Roedor usa planta para se tornar “venenoso”
Estratégia do rato-de-crista africano permite-lhe defender-se de predadores
2011-08-04
Rato-de-crista africano
O rato-de-crista africano (Lophiomys imhausi), que vive nas regiões do nordeste de África, recorre a uma estratégia, no mínimo engenhosa, para afastar os predadores que o tentem comer. De acordo com um artigo publicado na revista científica "Proceedings of the Royal Society B", o animal mastiga as raízes e casca de uma árvore altamente tóxica (Acokanthera schimperi) para depois esfregar a mistura letal na pelagem das costas e, assim, matar os predadores, sendo que esta é a primeira vez que este tipo de comportamento foi descrito num mamífero.
Dados os vários relatos de cães que morreram após tentarem morder este roedor, pensava-se que era venenoso. Contudo, uma equipa de cientistas internacional descobriu que recorre à ajuda de uma planta para se tornar mortífero.
“Quando os predadores tentam dar a primeira dentada, o rato assegura-se de que a primeira coisa que o predador encontra são as suas costas", explicou Jonathan Kingdon, autor principal do estudo, acrescentando que “a necessidade de deter os predadores levou a uma das mais extraordinárias defesas conhecidas no reino animal.”
Quando é detectado pelos predadores, o rato-de-crista africano assemelha-se a um rato cinzento com pêlo longo, sendo que em vez de fugir, perante um ataque, fica imóvel e mostra a sua crista listrada de branco e preto nas suas costas, onde se localiza o veneno.
Análises realizadas aos pêlos onde o rato aplica o veneno revelaram que a sua estrutura era invulgar. “Não há nenhum animal que tenha pêlos como os que existem na crista deste”, pois a sua estrutura assegura que cada pêlo permaneça saturado com uma dose de veneno tão grande quanto possível, frisaram os investigadores.
Segundo Jonathan Kingdon, “o veneno é orgânico. Todos temos quantidades mínimas deste veneno nos nossos corpos, que ajudam a controlar a nossa frequência cardíaca. Mas se temos em excesso, o nosso coração bate tão depressa que originará um ataque cardíaco."
A táctica do rato-de-crista africano tem-se revelado bem-sucedida, pois qualquer animal que o ataque recebe uma quantidade de veneno potencialmente fatal e, mesmo que o predador não morra após ser afectado, é pouco provável que volte a tentar um novo ataque.
A equipa, constituída por cientistas do Reino Unido, Quénia e Estados Unidos, quer agora descobrir como o rato sobrevive ao veneno. Isolar a parte do veneno que ajuda o coração a bater e identificar os componentes fisiológicos deste roedor que permitem a sua sobrevivência a este composto tóxico pode ajudar no desenvolvimento de novas terapêuticas para problemas cardíacos.
(Ciencia Hoje)
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