, Technology Review
Crowd Disasters as Systemic Failures: Analysis of the Love Parade Disaster, Cornell University Library
(Portal do Nassif)
Natureza
6/7/2012 - 10h52
Canadense de 16 anos cria sistema que decompõe plástico em 3 meses
por Redação CicloVivo
Canadense de 16 anos cria sistema que decompõe plástico em 3 meses
A experiência foi fruto de um trabalho escolar, em que Burd encontrou microorganismos naturais capazes de acelerar consideravelmente o processo de decomposição natural do plástico. Foto: David Bebee/The Star
O plástico é um dos grandes vilões da natureza. No entanto, no que depender do jovem canadense Daniel Burd, de apenas 16 anos, o impacto deste resíduo pode ser bem menor, já que ele desenvolveu uma alternativa para decompor as sacolas plásticas em apenas três meses.
A experiência foi fruto de um trabalho escolar, em que Burd encontrou microorganismos naturais capazes de acelerar consideravelmente o processo de decomposição natural do plástico. Após muitas pesquisas, o jovem apostou na combinação entre as bactérias Sphingomonas e Pseudomonas.
O experimento apresentou resultados muito positivos em termos ambientais. Em apenas seis semanas 43% do material já havia sido decomposto, com a liberação apenas de água e de baixa quantidade de dióxido de carbono. Segundo o garoto, o sistema é barato, eficiente e facilmente aplicável em nível industrial.
O sistema é simples e é justamente esse o ponto alto da invenção, pois permite que ele seja eficiente sem a necessidade de grandes aparatos tecnológicos ou investimentos financeiros. “Tudo o que você precisa é de um fermentador, de seus micróbios e de sacolas plásticas”, explicou Burd.
A cada ano são produzidos mundialmente uma média de 500 bilhões de sacos plásticos, que são responsáveis pelo uso de 1,6 bilhão de barris de petróleo e um estrago ambiental sem medidas. A estimativa das Nações Unidas é de que existam 46 mil peças de plástico espalhadas somente pelos oceanos, representando um perigo constante às espécies marinhas.
* Com informações do Inhabitat.
** Publicado originalmente no site CicloVivo e retirado do site Mercado Ético.
(Mercado Ético)
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Torturas
A batalha de Argel na América do Sul
Os choques elétricos, os métodos de interrogatórios, os sequestros em plena noite, a tortura sistemática, a guerra psicológica, os desaparecimentos e os voos da morte são técnicas que foram transmitidas pelos oficiais franceses aos militares sulamericanos. O cérebro destas doutrinas foi o coronel Roger Trinquier (foto). Professor na Escola das Américas dos EUA, Trinquier é o maior ideólogo francês da guerra suja cujo lema principal, a partir dos anos 50, foi que “a tortura é um elemento importante na guerra moderna contrarrevolucionária”. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.
Eduardo Febbro - Paris
Paris - “Uma vez na habitação e com a ajuda dos oficiais, agarramos Bem M’Hidi e o penduramos de tal maneira que pudesse parecer um suicídio”. A prosa do veterano general Paul Aussaresses não brilha pela originalidade, mas sim por sua precisão quando descreve as múltiplas ações ilegais que ele e seus homens protagonizaram na Argélia. A cena exposta aqui detalha o assassinato de um dos responsáveis do FLN argelino e não é mais que uma gota d’água na extensa descrição dos assassinatos premeditados organizados por oficiais do exército francês: torturas, execuções sumárias, assassinatos disfarçados de suicídios, matança de civis e utilização de helicópteros para jugar pessoas detidas com vida na Baía de Argel são moeda corrente ao longo de seu livro “Serviços Especiais, Argélia 1955-1957”.
O militar francês foi julgado por apologia da tortura. Sua história, sua passagem pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) de Manaus como instrutor se nutrem de um passado, de duas guerras, Indochina e Argélia, e de quatro personagens centrais que, a partir de meados dos anos 50, alimentaram com suas teorias contrarrevolucionárias os militares da América do Sul. O “ensino” começou na Argentina a partir dos anos 50. O primeiro contato entre os exércitos da França e da Argentina ocorreu no ano seguinte à queda do general Perón, em 1957. O coronel argentino Carlos Rosas, recém-egresso da Escola de Guerra de Paris, posteriormente subdiretor da Escola de Guerra de Buenos Aires, criou um ciclo de estudos sobre “a guerra revolucionário comunista”. Foi neste marco que chegaram a Argentina os tenentes coronéis François-Patrice Badie e Patrice de Naurois.
Uma nota do futuro chefe da Polícia Federal argentina sob a ditadura de Videla, o general Ramón Camps, ilustra a importância dos dois visitantes: “seus cursos – escreve Camps – estavam diretamente inspirados na experiência francesa na Indochina e aplicada neste momento na Argélia”.
Em setembro de 1958, o ministro francês da Defesa, Pierre Guillaumat, autorizou que 60 soldados argentinos que haviam seguido esses cursos especiais fossem a Argélia, em plena guerra, em “viagem de estudos”. Outros 60 soldados viajaram no mesmo ano com destino a Paris e, em 1960, a cooperação entre exércitos deu lugar à criação de uma missão militar francesa permanente na Argentina. Composta por três oficiais superiores, sua missão consistia em “aumentar a eficácia técnica e a preparação do exército argentino”.
Nesse mesmo ano, Pierre Messmer, ministro da Defesa, enviou a Buenos Aires o chefe do Estado Maior do Exército, general André Demetz, e o coronel Henri Grand d’Esson. D’Esson é um personagem chave: foi que ele que realizou na Escola de Guerra de Buenos Aires a célebre conferência na qual descreve cada um dos aspectos da guerra subversiva e, sobretudo, o papel central do exército no controle “social da população e na destruição das forças revolucionárias”. Esse texto de 22 páginas foi publicado sob o título “Guerra Subversiva” na Revista da Escola Superior de Guerra, nº 338, Julho-Setembro de 1960. Todas essas ideias, viagens e experiências trocadas desembocarão numa espécie de cooperação continental baseada na dupla experiência dos franceses e dos argentinos.
Assim, em julho de 1961, o general Spirito, chefe do Estado Maior argentino, propôs a seus colegas da Conferência dos Exércitos da América a criação de um Curso Interamericano de luta antimarxista que seria ministrado por um ex-aluno argentino da Escola de Guerra de Paris, o coronel López Aufranc. Um total de 39 oficiais, representando 13 países, incluindo os EUA, assistiram a esses cursos. Em uma mensagem enviada à chancelaria francesa, o embaixador francês na Argentina explica: “cabe assinalar a presença de militares norteamericanos em um curso onde se deu um espaço importante ao estudo da luta anti-marxista em um espírito e segundo os métodos baseados na experiência do exército francês”.
Daí ao Plano Condor há uma rota sem obstáculos na qual se mesclam Videla, presente às aulas onde estavam os instrutores franceses, e o plano Conintes (Comoção interna do Estado). Entre 1963 e 1973 houve uma interrupção na colaboração francesa mas esta foi retomada a pedido dos argentinos.
Nos anos 70 abre-se um novo capítulo. A França mandou a Buenos Aires o coronel Pierre Servant, ex-comandante da Indochina e da Argélia, especializado em “interrogatórios”. Em abril de 1974, Servant se encontrou em Buenos Aires com um dos atores do golpe de 76, o tenente coronel Reynaldo Bignone. Servant, que negou quase todos os fatos quando a justiça francesa o interrogou há alguns anos, trabalhou no Escritório nº 3, situado no 12º andar do quartel general do Exército argentino e deu cursos nessa sede e nas províncias. Sem ligações com a embaixada francesa, Servant estava vinculado ao Secretariado Nacional da Defesa Nacional (SGDN), organismo controlado então pelo novo primeiro ministro e ex-presidente francês Jacques Chirac.
Bussi, Videla, Bignone, Vilas, Harguindeguy, todos estiveram em contato com Servant, beberam a cultura da tortura francesa e absorveram os livros teóricos de Trinquier como se fossem água benta. Servant deixou a Argentina em outubro de 1976, Aussaresses foi para o Brasil em pleno golpe de Estado.
O Plano Condor já estava em marcha. Uma nota de Henry Kissinger (ex-secretário de Estado dos EUA) distribuída nas embaixadas norte-americanas da Europa adverte que o grupo “murder” (assim era denominado o Plano Condor) operaria na velho continente, especialmente em Paris. A sede argentina do dito plano, o Centro Piloto, estava localizada no nº 83, da Avenida Henry Martin.
O cérebro destas doutrinas é o coronel Roger Trinquier. Professor emérito na Escola das Américas dos EUA, Trinquier é o maior ideólogo francês da guerra suja cujo sermão principal foi assegurar a partir dos anos 50 que “a tortura é um elemento importante na guerra moderna contra revolucionária”. A maior parte da estrutura “anti-revolucionária” foi elaborada por Trinquier. Os historiadores da Guerra da Argélia e da Indochina, que estabeleceram os nexos entre as práticas aplicadas durante esses conflitos e as que se viram depois na Argentina, Uruguai, Chile e Brasil tiram uma clara conclusão: o aperfeiçoamento do choque elétrico, a radiografia das agendas dos detidos, os sequestros em plena noite, a tortura sistemática, a guerra psicológica, os desaparecimentos, o uso de arquivos e os voos da morte são técnicas transmitidas pelos oficiais franceses.
Em um artigo de 4 de janeiro de 1981, publicado pelo diário argentino La Prensa, o general Ramón Camps assegurou que essas missões e cursos começaram “sob a direção dos tenentes coronéis Patrice de Naurois e François-Pierre Badie”. Aquelas sessões serviram para transmitir as experiências dos oficiais franceses nas guerras da Indochina e da Argélia. Os documentos existentes provam que esses ensinamentos se baseavam essencialmente nos trabalhos escritos por outro militar francês que confessou a prática da tortura na Argélia, o general Massu. O essencial, porém, foi “ensinado” pelo general Salan e, sobretudo, pelo tenente coronel Roger Trinquier.
Uma nota do general Massu, com data de 19 de março de 1957, argumenta em defesa de um dos princípios aplicados depois pelas ditaduras militares da América do Sul: “não se pode lutar contra a guerra revolucionária e subversiva protagonizada pelo comunismo internacional e seus intermediários com os procedimentos clássicos de combate. É preciso utilizar métodos e ações clandestinas e contrarrevolucionárias. É preciso que esses métodos sejam admitidos com a alma e nossas consciências como necessários e moralmente válidos”. Essa é a parte mais “filosófica” do “combate” contrarrevolucionário. A definição da ação prática corresponde a Trinquier, redator de números manuais militares difundidos na Argentina.
O tenente coronel Trinquier é o “organizador do conceito de guerra moderna”. Essa guerra se articula em torno de três eixos: a clandestinidade, a pressão psicológica e a moralidade estrita. Se se observam os dispositivos técnicos aplicados na Argélia, em seguida pode-se “ler sua tradução” na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Brasil. Trinquier inventou um sistema de busca da informação conhecido na França como Destacamentos Operacionais de Proteção (DOP). Esse mesmo sistema foi adotado na Argentina mediante as forças tarefa. O leitor não pode senão assombrar-se com as semelhanças entre os DOP e as forças tarefa. Os DOP tinham a tarefa de interrogar os detidos argelinos e utilizavam a tortura. Eles arrancavam informação sobre a organização político-administrativa dos rebeldes e realizavam a prisão e a eliminação dos suspeitos em lugares ocultos. Essas mãos das sombras que foram as forças tarefa se inspiraram técnica e operacionalmente em todo o aparato repressivo dos DOP franceses.
Na Argélia, Trinquier elaborou a “doutrina da clandestinidade” que mais tarde causaria estragos durante os golpes de Estado na América do Sul: repressão baseada no ocultamento dos centros de detenção, desaparecimento de pessoas e eliminação dos corpos. O recurso a pessoal militar trajado como civis em comandos que percorriam à noite os centros urbanos em busca de vítimas ou de suspeitos para torturar é uma técnica implementada em Argel pelo general Aussaresses e Massu que foi importada para a Argentina por meio das missões de Patrice de Naurois e François-Pierre Badie, Trinquier teorizou por escrito sobre as bases da guerra suja e seus “manuais” se tornaram palavra sagrada nas academias nacionais.
O cronograma das missões francesas à Argentina permite situar com exatidão que foi a ditadura de Onganía a que começou a se alimentar com esses ensinamentos. Um testemunho direto do general Campos demonstra a “irmandade” técnica e moral que existia entre o corpo de oficiais argentinos e os “missionários” que vinham de Paris com a mala repleta de métodos para matar. No mesmo artigo citado anteriormente (4 de janeiro de 1981), Camps declarou, como uma forma de homenagem: “Na Argentina primeiro recebemos a influência francesa, depois a norte-americana. Aplicamos as duas respectivamente de maneira separada e depois conjunta tomando os conceitos de ambas até que a norte-americana predominou. Mas é preciso dizer que a concepção francesa era mais exata que a norte-americana. Esta última se limitava quase exclusivamente ao aspecto militar enquanto a francesa consistia em uma visão global”.
As metodologias se alimentam umas das outras. O general francês Paul Aussaresses foi instrutor militar na base norte-americana de Fort Bragg, Carolina do Norte, a escola dos paraquedistas norte-americanos onde se treinavam as “forças especiais” antes de elas irem para o Vietnã. Um texto ilustrativo escrito pelo coronel francês Henri Grand D’Esnon e destinado exclusivamente às forças armadas argentinas permite compreender como se elaboraram as bases “práticas” para que os generais argentinos incluíssem na vida civil. Gran D’Eson afirma que “a destruição da organização político-administrativa revolucionária corresponde à polícia, mas o exército deve apoiar essa ação toda vez que os métodos da polícia resultarem insuficientes, situação que se produz frequentemente quando a subversão se generaliza” (trecho de “A Guerra Subversiva”, artigo publicado na Revista da Escola Superior de Guerra, nº 338, Julho-Setembro de 1960).
O general Aussaresses reconheceu que ensinou “a tortura e as técnicas de interrogatório da Batalha de Argel” aos militares brasileiros e também norte-americanos. Isso ocorreu na época em que ele era professor em Fort Bragg. Nesse quartel geral dos Estados Unidos, Aussaresses conheceu o coronel Carl Bernard, a quem mostrou um rascunho do livro do coronel Trinquier, “A Guerra Moderna”. Bernard e Aussaresses resumiram o livro e o enviaram a Robert Komer, um agente da CIA que será nomeado conselheiro do presidente norte-americano Lyndon Johnson durante a Guerra do Vietnã. Segundo o coronel Bernard, Komer montou a operação Fênis a partir do resumo do Manuel de Trinquier. A Operação Fênix foi lançada no Vietnã no final dos anos 60: seus métodos são os mesmos que foram empregados depois na Argentina, Chile, Uruguai e Brasil.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
(Carta Maior)
Síria
Rebeldes sírios se aproximam do maior troféu
Escrito por Robert Fisk
Sexta, 20 de Julho de 2012
Agora foram na jugular. O cunhado do presidente, o ministro da Defesa, uma bomba de destruição massiva colocada perto, ou talvez dentro dos quartéis militares encabeçados pelo irmão do mandatário. Os assassinatos levam tempo, mas esse foi de escala épica, para se colocar no mesmo nível do banho de sangue que ocorre em toda a Síria.
A irmã do presidente Bashar Assad, Bushra, um dos pilares do partido Baaz, perdeu seu esposo em uma potente explosão, muito perto do centro de Damasco. Com razão, os russos falam da batalha decisiva. Não será uma recreação de Stalingrado, mas os tentáculos da rebelião chegaram perto do coração. E, a partir disso, há matanças por vir. Por qual outra razão teriam fugido nesta quarta-feira milhares de cidadãos sírios até o acampamento de refugiados palestinos de Yarmouk, a fim de buscar a proteção dos cidadãos mais traídos do mundo árabe?
Existe suficiente ódio para continuar este selvagem ataque contra o governo sírio. Faz oito meses, durante uma manifestação de massa a favor do regime, no distrito de Rawda, que passei caminhando junto ao quartel de inteligência e segurança que foi destruído nesta quarta.
Naquele momento, um amigo sírio o olhou com desolação. A tortura ocorre sob a terra, as pessoas sequer sabem o que se passa ali, me disse. Porém, qualquer um que tivesse saído dali mataria com prazer aqueles que o atormentaram, em especial o chefe dos torturadores.
A fúria do povo aceitará de bom grado um ou dois dos escolhidos do governo. Foi um gesto típico o fato de que, em seu desespero por preencher o vazio deixado pelos assassinatos de quarta, o regime designasse o anódino Fahd Jassim Frayj para ocupar a vaga no Ministério da Defesa; ele é um homem originário de Hama, o centro das maiores rebeliões contra os governantes sírios.
Nós, ocidentais, temos o hábito de sempre ver o Oriente Médio através de nossa própria cartografia. O Oriente Médio está a leste, não é? Mas girem o mapa e se darão conta da proximidade da Síria dos chechenos muçulmanos até hoje em busca de sua redenção. Não é de se estranhar que Moscou tema tanto uma rebelião na Síria.
O velho Hafez Assad, pai de Bashar, costumava se preocupar, em seus últimos anos, com que uma revolta em seu país pudesse tomar a forma de um terrível conflito ao qual ele se mantinha atento diariamente pela televisão: o da ruptura da Iugoslávia laica, cujas divisões sectárias eram surpreendentemente similares às que vive hoje a Síria. Curiosamente, apesar das degolações, das matanças de civis pelas mãos de milícias e dos assassinatos de crianças (que parecem um paralelo da guerra que nos anos 90 castigou o país que se pôs ao lado de Damasco durante a guerra da Argélia), as impactantes cenas que se vêem atualmente na Síria não refletem a barbárie da Bósnia, Croácia e Sérvia.
O que Bashar pode fazer agora? Outro amigo sírio me fez uma pergunta interessante por esses dias: Suponhamos que o presidente xiita alauíta Bashar decida fugir, me disse. Assim, seria levado ao aeroporto por um coronel alauíta. Você acha que este o deixaria partir? Duvido.
Assim, temos tristes previsões. Sim, Bashar poderia se aferrar ao poder mais tempo do que acreditamos. Não irá embora, e seu irmão Maher, que encabeça a assim chamada Quarta Brigada, talvez seja um assunto diferente. Mas do palácio presidencial podem-se escutar os tanques e tiroteios que têm lugar em uma das cidades habitadas mais antigas do mundo; esses são dias sem precedentes. Inclusive, a televisão síria se viu obrigada várias vezes a dizer a verdade nesta quarta.
O veredicto? Bashar al Assad vai sair, porém, ainda está lá.
Robert Fisk é jornalista e escreve no diário inglês The Independent.
Tradução para o espanhol de Gabriela Fonseca, La Jornada, e para o português de Gabriel Brito, Correio da Cidadania.
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terça-feira, 24 de julho de 2012
Che
La condición humana del Che Guevara
Manuel E. Yepe (especial para ARGENPRESS.info)
Una de las dimensiones de la revolución cubana que más preocupa a sus enemigos es la identificación que logra y mantiene el proceso cubano con los pueblos de todo el mundo, pese a la ya cincuentenaria campaña de descrédito que pagan el imperialismo y las oligarquías.
Entre las muchas razones que avalan este criterio está el absoluto respeto por la vida humana que ha caracterizado a la revolución cubana desde la lucha insurreccional contra la tiranía de Fulgencio Batista hasta nuestros días.
Por eso, indigna que, en el Sur de la Florida, los herederos de aquellos torturadores y asesinos que huyeron a Estados Unidos en 1958 con hasta el último de los 400 millones de dólares que había en la tesorería nacional –algunos de ellos son hoy congresistas en Washington o parásitos multimillonarios engordados con los aportes estadounidenses a la lucha por el regreso de la democracia a Cuba- osen calificar de dictadura al gobierno cubano de hoy.
Y, peor aún, que conceptúen como violador de los derechos humanos a una personalidad tan pura y limpia de la historia de Latinoamérica y del mundo como Ernesto Che Guevara.
La identificación del Che Guevara con las masas populares conscientes del continente, y de muchas otras partes del mundo, se patentiza en el hecho de que, no obstante los recursos invertidos por el imperio y la reacción intentado desprestigiarlo mediante la vulgarización de su imagen cual objeto comercializable, no han podido evitar que ésta siga acompañando a cuanta acción justa de rebeldía promovida por los más diversos segmentos populares tiene lugar en el mundo.
El Che es hoy estandarte de lucha de millones de jóvenes estudiantes, mujeres, obreros, campesinos, huelguistas, indignados y ocupantes de espacios públicos en todas partes, sin que las mentiras fabricadas en Miami y pagadas por Washington mellen su prestigio y la capacidad movilizadora de su ejemplo y sus ideas enraizadas en la revolución cubana.
Che estuvo vinculado a una de las más significativas acciones humanitarias de la revolución cubana cuando, ejerciendo la jefatura del Castillo de la Cabaña, en La Habana, garantizó que el principal tribunal creado para enjuiciar los crímenes de guerra de la tiranía derrotada realizara un trabajo ejemplar por su organización, limpio desarrollo y respeto a los veredictos de los jueces.
Cuando se acercaba la victoria, el líder de la revolución y jefe del Ejercito Rebelde, Comandante Fidel Castro, llamó a la población a que no se tomara la justicia por mano propia y prometió que todos los acusados de crímenes serían juzgados con todas las garantías que dan las leyes y sancionados conforme a la gravedad de sus delitos.
Con ello, la revolución cubana evitó que se repitiera lo ocurrido a la caída del tirano Gerardo Machado en 1933, cuando centenares de acusados vinculados a la cruenta dictadura fueron muertos y sus cuerpos arrastrados por las calles por la ira popular sin oportunidad de defenderse ante un tribunal, porque faltó una autoridad que garantizara al pueblo, como ocurrió esta vez, que se haría justicia. Se conoce que el tratamiento al vencido con humanidad resultó una de las armas más poderosas que tuvo el Ejercito Rebelde en su combate contra las fuerzas de la tiranía de Batista.
Mientras las fuerzas de la tiranía -apoyadas, entrenadas y asesoradas por militares estadounidenses- mataban, torturaban y cometían toda clase de abusos contra los detenidos sospechosos de ser revolucionarios, los combatientes rebeldes respetaban los derechos humanos de los militares que hacían prisioneros.
Esta conducta provocó en las fuerzas gubernamentales una marcada disposición a rendirse a los combatientes revolucionarios cuando eran conminados a ello, lo que contrastaba con la actitud de los rebeldes de resistir siempre hasta la muerte.
El propio Che Guevara, que era médico, se vio muchas veces en situación de atender heridos del enemigo hechos prisioneros antes que a los propios.
Como dirigente administrativo y como jefe militar destacó por su exigencia en el cumplimiento de los deberes por sus subalternos, que lo acataban más por la excepcional fuerza moral que le confería su ejemplar auto exigencia que por la autoridad de que estaba ungido por su jefatura.
La dimensión humana en la personalidad política de Guevara y su pensamiento crítico y polémico acerca de la construcción del socialismo dejaron una huella trascendental que se aprecia hoy en cada momento y en cada estrategia cubana.
Arremeter con infundios contra la conducta ejemplar del Che, tanto en su vida privada como pública, retrata a sus detractores.
(Argenpress)
segunda-feira, 23 de julho de 2012
A Verdade
Verdad que es difícil hablar la verdad
Alberto Maldonado (especial para ARGENPRESS.info)
Sin llegar a filósofo, el viejo profesor universitario decía a sus alumnos: “la verdad pura no existe, como no existen lo objetivo y lo neutral. Esos son inventos de la prensa comercial, para disimular su verdadero rol”. Agregaba: según Lenin, la verdad VERDADERA es, por si sola, revolucionaria. No hay nada más subjetivo que la objetividad. Y no se puede ser neutral en una sociedad que lucha por sus derechos más elementales.
La explicación del viejo profesor era en torno a la verdad, la objetividad y la neutralidad; tres de las “virtudes” que debía tener cualquiera que se decidiera por el viejo periodismo, de manera especial, si uno era el periodista, de antaño. Preguntaba: ¿conocen ustedes alguien que sea dueño absoluto de la verdad? Ponía ejemplos: ¿Han escuchado ustedes que la única religión verdadera es la católica, apostólica y romana? Preguntaba: ¿y por qué los Papas se han reunido con los más altos representantes de las iglesias ortodoxas y la musulmana, y han pedido que se unan todas, contra el ateísmo?
Por si acaso, alguno (na) no le había entendido bien, agregaba: ¡No conozco de un periodista que escriba prescindiendo de sus puntos de vista ideológicos, doctrinarios, de la línea oficial del medio, de sus quereres y animadversiones! Cuando uno escribe, se puede ser objetivo o no; si está escribiendo desde sus puntos de vista. Sostener que el periodista debe ser neutral es una aberración sin nombre; algo que una persona medianamente culta no puede pasar por alto.
Y, el viejo profesor, sin quererlo, desataba un verdadero debate en clase, sobre estos temas; que, para un periodista de la vieja data, es como el catecismo periodístico. No faltaba quien le recordaba al viejo profesor que lo primero que se le decía al periodista que llegaba a un medio comunicacional (en esos tiempos, la prensa impresa, era la única que existía) es que debe ser neutral, objetivo y estar muy cerca de la verdad. Pero: ¿la objetividad de quién, para qué? Acaso no hay muchas verdades. Por ejemplo, una es la verdad de la hojita dominical que se reparte en las iglesias católicas, cada domingo; y otra, muy distinta, la de un marxista; o de quien, sin ser marxista, es honrado a carta cabal.
Fui al Diccionario de la Real Academia de la Lengua Española, a ver qué decían sobre la verdad. Y, a más de ser uno de los vocablos que más definiciones tenía (más de una página, a doble renglón) la verdad es que hay muchas verdades. ¿Cuál es la verdad de los medios sipianos?: ”la conformidad de las cosas con el concepto que de ellas forma la mente” O esta otra, de las muchas definiciones que da el Diccionario: “conformidad de lo que se dice, con lo que se siente o se piensa” O simple y llanamente, lo que decía Goebells, del nazi fascismo: “La verdad es la mentira repetida mil veces”
Pongamos el caso de Siria y de lo que han transmitido, estos días, los medios sipianos (de la SIP-CIA) Según ellos, el Gobierno del flaco, señor Assad, es de caníbales. Le acusaron de muchas muertes, especialmente de niños y niñas. Pregunto: ¿para qué matar a aquellos inocentes? ¿Para qué un gobierno mata a niños y niñas?. Según el Consejo Opositor de Siria, que funciona en Londres, “debe invadir la OTAN (que no tiene trabajo conocido, desde que se liquidó la URSS) igual que lo hizo en Irak, de Sadan Hussein; y de Libia, a fin de acabar con el carismático Gadaffi, el mismísimo que fue recibido, meses atrás, con todos los honores, por el señor Sarkosy, de la culta Francia.
Desde hace rato se viene diciendo que Siria, allá en el Medio Oriente, es víctima de una agresión mundial de los medios de comunicación privados y sus redes. ¿Por qué mundial? Y ¿por qué agresión? Trataremos más delante de precisar estos dos factores.
De acuerdo a nuestro punto de vista, se trata de una agresión comunicacional mundial. Contra Siria, la agresión tiene algunos años. ¿Recuerdan ustedes las alturas de Golán y la guerra de Israel que al fin se quedó con ese enclave? ¿Recuerdan todo lo que le pasó al antiguo Líbano y lo que les ha ocurrido a los palestinos, en la llamada Franja de Gasa? ¿Acaso hemos olvidado lo que les ocurrió y les ocurre a las familias de los palestinos por tratar de que se aplique la resolución de las Naciones Unidas, respecto de los dos estados: el judío y le palestino? ¿Quién tiene la bomba atómica? ¿Acaso no es que “se sospecha” que Irán está construyendo el elemento básico de una bomba atómica mientras Israel tiene varias? ¿Nos hemos olvidado que la culta Europa y los EE.UU. tienen miles de bombas atómicas; y nadie dice nada? ¿Nos hemos olvidado para y por qué nació la vieja OTAN, la misma que no dejó en sus vuelos “humanitarios” piedra sobre piedra de la vieja Libia?
La lucha del gran imperio del norte (Estados Unidos) de los imperitos (los europeos, con Gran Bretaña a la cabeza) y en el Medio Oriente (Israel y su Netanyahu) con el propósito de dominar ese sector del mundo (que está lleno de petróleo) que lo necesita. Hay una viejo pleito por resolverse; ¿acaso no les dice nada o mucho la destitución del viejo y canceroso Sha de Irán? ¿No les dice nada que el país de los ayatolas (Irán) tiene un lío pendiente con el gran imperio por aquello que pasó hace años, cuando invadieron la Embajada y retuvieron meses a sus empleados y trabajadores? ¿No están pidiendo la exhumación del cadáver de Yaser, porque presumen que fue envenenado en Paris?
Hay un viejo pleito que, en estos tiempos, el gran imperio y los imperitos y sus perros guardianes, quieren cobrárselo. Pero, esos países están llenos de petróleos. Y como lo dijo Galeano, si solamente sembraran espárragos, no les pasara nada. Están llenos de petróleos, de distintas clases. Y esos países quieren más y más petróleo, porque eso les significa que pueden seguir viviendo la “dulce vitta” que han tenido en los últimos tiempos; y que no es lo mismo que la “vida buena” que quieren nuestros indígenas, para todos. Hasta que esos paisitos de América Latina, quieren lo mismo. Por lo tanto “hay matar” a Chávez, a Correa, a Evo, a Ortega y a la mismísima Cristina, que todavía está OK.
Es decir, según Obama y la señora de Clinton, la invasión de Siria es cosa de la civilización “occidental y cristiana” Matan varios pájaros a la vez. Pregunto, ya que soy muy preguntón, ¿solo los jeques de Arabia Saudita o de Bahreim, son los únicos que pueden estar años de años en el poder, sin que les pase nada; y porqué el flaco señor Asaad? ¿Por qué este señor no les deja pasar a sus anchas a Irán, que también tiene petróleo y que le valió al señor Carter que no le reelijan cuando era Presidente de los EE.UU. de Norteamérica?
De paso, le quitan un dolor de cabeza permanente al señor Netanyahu, que él si puede ordenar que maten o detengan sin fórmula de juicio a palestinos (no importa la edad) con casa y todo. Y solo ellos pueden “castigar” (con torturas, como en Abu Graif o en Guantánamo) Porque para eso son el imperio que jamás le ha preocupado de la humanidad, como tal; mientras nos es útil, para seguir haciendo “buenos negocios”.
Pienso que, años atrás, el viejo profesor tenía razón. Los periodistas no escribimos lo que nos dicen que escriban. Eso es mentira. Escriben porque alguien les paga lo que escriben. O porque están de acuerdo con lo que escriben.
(Argenpress)
Rosa
Guimarães Rosa: um baiano de sangue
Ivan Bilheiro
Que nenhum valentão (ao estilo daqueles muitos que figuram em Corpo fechado, uma das novelas de João Guimarães Rosa que compõem a obra Sagarana (Nova Fronteira, 2001, 413 págs.)) se enfeze com leitura primeira do título acima, que logo explicação terá. O Guimarães Rosa, que é que tem e que é que não tem com sangue e com a Bahia?!
Guarde ainda as armas, e 'guenta o relance, Izé (como diriam ao personagem de São Marcos, mais uma das novelas de Sagarana) porque o tranco é ainda maior: tem aí uma história de Guimarães Rosa desocupado e homossexual... Como é que pode?
Não é preciso nem a malandragem de Lalino Salãthiel (personagem d'A volta do marido pródigo) para a explicação, basta que advogue a causa o grande Jorge Amado. Aí é que a coisa parece que embola, mas não embola, que logo se explica: percorrendo as páginas de Navegação de Cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei (Record, 2006, 544 págs.) do escritor baiano, deparei-me com duas passagens interessantes em que o autor de Sagarana aparece. Delas surgiram as considerações atordoantes citadas acima.
Quando o editor norte-americano Alfred Knopf decidiu publicar a tradução em inglês de Grande Sertão: Veredas, foi solicitado a Jorge Amado que prefaciasse a obra, lá pelos idos da década de 1960. No tal prefácio, Jorge Amado defendeu duas teses que ele mesmo reconhecia como dignas de causar escândalo. A primeira tese, imediatamente explicada por ele, é a de que "[...] Guimarães Rosa não é romancista mineiro e, sim, baiano [...]. Pode parecer brincadeira mas empresto à ideia significação literária. Desejo aproximar a ficção de Rosa de Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, escritor baiano, nascido mineiro, distanciá-la de O mameluco Boaventura, de Eduardo Frieiro, mineiro de nascimento e letras". E vem o ponto fundamental desta tese: "Quero filiar a criação de Rosa à narrativa nordestina, escrita com sangue, não com tinta" (p. 117).
E fazendo uso da mesma relação sangue-e-tinta, Jorge Amado apresenta a segunda tese, inflamável na formulação: "Ainda discuto tinta e sangue ao recusar os termos em que a crítica brasileira, em sua grande maioria, situa a grandeza do escritor. Todos os louvores, levados ao exagero do faniquito, da histeria, são dedicados à escrita do autor de Sagarana. De fato, por maiores sejam os elogios à linguagem de Rosa — a língua brasileira é uma antes dele, outra depois —, são todos justos e merecidos. Mas contesto as afirmações dos louvaminheiros que se masturbam ante a pesquisa e a fantasia lingüísticas de Rosa: não reside na escrita o fundamento de sua obra, não é ela que a faz eterna e universal" (p. 117-8).
O caráter extraordinário da escrita de Guimarães Rosa, segundo seu auto-proclamado conterrâneo (fazendo de Rosa baiano, e não se convertendo às Minas), não é contestado, mas o fato de ele se perder na mesma proporção em que a obra do escritor ganha o mundo, com diversas traduções, faz pensar melhor os referenciais do elogio. E pergunta: "O que restará dela quando a ficção de Rosa chegar ao chinês, ao coreano, ao georgiano, ao armênio, em vez do alfabeto latino, a composição em hieroglifos, signos, ideogramas? [...] Já nada restará da escrita, da linguagem, da invenção formal".
O que permanecerá, posto que é a vida das histórias de Guimarães Rosa, é o sangue com o qual foram registradas as vivências, as paisagens, os costumes, os personagens. Segundo Jorge Amado, essa característica é típica da escrita nordestina, por isso a afirmação de que Rosa é da Bahia, sua terra. E a força de sua literatura está mais no sangue, uma força nordestina, que na tinta, a escrita (embora reconhecidamente revolucionária): "[...] restarão o Brasil e o povo brasileiro, o sertão desmedido, a desmedida bravura, a ânsia e o amor, restará o sangue quando a tinta se apagar de todo".
Não é sem razão, portanto, a observação de Paulo Rónai, em excelente texto de 1946, A arte de contar em Sagarana. Ele afirmava que o regionalismo é mais um obstáculo que um recurso. Com sua riqueza léxica absolutamente particular, torna-se uma armadilha em que caem escritores que passam a falar para um nicho muito restrito (quando ainda falam alguma coisa). Mas, continua Rónai, o regionalismo foi empecilho afrontado por Guimarães Rosa que, domado o obstáculo, apresentou obra genial: "Apresenta-se como o autor regionalista de uma obra cujo conteúdo universal e humano prende o leitor desde o primeiro momento, mais ainda que a novidade do tom ou o sabor do estilo". Jorge Amado ratifica.
Mas e essa história de homossexual e desocupado? Aí é papo de em-antes, lá por volta de 1956. Jorge Amado conta que teve de ir ao Palácio do Catete falar com o então presidente Juscelino Kubitschek. Lá, à espera do atendimento, começou a conversar com o mineiro e também escritor Cyro dos Anjos. Segundo relata o baiano, aquela era época em que exaltava Guimarães Rosa com toda a sua força. Assim, achou boa pedida colocar em pauta o assunto, e cobriu Rosa de elogios. Cyro ouviu tudo atentamente, e aí veio o choque. Após dizer que os elogios eram "possivelmente certos", o interlocutor de Jorge Amado disse: "[...] mas repare, se detenha a examinar e verá que a obra de Guimarães Rosa se apóia sobre três suportes. Primeiro: o manejo dos dicionários para fabricação das palavras, para o que se fazem necessários paciência, método e tempo disponível de quem não tem obrigações a cumprir. Segundo: o conhecimento dos romances de cavalaria, o que é Grande sertão: veredas, me diga, senão um romance de cavalaria? Para finalizar, o terceiro: a sensibilidade feminina de homossexual, basta ler com atenção" (p. 366).
O choque foi grande: "Juscelino encerra a audiência, manda me chamar. Levanto-me, atarantado recolho os restos mortais de Guimarães Rosa. Cyro dos Anjos retorna a seus papéis de burocrata".
Os restos mortais, jogados ao chão após a "leitura atenta" de Cyro, foram recolhidos por Jorge Amado. Mas as partes imortais, registradas com sangue, ainda são lidas e relidas, muitas e muitas vezes, por esse mundo velho de bambaruê e bambaruá. Um viva aos baianos, e um viva à criação genial registrada em sangue!
Ivan Bilheiro
Juiz de Fora, 17/7/2012
(Dig. Cultural)
domingo, 22 de julho de 2012
Saude
Se você for pobre, evite ficar doente no inverno
Leonardo Sakamoto
Jornalista e doutor em Ciência Política. Professor de Jornalismo na PUC-SP e ex-professor na USP. É coordenador da ONG Repórter Brasil.
Adital
Estou convalescendo de uma pneumonia chata que quase me fez botar os pulmões para fora de tanto tossir e me elevou à temperatura de chapa de X-salada. E o fato de alguém ter esquecido a porta da geladeira do mundo aberta nesse inverno paulistano não ajuda em nada a melhorar o desconforto. Por ter acesso a bons serviços de saúde, o diagnóstico e o tratamento foram rápidos, sem as agruras de uma fila sofrida para atendimento ou para exames básicos.
Como já disse antes, faço parte daquela parcela da população dependente de remédios para ter uma vida normal. No meu caso, uma cardiopatia. Infelizmente, para quem não gosta deste blog, ela está controlada. Pelo menos no curto prazo. E, no longo, todos seremos adubo.
Já fiz esse inventário aqui, mas retomo a lista. Devido ao jornalismo, peguei muita pereba nesta vida. De malária, foram duas, falciparum, uma em Timor Leste e outra em Angola, durante coberturas. Não digo isso com orgulho, pelo contrário. Jornalistas da antiga contam que mediam-se carreiras pelo número de doenças tropicais contraídas. Mas o tempo passou e a régua foi para a quantidade de textos censurados pela Gloriosa, depois para processos na Justiça até o número de discursos inflamados de congressistas indignados.
Dengue foi uma, no interior da Paraíba, doída – sem manchas, pelo menos. Teve uma mononucleose do Punjab paquistanês. Dizem que é chamada de "doença do beijo”, pela forma de transmissão – a explicação que trouxe para casa (e que colou, pois Alah é grande) foi de que em muitos vilarejos, durante as refeições, o uso do copo era coletivo. Outra vez, alguma porcaria se alojou perto do meu coração, gerando uma pericardite – o que me deixou uma semana internado, recebendo boa comida. Nessa, achei que ia empacotar, tamanha a dor no peito no começo. Foi um período tranquilo, sem muita gente ligando, cobrando textos ou dívidas.
Viroses e afins não entraram na lista, mesmo que ferozes, porque aí teríamos uma capivara e não um post. Aliás, a virose é a "pescada” da medicina. É aquela coisa genérica, que muitas vezes nem o médico sabe o que é mas, pelos sintomas, recebe o tratamento básico – água, alimentação leve, um analgésico e repouso. E como jornalismo é uma profissão relaxante e o Brasil nem tem problemas na área de direitos humanos, "estresse” também não foi incluído.
Um amigo que sofre de outro mal crônico matutou que talvez sejamos exemplos vivos de que a humanidade conseguiu dar um nó na seleção natural. Se deixassem a natureza seguir seu curso, seres malfeitos como eu e ele estariam naturalmente fadados a ser peça empalhada de museu: "Mãe, olha lá, aquele japa era um cardíaco, não?”. Bateríamos as botas antes de atender ao divino chamado de multiplicar – ou no momento de cumprir esse chamado. Hoje, não mais. Os fortes é que sobrevivem? Pfff! Esqueça. Os remendados, como nós, é que herdarão a Terra. Nossa vantagem competitiva? Ter sempre à mão uma boa dispensa com medicamentos, além de médicos competentes.
Digo parcela da população porque posso comprar remédios de ponta, que funcionam e têm poucos efeitos colaterais, por exemplo. Sucesso garantido graças a exigentes testes realizados à exaustão pelas maiores indústrias farmacêuticas do mundo em milhares de "voluntários” de classes sociais mais baixas.
Milhões de pessoas morrem anualmente no mundo por causa da malária e outros tantos pegam a doença – a quase totalidade oriundos de países ou regiões pobres do planeta. A relação de casos letais/investimento em cura é maior nas doenças que acometem a parte rica da população do que a parte pobre. A pesquisa para a busca da cura do câncer recebe muito mais que pesquisas para doenças causadas por parasitas que afetam bilhões.
E quando uma pessoa que tem acesso a recursos privados de saúde, como eu ou o doutor Drauzio Varella (que pegou febre amarela e narrou a experiência no belo livro "O Médico Doente”), fica ruim, há chance maior de cura do que alguém que depende de si mesmo, do poder público e de suas filas. Pois parte da população vive no século 21 da medicina, enquanto outros ainda engatinham pela Idade Média das esperas em hospitais, dos remédios inacessíveis, da falta de saneamento básico e da inexistência de ações preventivas. Nada de novo.
Na prática, quem consegue jogar xadrez com a Dona Morte e enganá-la por um tempo são os mais ricos, que possuem os meios para tanto. Os mais pobres, por mais que tenham força de vontade e queiram continuar vivendo, não necessariamente conseguem a façanha. Vão apenas sobrevivendo, apesar de tudo e de todos, ajudando com seu trabalho e, algumas vezes, como cobaias, os que ganharam na loteria da vida a terem uma existência mais feliz.
(Adital)
Pensamentando
Cinco objetivos históricos para la construcción de una sociedad mejor
Homar Garcés (especial para ARGENPRESS.info)
Mediante los cinco objetivos históricos que forman parte de su propuesta de gobierno, el Presidente Hugo Chávez ha puesto de relieve asuntos de primer orden que debieran contribuir a una mayor definición de los diversos cambios políticos, económicos, sociales, culturales y militares que han tenido lugar en Venezuela, apuntando con ello a la realización, consolidación y profundización de una revolución socialista inédita y, por tanto, de nuevo tipo que sirva, a su vez, de guía para el resto de los pueblos que luchan por su liberación y su desarrollo integral.
Por eso, el objetivo referido a la independencia no sólo abarca el derecho que asiste a toda nación de existir de manera soberana en el contexto internacional, sino también a lo que la misma implica -de modo general- en el contexto actual cuando el imperialismo yanqui y sus socios de la OTAN pisotean la soberanía de nuestros pueblos para imponerles el control de sus recursos estratégicos, como ocurre con los países del Medio Oriente. Tal cosa no puede interpretarse como patriotería trasnochada, dando por entendido que nuestros países deban plegarse a los dictados imperiales de Washington para acceder a las “bondades” del mercado capitalista globalizado y así “modernizarlos”, tal como se desprende de la oferta demagógica de “progreso” de los sectores contrarrevolucionarios.
Pero ello no sería aún suficiente sino se consigue impulsar, consolidar y profundizar la construcción del socialismo revolucionario, modificando sustancialmente los patrones de conducta y las relaciones de poder actualmente existentes, de manera que correspondan a los esquemas de la democracia participativa. De este modo será posible también construir un nuevo esquema económico productivo, diametralmente diferente al capitalista, y un Estado acorde con las exigencias de mayor participación y de control democrático del poder popular. A la larga, una vez desarrollados estos objetivos históricos, Venezuela se transformaría en un país-potencia económica, política y socialmente que contribuya a la conformación de una zona de paz en nuestra América, en vez de la proliferación de planes y de bases militares bajo la tutela directa del Comando Sur estadounidense. De ahí que resulte fundamental entender que esto responde a la necesidad que del establecimiento de una nueva geopolítica internacional -con un mundo multicéntrico y pluripolar-, que rompa así con la hegemonía mundial impuesta por las transnacionales capitalistas por medio de sus gobiernos y ejércitos imperialistas.
Con el quinto objetivo, se plantea la urgencia que tiene la humanidad de salvaguardar la vida en nuestro planeta, cuestión que nos obliga a proyectar un modelo productivo eco-socialista en el cual predomine la relación armónica de las personas y el medio ambiente por encima del interés comercial habitual. Así, conquistados tales objetivos históricos podrían alcanzarse los niveles de soberanía, de democracia, de cambio económico y de justicia social que aspira el pueblo bolivariano de Venezuela.
(Argenpress)
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Mandela
Parabéns, querido Madiba!
Posted: 18 Jul 2012 01:30 PM PDT
Aniversário de Madiba! O melhor entre os melhores. Aquele que dedicou sua vida a tornar o mundo um lugar melhor para se viver. Primeiramente junto ao seu povo, mas sua luz estendeu-se a todos os recantos, inspirando e fortalecendo a difícil luta pela justiça e igualdade entre os todos os humanos.
Obrigada, Madiba! Sua vitória é inabalável e estará sempre nos impulsionando.
"Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma."
(L. Nassif)
Memória
"Os países sem memória são anêmicos e conformistas"
Em entrevista à Carta Maior, o documentarista chileno Patrício Guzmán fala sobre o golpe contra Allende e a ditadura de Pinochet. E faz uma apaixonada defesa da memória: "Os países que praticam a memória são mais vívidos, mais criativos, fazem melhores negócios, melhor turismo, são mais distintos. Os países sem memória são anêmicos, não se movem, são conformistas, e caem numa espécie de cultura de sofá, gente que está sentada no sofá assistindo a televisão… E não se movem. Acredito que a memória é um conceito tão importante quanto a circulação do sangue".
Redação
São Paulo - Em entrevista à Carta Maior, o documentarista chileno Patrício Guzmán fala sobre as relações entre a direita e a esquerda no periodo do golpe contra o presidente Salvador Allende em 1973 e as medidas tomadas pelo ditador Augusto Pinochet para tentar apagar da história a memória do presidente deposto.
Durante a exibição de seu filme “Nostalgia da Luz” que fechou o evento “Memória e Transformação”, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog e Cinemateca Brasileira, Guzmán falou sobre a importância e necessidade da memória, como instrumento politico de identidade do país e de seus indivíduos. Sua obra, segundo ele, é permeada pela tensão entre memória e esquecimento.
Conhecido por seus filmes sobre o Chile, os anos Allende e o golpe militar de Pinochet, o documentarista, também falou sobre o movimento estudantil chileno, que em suas palavras, “quer não só melhor educação, mas uma sociedade mais humana”. Guzmán ainda falou sobre a mídia e o papel vital do documentário na história de uma nação, “um país sem documentário é como uma família sem álbum de fotografias”.
Veja acima vídeo com a entrevista e, abaixo, a transcrição da fala de Guzmán.
"Eu cheguei muito tarde na política, quero dizer, que quando fui para Espanha para estudar Cinema não tinha uma posição clara. Eu queria mudança, não a mudança radical. Era, se preferir, uma pessoa neutra. Eu me conscientizei estando em Madri, porque a ditadura franquista estava vivendo seus últimos momentos e a Escola del Cine estava no meio da faculdade de Ciências Políticas, de História e Filosofia para chegar até a faculdade tinha que atravessar o campus e via os policiais em confronto com os estudantes, digamos que estávamos em meio um campo de guerra urbana, portanto, foi dentro da faculdade que comecei a entender o que estava passando na América Latina.
Nesse espaço de cultura efervescente que comecei a ter uma consciência mais forte. E quando Allende saiu, eu disse a mim mesmo “tenho que voltar imediatamente, não posso ficar aqui”. Cheguei tarde, cheguei tarde. 4 meses depois que Allende já tinha tomado o poder. Então, os postos já estavam todos ocupados e como não era militante tinha menos possibilidade. Então fui até a escola de Cinema onde tinha estudado no Chile, e disse ao diretor : “O que está passando é tão bonito, tão extraordinário, há uma efervescência tão grande, uma participação massiva enorme que temos que filmar. Imediatamente”
Tratava-se que Allende tinha que renovar o parlamento e a direita queria destituí-lo. A direita pensava que ao obter 60% dos votos e com isso podiam destituir o presidente… Então saímos às ruas e filmamos imediatamente, porque não podíamos não filmá-lo. Bom, Allende conseguiu 43, 44%, ou seja, conseguiu a mais alta votação depois de dois anos de desgastes de um governo chileno. E não puderam destituí-lo, a partir daí a direita entende que precisa dar um golpe de estado, que já não se pode tirar pela via legal um governo popular. E aí eu parei, deixei de filmar e nos reunímos.
Fizemos uma semana de reunião para estabelecer um método de trabalho. Pusemos, fizemos um esquema em cartolinas com os principais problemas, divididos em políticos, ideológicos e econômicos, que é uma análise marxista elementar, então colocamos muitas chaves com tudo o que derivava dali. Se era economia, era a nacionalização das riquezas básicas, a fábrica, a produção, a batalha da produção. Se era ideologia: as rádios, as televisões, os novos partidos da direita etc. E no outro lado, outro esquema íamos colocando o que filmávamos e comparando uma coisa com a outra. O resultado foi um filme com muitos contra-pontos, digo, a uma ação da esquerda uma resposta da direita. A um contra ataque da direito outra resposta da esquerda, o qual era um documentário ideal. Digamos… que haja um diálogo de contrários, se não há diálogo de contrários não existe linha de desenvolvimento. O filme fica monótono.
Era tal a aceleração da história que Allende produziu, e tal a quantidade de acontecimentos que passava que você acreditava que estava vivendo em um caos total.
Digamos que tínhamos que filmar dois rolos (de filme) diários, essa era minha divisão, se de repente sobrava, então teríamos 3 para o próximo dia. E se no terceiro dia havia outro dia ruim, teríamos 4 para uma boa sequência. E assim fomos equilibrando a tal ponto que quando veio o Golpe de Estado só nos sobraram dois rolos, ou seja, quando se acabou o filme, acabou-se o projeto político. Isso foi muito curioso.
O Chile dos anos 70, o Chile Allende é um dos países mais cultos politicamente que existiu na América Latina, com um desenvolvimento, um amadurecimento da esquerda insólito, com um partido comunista de quase cem anos, partido socialista igualmente velho, uma social-democracia avançada,uma esquerda radical interessante e uma leitura política entre os trabalhadores e estudantes alta.
Depois da repressão de Pinochet não ficou nada.
E os dezoito anos de completa amnésia, Pinochet quis fazer tábula-rasa, apagou a história, apagou Allende da história e transformou comunismo, demonizou o comunismo a graus grotescos. Insultou Allende de todas as maneira que quis, disse tudo o que lhe passou na cabeça contra Allende. Quase tudo falso. E deixou o país, portanto, como que em uma espécie de deserto de memória, de recordações políticas até hoje. De tal maneira que a única coisa que temos é um movimento estudantil magnífico, é a quarta geração que já não tem medo, são inteligentes, querem ir adiante, são contestadores e querem não só melhor educação, mas também querem melhor saúde, melhor moradia, melhores condições de trabalho, melhor vida, uma sociedade mais humana. Não lutam só pelos seus.
Mas só dependemos deles, digamos que não há nenhum outro grupo da sociedade que esteja em plano de luta frontal contra a amnésia, contra os torturadores que andam soltos, contra uma justiça lenta, contra uma Constituição que todavia tenha inimigos internos que é um conceito que causa divisão e ódio, contra uma constituição que fala que os mapuches (etnia indígena) são terroristas. Então, há muito coisa a fazer.
A televisão nasceu como o meio mais importante e pedagógico do século XX e foi convertido em um terrorismo áudio-visual espantoso, nossa televisão latino-americana é imoral e insuportável.
Acredito que a memória não é um conceito intelectual, não é um conceito universitário, não é um conceito acadêmico. A memória é completamente dinâmica, digamos, está dentro do nosso corpo. Os países que praticam a memória são mais vívidos, mais criativos, fazem melhores negócios, melhor turismo, são mais distintos, são melhores. Os países sem memória são anêmicos, não se movem, são conformistas, e caem numa espécie de cultura de sofá, gente que está sentada no sofá assistindo a televisão… E não se movem. Acredito que a memória é um conceito tão importante quanto a circulação do sangue.
Existe uma historiografia científica na América Latina que se pode chamar de moderna? Não. Foi a classe alta que escreveu a história a seu próprio gosto, como no Chile. Eu não acredito em nenhum herói chileno. Não acredito em nenhum deles. Tenho certeza que nos mentiram sistematicamente. Como nos mentiram sobre Allende, sobre Balmaceda, sobre tantos outros heróis que tivemos no Chile.
Tem que se começar apoiando uma nova geração de historiadores que revisem o que passou de um ponto de vista moderno… para estabelecer as bases onde nos apoiaremos e ter um plano de fundo de verdadeiros heróis para seguir adiante. Assim como a ecologia não se conhecia há 30 anos, os direitos das mulheres não eram conhecidos, ou não eram respeitados, há 70 anos… Assim como os direitos dos indígenas ou a liberdade sexual não eram reconhecidos.. Hoje em dia a memória chegou ao mundo contemporâneo para ficar. Não é passageira, já está instalada. E vai ficar até que nós mesmos a desenvolvamos. É fundamental.
O documentário é um direito do cidadão. Assim como há um dever público em prover saneamento básico, tem que haver documentários, por lei, por obrigação. É o registro de um país, é o álbum de fotos de um país.
Tradução: Caio Sarack
(Carta Maior)
Poemas
http://revolucaolatinoamericana.blogspot.com/...
Michel Mendes Damasceno 17 de Julho de 2012 22:27
http://revolucaolatinoamericana.blogspot.com/
VOLEMOS, AÚNQUE NUESTRAS ALAS SEAN DE PLOMO
Essa é a poesia de um grande amigo meu, militante do MST e lutador exemplar pela liberdade dos nossos povos.
VOLEMOS, AÚNQUE NUESTRAS ALAS SEAN DE PLOMO
Yo soy tú,
Tú eres yo,
Ella, él y nosotr@s,
Somos Latinoamericanos.
Los frutos de un árbol con hojas que caen y que brotan,
Las flores que colorean la noche roja y negra,
Las calles sin esquinas,
Los campos verdes,
Secos,
Desiertos.
Nacimos de las ciudades que duermen
En fondo de los mares,
Abajo de las tierras.
Las partes del cuerpo hecho en pedazos,
Colorido de rojo, morado y gris,
En cenizas,
El cuerpo que desaparece.
Cantemos el canto de los pájaros enjaulados,
Seamos los que no fueron y no son,
Gritémonos las palabras que no fueron dichas,
Escribamos en las páginas borradas lo que se escondió,
Volemos aunque nuestras alas sean de plomo.
Con la educación,
Con las armas,
Con piedra y palo,
Con música y poesía,
Con amor y utopía.
Con lo que sea seguiremos luchando,
En las trincheras de la verdad.
Nuestra historia es de lucha.
Adelante! Juventud latinoamericana
Ningún paso atrás!
Toda una vida de lucha.
Joelson Santos –MST/PE
Bem aventurados os que tem sede de justiça
revolucaolatinoamericana.blogspot.com
(De um emeio recebido)
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Israel
15 de Julho de 2012 - 20h34
Em Israel, greves de fome de prisioneiros completam dez meses
Cerca de 1,5 mil palestinos detidos pressionam por melhores condições carcerárias e o fim das detenções administrativas, prática condenável do Estado sionista israelense.
O palestino Akram Rikhawi chegou no último sábado (14) ao 94º dia de greve de fome. A situação é grave. Rikhawi sofre de asma e osteoporose. De acordo com exame feito em 4 de julho, o último permitido a médicos independentes, ele está com problemas no coração e nas pernas. Profissionais da organização Médicos pelos Direitos Humanos de Israel (MDH) levantam a possibilidade de o serviço hospitalar da prisão de Ramleh, onde o palestino está detido, ter tratado sua asma com altas doses de esteroide, o que em um longo prazo leva a danos irreversíveis.
Akram “bate o recorde” de Mahmoud Sarsak, o jogador da seleção de futebol palestina que conseguiu ser libertado após 92 dias em jejum. Ambos estão na lista de palestinos que, desde setembro do ano passado, desafiaram a ocupação israelense usando sua saúde em protestos contra a política prisional.
Hoje, ao lado de Akram, Samer al-Barq, no 54º dia em jejum, e Hassan Safadi, no 23º, são os mais recentes manifestantes de um movimento que colocou em evidência a prática israelense da DA (Detenção Administrativa). “A prisão ocorre baseada em material secreto, sem acusações ou necessidade de apresentar provas à Corte. A ordem da DA pode ser de até seis meses e renovada por tempo indefinido. O preso fica sem poder se defender e não sabe quando será libertado”, explicou a diretora da palestina Addameer (Associação de Apoio a Prisioneiros e Direitos Humanos), Sahar Francis ao Opera Mundi.
O conceito da DA foi herdado das Leis de Emergência de 1945, do Mandato Britânico na Palestina, e complementada pela Ordem Militar 1226, de 1988, que permite deter palestinos da Cisjordânia por até seis meses se houver “bases razoáveis para assumir que a segurança da área ou a segurança pública requerem a detenção”. No entanto, a expressão “razões de segurança” em Israel tem contornos pouco definidos e pode ser imputada a terroristas e ativistas políticos, a civis e protestantes pacíficos.
O futebolista Sarsak, por exemplo, foi preso em 2009 quando ia da Faixa de Gaza à Cisjordânia jogar um amistoso. Cruzar as barreiras controladas por Israel parece ter sido seu único crime. Ele ficou preso com base na Lei do Combatente Ilegal (LCI), aplicada a estrangeiros que supostamente têm ligações com organizações terroristas. Como a ocupação formal de Gaza acabou com a retirada israelense em 2005, a DA não é aplicada lá. Em substituição, as autoridades usam a LCI no território palestino. O jogador, que conseguiu um acordo em 18 de junho e foi libertado na terça-feira (10/07), foi o último a conquistar uma vitória individual contra o sistema prisional israelense.
Repercussão das greves
Para a diretora da Addameer, o movimento foi significativo porque colocou o assunto em destaque no cenário internacional. A Anistia Internacional, a ONU e a União Europeia condenaram o Estado israelense. "Devemos levar os casos de DA a instâncias internacionais de alto escalão para promover alguma mudança. Não acho que apenas manifestações de apoio, locais ou internacionais, serão suficientes para forçar Israel a mudar sua política. É preciso colocar mais pressão", opina Francis.
O marco desse movimento, porém, foi a greve de fome de Khader Adnan, um padeiro de Jenin, estudante da Universidade de Bir Zeit e membro da Jihad Islâmica. Ele foi preso em 17 de dezembro e no dia seguinte começou a jejuar. Em 8 de janeiro, as autoridades israelenses definiram sua DA em 4 meses. “Ele foi o primeiro na história do movimento palestino a fazer uma greve de fome que passou dos 60 dias (foi a 66). Adnan estava decidido a continuar a a luta dos presos de outubro”, conta Sahar. Desde Khader, 11 presos fizeram longas greve de fome, incluindo os atuais três.
A "luta de outubro", nome dado ao movimento, é apoiada pela Frente Popular de Libertação da Palestina, de desobediência civil contra as autoridades prisionais israelenses. Como parte da campanha, 100 presos entraram em greve de fome. O objetivo era protestar contra condições inapropriadas de encarceramento, o isolamento extensivo de prisioneiros (alguns há 10 anos) e a limitação a visitas de família. O movimento parecia ter vida curta, pois em 11 de outubro era anunciado o acordo Hamas-Israel para a libertação do soldado israelense Gilad Shalit, capturado em 2007. Em troca, seriam libertados cerca de mil prisioneiros em duas levas.
Porém, a Addameer soltou um relatório no fim de 2011 que desbancava a efetividade do acordo. Nos dois meses seguintes à libertação da primeira leva de 477 prisioneiros, em 18 de outubro, outros 470 palestinos passaram por prisões israelenses. No dia em que a segunda leva de 504 palestinos era libertada, 19 de dezembro, Adnan já estava há dois dias na prisão.
Mudanças
Assim, Adnan deu vida nova ao movimento. A greve de fome chamou a atenção da organização MDH, que hoje envia médicos independentes às prisões para examinar os grevistas. “Os palestinos não confiam e acham que a equipe da prisão é parte do sistema prisional. O exército diz que a relação é ótima, mas ouvimos muitas reclamações", conta Anat Litvin, coordenadora do Departamento de Presos e Detidos da MDH. Segundo ela, os médicos agem de acordo com a Declaração de Malta (da Associação Médica Mundial, sobre pessoas em greve de fome), ou seja, não forçam a alimentação ou tratamento: "Explicamos ao prisioneiro os riscos e as consequências, afinal, eles colocam suas vidas em perigo”, explica.
Após o sucesso de Khader, palestinos deram forma à “Intifada do Estômago Vazio”. Em 17 de abril, foi lançado um movimento de massa que chegou a ter 2,5 mil presos em greve de fome aberta, alguns já há dois meses sem comer, como Bilal Diab e Thaer Talahleh. A possibilidade de um dos palestinos no movimento morrer podia fazer com que o silencioso levante, circunscrito às prisões de Israel, chegasse às ruas. Em 15 de maio, Israel e um Comitê de Lideranças da Prisão fecharam um acordo.
Os presos terminariam suas greves de fome e Israel cumpriria os seguintes termos: fim do isolamento de longo prazo por "razões de segurança"; libertação em 72 horas dos 19 prisioneiros em isolamento; autorização de toda visita de familiares de primeiro grau; formação de um comitê para encontros entre a API e os prisioneiros organizados pela Inteligência Israelense e, para fechar a lista, o fim das prisões por DA ou renovação de ordem para os 308 palestinos atualmente presos por tal política, a não ser que os arquivos secretos contivessem informações consideradas "muito sérias".
O acordo foi feito, mas dois meses depois os termos já viraram letra morta. “Até o momento, não vimos grandes mudanças. Pessoas ainda estão sendo presas sob DA e ordens para presos que já estavam na prisão foram estendidas”, diz Sahar.
Cronologia do movimento:
27 de setembro de 2011 –100 palestinos começam uma greve de fome como parte de um protesto de desobediência civil contra políticas da Autoridade Prisional Israelense.
11 de outubro – anunciado o acordo Hamas-Israel para a libertação do soldado Gilad Shalit. Em troca, Israel liberta duas levas de presos palestinos, a primeira escolhida pelo Hamas (477), a segunda por Israel (550).
17 de dezembro – Khader Adnan é preso e inicia sua greve de fome. Com ele, foi iniciada uma campanha internacional que pedia não só sua libertação, mas a condenação da política de Detenção Administrativa (DA).
21 de fevereiro de 2012 – Adnan chega a 66 dias em jejum em condições graves de saúde e consegue um acordo de libertação com Israel. Outros palestinos entram em greve de fome na esteira do sucesso.
29 de março – Hana Shalabi, após 43 dias em greve de fome, consegue sua libertação. Outros palestinos, como Bilal Diab e Thaer Talahleh, entram em greve de fome.
17 de abril – Movimento de greve de fome em massa é lançada contra a política de DA e as condições dentro das prisões israelenses. Estimativas de que até 2500 presos tenham aderido.
15 de maio –Israel e um Comitê de Prisioneiros fecham acordo. Fica acertado o fim da greve de fome e o cumprimento de demandas dos prisioneiros, entre elas a restrição do uso da DA. Mahmoud Sarsak e Akram Rikhawi continuam em jejum, já que seus casos não foram contemplados.
18 de junho – Sarsak, jogador da seleção palestina, chama atenção internacional e consegue acordo de libertação. Outros dois palestinos, Samer al-Barq e Hassan Safadi, que foram contemplados pelo acordo de maio mas tiveram suas DAs renovadas, voltam à greve de fome e se juntam a Akram.
14 de julho – Akram “bate o recorde” de 94 dias em jejum e corre risco de morte, com problemas no músculo do coração e das pernas. Samer e Hassan chegam a 54 e 23 dias, respectivamente, sem comer.
Opera Mundi
Argentina
Argentina muda currículo militar e inclui textos de opositores da ditadura
Escrito por Da Redação
ArgentinaEx-presos e ex-membros de guerrilhas passarão a ser lidos pelos futuros militares.
Que exemplo... Quando os seus / nossos livros serão lidos na academia militar de Agulhas Negras??
O impulso dado às investigações e aos julgamentos de crimes cometidos pelos militares na última ditadura argentina (1976-1983) é o aspecto mais ruidoso e expressivo do relacionamento entre a Casa Rosada e as Forças Armadas desde que o casal Kirchner chegou ao poder, em 2003. Mas não é o único. Em paralelo e longe dos holofotes, o Ministério da Defesa elaborou, e neste ano começou a implementar, uma profunda reforma da carreira militar, modificando bibliografia, estrutura curricular e incorporando novas matérias e conceitos sobre História argentina, teoria do Estado e direitos humanos.
Entre os novos autores que passarão a ser lidos pelos futuros militares argentinos estão ex-presos políticos e até mesmo ex-membros de guerrilhas esquerdistas como os montoneros. Os antigos inimigos passaram a ser objeto de estudo.
Essa revolução quase silenciosa foi comandada pela ex-ministra da Defesa Nilda Garré, atualmente à frente da pasta de Segurança. Em sua juventude, em meados da década de 70, Garré foi a deputada peronista mais jovem da História do país e, durante a ditadura militar, militou na Juventude Peronista (JP). A ex-ministra desembarcou no Ministério da Defesa em 2005 e demorou alguns anos para conseguir o respaldo e a decisão política necessários para avançar numa mudança inédita e impensável em outros países da região, como o Chile, onde o poder civil não chegou tão longe no controle da estrutura militar.
A reforma começou a ser pensada alguns anos atrás e finalmente foi aprovada no ano passado, já pelo novo ministro Arturo Puricelli, de perfil bastante mais conservador, mas sem o apoio político necessário para desandar o que já fora feito por sua antecessora. A equipe encarregada de discutir e elaborar o conteúdo da reforma foi liderada pela antropóloga Sabina Frederic, da Universidade de Quilmes.
- Um de nossos principais objetivos é formar militares com mentalidade democrática e pensamento crítico - disse a antropóloga ao GLOBO.
Os militares, assegurou Sabina, devem abandonar o pensamento binário ?e entrar em contato com outros pensamentos, que lhes permitam raciocinar sobre realidades complexas?. Todo conteúdo que apresentava uma visão favorável ao terrorismo de Estado dos anos 70 e, também, a políticas neoliberais, foi eliminado. Para Sabina, essa é ?uma reforma integral que inclui matérias teóricas, exercícios de treinamento em campo e regras internas (os alunos passaram a ter mais tempo para ler, entre outras novidades)?, que buscou ?fortalecer a formação profissional dos oficiais?, seguindo exemplos de países como Alemanha, França, Espanha e Estados Unidos. Na visão de Sabina e sua equipe, ?a pobreza intelectual dos militares no passado impediu qualquer tipo de reflexão crítica?.
?Instituição deve refletir sociedade?
- Era necessário democratizar o conhecimento e aproximar os militares do conhecimento que se ensina nas universidades públicas - assegurou a antropóloga.
Sua visão não é compartilhada por alguns professores do colégio militar, como Daniel Romano, que defende ?a preservação do perfil militar da carreira?.
- Não podemos ser a Universidade Nacional de Buenos Aires. Muitos dos autores desta reforma acreditam que todo militar é antidemocrático, e isso não é verdade. Também existe autoritarismo nas universidades públicas - enfatizou Romano, que participou dos debates sobre a reforma, mas defendeu uma posição que terminou sendo minoritária, diante da ala que contava com o aval de Nilda Garré.
De fato, como promovia a equipe de Sabina, foram incorporados textos de autores que há muitos anos são estudados por alunos de universidades públicas de todo o país, como Beatriz Sarlo e Guillermo O?Donnell.
A antropóloga destacou, ainda, a importância de ?promover o respeito pelos direitos humanos, a necessidade de protegê-los e de tolerar pensamentos diferentes?. Em outras palavras, a gestão Kirchner interferiu como nenhum outro governo civil o fez no âmbito das Forças Armadas, para abrir a cabeça dos novos militares e aproximá-los da vida real. Eles passarão a ler obras de cientistas políticos como Pilar Calveiro, uma ex-montonera que esteve sequestrada por um ano e foi torturada na sinistra Escola de Mecânica da Marinha (Esma, na sigla em espanhol), hoje transformada em museu dedicado à memória dos desaparecidos. ?De onde provinha a pretensão dos torturadores de serem deuses? Sem dúvida, da convicção de serem amos da vida e da morte; de fato, eles tinham a capacidade de decidir a morte de muitas pessoas, quase de qualquer pessoa, no marco de uma sociedade na qual todos os direitos foram suprimidos?, diz Pilar, em um de seus trabalhos.
- Até pouco tempo, os militares estudavam a mesma versão da História que defendem ex-ditadores como Videla. A reforma era necessária - comentou Jorge Battaglino, professor da Universidade Di Tella e ex-diretor do mestrado de Defesa Nacional.
Para ele, ?a ideia é que a instituição militar seja um reflexo da sociedade civil?.
- Hoje também temos mais judeus na carreira por que não existe mais um perfil antissemita, mais mulheres (13% do total) e até mesmo a homossexualidade deixou de ser proibida - enfatizou Battaglino.
De fato, dois militares gays, um tenente-coronel e um capitão, cujas identidades não foram reveladas, casaram-se recentemente num cartório portenho, após obterem autorização do Exército.
Nos chamados liceus militares, as escolas que funcionam no âmbito das Forças Armadas, o ensino de religião sumiu do mapa. Segundo Battaglino, a reforma foi bem recebida pela maioria dos militares, com exceção de setores pouco significativos, que não se conformam com a subordinação ao governo Kirchner e acompanham com angústia e preocupação o avanço dos julgamentos a ex-colegas acusados de terem violado os direitos humanos durante a ditadura. Para muitos, comentou uma fonte que conhece o clima nos quartéis argentinos, ?o julgamento dos militares não terminará nunca, e essa situação mancha a imagem de todos, quando a maioria dos que estão na ativa nada teve a ver com as atrocidades cometidas?.
Na semana passada, Cristina anunciou um aumento de 21% dos salários dos militares, num jantar anual com a cúpula das Forças Armadas, um dos poucos eventos em que a presidente se encontra com os oficiais argentinos. Atualmente, a Casa Rosada destina apenas 0,8% de seu orçamento à Defesa, contra 6% injetados em Educação. Para Romano, ?a reforma é importante, mas ainda falta na Argentina uma decisão política de recuperar nossas Forças Armadas?.
Por Janaína Figueiredo
(Rede Democrática)
Ciência
Criado tecido que armazena energia eléctrica
Em breve, acreditam os cientistas, será possível carregar vários dispositivos através da roupa
2012-07-11
Investigadores que realizaram a experiência (créditos: Universidade da Carolina do Sul)
Investigadores que realizaram a experiência (créditos: Universidade da Carolina do Sul)
Uma equipa de cientistas da Universidade da Carolina do Sul (EUA) conseguiu converter tecidos em dispositivos de armazenamento de energia eléctrica. Este estudo pode ser a base para que num futuro próximo a roupa posso carregar telemóveis, tablets e outros dispositivos electrónicos.
A experiência, liderada pelos professores Xiaodong Li e Lihong Bao, é, acreditam, um salto significativo para o desenvolvimento de tecnologias que permitam às pessoas incorporar a electrónica na sua vestimenta.
O trabalho, acabado de publicar no «Advanced Material Journal», revela como os investigadores utilizaram uma simples camisa, embebendo-a numa solução de fluoreto, secando-a e aquecendo-o a temperaturas elevadas. Converteram, assim, a celulose do tecido em carbono, mas sem que o material perdesse a sua flexibilidade.
Descobriram também que se utilizassem pequenas partes de tecido como eléctrodos, o material actuaria como uma bateria eléctrica. Essas fibras foram revestidas com óxido de manganésio, melhorando o seu rendimento, explicou Li em declarações à BBC.
“Todos os dias, vestimos os tecidos dos quais são feitos as nossas roupas. Um dia, estas poderão desempenhar mais funções, como armazenar energia eléctrica que permita carregar dispositivos”. Em breve, acredita o cientista, “veremos no mercado telefones e computadores portáteis que se podem enrolar, mas para que isso seja possível, necessitamos de dispositivos flexíveis para armazenar energia”
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(Ciência hoje)
terça-feira, 17 de julho de 2012
L. Gonzaga
Cem anos de Luiz Gonzaga Imprimir E-mail
Escrito por Roberto Malvezzi (Gogó)
Quarta, 11 de Julho de 2012
Estamos celebrando aqui no Nordeste os cem anos do nascimento de Luiz Gonzaga. Nasceu em 13 de dezembro de 1912. Além da dimensão artística, é indubitável o papel de sua música na difusão do imaginário sobre o Nordeste, inclusive do ponto de vista ambiental e social.
Fiz com Targino Gondim e Nilton Freitas o CD “Belo Sertão”, numa tentativa de valorizar a importância social da música de Luiz Gonzaga. Fizemos um diálogo de composições como o pout pourri de Asa Branca (Asa Branca, Triste Partida e Volta da Asa Branca), Súplica Cearense, Jesus Sertanejo, Riacho do Navio, etc. Fomos dissecando o que significa cada uma dessas músicas no contexto, por que elas existem, qual a razão de tanta celebridade desses clássicos nordestinos. Ao mesmo tempo, na lógica da convivência com o semiárido, compusemos – inclusive com outros compositores - Água de Chuva, Beleza Iluminada, Belo Sertão, Boato Ribeirinho, Estalo de Fogueira e outras.
Curioso como esse trabalho se difundiu no Nordeste muito mais nas escolas, universidades e setores da educação popular que propriamente no mundo do show business. Há inclusive monografias de mestrado estudando o semiárido a partir da música, influenciadas pelo que viram e ouviram no CD.
Foi Luiz Gonzaga, junto com seus poetas como Zé Dantas, Patativa do Assaré e Humberto Teixeira – muitos outros - que divulgaram o sertão nordestino que está no imaginário do povo brasileiro. Claro que pintores como Portinari, poetas como João Cabral de Melo Neto, romancistas como Graciliano Ramos, dramaturgos como Ariano Suassuna se somaram nessa divulgação, mas como uma crítica à crueldade da fome e da sede que pairavam sobre o semiárido.
Hoje temos a convivência com o semiárido. Acabamos com as grandes migrações, as frentes de emergência, a mortalidade infantil, os saques. Mesmo numa seca como essa, a tragédia social já não reina como nos tempos da “Asa Branca”.
A música de Gonzaga continua viva por ser uma obra prima da cultura popular, mas a nossa realidade mudou. Há muito por caminhar, mas grande parte do caminho foi feito. Gonzaga gostaria de ver a volta de grande parte dos migrantes nordestinos para o Nordeste.
Sem perdermos nossas raízes culturais, principalmente a musical, hoje já podemos fazer novos baiões, novos xotes, novos rastapés, um novo forró, para a alegria nordestina que nunca morre.
Nesses cem anos de nascimento de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião vai fazer a festa no céu enquanto nós a faremos aqui na Terra, até o dia que Deus permitir.
Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
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Literatura
Little Chandler, um dublinense
por Larissa Couto em 09 de jul de 2012 às 18:54
Uma pequena análise para o conto "Uma Pequena Nuvem" de James Joyce, do livro "Dublinenses".
James Joyce, dublinense de nascimento e um dos maiores escritores do século XX escreveu alguns contos aos quais intitulou de "Dublinenses". Contos escritos em inglês e publicados em 1914, "Dublinenses" são quinze contos que enfocam diversos assuntos sobre Dublin e seus habitantes, suas vidas e escolhas, a infância e a morte, a religião e a paixão. O estilo de Joyce nesse livro de contos é o realismo neutro, já que tenta revelar os dublinenses por meio de um espelho bem polido sem linguagem emotiva ou tendências moralistas.
Thumbnail image for james-joyce.jpg
O cotidiano do dublinense Little Chandler é pacato, até a chegada de seu velho amigo Gallaher, um dublinense que venceu na vida. Após oito anos sem ver esse amigo, Little Chandler repensou sua vida, aqueles oito anos. "E como sempre acontecia quando pensava na vida, ficou triste". Chandler era chamado de little por, apesar de ter uma estatura normal, "dava a impressão de ser um homem pequeno". O reencontro com Gallaher no bar lhe dava um novo frescor, lhe trazia de volta a vontade de escrever suas poesias, de ser artista, de ir embora de Dublin, de ser talentoso, receber boas críticas. Ele percebera que não era tão velho, tão temeroso, tão frágil, era preciso audácia, pensava ele, para vencer na vida. Gallaher poderia ajudá-lo, publicar um de seus poemas em um jornal londrino. Ele sabia que não seria popular, mas seria capaz de expressar sua melancolia em versos e conquistar um pequeno público, alguns críticos, ser um poeta.
Ao rever Gallaher, ao ouvir sobre seus oito anos fora, sua vida agitada, sua audácia, viu-se retornando à realidade, contou sobre sua vida, sua esposa, filho, viu sua natureza sensível ser abalada pelo contraste entre suas vidas. Little Chandler pensou na inferioridade do amigo em termos de nascimento e educação, mas ele sabia que seu impedimento era a "desafortunada timidez", o que seu amigo não possuía. Ele queria reafirmar sua virilidade, queria vingança. Chandler disse ao amigo que um dia "colocaria a cabeça no saco, como todo mundo", irá casar e ter filhos, se acomodará. Gallaher diz que o dia que casar não será por romantismo, mas por dinheiro, e que não tem pressa, Little Chandler apenas diz que o amigo ficará rançoso.
Little Chandler em casa, uma criança nos braços, olhou os olhos de sua esposa na fotografia, olhos calmos, como o irritavam, sem paixão nem enlevo. Viu o ressentimento crescer dentro de si, tentou ler alguns versos, a criança acordou, chorou, os berros lhe feriam os tímpanos, a esposa entra em casa e pergunta o que aconteceu, ele apenas chora. Chandler envergonhado e com lágrimas de remorso se afasta.
A vida que lhe parece vigorosa, na espreita por sua audácia, sua vontade, sua arte cresce a cada passo ao encontro com seu amigo. Força e timidez não combinam, ele pretende largar a segunda ao ir embora de Dublin, lugar onde nada acontece. Ele quer arte, poesia, quer viver de sua melancolia traduzida, vê no amigo a oportunidade. Com a mesma força que é arrebatado pela emoção do querer, abala suas esperanças na melancolia não tão artística de sua realidade confrontada com a de seu amigo. Vê como chegou até aquele ponto, foi por timidez, tristeza, fragilidade, sensibilidade, falta de virilidade. Tinha boa educação, mas faltava atrevimento, ousadia. Seu amigo era o que queria ser, mas percebeu que para ser assim, devia assumir o caráter cosmopolita de seu amigo, sua "imoralidade", seu pequeno talento, sua personalidade vivaz. Era muito a abdicar, transformar-se em tudo que quer e não pode ser, sua sensibilidade o fragilizava, sua melancolia o destruía a cada dia de tristeza e medo das vielas escuras que pensava vencer a passos largos. Não era poeta, não conseguia sequer ler poesia. Chandler estava amargurado e envergonhado, mas sua vontade não conseguia libertá-lo, ao contrário, aprisionava-o. O abatimento lhe enraivecia, queria paixão, queria escrever suas paixões, mas era muito para ele apaixonar-se, ele não entendia como vivia sem paixão, mas escolhia o caminho da normalidade, da moralidade, da vida ao oposto do que desejava, isso o abalava. Sua tristeza não era poética, era real, real demais para ser versificada. Ele queria sentir mas tinha medo. Queria sair de Dublin para ser ele mesmo, mas ser ele mesmo era o que já estava sendo, e não lhe agradava. Uma pequena nuvem não transforma o céu em tempestade. Como lê-se em Aristóteles, segundo o caráter, as pessoas são tais ou tais, mas é segundo as ações que são felizes ou o contrário(Arte Poética, 2005, p. 25).
larissacouto
Artigo da autoria de Larissa Couto.
Estudo para ser Filósofa, Leio para ser escritora e Penso para ser eu mesma - ou ao contrário. .
Saiba como fazer parte da obvious.
Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/transfigurar/2012/07/little-chandler-um-dublinense.html#ixzz20GouU8j3
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Mulheres
Mulheres de Atenas – Chico Buarque de Holanda
por Laís Locatelli em 08 de jul de 2012 às 19:39
Mulheres de Atenas é uma música brilhante de Chico Buarque. É uma música única e profunda: Chico nos pede para olharmos para nós mesmas, para refletirmos, para enfrentarmos nossa estrutura de valores e nos questionarmos se somos mulheres de Atenas. E nos pergunta: Estão vendo que é de verdade o que vocês pensam que é de mentira?
A música é o palco onde se expressa o ritmo social: nela encontramos os valores, aceitos ou impostos, que regem todas as nossas relações. Encontramos os modelos: o que entendemos por heróis e por anti-heróis. A música é a grande foto do contexto onde ela nasce. Apresenta o que nós mesmos gostamos, respeitamos, desejamos...E o que já não aceitamos. Ousaria dizer que a música e o direito são medidores e tradutores de nós mesmos e dos nossos limites.
Mulheres de Atenas é uma música que Chico escreveu, com a magnificência que só um gênio da MPB poderia fazer, transcrevendo para um pedaço de papel um pedaço de nós, mulheres do Brasil, mulheres do mundo, mulheres de Atenas. Essa música sempre me provocou arrepios. Arrepios de nostalgia, um quase sofrer por compaixão, porque as mulheres de Atenas são atemporais e se encontram em todos os espaços.
A música é um pedido: Desperta mulher de Atenas! Te liberta, não te deixe secar. A letra é brilhante, a estrutura medieval é riquíssima e a melodia parece adentrar pelos poros.
Chico faz uma costura entre a Ilíada e a Odisséia, ambas de Homero, duas das maiores obras de todos os tempos. Trata especialmente de Penélope e de Helena de Tróia, dois símbolos de mulheres.
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Penélope, mulher de Ulisses, herói de Odisséia, como símbolo de fidelidade e dignidade frente a seu amado. Ela o espera durante os 20 anos de sua ausência.
Helena, que desperta a paixão de París, filho do Rei de Tróia, por quem é raptada deixando para trás Menelau, rei de Esparta, deu origem a guerra de Tróia e é o símbolo da beleza. Ela mantém o encanto sobre os homens, despertando o desejo deles de regressarem: “quando se entopem de vinho costumam buscar um carinho de outras falenas. Mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas Helenas”.
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Não é necessário ser um doutor em “direitos das mulheres”, como eu me ocupo em ser, para compreender uma parte repulsante da nossa história – a nossa como um todo, desde sempre, em todos os lugares e culturas – de posição e função de mulher “coisificada”. Especialmente as mulheres de Atenas de hoje, que se colocam ou se deixam colocar na posição das mulheres de Atenas: aceitam ser, mesmo que não sejam mais obrigadas, mulheres no molde de Atenas, da Grécia antiga. Ou seja, mulheres que “vivem, sofrem, despem-se, geram, temam e secam”, que “não têm gosto ou vontade, nem defeitos nem qualidade. Têm medo apenas”.
Os valores cravejados na cultura contemporânea ainda são maculados com uma imagem de mulher perfeita nos moldes do patriarcado. “Uma mulher boa”, que cuida dos filhos, do marido, que trabalha fora, que tem renda, que seja feliz, que aceite, que não conteste, que se faça bela. Resumindo: a beleza, assim como a de Helena, para manter o amor do seu amado, e a fidelidade, como a de Penélope, para ser “digna” do amor dele.
Abrir mão do seu próprio ser como sacrifício legítimo para a função social que exerce. Essa é a grande ironia. Mulheres de Atenas é uma música pautada na ironia: “Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas”. Quer dizer justamente o contrário: Cuidado mulheres, para não caírem no modelo das mulheres de Atenas! Mirem-se no exemplo e façam o contrário! Para aquelas que não se dão conta que vivem nesse modelo de séculos atrás, se deixando secar por seus amores, para que assim sejam amadas ou dignas, mesmo que esse amor seja só delas para eles.
Os homens de Atenas, ironicamente enaltecidos por Chico, os heróis bravos, orgulhosos e poderosos, guerreiros e procriadores, que se deliciam com as falenas (prostitutas, sereias...) são na verdade aventureiros infiéis e ausentes, muitas vezes agressivos, violentos e irresponsáveis.
Essa suposta supremacia masculina é resultado de uma distorção de valores. Uma divisão sexista, com leis que até pouco tempo atrás protegiam o homem como senhor da verdade e da honra, um direito que ainda está engatinhando para deixar de ser discriminatório e que foi mantenedor de uma cultura Ateniense.
É a nossa MPB, nossa música popular brasileira que pede para nós mesmas deixarmos de sermos mulheres de Atenas e que tem a sensibilidade de sentir que há muitas mulheres de Atenas em terras canarinhas. A música suplica, em nome de todos, para as mulheres de hoje: não se deixem secar!
Não haverá mais nenhum homem de Atenas, aventureiros infiéis e ausentes, agressivos, violentos e irresponsáveis, se não houverem mais mulheres dispostas a serem mulheres de Atenas.
laislocatelli
Artigo da autoria de Laís Locatelli.
De alma cigana, de curiosidade espontanea...Uma leitora incansável que crê no ser humano: somos bons e maus. Isso é ser completo. .
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