domingo, 31 de julho de 2011

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Pensamentando I

A testa enrugada da lei e o olho da rua
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admin
– 07/06/2011Posted in: Posts
Buzz
Num romance finalmente publicado no Brasil, Robert Walser realça apreensões atualíssimas e contraditórias: não conseguir trabalho e sofrer com ele
Por Priscila Figueiredo*, colaboradora de Outras Palavras
“Usar uniforme é algo que, a um só tempo, nos humilha e enobrece. Parecemos pessoas privadas de liberdade, o que talvez constitua humilhação, mas ficamos bem de uniforme, e isso nos distancia da vergonha profunda dos que andam por aí em trajes mais que próprios e no entanto sujos e esfarrapados. (…) Talvez abrigue um ser humano bastante vulgar. Ou talvez corra sangue aristocrático em minhas veias. Não sei. De uma coisa tenho certeza: no futuro, o que vou ser é um zero à esquerda, muito redondo e encantador. Na velhice, terei de servir a jovens grosseirões, arrogantes e mal-educados; do contrário, vou precisar mendigar para não perecer.”
Este é Jacob von Gunten, narrador do romance de mesmo nome de Robert Walser, que o escreveu em 1908 e que apenas agora chega ao Brasil, pela Companhia das Letras, em tradução muito viva de Sérgio Telarolli. Suíço originário de Biel, cantão de Berna, região de língua alemã, Walser viria a se tornar de fato um zero à esquerda, comendo o pão que o diabo amassou entre trabalhos e bicos de todo tipo, inúmeras mudanças de casa e peregrinações, até poder largar o corpo em uma instituição psiquiátrica, primeiro em Berna, depois em Herisau, onde ficou por 24 anos até morrer. A iniciativa da internação teria partido de sua irmã, assustada com o estado mental do irmão, cada vez mais isolado e decerto mais parecido com a mãe, depressiva crônica, e dois outros irmãos, um dos quais tinha se suicidado. Walser tinha crises de insônia, grandes ataques de ansiedade e tornava-se especialmente agressivo depois de beber. Isso veio a prejudicar bastante suas relações nos círculos intelectuais alemães dos quais teve inicialmente um reconhecimento expressivo. Entre eles, faltava-lhe urbanidade, e seu provincianismo ficava evidente. Entre seus vizinhos suíços provincianos e pequeno-burgueses, no entanto, devia se sentir um tanto oprimido e estranho.
O trecho acima do livro, que seria como o diário do aluno mais astuto e ao mesmo tempo mais insolente do Instituto Benjamenta, escola de formação de empregados domésticos (Walser de fato passara por um desses em Berlim), apanha muitas de suas ambivalências, de que o livro inteiro desenvolve um vocabulário variado. O uniforme, como o aprendizado na escola, é humilhante, mas é garantia de menos humilhação: Jacob sabe de antemão que não está destinado a uma carreira grandiosa, de sucesso, que seu teatro social não vai se desenrolar no centro dos salões, mas nos corredores, junto às portas, nos cantos, entre os cômodos, isto é, seu teatro é o dos criados. Se algumas vezes pode estar no centro da vida mundana (pela mão de seu irmão, este, sim, bem-sucedido) é como ator que engana os atores da sociedade, os arrivistas, que por um momento chegam a pensar que ele é um deles. Talvez porque, como diz, embora sem convicção, ele traga sangue aristocrático nas veias. Isso não é certo, porém. Talvez Jacob, com seu talento mimético, tenha podido assimilar alguns gestos aristocráticos apenas para não parecer tão plebeu. Ou apenas para se proteger um pouco, pois sabe bem como os vira-latas são tratados.
O uniforme protege, é garantia de que ao menos se está livre da vergonha absoluta dos miseráveis, os inempregáveis, no jargão de hoje. O medo da miséria, das “catacumbas e corredores da pobreza e da humilhação” (como diz numa das passagens mais belas e terríveis do livro) ronda cada um dos alunos, e, assim como o uniforme, o instituto, apesar de seus métodos tolos e emburrecedores, igualmente humilhantes, também é uma espécie de defesa. Embora todos estejam à espera (espera por vezes ociosa, cheia de sonolência, vazio e autocorrosão, que estaria pouco depois no centro de alguns dos importantes romances do século 20, como A montanha mágicae O deserto dos tártaros, espera de uma boa colocação, no caso, não é difícil que algum deles possa abandoná-la e retornar à casa pedagógica, onde as dificuldades e decepções se mostram, em retrospecto, menores que as do mundo.
O Instituto é claramente contraposto à vida e lá tudo é descrito como meio petrificado, meio desumanizado. Ainda assim, os medos produzidos pelo mundo do trabalho (e nesse caso de um trabalho, como o doméstico, em que se está muito mais sujeito aos caprichos de uma autoridade fisicamente mais próxima) fazem Jacob adiar bastante a sua saída de lá. Em certo sentido, ele não sai. Apesar de sua divisão interior, admiração sincera à servidão mais completa e humilde e tendência reflexiva (“pensar é resistir, o que é sempre muito feio e desagregador”), ou talvez por causa dessa divisão, que nos faz rir muito na verdade, de algum modo ele consegue desencantar os poderes dos Benjamenta, os donos da escola, que no início o amedrontam, sobretudo o homem, como um bicho-papão a uma criancinha. Ele consegue ainda, diferentemente dos personagens de Kafka, romper a rede de idealizações e imaginações que cercam o centro do poder, descobrir o segredo de seu gesto caprichoso e de seu olhar distante, tornando-o algo próximo, não tão aflitivo. Ao menos em relação ao diretor ele consegue isso –logo, é como se ele pensasse que é melhor ficar por aqui mesmo, junto a um poder pequeno mas decifrado. Não que a diferença social seja suprimida, não que as cóleras do seu patrão deixem de apavorá-lo; acostumar-se com elas, contudo, já é alguma coisa; e pôde se desenvolver aqui uma relação de dependência mútua, com admiração e ternura recíprocas –é verdade também que com uns tabefes de vez em quando vindos do gigante e uns desaforos sem consequências da parte do anão. É como se este achasse um jeito de se aprumar nessa sociabilidade de tipo ainda paternalista, não obstante sua imaginação e suas leituras do socialismo (referidas no romance anterior, O ajudante) desarranjem um pouquinho a plena subserviência.
Muito de sua dubiedade, entre a servidão voluntária e a fumaça revolucionária, tem o gene daquele tipo de personagem produzido pela literatura alemã, primeiro com o Iluminismo e depois com a Revolução Francesa, e que tantas vezes se confunde com o próprio escritor que o concebeu: um homem culto, pequeno-burguês, entusiasmado com as profundas transformações sociais no país vizinho, entusiasmado com a carreira de um homem comum, plebeu, como Napoleão Bonaparte, mas na verdade de mãos atadas no contexto ainda feudal e socialmente estratificado de seu país. Walser, pode-se perguntar no entanto, não era suíço, e a Suíça não teria desenvolvido uma democracia muito antes da Alemanha? Talvez de Walser se possa dizer o que Lukács disse de Gottfried Keller, de Zurique, a quem incluiu em sua obra Realistas alemães do século 19: “Ele era um escritor alemão do mesmo modo que o genebrino Rousseau era um escritor francês”.
Jacob Von Gunten, mais ainda que O ajudante, também traduzido entre nós (editora Arx, 2003), e talvez mais que por sua prosa curta, não traduzida, vemos claramente a influência tão comentada sobre Kafka. Walter Benjamin, que escreveu sobre ambos os autores, observou ser a obra inteira deste último um catálogo de gestos, tal como aquele que se desenrola no teatro da natureza de Oklahoma em America e no qual, à semelhança do teatro chinês, a ação é dissolvida no elemento gestual. Em Walser parece que estamos no começo dessa dissolução em gesto: “Depois, toquei a campainha, e uma criatura simiesca abriu-me a porta. Era Kraus. Naquele momento, tomei-o simplesmente por um macaco”, “os senhores educadores e professores estão ou dormindo ou mortos; ou parecem estar mortos, ou petrificados”, “Fiz uma profunda reverência, quase até o chão, ante a criatura que já não me dedicava atenção nenhuma”, “sempre enfureço um pouquinho a testa enrugada da lei; depois, tento acalmá-la”, “Bastante divertidas são nossas orelhas. Elas mal ousam ouvir com atenção. Sempre se contraem um pouco, receosas de que alguém as puxe de repente, por trás, em sinal de advertência”, “O Sr. Benjamenta é um gigante, e nós, pupilos, somos anões (…)”, “Depois, rastejei de volta para o instituto e para o meu uniforme de pupilo”. Nossa atenção é conduzida da ação, mais abstrata, para uma imagem bastante concreta, como num close-up: testa enrugada, orelhas um pouco contraídas, macaco. A percepção do leitor retém a sobrancelha levantada, a gesticulação de um chimpanzé, o rastejar de um lagarto, as orelhas meio caninas dos alunos, a mágica desproporção física de um gigante, ainda que o mundo em questão não seja mítico ou mágico, não seja um mundo com seres híbridos, em que seres humanos podem virar coisas, animais… Não será mesmo? O efeito final da escrita produz essa dúvida no centro da representação de um ambiente na verdade bastante convencional.
O que são essas rugas, essas mineralizações das ações? Quando ele fala em “testa enrugada da lei” vejo nessa testa não só as rugas da autoridade que ele insulta às vezes, nuns arroubos de revolução, como ele mesmo diz, mas os sinais de pânico no rosto e no corpo de quem está submetido a ela. A expressão sintetiza o temor primitivo de ambos os lados: o de perder a autoridade e o de ser engolido por ela. Esse romance talvez seja, como nenhum outro de que me lembro, um catálogo de apreensões e profundas inseguranças, a começar pelo receio de não conseguir trabalho, “colocação”, e o receio de, tendo-o, não suportá-lo, por excessivo ou por psicologicamente opressor. Pois é preciso lembrar que nessa época ainda não havia se constituído na Europa a rede de proteção que caracterizaria o Estado de Bem-Estar Social nos países capitalistas, consolidado no início da Guerra Fria, no fim da qual se inicia o processo de seu desmonte, nitidamente acelerado em certas paragens com, ou sob o pretexto, da crise financeira de 2008 – os 40% de desemprego entre os jovens na Espanha, as reformas da previdência, o aumento de horas de trabalho etc. que o digam. O medo do olho da rua e da miséria – e o medo de mais pressão e capricho no mundo do trabalho – parece que se alastra. Por aí já se nota o quanto essa obra nos serve neste momento.

Priscila Figueiredo é poeta e ensaísta. Tem graduação em alemão e português na USP, onde faz o pós-doutorado na área de Teoria Literária. É autora de Em busca do inespecífico (ed. Nankin, 2001) e Mateus (editora Bem-te-vi).
(Outras Palavras)

Pensamentando

Ivan Lessa: Oito copos de água

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil
Atualizado em 18 de julho, 2011 - 05:34 (Brasília) 08:34 GMT
Exatamente. Oito copos de água. É o que médicos e a lenda urbana recomendam para o bom funcionamento do corpo humano.
Nós todos, a humanidade, para sobrevivermos, precisamos de oito copos de água (cada um de 8 onças líquidas) por dia. A isso chamam de “a lei dos 8 x 8”.
Não me canso de ver gente, principalmente agora, no verão, carregando sua garrafinha, ou garrafona, de água na mão. Nas ruas, teatros, cinemas, na condução, onde estiverem.
Há inclusive, pegando uma bela carona na superstição (já chego lá), cinturões especiais de fino material e acabamento, muitos de grife, que vêm com o espaço para encaixar aquele que já foi o “precioso líquido” e hoje substitui, com desvantagem, creio, o cigarrinho ora proibido.
Os médicos recomendam os tais “8 x 8”. Aqueles mesmos senhores que não sabem o que é nem como atua no organismo humano a aspirina.
Felizmente, como em toda profissão, há, aqui e ali, lampejos de sensatez. Que é o caso da doutora Margaret McCartney, de Glasgow, na Escócia, que, em artigo publicado há pouco na mais respeitada publicação, talvez mundial, do gênero, o British Medical Journal revelou o que nós, pessoas sóbrias e equilibradas, sempre desconfiamos – mais: sempre soubemos --: qual seja, isso é exagero.
A dra. McCartney vai mais longe, pois como boa escocesa não tem meias-palavras, só palavras completas. Diz ela, a uma certa altura que esses 8 copos de água por dia constituem “um absurdo que chega ao ridículo”.
Enfileirando com o devido rigor sua argumentação, ela afirma o que seus colegas de profissão sempre souberam: não há nenhuma prova científica de que o corpo humano precisa de tanta água por dia. E prossegue dizendo que o corpo humano regula seu próprio consumo de água quando necessita substituir o consumo do fluido em questão.
A ilustre doutora McCartney é definitiva em seu esboço de tratado. O corpo humano quando precisa mesmo de água tem sede. Esse o mecanismo báscio a ser posto em funcionamento.
Tudo depende da atividade em que o indivíduo está envolvido e quanta água contém o que ele ingere na comida. Isso para não falar de fatores como o calor e as condições médicas da pessoa.
Para os que, além de viciados (não há outra palavra) em água, são ainda chegados a uma reciclagem, saibam que 1 tonelada e 500 milhões de quilos de plástico são utilizados pela indústria potável em recipientes plásticos, por sinal de difícil e dispendiosa reciclagem.
Parabéns pois à Volvic e à Evian por contribuir para a ignorância da plebe dita “esclarecida”, para não dizer maníaca também, pelo produto inodoro e insípido que faz, para uns poucos, lucros de milhões e aufere para um dinheirinho razoável para seus acionistas.
Heinz Valtin, fisiologista americano, não encontrou em suas pesquisas, motivadas pelo ensaio da dra. McCartney, nenhuma referência aos tais 8 copos de água diários “imprescindíveis” para nossa saúde.
Apenas que, em 1945, a Junta de Nutrição de seu país opinou (eram mais tolerantes então) que o que comemos já possui os fluidos necessários para o nosso funcionamento adequado.
No que voltamos ao lendário popular. Consta das crendices dos menos dotados de luz que 8 copos de água diários são sensacionais para tratar de infecções do trato urinário e melhorar a tonalidade da pele, além de reduzir as dores de cabeça e auxiliar nos casos de constipação, que, aliás, acrescenta Valtin, os rins cuidam do problema diretinho, sem auxílo de qualquer copo de água de grife ou sem grife.
Portanto, vamos parar de fazer rolar esse aguaceiro desatinado. E, com a devida moderação, optar pela boa e velha água de bica. Que é grátis.
(BBC Brasil)

Janela de Overton

Janela de Overton
:: Acid ::
O termo "Janela de Overton" foi dado em homenagem a Joseph P. Overton, que era vice-presidente do Centro Mackinac para políticas públicas nos anos 90 e criou um modelo que mostra como as opiniões públicas podem ser mudadas intencionalmente e de forma gradual por um pequeno grupo de pensadores ("Think tank"). Ou seja, idéias que antes pareciam impossíveis são plantadas na sociedade e, com o tempo, transformam-se até mesmo no oposto do que era antes. Imaginemos qualquer causa político/social (educação, aborto, descriminalização de drogas, não interessa). Para cada causa há um espectro de idéias que vai de um extremo a outro (do pensamento mais radical ao mais liberal). A Janela de Overton é o leque de idéias "aceitáveis" na sociedade, ou seja, a posição da sociedade num dado espectro.


Quando um Think tank tem de promover uma idéia que está fora do que a opinião pública considera razoável, ela "puxa" a janela na sua direção. Assim, através da sua ação na mídia, vai introduzindo no discurso público idéias a princípio consideradas radicais, impossíveis de implementar, mas que, com a exposição do público a essas ideias, o que era inaceitável passa a ser tolerável, e o que era aceito pode até passar a ser rejeitado.

Podemos ver esse mecanismo em ação agora mesmo, ao assistirmos a uma massificação/exploração da homossexualidade pela mídia, assim como fizeram nos anos 90 com o culto à marginalidade (e uso a palavra em seu sentido mais amplo, do que está à margem). Colheremos bons e maus frutos disso, mas não amadureceremos como sociedade, assim como não amadurecemos em relação às classes sociais, pois não há debate ou esclarecimento, apenas imposição e tomadas de lado. Sem entrar na questão de certo ou errado (isso seria desvirtuar todo o post e olhar pro dedo, em vez de olhar pra Lua), dá pra perceber uma saturação de personagens homossexuais nas novelas, assuntos relativos ao tema nos telejornais, como que empurrando goela abaixo da sociedade algo que até, então, era tabu, num equivalente psicológico do que seria um "tratamento de choque". Tratamentos assim podem até curar os sintomas, mas à custa de recalques e traumas que ficarão adormecidos, apenas esperando um gatilho para explodir.
Existem tantos outros exemplos de manipulação, mas os mais dramáticos são os que levam um país inteiro a uma guerra.

Todo mundo sabe que a guerra do Iraque foi baseada numa mentira (as tais "armas de destruição em massa") mas, o que poucos sabem é que tudo seguiu um script de um relações-públicas de guerra contratado pelo governo dos EUA para controlar todas as informações que apareceriam na mídia (e controlar, assim, a percepção das pessoas). Esse homem é John Rendon. Suas ações foram além de plantar notícias: ele também criou, a pedido da CIA, forças dissidentes DENTRO do Iraque a fim de que depusessem o governo desse país na base da violência. Então se você acha que o enforcamento de Saddam Hussein foi planejado e executado "soberanamente" por iraquianos... bem, se você é um cara que acredita em tudo o que vê na TV, provavelmente deve achar que o David Copperfield é um Avatar!

Rendon também participou do 11 de setembro, trabalhando para o Pentágono no Office of Strategic Influence, cuja missão era plantar notícias falsas e esconder suas origens. Outra missão era monitorar e participar de fóruns e chats em língua árabe (lembrem que a única "confirmação" de que Osama Bin Laden foi morto foi feita num desses fóruns em que a Al Quaeda supostamente participa. A mensagem poderia ter sido escrita até por mim, mas a mídia comprou essa informação como verídica, assim como tem comprado tudo o que o governo americano diz que é pra ser).

Abro um parênteses pra lembrar que esse ano Obama se reuniu com os principais executivos da internet (Google, Apple, Facebook, Twitter, Yahoo, entre outros). Supostamente o jantar era pra falar sobre a geração de empregos, mas, diante dos fatos descritos acima, fica difícil acreditar que o presidente dos EUA se encontraria com os principais outsiders da mídia controlada pra falar de algo tão prosaico.


"Ei, garoto! Sabe aquele recurso de identificar as pessoas nas fotos do Facebook? Eu vejo aí o início de uma grande amizade!"


O "pai" das relações-públicas foi Edward Bernays. Ele cuidou da propaganda por detrás do golpe de estado na Guatemala, em 1954, onde a CIA tirou do poder um regime democraticamente eleito, e também ajudou a criar um sentimento de guerra contra a Alemanha na 1ª guerra (1917). Sua fama foi feita no final dos anos 1920, quando ele conseguiu inverter uma percepção negativa da sociedade (mulheres fumarem era algo grosseiro e masculino) para algo positivo (glamour, elegância) com a campanha dos cigarros Chesterfield. Ele também é o responsável pela percepção de que a cerveja é uma "bebida leve e moderada". Em 1928 ele lançou o livro "Propaganda", que se tornou a bíblia da indústria da publicidade e dos governos ocultos. Não por acaso foi o livro de cabeceira de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista (apesar de Edward ser judeu).

Barack Obama é o maior exemplo de um produto de sucesso das relações públicas. Ele saiu do nada para a presidência dos EUA através puramente da imagem e do discurso, uma imagem - e discurso - vendidos não só para os EUA, mas para o mundo todo, e que geralmente não condiz com suas atitudes (A base de Guantânamo continua lá pra provar). Quem produziu Barack Obama? A resposta visível é o marketeiro dele, Ben Self (que por sinal trabalhou na campanha da Dilma). Mas não responde a QUEM interessa fazer Barack Obama. Esse é um mistério que só pode ser entendido quando acrescentamos um elemento atualmente invisível à nossa sociedade: aqueles que controlam a sociedade.

Edward Bernays fala explicitamente em seu livro "Propaganda":
"Se entendermos os mecanismos e as motivações da mente de grupo, é agora possível controlar e reger as massas de acordo com nossa vontade, sem seu conhecimento".

Em um livro posterior, Edward cunhou o termo "engenharia do consentimento" para descrever sua técnica de controle de massas:
"A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática (...) Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país (...) Em quase todo ato de nossa vida diária, seja na esfera da política ou dos negócios, na nossa conduta social ou no nosso pensamento ético, nós somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas (...) que compreendem os processos mentais e padrões sociais das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público".

Quem controla a mídia controla o poder. É por isso que nosso querido governo nunca desistiu da idéia de controle total da imprensa, mas nisso têm enfrentado violenta oposição da Band e da Globo. Se a história nos ensinou alguma coisa, é que vai ser preciso criar um factóide (algo dramático, de apelo popular) pra se criar, no calor dos eventos, uma censura que não pareça uma censura. Ou seguir o caminho que já está tomando, de ir aumentando o controle do judiciário e ir estrangulando, por meio de processos e proibições (como a do Estadão) o jornalismo inquisitivo, de denúncia. Por outro lado, engana-se quem pensa que a mídia está contra o governo. Porque, ironicamente, a mídia só se torna relevante em seu poder de convencimento quando está aliada ao poder, e o poder está representado pelo governo, que está repre$entado/sustentado na mídia. Essa simbiose pode ser observada na relação estreita da Globo com todos os governantes brasileiros, independente de ideologia.

Um belo exemplo de inversão completa do espectro está na manipulação em massa da esquerda brasileira, que apenas 15 anos antes era intolerante ao extremo com corrupção e falta de ética DA DIREITA, e prometiam fazer diferente, mas uma vez no poder conseguiu implantar em seus eleitores/apoiadores a idéia de que conchavos, propinas e corrupção fazem parte do jogo político, e que é a única forma de se manter a governabilidade. Isso não foi construído do dia para a noite, e sim ao longo do gerenciamento da mídia dos VÁRIOS escândalos em que eles se meteram. Algo que nunca conseguiriam sem o poder e carisma de seu relações-públicas Luís Inácio Lula da Silva ("o cara") que, quando quer fazer publicidade ou apagar algum incêndio, dá entrevistas exclusivas à Rede Globo, que outrora criticava.

Referência:
Designorado: a importância dos extremos;
Edward Bernays: The father of spin
(de um emeio recebido)

Flúor

O flúor e o controle de massa
:: Acid ::
Resolvi ver um pouco de TV, no canal de músicas, só pra relaxar. Impossível. Sinto-me como um alienígena diante de outra civilização.

"Dopamina" Belinda
Quero tomar o remédio ideal
Que libera a minha dopamina
Capaz de sentir que posso te esquecer
Escapando de você apenas essa noite

Foi uma desilusão amorosa
Aproveite o dia sou a ressurreição de hoje

A noite é uma anestesia ohoh
Que me envolve e me dá uma amnésia ohoh
Minha mente dá mil voltas ohoh
Eu tenho que esquecer você hoje
A noite é minha anestesia

Eu não quero mais tragédias na minha vida
Eu prefiro aceitar a solidão
Quer ser a dama das Camélias
E morrer de esquizofrenia

"Onde Estiver" NX Zero
Aonde estiver, espero que esteja feliz,
Encontre o seu caminho
Guarde o que foi bom e jogue fora o que restou

Tem horas que não dá pra esconder no olhar
Como as coisas mudam e ficam pra trás
O que era bom hoje não faz mais sentido

Ainda teve um outro clipe, norte-americano, com o mesmo tema. Embora a letra do NX Zero traga uma mensagem mais madura, a abordagem é a mesma. Três ídolos de três países, e o mesmo tema. Sinais dos nossos tempos. Nos anos 80, a tendência era música de fossa, como "It must have been love" ou "Change of heart". Hoje vivemos a era dos "relacionamentos líquidos", e até "deuses líquidos". É a era do "fast food" ("food" como qualquer coisa de consumo, inclusive pessoas e religião). É a geração Prozac, mais preocupada em manter as aparências e parecer feliz do que realmente conquistar a felicidade. Agora você pode comprá-la, assim como se compra uma ereção com Viagra, uma noite de sono com Diazepan ou uma noite acordado com Red Bull.

Nosso estilo de vida caminha tão rápido que até a carne nós "aprendemos" a comê-la crua, nos restaurantes. Modificamos nossos hábitos alimentares e paladar pra satisfazer uma linha de produção que precisa atender mais clientes em menos tempo - e economizar gás, e vender uma carne que parece maior do que seria se fosse adequadamente assada. Assim, o que era a carne mal-passada de outrora agora é o normal. Daqui a pouco a carne chegará coberta de sangue em nossos pratos, e acharemos isso super normal. Nas churrascarias, já é assim.

Come-se pratos gigantes e gordurosos no restaurante, e se pede um refrigerante "light" sem perceber a incongruência disso. E até mesmo esse refrigerante, que só é "light" porque substitui o açúcar por compostos cancerígenos (como o Aspartame), possui uma quantidade absurda de SAL (sódio), que provoca hipertensão (além de insônia, agitação, palpitações, etc).

Tudo que comemos tem açúcar e sal. Até pão-doce tem um monte de sal! Vivemos entre o doce extremo e o salgado extremo, sem meios-tons. O que estamos consumindo em nossas vidas? O que está acontecendo com nosso "paladar" para relacionamentos, família, amigos, comida, diversão?

Será que isso acontece ao acaso, ao sabor dos acontecimentos? Dificilmente. O status quo sempre foi mantido entre as mais diversas gerações, e os Rockfeller sempre continuarão zelando pra que isso continue assim. Nos anos 60, os adolescentes se revoltaram com a sociedade, com as políticas de guerras, com a desigualdade... o que fizeram? Drogas neles. Os jovens estavam doidões demais pra fazer qualquer coisa efetiva pra mudar o quadro. Nos anos 80, tivemos a ascensão dos filhos desses hippies que, ao contrário dos pais, decidiram mudar o mundo de dentro do covil da besta, mas foram assimilados pelo sistema, numa competitividade infantil de PARECER ser o maior e melhor, estimulada pela cocaína. Agora procura-se liberar as drogas, com apoio de figuras de prestígio (2 ex-presidentes entre eles). Será um movimento surgido apenas da vontade dos usuários de curtir seu "beck"? Dificilmente.

Hoje sabemos que 0,9% do PIB MUNDIAL é composto pela comercialização de drogas ilícitas. Países são dependentes delas pra sua conta "fechar" no final do mês. Os governos estão de olho gordo em cima desse dinheiro, e por isso tentam legalizar as drogas. Não se importam com o fato de que 10% do PIB mundial é GASTO com a dependência de drogas, como álcool, tabaco, anfetamina, cocaína, maconha, etc, pois não são os que lucram com isso que pagam a conta: é o povo com seus impostos. O dinheiro do lobby, da campanha ou da sustentação político/partidária, como é o caso da Venezuela, está garantido. Aqui no Brasil mesmo tivemos o relato da Abin de que o PT receberia 5 milhões de reais pra sua campanha de dinheiro das FARC (ou seja, dinheiro de drogas). Que repercussão isso teve? Nenhuma, assim como o fato de Equador e Venezuela abrigarem os terroristas das FARC nos seus territórios não pareceu sensibilizar ninguém na ONU.

Mas as drogas são apenas uma parte do mecanismo de controle da sociedade. Pra poder empurrar suas idéias de forma mais efetiva, a indústria precisa de uma maioria esmagadora de pessoas simplistas e receptivas (os Homer Simpsons, no jargão do tio Bonner), e precisam garantir que isso se perpetue de uma geração pra outra. É preciso então um veículo que todas as pessoas consumam.

E esse veículo é a água. E o que botar na água para que as pessoas se tornem mais dóceis e receptivas à manipulação? Algo que não levante suspeitas; algo que seja visto como benéfico, e imprescindível. A resposta é o flúor.

O flúor é um gás halógeno, como o iodo e o cloro, extremamente volátil e altamente reativo, daí sua grande facilidade em se combinar a outros elementos. O flúor ingerido é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sua via de eliminação são os rins, responsáveis por eliminarem 50% do flúor diariamente ingerido, e o que sobra tem que encontrar refúgio em alguma parte do corpo, que geralmente é junto ao cálcio de algum dos tecidos conjuntivos. Como os dentes e os ossos são os maiores reservatórios de cálcio, é para lá que o excesso de flúor tende a se dirigir, passando a deformá-los e a provocar o que cientificamente se conhece como fluorose. Disfunções renais, ao impedirem a perfeita eliminação do excesso de flúor, só fazem aumentar os riscos da fluorose.

De acordo com cálculos divulgados em 1977 pelo National Academy of Sciences (NAS), um organismo que diariamente retém quantidades de flúor superiores a 2 mg, ao chegar aos 40 anos, começa a apresentar problemas estruturais como artrite, escoliose, rugas, arteriosclerose etc, pois há uma forte interferência do flúor sobre a síntese do colágeno. Sob condições normais, só o colágeno dos ossos e dos dentes sofre o processo de mineralização, mas em conseqüência dos distúrbios causados pelo excesso do flúor, não só os ossos e dentes podem ser hipermineralizados, como também o colágeno dos tecidos conectivos da pele, cartilagem, tendões, ligamentos, provocando conseqüências das mais diversas, como:
- Rugas na pele e quadros de arteriosclerose.
- Calcificação das membranas interósseas da coluna, cotovelos, joelhos, ombros, etc, levando aos mais diversos quadros de artrite.
- Excesso de rigidez/perda de flexibilidade óssea, aumentando a incidência das fraturas e diminuindo a capacidade de cicatrização dos ossos.
- Fluorose dental, gerada pela deformação do esmalte.
- Fluorose óssea, fluorose esquelética ou osteofluorose, que provoca a deformação da estrutura dos ossos.
- Rompimento de tendões.

Este conhecimento não é nada de novo, pois, em 1936, o Journal of the American Dental Association já alertava:
É crescente o número de evidências sobre os efeitos da intoxicação crônica causada pela ingestão prolongada de pequenas quantidades de flúor... Os registros sobre toxicidade apontam o flúor, o chumbo e o arsênico como pertencentes a um grupo que intoxica a doses baixas.

A ingestão de uma grande quantidade de flúor em um curto período de tempo pode ser letal, e é por isso que pastas de dente vêm com avisos pra não serem ingeridas.
Ainda assim, o Flúor é considerado medicamento pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Só que o limite entre o remédio e o veneno é muito tênue.

Há dados de uma pesquisa na China que indicam que a exposição ao flúor pode reduzir a inteligência das crianças, ou seja, o flúor ainda por cima pode ser uma neurotoxina, como aquele gás que o Espantalho usou na cidade de Gotham, no filme Batman Begins.

Estatísticas de um estudo realizado pelo Ministério da Saúde da Nova Zelândia indicam que nem pra combater a cárie o flúor na água tem servido.

Justamente por ser um medicamento e com contra-indicações, vários países vetaram (ou nunca usaram!) flúor na água. Entre eles Alemanha, França, Bélgica, Finlândia, Dinamarca, China, Holanda e Japão.

O flúor é mais tóxico que o chumbo, cuja quantidade na água potável não deve superar 0,4 partes por milhão (ppm). Mas o nível do flúor na água potável costuma ser de 1,5 ppm. Por que ele é permitido em até 100 vezes mais aqui no Brasil e mais de 260 vezes mais nos Estados Unidos?
"Nações que ainda praticam fluoretação de água deveriam envergonhar-se de si mesmas"
(Dr. Arvid Carlsson, Nobel de medicina 2000)

A razão é que o flúor é um tranquilizante, um narcótico. Em um relatório da Universidade da Flórida é dito: "Uma solução de 0,45 ppm de fluoreto de sódio é suficiente para fazer com que as reações sensoriais e mentais fiquem mais lentas". Uma sociedade de pessoas dóceis é facilmente controlável, e qualquer coisa que digam (como as desculpas do 11 de setembro, ou o enriquecimento do Palocci) são aceitas sem muito (ou nenhum) questionamento.

Os nazistas foram os primeiros descobrir que usar o flúor na água acalmava os prisioneiros dos campos de concentração e tornava as mulheres estéreis. Esse conhecimento foi usado pelos russos e daí repassado para outras corporações através cartel da IG Farben (quando a empresa foi extinta, no fim da 2ª guerra, os americanos e russos pegaram o máximo de patentes que puderam). O fluoreto de sódio está contido em 25% dos maiores tranquilizantes, e um exemplo disso é que o acréscimo de flúor no tranqüilizante Diazepam (Valium) produz um tranqüilizante mais forte, o Rohypnol (Rupinol). Ambos são fabricados pela Roche, uma empresa que era da IG Farben.

Quanto mais você investiga, maior a dimensão que a coisa vai tomando, e você vai percebendo o quanto a herança da 2ª Guerra Mundial (em especial o know-how nazista) influencia até hoje nosso mundo. Seja nos elevadores, nos remédios, nas roupas, você se verá cercado por marcas que, a despeito do que fizeram no passado, continuam sendo líderes e influenciando no nosso modo de vida.
"Aqueles que manipulam esse mecanismo invisível da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder dominante de nosso país... nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas idéias sugeridas, em grande parte por homens de quem nós nunca ouvimos falar"
(Edward Bernays)

"O que o flúor tem a ver com o começo do post?", você me pergunta... eu também não sabia, mas confiei que de algum modo esses temas estão relacionados e (vejam só!) durante a pesquisa descobri que o Prozac é composto de fluoxetina, um anti-depressivo à base de flúor.

Referência:
Documentário "A farsa do flúor";
Veneno na torneira

(De um emeio recebido)

Wikileaks

Wikileaks, Wimbledon e a guerra
Os telegramas do Departamento de Estado estão sendo publicados pouco a pouco, gerando uma fonte permanente de vergonha para o governo dos EUA e inspirando indignação e protestos em nível mundial, já que as mensagens revelam as operações secretas e cínicas da diplomacia estadunidense.
Amy Goodman
Publicado originalmente em Democracy Now

O sábado passado foi um dia ensolarado em Londres e multidões se dirigiram em massa a Wimbledon e à regata anual Henley. Enquanto isso, Julian Assange, o fundador do site Wikileaks.org, dirigia-se de trem de sua prisão domiciliar em Norfolk, a três horas da capital, até o auditório Troxi de Londres, para reunir-se comigo e o filósofo esloveno Slavoj Zizek para participar de uma conferência pública acerca de Wikileaks, o poder da informação e a importância da transparência no sistema democrático. O evento foi organizado pelo Frontline Club, uma organização fundada por correspondentes de guerra, em parte como homenagem aos muitos companheiros mortos enquanto realizavam seu trabalho na frente de batalha. O co-fundador do Frontline Club, Vaughan Smith, olhou o pouco usual céu aberto com inquietude e disse: “os londrinos nunca vão a um evento em um lugar fechado em um dia como este”. Apesar de anos de experiência brindando informação certeira em coberturas no Afeganistão ou no Kosovo, desta vez a avaliação de Smith foi equivocada.

Cerca de 1.800 pessoas assistiram ao evento, prova do enorme impacto do Wikileaks desde que denunciou a tortura e a corrupção utilizadas para derrubar governos.

Assange está na Inglaterra á espera de uma audiência judicial que será realizada dia 12 de julho, na qual se tratará de sua possível extradição a Suécia, o que é requerido por esse país para ser interrogado sobre um suposto caso de abuso sexual. Apesar de não terem sido apresentadas acusações formais contra ele, Assange encontra-se sob prisão domiciliar há mais de seis meses, carrega uma tornozeleira eletrônica e deve apresentar-se diariamente na delegacia de polícia de Norfolk.

Wikileaks foi oficialmente lançado em 2007 e tem como objetivo receber informação secreta vazada mor informantes, utilizando a última tecnologia para proteger a identidade das fontes. A organização vem obtendo um reconhecimento mundial cada vez maior com a sucessiva publicação de grandes quantidades de documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos vinculados às guerras do Iraque e Afeganistão, e milhares de telegramas das embaixadas dos EUA em todo o mundo.

Das partes confidenciais de ambas as guerras, Assange disse que “proporcionaram uma ideia da sordidez da guerra: desde as crianças assassinadas nos postos de controle nas estradas até as milhares de pessoas entregues à polícia iraquiana para serem torturadas, passando pelo que realmente significa o chamado “Apoio aéreo próximo” (CAS, em sua sigla em inglês) e como se realiza o combate militar moderno, e a vinculação disso com outra informação como esse vídeo que descobrimos dos homens que se rendem e são igualmente atacados”.

Os telegramas do Departamento de Estado estão sendo publicados pouco a pouco, gerando uma fonte permanente de vergonha para o governo dos Estados Unidos e inspirando indignação e protestos em nível mundial, já que os telegramas confidenciais revelam as operações secretas e cínicas da diplomacia estadunidense. O “Cablegate”, como foi denominada a maior revelação pública dos documentos do Departamento de Estado na história dos EUA, foi uma das faíscas que incendiou a Primavera Árabe. Os tunisianos e iemenitas que viviam sob regimes repressivos na Tunísia e no Yemen, por exemplo, sabiam que seus governos eram corruptos e cruéis. Mas ler os detalhes e ver até que ponto o governo dos EUA apoia esses ditadores ajudou a iniciar a revolta.

De maneira similar, os milhares de telegramas vinculados ao Haiti analisados pelo jornal independente Haiti Liberté e pela revista The Nation revelaram a ampla manipulação estadunidense da política e da economia desse país. (Esta coluna foi mencionada em um dos telegramas sobre o Haiti, no qual se fazia referência a nosso informe sobre aqueles que criticavam a atitude do governo Obama de negar após o terremoto os vistos de 70 mil haitianos que já tinham sido aprovados). Uma série de telegramas detalha as tentativas estadunidenses de obstaculizar o envio de petróleo subsidiado da Venezuela para proteger os interesses comerciais da Chevron e ExxonMobil. Outros telegramas mostram a pressão realizada pelos EUA para evitar um aumento do salário mínimo no Haiti a pedido de fabricantes de roupas dos EUA. Estamos falando do país mais pobre do Hemisfério Ocidental.

Como consequência do papel desempenhado como redator chefe do Wikileaks, Assange recebeu reiteradas ameaças, inclusive ameaças de morte. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, qualificou-o como “terrorista de alta tecnologia”, enquanto que Newt Gingrich disse: “Julian Assange está envolvido no terrorismo. Deveria ser tratado como um combatente inimigo e Wikileaks deveria ser fechado de forma definitiva”.

De fato, as tentativas realizadas até o momento de fechar o Wikileaks fracassaram. O Bank of America teria contratado várias empresas privadas de inteligência para coordenar um ataque contra a organização que, segundo se diz, teria uma grande quantidade de documentos que revelariam atividades potencialmente fraudulentas do banco. O Wikileaks também acaba de ingressar na Justiça contra a MasterCard e a Visa, que deixaram de registrar as doações realizadas com cartões de crédito por meio de suas páginas web.

O processo de extradição coloca uma ameaça ainda maior para Assange: ele teme que a Suécia o extradite logo para os Estados Unidos. Levando em conta o tratamento recebido pelo soldado Bradley Manning, acusado de vazar muitos documentos secretos para Wikileaks, Assange tem motivos razoáveis para temer. Manning esteve fechado em isolamento durante quase um ano, em condições que, segundo muitos afirmam, são similares à tortura.

No evento em Londres, o apoio ao Wikileaks foi impressionante. Mas Julian Assange não podia ficar para conversar uma vez terminada a conferência. Tinha apenas o tempo suficiente para regressar a Norkfolk e retornar à sua detenção domiciliar. Independentemente do que ocorra a Assange, Wikileaks mudou o mundo para sempre.

(*) Denis Moynihan colaborou com a produção jornalística dessa coluna.

Tradução: Katarina Peixoto

Amy Goodman é apresentadora de "Democracy Now!" um noticiário internacional diário, nos EUA, de uma hora de duração que emite para mais de 550 emissoras de rádio e televisão em inglês e em 200 emissoras em Espanhol. Em 2008 foi distinguida com o "Right Livelihood Award" também conhecido como o "Premio Nobel Alternativo", outorgado no Parlamento Sueco em Dezembro.
(Carta Maior)ik

sábado, 30 de julho de 2011

Chico

Chico Buarque falou por nós
Ruy Castro

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Foi no tempo em que os bichos falavam ― 1966, 1967, por aí. Os meninos do Brasil estavam ouvindo "Lovely Rita", dos Beatles. Mas os mais espertos preferiam "A Rita", de Chico Buarque. As duas canções saíram na mesma época, mas as Ritas eram diferentes. A de Lennon e McCartney era uma guarda civil encarregada de fiscalizar parquímetros. Em suma: inglesa. Lennon ou McCartney ― um dos dois, difícil dizer qual ― está a perigo e a fim de Rita. Convida-a para jantar, o que, devido ao inusitado da proposta, Rita não apenas aceita como ainda paga a conta. Ele a leva em casa, ela o convida a entrar e, quando ele pensa que os dois vão acabar na cama, tem de se conformar em passar a noite conversando na sala com ela e as bolhas de suas duas irmãs. Já a Rita de Chico Buarque era muito melhor. Deu o fora em Chico, foi embora e levou seu retrato, seu trapo, seu prato, que papel, uma imagem de São Francisco e um bom disco de Noel. Não levou um tostão porque não tinha, não, mas causou perdas e danos. Ou seja, era uma mulher de caráter. A Rita dos Beatles era uma pata-choca encalhada. A de Chico era safa, despachada e capaz de uma atitude.

Por que tirar os Beatles do baú para se falar de Chico Buarque? Porque os artigos comemorativos dos seus sessenta anos o têm situado apenas no panorama da música brasileira em que ele apareceu, de um jato, já com sete ou oito canções excepcionais ― "Pedro pedreiro", "Olê, olá", "Sonho de um Carnaval", "Fica", "Juca", "A banda", "Amanhã ninguém sabe" e a própria "Rita" ―, assim de repente, sem avisar. Nenhum outro compositor fizera uma espuma desse tamanho ao surgir.

Mas o panorama da música naquele tempo era internacional e pouco favorável à aparição de artistas como Chico. Os nacionalismos musicais estavam sob o fogo cerrado das multinacionais do disco ― já era uma tentativa de globalização, embora não soubéssemos. Todos os países, mesmo os Estados Unidos, começavam a dar as costas à sua música popular e a se converter maciçamente ao iê-iê-iê, na tentativa de fabricar os seus próprios Beatles ou contrafações baratas. Evidente que o Brasil ― musicalmente um dos países mais cosmopolitas do mundo e já em quarto ou quinto lugar entre os mercados fonográficos ― era um candidato natural a aderir. Pois aconteceu que, enquanto isso se dava no resto do planeta, os jovens brasileiros, mesmo os que gostavam dos Beatles, estavam ouvindo também Chico Buarque. E muitos, principalmente os universitários, só ouviam Chico Buarque.

Mais do que seus companheiros de geração, ele pode ter sido o responsável pelo fato de o Brasil ter continuado a produzir música brasileira. O irônico é que, quando surgiu, Chico parecia um paradoxo ambulante. Muito jovem (22 anos em 1966), bonito (os olhos cor de ardósia já provocavam desmaios, só que em garotinhas), pinta de genro dos sonhos, usava camisas quadriculadas e promovia um boneco de feltro preto chamado Mug, que, diziam, dava sorte. Tinha todas as ferramentas para ser um herói da Revista do Rádio ou da Buzina do Chacrinha, fazendo par com Martinha ou Wanderléa. Pois Chico Buarque, em vez disso, fazia samba.

Não o samba da Bossa Nova, como seria de se esperar de alguém da sua idade, mas o samba tradicional ― música que já era associada aos "mais velhos" e que, com a súbita popularidade do iê-iê-iê gerado por um programa de televisão em São Paulo, parecia condenada ao gueto dos morros e das escolas. Para completar, a temática de seus sambas ― amores de Carnaval, moças suspirando na janela, maridos que chegavam tarde em casa ― também parecia de outra época. Nada a ver com a realidade da sua própria geração, que foi a primeira a se beneficiar da pílula e em que as moças, loucas para se livrar da virgindade, faziam os rapazes de cobaia. Aparentemente alheio a isso como compositor, era como se Chico vivesse e escrevesse em 1930.

Não deu outra. Os "mais velhos", principalmente os críticos ligados ao samba "autêntico", começaram a usar Chico para combater, não o iê-iê-iê, mas a Bossa Nova ou o que restava dela. E ali começou também a mania de esse ou aquele grupo tentar usá-lo como bandeira para afirmar seus pontos de vista.

Nesses quarenta anos de carreira, o que Chico Buarque mais fez, além da música, foi se livrar de tais bandeiras. A primeira foi fácil. Os que queriam transformá-lo no "herdeiro" de Noel Rosa para atacar a Bossa Nova se chocaram quando viram Chico, logo de saída, dormindo com o inimigo. Mas que inimigo? Tom Jobim e Vinicius de Moraes ― logo quem. Assim que o conheceram, Tom e Vinicius se encantaram, viram nele um irmão mais novo e passaram a compor com ele ― o que, pela força musical e poética que os três tinham em comum, era apenas inevitável. Aos que se encontravam com Vinicius nas ruas do Rio, em 1966, e perguntavam, "E aí, Vina, o que há de novo?", o poeta respondia de bate-pronto: "Chico Buarque de Hollanda". E, com Jobim, Chico começou uma parceria que iria render, de cara, a imortal "Sabiá", vencedora do Festival Internacional da Canção de 1968. Aliás, vitória que se deu justamente em cima da simplória, mas infecciosa "Para não dizer que não falei de flores", de Geraldo Vandré, este por sua vez erigido em símbolo da luta contra a ditadura ― o que, por contraste, fazia de Chico um símbolo da "alienação", do conformismo.

Chico Buarque, conformista? Sim, era assim que alguns ainda o viam naquele turbulento ano de 1968, em que se exigia que os artistas tomassem posições "claras" sobre todos os assuntos, do Vietnã à guitarra elétrica e da pílula anticoncepcional à chegada do homem na Lua. A esquerda considerava que suas Januárias e Carolinas eram umas alienadas, porque ficavam na janela espiando a banda passar quando deviam estar nas ruas e nos sindicatos, lutando contra o regime. (Para piorar, o ditador vigente, o marechal Costa e Silva, era declaradamente fã de "Carolina".) Os tropicalistas, por sua vez, viam em Chico o atraso musical e o chamavam de antigo e superado, porque ele não abria mão de fazer sambas caprichados, em vez de partir para o deboche como eles. E os apóstolos do desbunde, que já despontavam dos bueiros, o desprezavam por seu suposto bom-mocismo e por tomar banho todos os dias. Chico nunca comprou essas brigas. Continuou a explorar seu universo lírico (com "Bom tempo", "Noite dos mascarados", "Quem te viu, quem te vê", "Com açúcar, com afeto", "Ela desatinou") e a enternecer os que ainda não se tinham entorpecido pelos dogmas. Sua música falava por si e estava acima de qualquer ideário ideológico, estético ou contracultural.

Mas, como era também inevitável, a ditadura forçou Chico a desafiá-la ― como fez com quase toda a sua geração. Com o endurecimento do regime a partir do AI-5, em dezembro de 1968, a censura começou a marcá-lo em cima, a perseguir suas letras por qualquer bobagem e a tentar tornar sua carreira impraticável. Numa dessas, bateram à sua porta em horas ermas e o levaram ao Ministério da Guerra para uma conversa. Que fim levara o bom moço?

Na verdade, o bom moço nunca existira. Chico foi embora (para a Itália), voltou no pior período (o de Médici, entre 1970 e 1974) e lutou, canção por canção, quase verso a verso, para não ser silenciado. Perdeu batalhas e ganhou outras, e só ele sabe o que essa guerra lhe custou. Mas, por causa disto, foi a nossa vez de usá-lo. A cada samba ou canção novo que soltava, buscávamos sentidos reais ou imaginários nas suas letras e, pela sua engenhosidade e virulência, elas nos vingavam, nos redimiam e nos faziam bem. Nos anos mais sinistros da ditadura, Chico Buarque falou por nós, os covardes ou os que não tinham o seu talento. Não foi o único, é claro, mas era um dos mais visíveis ― e audíveis.

Tudo isso já faz muito tempo. A ditadura acabou há décadas e já acabou tarde. O próprio Chico partiu para outros territórios e é curioso escutar hoje, de novo, suas canções do período. Descobre-se que, naquelas em que percebíamos sentidos ocultos, como "Quando o Carnaval chegar", "Basta um dia", "Gota d'água" ou "Maninha", não há nada, nenhuma mensagem em código, só beleza. Nesse caso, éramos nós, sem saber, que estávamos falando por ele.

E, nas de virulência dirigida e explícita, como "Deus lhe pague", "Vence na vida quem diz sim", "Cálice" ou "O que será", o que restou delas, depois que se evaporaram os inimigos a combater? Ficaram a música, a letra, o acabamento de primeira, o clima, a emoção ― tudo aquilo em que Chico Buarque sempre investiu, alheio à sua ira ou ranger de dentes do momento. Um garoto de quinze anos, que as ouça pela primeira vez e não tenha a menor idéia do que essas canções significaram em seu tempo, ainda assim poderá amá-las ― pela sua inteligência e qualidade lírica intrínsecas, à prova de épocas, folhinhas, relógios.

Nota do Editor
Texto gentilmente cedido pelo autor. Originalmente publicado em edição especial da revista Contigo, em 2004, e posteriormente no livro Tempestade de ritmos.
(Digestivo Cultural)

EUA

El papel imperial de Estados Unidos

Claudio Katz (especial para ARGENPRESS.info)

Este artículo forma parte de un libro de próxima aparición sobre las teorías actuales del imperialismo.

Resumen

El imperialismo contemporáneo se sostiene en la protección internacional que brinda el gendarme norteamericano a todas las clases dominante. Estados Unidos actúa como un sheriff global para confrontar con la insurgencia popular y la inestabilidad geopolítica. Como la primera potencia garantiza la reproducción mundial del capital, obtiene un gran financiamiento externo acumulando desequilibrios, que serían inadmisibles para cualquier otro país. La supremacía del Pentágono determina la gravitación de Wall Street, el dólar y los Bonos del Tesoro.


El estado norteamericano ha internacionalizado su actividad, a través de instituciones que actúan de manera conjunta en la esfera nacional y mundial. Mantiene además, vínculos privilegiados con todas las elites del planeta y armoniza los intereses de las empresas locales y mundializadas.

La supremacía imperial se apoya en una ideología americanista de coerción, que diaboliza a los cambiantes enemigos y naturaliza el ejercicio de la violencia. Este imperialismo cultural se expande celebrando el mercado y exaltando el individualismo competitivo.

El americanismo tiene un doble sustento de belicismo e hipocresía. El uso de la fuerza y la búsqueda de consentimientos se alternan en función de cada coyuntura internacional. Las peculiaridades del imperialismo estadounidense obedecen a un origen no colonialista, que sustituyó el anexionismo por la presión militar y el sometimiento económico.

La efectividad de la superioridad militar estadounidense es dudosa. Existen crecientes contradicciones entre la voluntad, la tentación y la capacidad hegemónica, en un contexto de segmentación económica y fractura social. Cada acción desestabiliza, además, las relaciones de competencia y cooperación con los socios. El imperialismo contemporáneo afronta fuertes desfasajes. La superioridad militar coexiste con gran diversidad de competidores económicos y creciente dispersión del poder político.

El principal sostén del imperialismo contemporáneo es la intervención militar norteamericana. El gendarme estadounidense desenvuelve sus acciones a través de un sistema de bases militares (entre 700 y 1000), distribuidas en 130 países. Desde estas instalaciones resulta posible desplegar acciones bélicas coordinadas, en todos los rincones del planeta. La presencia global que asegura este dispositivo no tiene precedentes en la historia.

El sheriff del planeta

A pesar de contar con el 5 % de la población mundial, Estados Unidos maneja el 40% del gasto militar planetario. Este control indisputado de las fuerzas militares occidentales surgió del desenlace de la segunda guerra. El país emergió como una superpotencia vencedora, encargada de garantizar la supremacía capitalista sobre el adversario soviético. Desde ese momento todos los gobiernos norteamericanos han propiciado algún tipo de tensiones bélicas, frente a cada desafío de algún competidor.

Con esta finalidad priorizan el uso militar de las innovaciones tecnológicas y desarrollan una política de amenazas en el terreno atómico. Mediante estas presiones mantienen la superioridad bélica sobre sus viejos enemigos de la guerra fría y sobre cualquier contendiente potencial.

El militarismo norteamericano es amedrentador y se basa en una cultura de la violencia interna que se proyecta hacia el exterior. La tradición de conquistas fronterizas, el uso habitual de las armas, la privatización de la seguridad y la brutalidad del complejo carcelario signaron la historia de un país, que actúa como sheriff internacional.

Esta supremacía militar constituye un rasgo distintivo del imperialismo contemporáneo, en comparación al precedente clásico. Explica en gran medida la ausencia de conflagraciones inter-imperiales y el grado de asociación mundial de capitales.

La principal función del arsenal norteamericano es garantizar la reproducción capitalista en todo el orbe. Cumple una función de protección, que cuenta con el visto bueno de todas las clases dominantes. Estos sectores observan al garante estadounidense como un respaldo de última instancia, frente a la insurgencia popular o la inestabilidad geopolítica.

Este sostén se materializa en una red de alianzas, que le permite al Pentágono ejecutar sus acciones internacionales a través de organismos formalmente asociados (OTAN). Esas instituciones disfrazan el control norteamericano de las decisiones militares, mediante despliegues de efectivos con máscaras de neutralidad (Cascos Azules).

Este arrollador liderazgo bélico determina la influencia gravitante que ejerce Estados Unidos en los principales organismos internacionales (Consejo de Seguridad de la ONU). Otras instancias más informales (G 20) dependen también de las convocatorias y agendas, que establece la primera potencia.

El Pentágono y Wall Street

El sostenimiento financiero de la estructura militar norteamericana se internacionalizó en las últimas décadas. A diferencia de la posguerra, el complejo industrial-militar ya no cubre sus gastos mediante la recolección de impuestos internos. Como el resto de la actividad estatal, depende de la continuada absorción de los capitales externos, que solventan un déficit fiscal monumental.

La primera potencia socorre militarmente a sus aliados y garantiza la reproducción global del capital. Pero solventa su actividad con préstamos externos y necesita, por lo tanto, exhibir solidez bélica. Esta combinación de exigencias conduce a un reforzamiento constante de la apuesta armamentista, como única forma de asegurar la afluencia de capitales foráneos a la economía norteamericana. La colocación exitosa de bonos del tesoro exige una persistente sucesión de agresiones, que a su vez aceitan la financiación de nuevas matanzas.

Estados Unidos mantiene un lugar preeminente en la economía mundial. Sus empresas lideran numerosos sectores, se encuentran altamente internacionalizadas y comandan la innovación tecnológica. El país cuenta con una poderosa infraestructura, exporta productos alimenticios básicos y preserva el sistema financiero más gravitante del planeta. Pero a diferencia del pasado es también el principal deudor mundial y utiliza su abrumadora superioridad bélica para transferir desequilibrios a otros países.

Este mecanismo opera especialmente en el plano financiero. El potencial militar yanqui brinda seguridades a un sistema bancario de gran proyección internacional. Las entidades norteamericanas fijan las pautas globales no solo por su gravitación específica, sino también por la percepción de solvencia político-militar que transmiten al conjunto de los inversores. La confianza en el Citibank o el Bank of America está muy conectada con la credibilidad que trasmite el Departamento de Estado.

En este mismo cimiento se apoya también la capacidad del dólar para definir tipos de cambio, la incidencia de la Reserva Federal para determinar las tasas de interés y la influencia de Wall Street para fijar la tónica bursátil internacional. En los períodos de crisis esta función de garante del capital se acrecienta y los capitales temerosos emprenden vuelo hacia los refugios que ofrecen el billete, los bonos o las acciones norteamericanas.

Ningún otro país brinda a los capitalistas la dupla de garantías que genera la hermandad entre el Pentágono y Wall Street. En este campo, Estados Unidos detenta una ventaja mayúscula. La supremacía militar es un recurso de mayor impacto general, que la eficiencia de un banco o el rédito de una tasa de interés.

Solo el lugar imperial que mantiene Estados Unidos explica la inusitada absorción de capitales por parte de una economía con altísimo déficit comercial, desequilibrio fiscal, importaciones masivas y alto consumo. Ningún otro país podría sostener esta explosiva mixtura de desajustes.

Los desequilibrios norteamericanos han sido muy útiles para los proveedores y prestamistas del país. Pero han creado riesgosos desbalances, que exigen mayor confiabilidad político-militar en la primera potencia. Nadie vende a un comprador endeudado, ni renueva el crédito a un cliente en rojo, si el adquiriente no cuenta con alguna cualidad que justifique operar en la cornisa. El poderío bélico norteamericano es el principal atributo que explica esa continuidad, especialmente en las últimas tres décadas de neoliberalismo.

Un Estado internacionalizado

Estados Unidos desenvuelve un rol imperial por medio de un estado que protege a todas las clases dominantes del planeta. Ese organismo ha internacionalizado su actividad a lo largo del siglo XX, mediante una creciente simbiosis de organismos nacionales y globales. Esta combinación le permite intervenir directamente en la reproducción mundial del capital, mediante una red de instituciones que nunca operó en las potencias imperialistas precedentes. (1)

La articulación entre funcionamiento interno y coordinación externa se gestó durante la conversión de Estados Unidos en potencia dominante. Los principales organismos del país conectaron el monitoreo de la dinámica local con el sostenimiento del orden internacional e influyeron por esta vía para garantizar el desenvolvimiento global del capitalismo.

Este enlace es ampliamente visible en el terreno militar. En Washington se definen los movimientos ejecutados en bases marítimas y aéreas, que están localizadas en todo el planeta. La OTAN instrumenta las prioridades del Pentágono, la CIA espía a todos los gobiernos y los marines entrenan a efectivos de todos los países aliados. El manejo de casi la mitad del presupuesto bélico mundial conduce a una gestión simultánea de los gastos internos de seguridad y las erogaciones exteriores de defensa. La protección fronteriza está permanentemente combinada con la intervención planetaria.

Este protagonismo global del aparato estatal estadounidense se extiende a todas las áreas de la economía, mediante una administración global de la moneda, las finanzas y el circuito bursátil. La cotización del dólar, las definiciones de la Reserva Federal y el comportamiento cotidiano de Wall Street ejercen un impacto decisivo sobre la coyuntura internacional. Lo que decide un alto funcionario norteamericano afecta a los mercados internacionales.

Este empalme de gestión nacional e internacional en el seno de un mismo estado es más evidente en el terreno geopolítico. El visto bueno o el veto que Washington transmite a sus pares de otros países es siempre crucial. Ese poder puede observarse siguiendo la actitud de los legisladores republicanos y demócratas en el Congreso. En ese organismo se debaten iniciativas para el resto del mundo, con la misma naturalidad que se auspician reglamentos o leyes estadounidenses.

Esta misma postura adoptan los mandatarios norteamericanos a la hora de transmitir consejos, preocupaciones o exigencias a otros países. Frente a cada convulsión internacional, los medios de comunicación priorizan la divulgación de la opinión presidencial estadounidense. Este comportamiento es tan usual, que ya nadie se interroga sobre el carácter anómalo de esa reacción. El escenario inverso de un líder europeo, asiático, africano o latinoamericano opinando sobre lo que debería hacer el gigante del Norte es simplemente impensable.

La primera potencia ensambla intereses nacionales y mundiales, a través de una compleja estructura de asociaciones económicas, geopolíticas y financieras. Estas entidades vinculan al establishment norteamericano con sus colegas de otras regiones, aprovechando la prioridad que asignan las elites de todo el planeta a su relación con Estados Unidos.

La simbiosis nacional-mundial del estado norteamericano cobra forma a través de instituciones económicas (Tesoro, Reserva Federal, Departamento de Agricultura, nexos con el FMI y las multinacionales), militares (Pentágono, CIA, FBI) y culturales (fundaciones, universidades, embajadas). Mediante intensas disputas por cuotas de poder, recursos y personal, estos organismos definen las estrategias que deberán prevalecer en cada circunstancia internacional. Resoluciones decisivas para las marcha de los asuntos mundiales emergen de este proceso de selección de alternativas, al interior del aparato estatal norteamericano.

En los períodos de estabilidad, las disidencias que suscita la adopción de estas políticas permanecen en las sombra o se concilian mediante fórmulas de consenso. Por el contrario, en las coyunturas críticas, las desinteligencias emergen a la superficie y son expuestas públicamente por la prensa, para zanjar la primacía de las orientaciones en disputa.

Este tipo de controversias no guarda el menor parentesco con la vigencia de la democracia, puesto que el debate busca desentrañar la efectividad de las distintas estrategias imperiales. En las discusiones sobre la forma de dirimir una guerra (Vietnam, Irak, Afganistán), nunca se contemplan los intereses genuinos del pueblo estadounidense.

La estructura estatal norteamericana conjuga en forma inédita, la coordinación externa con la cohesión interna. Al cabo de un largo proceso de internacionalización, ese organismo articula el poder nacional con la intervención mundial. Esta acción toma en cuenta también la necesaria convivencia de las empresas locales con las firmas globalizadas. El primer grupo prioriza el desenvolvimiento del mercado interno y el segundo los negocios foráneos.

Ambas fracciones tradicionalmente protagonizaron tensiones, que se reflejaron en políticas de mayor aislamiento o intervención mundial. Desde la posguerra el balance de fuerzas se ha inclinado a favor del segmento globalizado, pero sin neutralizar por completo la resistencia de sus oponentes. Los grupos mundializados actúan dentro de un aparato de raíces locales y amoldan los requerimientos de la acción imperial a esa estructura nacional-estatal.

El impacto del americanismo

Un importante cimiento de la supremacía imperial estadounidense se localiza en el plano ideológico. La justificación americanista del intervencionismo irrumpió en la posguerra, cobró importancia durante la guerra fría y se ha renovado en las últimas décadas. Renueva los mitos que inicialmente contraponían el bienestar y el pluralismo del “mundo libre”, con la escasez y el totalitarismo del “comunismo”. Este contraste entre felicidad norteamericana y pesadumbre soviética endulzaba un estilo de vida occidental, que debía defenderse con la fuerza de las armas.

Estas acciones no tenían el mismo alcance en cualquier punto del planeta. Implicaban cordialidad, complicidad y conveniencia con los aliados de la triada y violencia extrema en el Tercer Mundo. El americanismo ganó influencia mediante este doble parámetro de consideración hacia los socios y brutalidad frente a los enemigos. El consentimiento hacia Europa y Japón permitió concentrar las presiones sobre el bloque soviético y la periferia.

Estados Unidos naturalizó la acción militar para sostener la ilusión de una vida agraciada, mediante la perdurable sociedad que estableció el Pentágono con Hollywood. De este matrimonio surgió la imagen misionera de los marines, como salvadores de una civilización amenazada por cambiantes enemigos. El Departamento de Estado modificó periódicamente la fisonomía racial, idiomática y nacional de los adversarios a penalizar por parte de la sociedad occidental.

Ese relato presentó a la guerra como un devenir inexorable, que requiere heroicidad y patriotismo para alcanzar objetivos supremos. La invasión de países y la masacre de inocentes fueron ocultadas y la violencia se convirtió en un acontecimiento banal. Quedó naturalizada su aceptación como dato invariable, mientras millones de espectadores asimilaban el escenario bélico por repetición audiovisual.

El americanismo es una ideología directamente asociada con la coerción, que disuelve su contenido en la fascinación creada por las imágenes. Esta anulación de la razón, los afectos y el sentido, permite trastocar los enemigos diabolizados. Un día son comunistas, en otro momento son los talibanes y a la semana siguiente le toca el turno a los narcotraficantes.

La americanización del mundo fue logrado mediante la exportación de las mercancías culturales, que comercializan Hollywood, Disney o CNN. Estos productos multiplicaron consumos mediáticos, que sustituyeron los imaginarios tradicionales divulgados por las familias, las iglesias y las escuelas. Cuando este espectáculo se transformó en un negocio comparable a cualquier mega-actividad industrial o financiera, el imperialismo cultural consolidó su influencia, Las audiencias masivas dependientes de la publicidad crearon una masa internacional también sometida al mensaje militar estadounidenses.

A esta penetración contribuyó la universalización del inglés, como idioma de grandes imperios del siglo XIX y XX y como lengua franca de los grupos dominantes. Una variedad mayúscula de individuos provenientes de incontables nacionalidades comparten culturas, entretenimientos, sensibilidades y pautas de consumo definidas en Nueva York, Los Ángeles y Chicago. Esta familiaridad corona, a su vez, la cooptación educativa de estos sectores a los centros académicos norteamericanos. Allí se generan perdurables relaciones de intercambio, dependencia financiera y autoridad intelectual con las universidades del Norte.

El americanismo prosperó también como ideología imperial por su exaltación acrítica del capitalismo en estado puro. Este mensaje es compartido por todas las clases dominantes del mundo, que ponderan el contractualismo espontáneo, las ventajas de la desigualdad social y los méritos de la colonización mercantil de todas las áreas de la vida social.

La empresa es adulada como un campo de cristalización del talento, que permite desplegar el espíritu aventurero de los inversores y la creatividad de los gerentes. Este elogio de la firma es complementado con una veneración del individualismo, como virtud suprema de la personalidad. La acumulación es vista como una larga travesía de capitalistas heroicos, que en el pasado construyeron industrias y en la actualidad forjan redes informáticas. Este progreso es atribuido al reinado del mercado y al ansia de superación, que despierta la competencia por el beneficio.

El americanismo protege estos valores. Generaliza un clima de amenaza latente y consiguiente necesidad de contrarrestar la acción de los enemigos de la libre empresa. Para neutralizar este peligro hay que desplegar marines y bombardear poblaciones ignorantes, que obstruyen el florecimiento de los negocios. Sólo la afinidad burguesa hacia este mensaje explica la internacionalización de una ideología de basamento norteamericano.

El origen estadounidense de esta cosmovisión no es casual. En ningún otro país del mundo florecieron con tanta intensidad los patrones culturales del capitalismo. Sólo allí se forjó una tradición de celebración irrestricta del mercado, bajo el impacto de corrientes inmigratorias heterogéneas, que fueron tentadas por el sueño americano. Este desarraigo facilitó la generalización de creencias en el rápido ascenso social, la primacía del egoísmo competitivo y la ruptura con las costumbres ancestrales de la cooperación solidaria. Los esquemas narrativos simplificados de deslumbramiento capitalista que se desarrollaron en esta sociedad se transformaron en la ideología del imperialismo contemporáneo. (2)

Esta función también obedece a la obsolescencia del viejo discurso colonialista, que reivindicaba la captura de territorios como actos sublimes de nobles misioneros. La opresión de los nativos estaba naturalizada y se identificaban la demolición de la vida local con la superación de la ignorancia. Esa ideología postulaba la superioridad del hombre blanco e impulsaba (con estandartes euro-centristas), la limpieza étnica de poblaciones esclavizadas.

Como las potencias guerreaban entre sí, el desprecio hacia los aborígenes era complementado con fuertes reivindicaciones chauvinistas. Los ingleses justificaban su belicosidad con argumentos de supremacía aristocrática, los franceses con tradiciones de liderazgo cultural y los alemanes con teorías de pureza racial. Cada imperialismo promovía su expansión, alegando alguna virtud singular de su identidad nacional.

El americanismo sustituye esa exaltación de una comunidad occidental frente a otra por un ensalzamiento general del capitalismo. Reemplaza el mensaje colonial por una vacua veneración de la libertad, buscando suscitar identificaciones emblemáticas con los ideales de bienestar y democracia.

Las causas de la excepcionalidad

El americanismo tiene un doble sustento de belicismo e hipocresía. El primer componente estigmatiza al enemigo y el segundo pondera los derechos humanos. Estos pilares provienen de una tradición que combina ambos lenguajes. Los códigos guerreros se inspiran en la política de invasiones que practicó Theodore Roosvelt y la retórica de la convivencia se nutre del legado presbiteriano-liberal de Woodrow Wilson. Lo más común ha sido el pasaje de un discurso al otro, para motorizar la misma maquinaria. En algunos casos se recurre al garrote y en otros al consenso internacional.

Las posturas de vaquero y cruzado religioso corresponden habitualmente a los intereses directos de la industria petrolera y de los contratistas militares. Las exhortaciones pacifistas están en manos de los diplomáticos y los académicos del establishment. Con mutaciones permanentes de ambos sectores se implementan las acciones imperiales.

Los belicistas no ocultan su racismo, ni su desprecio por las minorías oprimidas y utilizan los emblemas misioneros de un país, que consideran destinado a custodiar los valores del mundo libre. La vertiente opuesta pondera las normas constitucionales, enaltece la convivencia y presenta las incursiones militares como actos obligados de contención de enemigos impiadosos. Con esa ideología universalista se difunden actitudes altruistas de auxilio al resto del mundo. Se supone que todas las acciones están motivadas por el idealismo y no incluyen expectativas de retribución por los sacrificios realizados.

Los belicosos predominaron durante las gestiones de Reagan y Bush. Impusieron el retorno explícito de la coerción y la exhibición de fuerza militar, sin muchas consideraciones morales. Reintrodujeron reivindicaciones imperiales explícitas y llamados a ejercer la supremacía global sin ningún tipo de prevenciones.

Los liberales, en cambio, encabezaron los gobiernos de Carter, Clinton y lideran actualmente la administración de Obama. Difunden discursos amigables y promueven un ejercicio de la dominación consensuado con los socios del Primer Mundo. Ensayan una combinación permanente del uso de la fuerza con la búsqueda de consentimientos.

El doble sustento de estas políticas exteriores en gran medida obedece al origen histórico no colonialista del imperialismo estadounidense. Esta peculiaridad se verifica en la forma en que ha sido definido por distintos autores. Algunos subrayan su carácter informal (Panitch) y otros su desenvolvimiento no territorial (Callinicos), siempre distanciado de los patrones clásicos de dominación (Petras). Destacan su prescindencia de colonias fuera del entorno próximo (Wood) y su desapego de los protectorados (Hobsbawm). (3)

Estas peculiaridades se extienden incluso el sistema internacional de bases militares. Estas instalaciones implican una ocupación restringida de territorios y una sujeción política acotada de las zonas aledañas. El imperialismo norteamericano ejerce su control miliar del planeta, sin arrastrar las rémoras del expansionismo europeo de ultramar. Se forjó extendiendo su radio territorial, con muchas anexiones fronterizas y pocas colonias.

El período inicial de establecimiento de dominios directos fue relativamente breve, en comparación a la norma de sometimiento económico que prevaleció desde la posguerra. Por esta razón, las exhibiciones de voluntad conquistadora siempre estuvieron sucedidas por engañosos reconocimiento de la soberanía ajena. La coerción militar mantuvo un equilibrio con las presiones políticas y los imperativos económicos.

Estos mecanismos imperiales se ubicaron en las antípodas del anexionismo, que intentó por ejemplo practicar el nazismo alemán. Los propósitos de conquista norteamericana siempre estuvieron encubiertos con defensas retóricas de la auto-determinación nacional.

El contraste más llamativo es con el precedente británico. Estados Unidos retomó primero el modelo semicolonial, que los ingleses habían ensayado en América Latina, concediendo autonomía política para jerarquizar el sometimiento económico. Cuando la primera potencia alcanzó su status dominante pleno, abandonó todos los vestigios de ese esquema. Esta política es muy distinta a la orientación que mantuvo su antecesor hasta último momento en la India, África u Oriente.

Estas diferencias obedecen a las condiciones en que actuaron ambas potencias. Gran Bretaña se vio obligada a salir rápidamente al exterior para colocar sobrantes industriales, importar materias primas y asegurar su preeminencia financiera ante los rivales. En cambio Estados Unidos forjó su dominio a partir de una base territorial propia de gran extensión. No emergió de una localización pequeña (como Holanda o Portugal), ni mediana (como Gran Bretaña o Francia), sino del enorme asentamiento que poblaron torrentes masivos de inmigrantes.

El gigante del Norte contó con un margen temporal suficiente para ampliar primero su frontera agrícola y desenvolver posteriormente un vasto mercado interno. Siguiendo el mismo ritmo erigió una industria protegida y una banca poderosa. Cuando maduró su retaguardia salió a la conquista plena del mundo.

Estados Unidos pudo expandirse primero en un territorio maleable y diversificado. Desenvolvió un modelo económico auto-céntrico (ligado al mercado interior) y no extrovertido (dependiente del mercado mundial). Luego del triunfo del Norte en la guerra civil apuntaló el proyecto proteccionista contra las tendencias librecambistas del Sur. De allí emergió una solidez industrial, que posteriormente reforzaron las grandes corporaciones, actuando en un mercando integrado con formas de organización vertical.

De este esquema surgió una economía imperial más consistente que el modelo británico de empresa mediana especializada y altamente dependiente de los abastecimientos y mercados externos. El país fue además poblado por inmigrantes atraídos por la movilidad social y desarraigados de todo pasado no mercantil.

Estados Unidos consolidó una superioridad militar que Gran Bretaña no alcanzó siquiera, durante el esplendor victoriano. El dominio bélico norteamericano supera desde la posguerra al logrado por su antecesor en 1830-70. Incluye un control del espacio mucho más significativo que el manejo precedente de los mares. Se apoya en una supremacía global y no debe lidiar con amenazas permanentes de los rivales. El secreto de su dominación radica, en última instancia, en la aptitud para comandar un imperialismo acabadamente capitalista, en la madurez de este sistema.

Capacidad y efectividad

Estados Unidos mantiene una aplastante superioridad militar, pero la efectividad de ese predominio es cada vez más dudosa. El uso de la fuerza está sometido a limitaciones, que generan muchas preguntas sobre la capacidad real de la primera potencia para ejercer el poder global.

Algunos autores retoman distintos estudios que distinguen tres variables: voluntad, tentación y capacidad hegemónica. Evalúan con estos criterios, la fuerza real que puede desplegar el gigante del Norte. Las dos primeras intencionalidades emergen a la superficie cotidianamente, pero su concreción está sometida a crecientes interrogantes. (4)

Estados Unidos ha perdido la superioridad económica contundente que sostenía inicialmente su primacía militar. La productividad y competitividad industrial norteamericana han caído significativamente, en comparación a los promedios de posguerra. Los cimientos del poder se han invertido y en la actualidad las ventajas militares compensan el deterioro económico. La supremacía estadounidense ya no presenta el carácter absoluto e integral que exhibía en la primera mitad del siglo XX.

Este cambio no implica declinación absoluta. Expresa un proceso de reorganización productiva y financiera, que ha segmentado la estructura económica norteamericana. Los sectores internacionalizados ganan espacio en desmedro de las ramas que operan exclusivamente para el mercado interno.

El avance de las empresas mundializadas a costa de las empresas que sólo actúan en el plano local es muy significativo. Los segmentos globalizados que desenvuelven actividades enlazadas con el mercado mundial (aeronáutica, computadoras, electrónica, finanzas) han desplazado a las franjas puramente domésticas. Este viraje produce una fuerte regresión industrial de los sectores y localidades atados a la vieja configuración interna. (5)

La prosperidad de las compañías que actúan en el exterior se afianza a costa de las empresas que han quedado fuera de esa carrera. Por esta razón, las ganancias que receptan el primer tipo de firmas supera ampliamente al promedio nacional y acapara el grueso de los beneficios obtenidos durante la era neoliberal. (6)

La localización externa de estas compañías y su fuerte internacionalización productiva tiene un correlato directo en la mundialización de las finanzas. Los ingresos financieros que obtienen las entidades a través de negocios internacionalizados son también más elevados que las ganancias generadas dentro del país.

Las consecuencias de esta segmentación de la economía sobre el ejercicio del poder imperial son muy inciertas. Pero es evidente que incentivan un despliegue más vasto de intervenciones políticas y militares mundiales, acorde al salto consumado con la globalización económica. Habrá que ver cuál es la factibilidad real de estas acciones.

Estados Unidos necesita reafirmar su liderazgo conduciendo nuevas guerras, cuyos resultados finales nadie puede anticipar. La instrumentación de estas sangrías se ha tornado más compleja con la eliminación de la conscripción obligatoria. Cada agresión externa exige ahora mayor inventiva, despliegue ideológico y acción psicológica por parte del Pentágono. Estas iniciativas son indispensables para preservar cierta tolerancia popular frente a estos atropellos y contrarrestar los temores a una represalia de las víctimas.

Bush introdujo la guerra preventiva para estimular este alineamiento bélico y utilizó el 11 septiembre, como un Pearl Harbor de movilización patriótica. Los especialistas militares complementaron esta política, incentivado expectativas en la concreción de guerras electrónicas sin costos humanos. Con estas fantasías han buscado resucitar el sostén masivo al belicismo oficial.

Pero en los hechos cada nuevo emprendimiento bélico potencia las tensiones internas, especialmente entre los sectores militaristas (interesados en el rédito bélico de los operativos) y los funcionarios del establishment económico (que privilegian las consecuencias sobre los negocios). El primer grupo se guía por proyecciones geopolíticas y metas de acrecentamiento del poder estadounidense. El segundo sector promueve el multilaterialismo y resiste las acciones que afectan la estabilidad jurídica o la obtención de beneficios inmediatos.

La preeminencia de uno u otro grupo siempre ha sido muy variable. En las últimas décadas los militaristas impusieron sus prioridades en Medio Oriente (sostén irrestricto de Israel) y los grupos económicos ganaron la partida en Asia (privilegio de los negocios con China). Pero la balanza entre ambos sectores muta con frecuencia y las posturas en discordia suscitan fuertes choques políticos.

Cada acción militar desestabiliza, además, las relaciones norteamericanas con sus aliados de la tríada. Para ejercer su dominación, la primera potencia debe recrear un equilibrio entre competencia y cooperación con sus socios. Buscando ese balance tolera el desarrollo de fuerzas militares aliadas, mientras fomenta asociaciones militares que no cuestionen su jefatura.

El logro de estos objetivos es muy complejo. Estados Unidos debe cooptar, comprometer y subordinar a sus rivales, sin someterlos por completo. Necesita generar relaciones de aceptación y no de mera imposición. Debe mantener con sus pares del Primer Mundo vínculos de coordinación, que difieran cualitativamente de la dominación impuesta a la periferia. Este balance entre el suprematismo (acciones en detrimento de rivales) y el hegemonismo (iniciativas en cuadro asociado) recrea tensiones constantes.

Un escenario variable

Estados Unidos ejerce un liderazgo con limitaciones y no está en condiciones de actuar con patrones superimperiales de total unilateralidad. Hace valer su superioridad, sin desbordar los equilibrios que sostienen su dominación.

Pero el simple ejercicio del poder conduce a la multiplicación de aventuras con resultados impredecibles. Nadie puede anticipar cómo y cuándo estas acciones conducirán a un final tormentoso, pero esta posibilidad siempre amenaza a una potencia enredada en brutalidades mayúsculas.

La propia supremacía ideológica de Estados Unidos es socavada por esa sucesión de atrocidades. No es lo mismo administrar periódicamente la violencia que justificar permanentemente su utilización. La coerción sistemática tiende a desembocar en aislamiento e impotencia.

Una situación de este tipo fue afrontada por la ideología estadounidense durante la fuerte oleada de cuestionamientos que signó a los años 70. Esta crisis fue revertida con la derechización neoliberal de las últimas décadas, pero un nuevo clima de insatisfacción afecta nuevamente al americanismo

El mayor interrogante es el efecto de estos procesos sobre la propia población estadounidense, que enfrenta un contexto muy diferente al pasado. Los réditos económicos ya no se distribuyen en toda la estructura social y la acción imperial externa tiende a reforzar la fractura, entre los segmentos enriquecidos y las masas pauperizadas.

Esta polarización modifica sustancialmente todos los comportamientos y reacciones. Los pobres, los desocupados y los excluidos aportan ahora la carne de cañón requerida por las multinacionales y las elites de millonarios.

Esta segmentación social socava también la legitimidad política interna de muchas operaciones. No hay que olvidar las limitaciones que tradicionalmente enfrentó un país distanciado del colonialismo clásico, para utilizar masivamente la fuerza en guerras internacionales. Cada acción bélica exige generalizar una motivación especial, que empuje a la población a aceptar esa cruzada.

El imperialismo contemporáneo se sostiene, por lo tanto, en la protección internacional que brinda el gendarme estadounidense a todas las clases dominante. El estado norteamericano ha internacionalizado su actividad y usufructúa de una ideología americanista, que es compartida por vastos sectores capitalistas del planeta. Como la primera potencia garantiza la reproducción mundial del capital, acumula desequilibrios económicos que serían inadmisibles para cualquier otro país.

Pero afronta un escenario de limitaciones al ejercicio de su dominación. Mantiene una superioridad militar abrumadora, que se desdibuja en área económico y pierde solvencia en el campo geopolítico. La capacidad coactiva no implica consistencia para articular coaliciones, ni consenso para ejercitar la fuerza.

Claudio Katz es economista, Investigador, Profesor. Miembro del EDI (Economistas de Izquierda).

Ver también:
- El imperialismo contemporáneo
- "El imperialismo del siglo XXI" (Capítulo I – Parte IV): La teoría clásica del imperialismo
- "El imperialismo del siglo XXI" (Capítulo I – Parte III): La teoría clásica del imperialismo
- "El imperialismo del siglo XXI" (Capítulo I – Parte II): La teoría clásica del imperialismo
- "El imperialismo del siglo XXI" (Capítulo I – Parte I): La teoría clásica del imperialismo

Notas:
1) Esta caracterización expone: Panitch Leo, “The state, globalisation and the new imperialism”, Historical Materialism, vol 9, winter 2001.
2) Esta tesis desarrolla: Anderson Perry, “Fuerza y consentimiento”, New Left Review, n 17, septiembre-octubre 2002.
3) Panitch Leo, Gindin Sam, “Capitalismo global e imperio norteamericano”, El nuevo desafío imperial, Socialist Register 2004, CLACSO, Buenos Aires 2005. Callinicos Alex, “La teoría marxista y el imperialismo en nuestros días”, Razón y Revolución, n 56, Buenos Aires, 2010. Petras James, Veltmeyer, “Construcción imperial y dominación”, Los intelectuales y la globalización, Abya-Yala, Quito, 2004. Wood Ellen Meiskins, Empire of Capital, Verso 2003, (Cap 6 y 7). Hobsbawm Eric, “Crisis y ocaso del imperio”, Clarín-Ñ, 15-10-05. Hobsbawm Eric “Un imperio que no es como los demás”, Le Monde Diplomatique, edición chilena, junio de 2003.
4) Boron Atilio, “La cuestión del imperialismo”. La teoría marxista hoy, CLACSO, Buenos Aires, 2006.
5) Un análisis de este cambio en: Halevi Joseph, Varoufakis Yanis, “The global minotaur”, Imperialism Now, Monthly Review, vol 55, n 3, July-August 2003.
6) Por ejemplo, en el año 2000 las ganancias de las filiales en el exterior de Estados Unidos equivalían al 53% de las ganancias domésticas. Llegaron a esa cifra a partir de un crecimiento regular que comenzó con 10% en 1943. Dumenil Gerard, Ley Dominique. El imperialismo en la era neoliberal. Revista de Economía crítica n 3, 2005.

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PUBLICADO POR ARGENPRESS EN 16:46:00
ETIQUETAS: CAPITALISMO, CLAUDIO KATZ, ESTADOS UNIDOS, IMPERIALISMO, OPINIÓN

Leila Diniz

O cinema, minha subjetividade e Leila Diniz
Sempre andei sozinha. Me dou bem comigo mesma.
Leila Diniz
O cinema é um espaço mediador da minha subjetividade e, acredito, da de uma porção de outras pessoas. Há personagens e/ou atrizes fundamentais na forma como interajo no mundo, como tomo decisões, como decodifico comportamentos e, até, como me relaciono. Volta e meia eu me sinto Dorothy e vou atrás de estradas de tijolos amarelo ou me armo como Margo e digo: “apertem seus cintos, esta será uma noite turbulenta” ou, ainda, solto um scarlettiano: “amanhã é outro dia” e espero a noite das desilusões se fazerem sol.

Leila Diniz em uma imagem do fotógrafo Antonio Guerreiro
Entendendo o cinema como produção humana social e historicamente circunscrita, eu sempre me emociono com filmes das décadas de 30 a 50 que apresentam personagens femininos fortes, consistentes e capazes de me ensinar tanto. Já comecei uma lista com filmes, atrizes e personagens e era assim:
Scarlett O’Hara em E O Vento Levou…é difícil explicar – pra quem não viu o filme – a força, independência, carisma dessa personagem.
All About Eve: um filme em que todos os papéis centrais são femininos e o filme versa sobre carreira, competitividade no mercado de trabalho, maturidade profissinal x juventude, ética…
Johnny Guitar: sempre me parece divertido eu um estilo considerado tão “masculino” como o faroeste tenha um filme protagonizado por duas mulheres como um dos dez melhores na lista de quase todos os críticos deste gênero. Protagonista e antagonista defendem seus espaços com unhas, dentes e balas em um duelo fantástico. Além disso, disputam não o amor de um homem mas seu desejo já que o amor elas dirigem a outros personagens.
Mae West, em todos os seus personagens de alta voltagem sexual. Na década de 30 ela protagonizava, na vida pessoal e nas telas, situações fora do estereótipo, colocando-se em situações onde era o seu desejo que contava e não o desejo do homem. Nunca esqueço de uma cena em eu um vidente dizia: vejo um homem no seu futuro! e ela reclamando: SÓ UM? – isso em 1933;
Katherine Hepburn em A Mulher do Dia, esgrimindo verbalmente com Spencer Tracy; ela mesma de novo com Bogart em Uma Aventura na África;
os personagens de Bárbara Stanwyck e de Irenne Dunne, como em A vida de Um Sonho e Ann Vickers (uma mulher que trepa antes de casar, faz um aborto, depois vira amante de um homem casado, tem um filho dele…isso em 1933, na verdade em 1917 ano de que trata a trama, hein? hein? e ela é a mocinha, tá).
E seguiria neste passo um tempão porque ainda tem a incrível Bette Davis, com seus olhos inesquecíveis e sua paixão pelo trabalho, pelos homens que amou e pelos princípios de liberdade que defendia tão intensamente. Ainda tem a Lauren Bacall deixando Bogart de queixo caído ensinado-o a assoviar, tem Ingrid Bergman e sua Sonata de Outono (além de ser a mulher incrível, uma sobrevivente emocional e uma corajosa e apaixonada hedonista).
Mas eu comecei este texto foi mesmo pra falar da Leila Diniz, que já é da década de 60. Porque um dia eu vi Todas as Mulheres do Mundo e tomei uma decisão: quero que me olhem como a câmera espiava a Leila, com atenção, interesse e deslumbramento. Leila Diniz era o que todas eram na sua época: fez o curso normal e foi professora de Jardim da Infância em um subúrbio. Leila Diniz era o que poucos conseguem ser em qualquer tempo: alguém de bem com seu corpo e com seu desejo. Alguém que se sabia um ser em construção e que o prazer é a melhor argamassa. Leila tinha coragem de dizer o que não se dizia: sou feliz. Sua entrevista ao Pasquim deflagrou a censura prévia no Brasil num decreto conhecido como “Decreto Leila Diniz”.

Matéria do Jornal do Brasil
Gosto de ver Leila Diniz, da naturalidade com que lida com seu corpo, da alegria, da irreverência, do passo firme e leve. Gosto de ler Leila Diniz, de refletir com ela sobre os nossos limites, sobre o amor, sobre liberdade. Gosto de lembrar Leila Diniz e sua gestação, tão dela e tão nossa, tão na rua e tão íntima. Gosto de
rir com Leila Diniz ao lembrar que um coronel – destes de noções arraigadas – reclamou quando Leila recusou dinheiro pra fazer sexo com ele: “pô, Leila, mas você dá pra todo mundo” e ela: “sim, eu posso dar pra todo mundo…mas não dou pra qualquer um”.
25 anos depois da morte de Leila Diniz em um acidente de avião, o JB publicou uma matéria perguntando: “O que você tem de Leila Diniz?”. Agora, quase quarenta anos depois, talvez seja tempo de pensarmos não o que temos de Leila, mas o que podemos aprender…com ela, conosco, com nosso corpo, com o riso.
Autêntica. Espontânea. Divertida. Fácil. Foi isso que aprendi vendo Leila Diniz: bom mesmo é ser fácil e não tem olhar alheio que me tire esta liberdade.
PS. Mais sobre Leila Diniz você lê aqui, no post excelente da Danielle Cony.

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• (Blogueiras Feministas)

Pensamentando

Roniwalter Jatobá: O sonho de Cléo
Numa fria tarde de julho, a dona de casa Cleonice Menezes buscava o fraco calor de um sol ameno no quintal todo acimentado de sua casa, na rua Espírito Santo do Dourado, no Jardim Miragaia,em São Miguel Paulista. Por sobre os muros de blocos nus, vinha o burburinho das gentes simples das moradias vizinhas, mas ela estava só. Como quase todos os dias, aguardava o marido que cumpria o turno de guarda numa metalúrgica em Guarulhos, sem hora de chegada.

Por Roniwalter Jatobá*
Sem filhos, ia completar 50 anos, mas o rosto triste aumentava a idade. À primeira vista, qualquer um imaginava ter duas décadas a mais. A pele clara lembrava um pergaminho antigo, amassado e desbotado pelo tempo. Os cabelos eram brancos como flocos de algodão. Uma vez contou, começaram a clarear quando, numa noite, sonhou que nunca mais veria a terra onde nasceu, e acordou pensando na morte.

– Tão nova e tão acabada — dizia uma amiga, Lenita, quando perguntada sobre a conterrânea que não se adaptara a São Paulo. — Está um caco, a coitada da Cléo.

Cléo nunca pensou em viver numa cidade grande. Morava com a mãe viúva e seus irmãos mais velhos numa casa espaçosa, bem em frente à única praça de Bananeiras, onde durante o dia inteiro ciscavam galinhas e pastavam animais.

Cléo tinha sido bonita na mocidade. Jovens bobões, caras pintadas de espinhas, segundo ela, davam voltas e voltas para passarem em frente à sua janela, tentando ver suas mãos brancas e ágeis tecendo longos bordados num bastidor.

– Não gostava de prosa com aquele grupo de homens sem futuro além do trabalho na terra — disse uma vez. — Sonhava com um ser diferente, vindo de São Paulo, com emprego bem bom.

A vida de Cléo mudou numa festa de Santa Efigênia, em setembro. Neste mês, todo ano, Arnaldo Lopes deixava São Paulo e voltava a Bananeiras. Chegava de ônibus com dinheiro pagando bebida, bem vestido. Entre um gole e outro de cerveja, dizia, sou operário numa fábrica de química. Apontava coisas na prateleira dos bares, dizia, ali tem o suor de minhas mãos. Falava que em São Paulo já arrumava a vida, aqui nem onde cair morto. Pagava mais uma rodada de conhaque Castelo, dizia, sou homem de muita sorte.

Um dia, visitou Cléo, na casa gostavam dele. Trouxe uma lembrancinha. De terno fino chegava todo educado, ela acompanhando o trejeito cerimonioso. Bebia café preparado por Cléo em xicrinhas de porcelana, conversava prosa de São Paulo, se ele quisesse durava noites. Tinha por volta dos trinta anos. Por que não fugir daquele mundo que não tem nenhum futuro?, perguntava-se Cléo. O casamento foi rápido, as férias dele estavam no fim.

Muitos anos depois, as tardes solitárias eram reservadas para lembrar promessas há muito tempo por ele esquecidas ou para reconstruir seus dias da infância. Às vezes, via-se bem velhinha na frente de sua antiga casa, fazendo ainda longos e coloridos bordados. Ou mesmo em demorados banhos no rio, no fim da tarde, no poço das mulheres. Nua em pêlo, sentava numa pedra grande na beira do Aipim e ficava balançando os pés na água tépida que descia em corredeiras.

Fogem as lembranças. Agora, ela entra na casa fria e vazia. Na cozinha, olha as louças limpas, o piso encerrado de vermelho, panelas sobre o fogão. Volta com um copo nas mãos, para o quintal. Muitas vezes se embebedou para as tardes passarem com rapidez. Muitas vezes, ela sabe disso, bebe além da conta.

Uma vez, pediu para trabalhar fora, dar uma ajuda no sustento da casa.

– Nem pensar — indignou-se Arnaldo — Nem pensar.

Tenta divisar um horizonte perdido entre casas e sobrados. Tudo pobre. Estava ali desde 1970 e nunca se acostumara. Quando chegou naquele lugar, as ruas de terra lembravam Bananeiras. Sem reboco ainda, a casa minava água no quintal e o frio era cortante nos cômodos miúdos. Foi arrumando as coisas. Mas, de vez quando, cobrava de Arnaldo uma promessa, sim, uma promessa nunca cumprida.

– Um dia a gente vai — desculpava–se — Quando sobrar um dinheirinho.

Nunca sobrava. Já não acreditava mais na antiga promessa de ir a um restaurante. Por isso, aos domingos, quando se sentia só, muito só como se sente hoje, arrumava a mesa e fazia que entrava num lugar fino até onde chegava a imaginação. Sentava-se à mesa da sala e pedia a uma figura imaginária:

– Garçom, por favor, uma caipirinha. Depois, o senhor traga um ensopado de carne com arroz e salada.

Em seguida, Cléo se levantava e dirigia-se à cozinha. Preparava tudo com um perfeito apuro culinário. Aí, com exagerada polidez, servia o apetitoso jantar para ela mesma: uma Cléo rejuvenescida, que nunca mais, e para todo o sempre, iria acreditar na promessa de um homem.


* Roniwalter Jatobá nasceu em Campanário, Minas Gerais, em 1949 e vive em São Paulo desde 1970. Publicou vários livros, entre eles Sabor de química (1976); Crônicas da vida operária (finalista do Prêmio Casa das Américas 1978); O pavão misterioso (2000); Paragens (2005); O jovem Che Guevara (2004), O jovem JK (2005), O jovem Fidel Castro (2008) e Contos Antológicos (2009).Este texto vai integrar seu novo livro, Cheiro de chocolate, a ser editado pela Nova Alexandria no segundo semestre de 2011.
(vermelho.org)