gora, turcos esnobam Europa
Publicado em 5 de dezembro de 2011 por Antonio Martins
—Em Istambul, ponte sobre o estreito de Bósforo, que separa Ásia e Europa
Tratado com desdém pela União Europeia há menos de uma década, país agora volta-se cada vez mais para mundo árabe e Ásia
Para quem ainda não acredita no ascenso das periferias globais e no questionamento crescente ao eurocentrismo, vai aqui mais um sinal. Recente pesquisa de opinião pública na Turquia revelou que a parcela da população que deseja o ingresso do país na União Europeia (UE) tornou-se minoritária. Agora, apenas 38% desejam somar-se ao bloco em crise. Há apenas sete anos, em 2004, o percentual chegava a 73%. A mudança de ânimo entre a população é apenas um entre vários sintomas que revelam o forte deslocamento da Turquia — que talvez possa ser comparado ao vivido pelo Brasil, em relação aos Estados Unidos.
Do ponto de vista diplomático, Ancara assumiu, nos últimos anos, posição cada vez mais independente. Ambicioso, o presidente Recep Erdogan buscou, em 2010 (junto com o brasileiro Lula) uma alternativa às sanções norte-americanas contra o Irã, ao final rejeitada por Washington. Pouco depois, em resposta ao ataque de Israel à “Frotilha da Paz”, deixou a antiga posição de alinhamento com Telavive no Oriente Médio. Em setembro último, foi aclamado por multidões no Cairo, ao defender com ênfase o reconhecimento do Estado Palestino pela ONU. Para muitos árabes entusiasmados com a queda das ditaduras egípcia, tunisiana e líbia, o regime turco é um sinal de que islamismo e democracia não são incompatíveis.
Economicamente, o afastamento também é nítido. Embora 56% das exportações turcas ainda se destine à União Europeia, 20% já são dirigidas ao Oriente Médio (eram apenas 12,5%, em 2004). Além disso, enquanto a UE debate-se entre recessão e risco de depressão, a produção turca (se medida pelo PIB) deverá crescer 7,5% este ano.
O pedido de entrada à UE não foi oficialmente retirado, mas as negociações estão congeladas. Ainda que o ingresso venha a se consumar, é provável que não ocorra nas condições de submissão da Turquia, que prevaleciam no início da década. Com ironia, o ministro turco para assuntos europeus, Egemen Bagis, declarou há dias, ao New York Times, que é o Velho Continente quem deve estar agora ansioso por incorporar um país que tem força de trabalho dinâmica, grande mercado interno (78 milhões de habitantes) e influência regional crescente. “Aguente firme, Europa. A Turquia está chegando para resgatá-la”, disse ele…
(Outras Palavras)
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