A Revolução Será Televisionada
A Argentina vai acompanhar a partir de hoje pela tevê, o tão esperado julgamento de Jorge Rafael Videla e Reynaldo Bignone. Estes dois ex-ditadores vão responder pelo crime de roubo de crianças durante o violento e inadmissível regime que foi imposto pelos militares entre 1973 e 1986. Na transmissão, a face do terror através das fisionomias grotescas de Videla e Bignone e a dor das vitimas representadas pelas Avós da Praça de Maio e por algumas das 500 crianças sequestradas pelos militares. Quem não conhece de perto os fatos hediondos que ocorreram na Argentina durante a ditadura militar, ficará chocado, porque no julgamento as ações militares serão minuciosamente descritas e o choro das vitimas será traduzido por cada rosto das avós que durante todos estes anos lutaram para buscar seus netos. Nos anos de Chumbo da Argentina, os dois ex-ditadores compactuavam e permitiam que militares de ultra direita roubassem os filhos de pessoas que lutavam contra o regime militar. Os pais eram presos e bebês que nascessem durante a prisão, nos campos de torturas eram encaminhados para a maternidade da ESMA, no Campo de Maio ou para outros centros de detenção. Nestes locais, canalhas comandados pelo general Santiago Omar Rioresveros retiravam os bebês que depois eram entregues a adoção por famílias de militares ou pessoas fiéis ao governo. Para se ter uma idéia do tamanho absurdo,um dos principais ideólogos do regime militar, o general Ramón Camps, que morreu em 1994, argumentava que os filhos dos desaparecidos carregavam “genes de subversão” e para eliminar essa característica precisavam ser criadas por famílias que defendessem o estilo de vida “ocidental e cristão”.Ao todo, estipula-se que 500 bebês foram roubados e suas identidades destruídas. Mas nem tudo ocorreu como os ditadores queriam e um grupo de 12 avós começava a busca de seus netinhos, um movimento corajoso de enfrentamento com a ideologia existente na época e que aos poucos foi ganhando apoio internacional e mesmo dentro de uma ferida população argentina. Hoje, as chamadas “Avós da Praça de Maio” estarão mais uma vez frente a frente com os ex-ditadores, pedindo a condenação destes verdadeiros nazistas e tentando buscar mais informações sobre o paradeiro das mais de 400 crianças ainda desaparecidas. Em todos estes anos , desde que os crimes foram cometidos, somente 100 crianças foram encontradas em um país onde o número de desaparecidos políticos passa dos 30 mil. Os argentinos devem mesmo acompanhar o julgamento e ouvir os relatos das batalhas já enfrentadas pelas avós como Estela de Carlotto, fundadora do grupo, que teve sua filha assassinada , seu neto seqüestrado e entregue a outra família. Hoje, com 80 anos, Estela mantém a esperança e não se cansa de dizer que esta procura acontecerá até seu último dia de vida.
E que a justiça argentina não se acovarde e puna exemplarmente estes canalhas. Que o julgamento pela tevê sirva de lição para países covardes que fogem da responsabilidade do passado e que sirva ainda de inspiração para o Brasil abrir os arquivo da ditadura, aliás, pedido feito diretamente por Estela de Carlotto para a nossa Presidenta Dilma Rousseff, em sua passagem por Buenos Aires em janeiro deste ano.
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